Após o Supremo Tribunal Federal questionar o “manual do impeachment”, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), admitiu nesta terça, em conversas reservadas, estar disposto a indeferir a acusação contra Dilma Rousseff elaborada por Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior. Conforme avaliações internas, o pedido foi “contaminado” e se transformou em “peça maldita”. Um novo requerimento, concentrado em supostas irregularidades de 2015, já está sendo preparado.
Mas a nova peça só sairá do forno quando Cunha quiser. Isso assegura ao peemedebista o poder de amarrar governo e oposição à sua estratégia de se manter no comando da Casa.
Seu plano é usar a ameaça de deposição de Dilma como moeda de troca para barrar, com votos de ambos os lados, uma investigação contra ele no Conselho de Ética por quebra de decoro.
Com isso, dizem tucanos e petistas, a novela do impeachment volta algumas casas no tabuleiro, mas continua tendo Eduardo Cunha “como diretor dos próximos capítulos”, brinca um aliado.
Mais do que um decisão jurídica, as liminares do STF serviram para alimentar no Planalto a expectativa de uma possível reaproximação com Cunha, hipótese remota até a véspera.
O encontro reservado de Cunha com Jaques Wagner, na segunda-feira à noite, na Base Aérea de Brasília, serviu para o ministro da Casa Civil “sentir o clima” e medir o nível de aproximação do deputado com a oposição.
Aliados de Michel Temer avaliam que o governo passou a ter o que oferecer ao parlamentar: votos favoráveis a ele no Conselho de Ética.
Atchim O temor de que o Congresso estava pronto para iniciar o processo de impeachment não derrubou, segundo assessores, o ânimo da presidente. Mas uma gripe contraída em Porto Alegre, sim. Ironia ou não, Dilma passou a terça em estado febril.
Aos olhos do governo, o futuro pedido de impeachment da oposição será ainda “mais frágil” que o atual, pois se baseará em parecer que sequer foi votado pelo TCU e que condena eventuais irregularidades cometidas em um ano fiscal (2015) que ainda não acabou.
Com todos os passos dados até agora, o PSDB consultou novamente Eduardo Cunha sobre a decisão de apresentar outra denúncia contra Dilma Rousseff. Segundo oposicionistas, o deputado afirmou que a opção seria um “bom caminho”, mas não sinalizou se iria ou não acatá-la.
Independentemente do freio do Supremo, ministros da articulação política do governo pediram que líderes da base comecem a indicar nomes para a comissão que pode vir a ser criada caso o pedido contra Dilma seja eventualmente aceito.
Em suas decisões liminares, o STF sinalizou à Câmara que não há clima para dar andamento aos atuais pedidos de impeachment antes de o plenário da corte se posicionar definitivamente sobre os recursos apresentados pelo PT e pelo PC do B.
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