quinta-feira, 15 de abril de 2021

Um presidente da República que não se comporta como presidente

Estamos em 2021, o presidete da República é Jair Messias Bolsonaro e o Brasil vive uma crise econômica e política sem precedentes, mas essa história começa a ser escrita em 2013.

Vamos aos fatos.

  CRÉDITO,AG. BRASIL  Legenda da foto, Protestos de junho de 2013 tiveram 
uma série de confrontos entre PM e ativistas

Em meados de 2013, quando era governado por Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), o Brasil atravessou um momento político difícil tendo em vista uma mobilização coletiva capitaneada pela direita. A situação foi contornada e na sequência tivemos as eleições de 2014 para a Presidência da República, na qual Dilma saiu vencedora contra Aécio Neves, no segundo turno, com uma pequena diferença de votos. Ela obteve 54.501.118 votos, ou seja, 51,64%, enquanto Aécio Neves, do PSDB, obteve 51.041.155 votos, ou seja 48,36%. Esta foi considerada a eleição mais acirrada no Brasil após a redemocratização.

Antes das eleições se dizia que Dilma não ganharia as eleições; se ganhasse não assumiria e se assumisse, não governaria. Não deu outra. Dilma ganhou por pequena margem de diferença. Insatisfeito com a derrota, o PSDB pediu a cassação de Dilma e a posse de Aécio como presidente, alegado que "as campanhas do PT foram pagas com dinheiro de corrupção e, por isso, segundo os tucanos, a eleição da presidente não teve legitimidade".

Então, é possível identificar Aécio Neves, senador por Minas Gerais, como líder de um movimento que gradativamente ganhou força com a participação efetiva do vice-presidente Michel Temer/PMDB, Eduardo Cunha/PMDB e presidente da Câmara Federal e Renan Calheiros/PMDB e presidente do Senado. Todas as ações de governo que dependiam do Congresso Nacional passaram a ser dificultadas, a governabilidade deixou de existir e a pretexto de combater a corrupção foi formatado um processo que segundo o Senador Romero Jucá "foi com Supremo, tudo".

Esse processo desembocou na deposição de Dilma Rousseff, da Presidência da República, em 31 de agosto de 2016, sob a acusação de ter cometido pedaladas fiscais, mas retirar Dilma da Presidência não bastava, era preciso também impedir Lula de ser candidato e este era franco favorito em todas as pesquisas eleitorais da época.

O golpe, a meu ver, nunca imaginou que agindo como agiu, daria a Presidência da República "de mão beijada" a um político inexpressivo que já atuava a quase 28 anos no parlamento. O golpe capitaneado pela direita, visava favorecer a Geraldo Alckmin/PSDB, mas beneficiou a Jair Messias Bolsonaro, então deputado federal pelo PSL.

É aí, que alguns fatores determinantes fizeram a diferença. Sérgio Moro, juiz federal de Curitiba, trabalhou de forma acelerada processos judiciais apresentados pelo MPF contra Lula, com base em delações premiadas alteradas e sem consistência e que levaram a sua prisão, durante 580 dias. Sem precedentes na historia jurídica, Moro condenou Lula por ato de oficio indeterminado ou seja, não existente.

Lula, passou de melhor e mais bem avaliado presidente da República, ao fim de dois mandatos, a preso político e sem os seus direitos políticos. Fernando Haddad, ex-ministro da Educação no governo Lula e ex-prefeito de São Paulo, foi o candidato do PT, nas eleições presidenciais de 2018 e disputou o segundo turno contra Bolsonaro.

As eleições presidenciais de 2018, foi um divisor de águas na história das disputas eleitorais brasileiras, visando o cargo maior da República. Bolsonaro iniciou sua campanha e num dado momento, na cidade mineira de Juiz de Fora, foi esfaqueado por Adélio Bispo, que segundo investigações da Polícia Federal, agiu sozinho. Há quem diga que essa história está mal contada, mas o fato é que ela causou uma comoção nacional, influenciou o eleitorado e beneficiou Bolsonaro. Outro fator preponderante foi uso de fakes news, com duros ataques ao PT, a Lula e ao então candidato Fernando Haddad. E, por último e não menos importante, foi o apoio massivo dos militares a campanha do ex-capitão do Exército

Para completar, há seis dias das eleições gerais do primeiro turno de 2018, como que propositalmente, o juiz de primeira instância, Sérgio Moro, quebrou o sigilo de parte da delacao premiada acordada por Antonio Palloci, em setembro de 2017, com a Polícia Federal (PF), divulgou-a e, sem sombra de dúvidas, foi mais uma grande colaboração a campanha de Bolsonaro.

Por fim, há fortes indícios de que foi usado as eleições de 2018, um sistema que permitiu predizer e influeciar as escolhas dos eleitores nas urnas, segundo a investigação dos jornais The Guardian e The New York Times. A Cambridge Analytica, empresa de Steve Banon, serviu a Bolsonaro. Pesquisas eleitorais que retrataram tão fielmente momentos da disputa eleitoral de anos anteriores, de repente não tiveram utilidade em 2018. Ocorreram mudanças muito repentinas, sem uma justificativa plausível, uma vez qunão ocorreram fatos novos e tão relevantes.

Bolsonaro foi eleito, sem participar de um debate, sem apresentar propostas de governo e o pior sem conteúdo. O presidente não tem postura de presidente; tendo sido grosseiro e indelicado com a imprensa, nomeou o PT, a esquerda, o socialismo e o comunismo como seus adversários ferrenhos; estabeleceu uma situação de embate com a Suprema Corte de Justiça; há fortes indícios de envolvimento do presidente e de seus filhos em atos de corrupção e outros negócios escusos e, indícios, também da vinculação direta a milícia do Rio de Janeiro; promoveu mudanças na legislação, retirando direitos dos trabalhadores, conquistados ao longo de décadas; nas suas ações nega a a ciência, a pandemia e suas consequências, se contraponde as chamadas medidas protetivas; diariamente cria conflitos com governadores e prefeitos; Fala de Nova Política, mas negociou o Centrão; Com a nomeação de Ernesto Araújo, um olavista de carteirinha, criou problemas diplomáticos que resultaram em prejuízos para o Brasil e sempre que fala, cria problemas para si e para os outros.

Acrescente-se ainda, que funciona uma bem montada e estruturada rede de informações e contra-informações, chamada de "Gabinete do Ódio", que supostamente é dirigida por Carlos Bolsonaro, filho do presidente Bolsonaro. Essa rede, agiu durante toda a campanha eleitoral e até agora, produzindo e disseminando, diariamente fakes news, principalmente para atacar o PT e Lula.

Neste momento, o presidente Bolsonaro não é bem visto pelo mundo e internamente sofre grande rejeição apontada pelos principais institutos de pesquisas, correndo o sério risco de sofrer um impeachment, tendo em vista que está em curso a CPI da Pandemia, no Senado Federal, que vai avaliar o comportamento do Governo federal diante dessa terrível doença que já matou mais de 360 mil brasileiros. 

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