*Lelê Teles
satanás, quem não o sabe, é um dos maiores verbetes do nosso dicionário. um nome cheio de apelidos: diabo, demônio, cão, capeta, capiroto, coisa ruim, canhoto, sete peles....
Dir-se-ia que ninguém fala o seu nome em vão.
Deus não, Deus é um chiclete que tá na boca de todo mundo.
escroques, falsificadores, ladrões, falsários, taradinhos do impeachment, rufiões, achacadores e bandidos em geral estão sempre a usar o nome de Deus para encobrir os seus mal feitos.
Foi Deus quem me deu, Deus me ajude, Deus me livre, valha-me Deus...
Eduardo Cunha, soubemos há pouco, foi muito mais longe em sua infame blasfêmia e registrou diversos domínios na internet com o nome de Jesus, que é a face humana do Pai, uma espécie de Deus de vestidão e cabelo comprido. O nobilíssimo deputado registrou nada menos que 287 endereços eletrônicos em nome do Nazareno. Mas por que diabos Cunha fez esse milagre da multiplicação ponto com, todos nos perguntamos atônitos.
Soubemos agora. Somente em um destes domínios, o Jesus ponto com, Cunha registrou uma frota de carros de luxo. Um desaforo. Abrir uma firma em nome do Mestre é coisa que padres e pastores fazem há muito, mas Cunha foi longe demais.
Jesus, além de desconhecedor da cibernética, não era chegado ao comércio. Pedro, está no Livro, tinha lá uma firma de pesca, ele tinha inclusive dois funcionários. O que fez o mestre ao encontrá-lo na labuta? aconselhou Pedrão a abandonar o negócio e sair por aí com ele, a pescar almas, gratuitamente.
o Mestre, todos o sabemos, era um cara simples, meio hiponga até. No domingo de ramos, voltemos ao Livro, ele fez sua entrada triunfal em Jerusalém montado, veja o detalhe, no lombo de um singelo jumentinho. Cunha, por sua vez, chega a um culto evangélico montado num Porsche com tração de mil cavalos puríssimo sangue.
Veja o disparate. E mais, por enquanto, a justiça já farejou mais de 60 milhões de lascas pertencentes à família Cunha, pulverizados em contas nas estranjas, tudo em nome do pai, da filha e da espírita santa dos olhos esbugalhados.
Como um bom cristão, Cunha também carregava uma Cruz, bem maquiada, feita de madeira de lei caríssima e sempre com os olhos bem abertos. É por isso que eu digo, acredito no que vem de Deus, mas não no que vende Deus. Mas o castigo, vindo de jumento ou de Porsche, uma hora chega.
Enquanto estava por cima da carne seca, achacando corruptos e arregimentando seus apóstolos apóstatas, atraídos por sua gorda conta bancária, sua vida de luxos e sua cara de pau, todos lhe davam tapinhas nas costas. Agora, com o rabo preso e temendo uma deduração premiada, só o Paulinho lhe dá força.
Aécio, que costumava desfilar fagueiro e jactancioso ao lado de Cunha, com os olhos tão esbugalhados quanto o da madame Cruz, de repente sumiu. os milhões de Cunhas que desfilavam nas ruas com camisas da CBF, de repente resolveram botar uma sunga e ir a praia.
Nas igrejas, agora, só se fala em Jesus e no diabo, de política não se fala mais, até segunda ordem. Até o onipresente Poncius Mendes Pilatus já mandou um office boy trazer uma bacia com água morna para por as santíssimas mãos de molho.
A batata de Cunha assou. Enlameado, nu, pego com a boca na botija, Eduardo Cunha caminha solitário para o patíbulo.
Não, Jesus não vai perdoá-lo como o fez com Dimas. Na hora fatal, Cunha ouvirá em sua consciência - em tom de escárnio - a reverberante e divina voz de Jesus a repetir o desaforo que o mau ladrão lhe disse antes da morte, no Gólgota: "Salva-te a ti mesmo".
*Jornalista e publicitário. Roteirista do programa Estação Periferia (TV Brasil), apresentador do programa Coisa de Negro (Aperipê FM) e editor do blog FALA QUE EU DISCUTO
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