Fotos: Wikimedia Commons e Ricardo Stuckert
Vivaldo Barbosa*
Napoleão Bonaparte foi amado e odiado, vitorioso e derrotado. Mas sempre lembrado. Uma das maiores personalidades de toda a História.
Depois de atingir o ápice de suas vitórias, conquistas, glória, Napoleão começou seu calvário ao ser derrotado em Leipzig e teve que voltar para casa.
Seus adversários vieram em seu encalço, invadiram a França, entraram em Paris. Antes, em 1812, Napoleão entrou em Moscou.
Depois, em 1814, o Czar Alexandre entrou em Paris. Napoleão foi enxotado para a Ilha de Elba. Em seu caminho foi xingado, enxovalhado, vaiado.
Menos de um ano depois, Napoleão volta à França, vai recebendo adesões de seus ex-soldados, de seus exércitos, do povo e até da classe política que o havia destronado.
Todos passaram a lembrar-se do bem que havia feito à França e aos franceses, diante do descalabro e da catástrofe que foram seus sucessores.
As ideias e os feitos da Revolução Francesa que Napoleão havia ajudado a propagar e levar para o mundo, o orgulho nacional afirmado, os benefícios alcançados pelo povo, o bem estar geral, a dignidade de um povo e de um País, o Código Civil, em meio a erros e contradições em que ele se meteu. O povo francês o elegeu novamente em plebiscito nacional.
Durou pouco, Cem Dias, veio Waterloo, a pá de cal, e as forças estrangeiros o derrubaram de vez.
À medida que o tempo foi passando, o prestígio de Napoleão foi sendo recuperado, o seu papel para a França e os franceses foi sendo melhor compreendido, voltou a ser amado e reconhecido até por críticos anteriores.
Em todos os cantos, nos diversos extratos sociais, acima de tudo no povo, o amor a Napoleão era cada vez mais forte. E por toda a Europa e em diversas partes do mundo. Ao lado de ódios intransponíveis, claro.
Após décadas, seus restos mortais voltaram para a França e ele foi recolocado como o grande herói, a grande referência na França. Mesmo com sérios defeitos que carregava.
Lula, no Brasil, foi amado intensamente, saiu do governo com mais de 80% de aprovação, mas sofreu ataques virulentos, viveu o seu calvário por um judiciário parcial, acovardado, com conexões com os Estados Unidos e inteiramente entregue aos meios de comunicação.
Chegou ao disparate de ser preso para que pudessem tomar o poder para realizar o projeto conservador, fisiológico, entreguista, de retirada de direitos que se abateu sobre o Brasil e o nosso povo.
Hoje, tudo isso é um fracasso: um governo inerte, deixando o brasileiro naufragar na pandemia, o projeto neoliberal dá mostras que não resolve os dramas da nação e o sofrimento do povo. Como em todas as épocas, em todos os lugares.
Incompetentes e até tresloucados governam, colocam-se submissos aos interesses dos Estados Unidos e dos grupos econômicos.
O conservadorismo, e seu braços mais forte de atuação política, os meios de comunicação, vivem dilemas: dizem não gostar do Bolsonaro mas amam seu governo neoliberal, entreguista e concentrador.
Não encontram saída: o herói que fabricaram está se desmanchando. Só lhes resta continuar massacrando Lula e mantê-lo fora, exilado ou em Elba ou em Santa Helena, para onde mandaram Napoleão.
O povo está percebendo, lembrando-se do que foi feito de melhor para a vida dele e de quem o fez: o aumento dos salários, a superação da pobreza e da miséria, avanços na educação, em ciências, os filhos nas escolas técnicas e nas faculdades, mais comida na mesa, água para os nordestinos, mais casas para muitas famílias.
O orgulho de um Brasil que caminhava, que podia dar certo. E de outras coisas.
Isto é lento, o poder dos meios de comunicação e de quem manda no Brasil é muito forte, mas vem vindo com força irreversível, incontrolável.
As eleições agora foram por questões locais.
As próximas, nacionais, vão tocar na vida do brasileiro e ele vai se lembrar da vida que começou a ter e da desgraça que veio depois.
O povo vai reconhecendo de maneira cada vez mais forte o papel que Lula teve na sua vida. Esperem e verão.
* Vivaldo Barbosa é advogado, professor e coordenador do Movimento O Trabalhismo. Brizolista e trabalhista histórico, foi deputado federal constituinte pelo PDT e secretário da Justiça de Brizola.
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