Brasil 247,14 de dezembro de 2020, 16:16
Por Eric Nepomuceno, para o Jornalistas pela Democracia
O nome dele é Carlos Alberto dos Santos Cruz. O general da reserva Santos Cruz, um contundente crítico do governo onde, aliás, continuam aboletados mais de seis mil militares como ele.
Foi ministro da Secretaria de Governo do presidente Jair Messias Bolsonaro, o que equivale a uma espécie, ou ao menos equivalia, de cargo de coordenador geral do governo.
Pois bem: Santos Cruz ocupou, durante seis meses ou quase – na verdade, cinco meses e treze dias –, esse posto de destaque.
Foi fulminado depois de uma duríssima campanha encabeçada pelo ex astrólogo Olavo de Carvalho e um dos bizarros filhos, e o mais desequilibrado, do Ogro que habita o Palácio da Alvorada: o vereador Carlos, que aparece menos na Câmara de Vereadores do Rio, para a qual foi eleito, do que nos corredores frequentados pelo pai.
O que Santos Cruz deixou de herança depois de ter sido despachado é algo tão difícil de encontrar como traços de lucidez em Jair Messias.
O que tentou fazer enquanto ficou no cargo, ninguém sabe ao certo. Depois de catapultado, acabou virando uma espécie de porta-voz dos quartéis com relação ao governo do Ogro.
Pois domingo agora ele concedeu uma minuciosa e contundente entrevista à Globonews. No entanto, muitas perguntas ficaram no ar, talvez por não terem sido feitas pela guapa entrevistadora.
Por exemplo: quando há uns quatro anos e tanto, logo depois do golpe institucional contra Dilma Rousseff, o então mandachuva dos quartéis, general Eduardo Villas Boas, decidiu que os militares deviam observar de perto o deputado Jair Messias Bolsonaro, alguém lembrou de mencionar as características bestiais do psicopata?
Uma doença perversa e sem volta fez com que o falante general Villas Boas se transformasse numa pessoa ofegante. Portanto, não há como perguntar a ele.
Mas e Santos Cruz e todos os outros que permanecem aboletados em cargos, carguinhos e cargões do governo do Aprendiz de Genocida, não se sentem cúmplices?
Achavam que com tal de defenestrar o PT, por causa da Comissão de Verdade instalada por Dilma, valia qualquer coisa, mesmo quando se tratava de alguém que nunca valeu nada e era um perigo evidente?
Aliás, quando foi ele mesmo se aboletar no cargo do qual seria humilhantemente expelido, Santos Cruz não sabia a quem estava servindo? Acreditava que o bando de fardados e empijamados conseguiria conter o vendaval de alucinações que varre a cada segundo a cabeça do desequilibrado presidente a quem, aliás, devem obediência como o próprio Santos Cruz devia?
Não podia prever, general, que serviria ao pior presidente da história da República? E veja bem: não estou nem mencionando a pandemia e a responsabilidade do Aprendiz de Genocida por mais de 180 mil mortes.
Jair Messias é, sem dúvida, o maior responsável pela ruína em que se transformou o Brasil, mas está a milhas marítimas de distância de ser o único.
Também é responsável quem aceitou fazer parte da matilha cuja missão principal, talvez única, já tinha sido anunciada: desconstruir o Brasil.
Santos Cruz, mais que arrependido, parece ressentido. Caso não tivesse sido despachado, teria pedido para sair?
Virou crítico, mas nem por isso deixa de ser cúmplice de tudo que agora denuncia. E desse peso, general, ninguém o livrará. Nunca. Jamais.
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