segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Por que Bolsonaro, o pior cabo eleitoral, perdeu outra, mas continua vivo


Artigo de Thaís Oyama, Colunista do UOL, 21/12/2020 10h24

"Vote em Josiel para prefeito de Macapá. Um prefeito perfeitamente afinado com o presidente da República".

Jair Bolsonaro gravou no sábado um vídeo pedindo votos para o irmão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, para 24 horas depois ver o candidato derrotado nas urnas.

O Twitter não perdoou: "Bolsonaro perdeu mais uma".

Na rede social, uma profusão de memes zombou da péssima performance do presidente nas eleições municipais: atualizadas as contas, dos 14 nomes que ele apoiou para prefeito, 12 saíram derrotados.

O novo fiasco do ex-capitão como cabo eleitoral fez muita gente repetir que o resultado das eleições atestava o derretimento de Bolsonaro e do bolsonarismo nas urnas.

Trata-se de uma avaliação incorreta. Ou, por outra, apenas parcialmente correta.

Os resultados das eleições municipais mostram o enfraquecimento de Bolsonaro e do bolsonarismo nas grandes cidades — entre os eleitores das capitais e regiões metropolitanas.

Todas as últimas pesquisas de opinião mostram que as regiões em que o governo tem sua pior avaliação são Sudeste e Nordeste, que concentram as cidades com maior densidade populacional.

Já nas demais regiões - Norte, Sul e Centro-Oeste, com cidades de menor concentração demográfica— o presidente tem mantido a estabilidade em relação às taxas de aprovação do meio do ano (o Sul mostra um ligeiro declínio).

Para analistas como Maurício Moura, CEO do instituto de pesquisas Ideia Big Data, isso indica que Bolsonaro está cindindo o Brasil em dois: o Brasil das grandes cidades e o Brasil do interior.

Nas cidades de maior densidade populacional, ajudam a derrubar a aprovação do presidente fatores como a redução do auxílio emergencial, a má gestão da epidemia e a degradação da imagem do ex-capitão no combate à corrupção.

Já nas cidades do interior, ou com menor densidade populacional, seguram a aprovação do presidente fatores como o auxílio emergencial (a redução do valor do benefício ainda não mostrou grande impacto por lá, segundo as pesquisas) e a pujança do agronegócio, beneficiado pela alta do dólar.

Nas eleições presidenciais de 2018, o crescimento do então candidato Bolsonaro começou nas capitais - as mesmas que agora o rejeitam.

Mas a essência bolsonarista da ojeriza à esquerda e do conservadorismo nos costumes continua ecoando forte no interior.

O que leva à conclusão de que Bolsonaro pode ter se saído mal nas eleições municipais, mas continua bem vivo.

(Quanto ao candidato derrotado à prefeitura de Macapá, Josiel Alcolumbre, que ninguém se compadeça dele porque não ficará desempregado por muito tempo. Seu irmão, Davi Alcolumbre, que, segundo afirmou Bolsonaro no vídeo, nunca negou socorro ao governo, já recebeu a promessa de um ministério assim que deixar a presidência do Senado. Com isso, Josiel, que é o seu primeiro suplente, poderá herdar o seu mandato. Quem disse que o ex-capitão não aprendeu nada em dois anos no poder?)

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