Monitoramento em oito capitais mostra como candidatos conservadores acusaram adversários usando “ideologia de gênero”LÍVIA REIS, MAGALI CUNHA E GABRIELLE ABREU
Piaui, 01/12/2020, 12h22
Ilustração de Carvall
Em 26 de novembro, na transmissão ao vivo feita da biblioteca do Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro declarou seu voto em Marcelo Crivella (Republicanos) para a Prefeitura do Rio de Janeiro. Também pediu à audiência que não votasse em partidos que defendessem “ideologia de gênero” ou “desgaste de valores familiares”, citando nominalmente o PT, Psol, PCdoB, PDT. “Esse é o apelo que eu faço porque o futuro do seu filho vai passar pelas mãos desse prefeito”, argumentou Bolsonaro, para, em seguida, afirmar que a Secretaria de Educação no Rio estaria prometida para o Psol pelo concorrente de Crivella, Eduardo Paes (DEM), e que ninguém poderia reclamar quando os filhos apresentassem “o lixo aprendido em sala de aula”.
Não é de hoje que campanhas eleitorais recorrem à estratégia de produção de pânico moral e divulgação de notícias falsas. Na última década, esses ataques se voltaram para temas relacionados aos direitos sexuais e reprodutivos sob o argumento de que se trata de uma forma de proteção à “família” e à “infância”, ambos supostamente ameaçados pelo que chamam de “ideologia de gênero”.
Cunhada entre as décadas de 1990 e 2000, no contexto da oposição do Vaticano aos avanços em políticas de gênero estimulados pelas Conferências da ONU Mulher, a expressão foi abraçada por evangélicos e encampada por pessoas de diferentes classes sociais, grupos religiosos e até mesmo não religiosos. Jair Bolsonaro, por exemplo, vangloria-se por ter atuado efetivamente contra a distribuição do material educativo anti-homofobia, pejorativamente apelidado de “kit gay”, quando ainda era deputado e nem mesmo se apresentava como religioso. Paulatinamente, a pauta “antigênero” ganhou força na política e foi associada ao padrão heteronormativo de família. Apareceu nas eleições de forma direta e exitosa em 2016, 2018 e retomada em 2020.
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