"A turma do PIB era o elemento que faltava no cerco que está se apertando em torno de Bolsonaro, e a carta deixa claro que também eles estão cansados do capitão", escreve Helena Chagas, do Jornalistas pela Democracia
Brasil 247, 22/03/2021, 11:06 h Atualizado em 22/03/2021, 17:28
(Foto: Reuters | Reprodução | Marcos Corrêa/PR)
Por Helena Chagas, para o Jornalistas pela Democracia
O ingrediente novo no cenário é o manifesto de empresários, banqueiros e economistas pressionando Jair Bolsonaro a tomar medidas efetivas contra a Covid, criticando o governo e derrubando o discurso da falsa dicotomia entre pandemia e economia. Mas a questão que moveu nomes como Roberto Setúbal e Pedro Moreira Salles, Pedro Malan e Rubens Ricúpero, Armínio Fraga e Persio Arida, entre outros, a se juntarem nesse chega pra lá a Bolsonaro parece ir além da pandemia: nas entrelinhas, está escrito que essa turma não vai apoiar um golpe.
A carta dos empresários e banqueiros veio a público junto com os recentes arreganhos ameaçadores do presidente da República. Na sexta, ele voltou a falar em estado de sítio e prometeu que “medidas duras”virão. Apesar de reações no Judiciário e no Legislativo, neste domingo Bolsonaro aproveitou o próprio aniversário para fazer ameaças veladas, afirmando que “só Deus”o tira do cargo, e que vai fazer tudo o que puder para preservar o direito do povo de “ir e vir”.
Dos dois fatos, tira-se uma conclusão: Bolsonaro está isolado, falando sozinho, uma espécie de D.Quixote do mal investindo contra os moinhos de vento vermelhos. Quando confrontado pelo presidente do STF, Luiz Fux, negou intenção de decretar estado de sítio. Diante da nota do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, de que não há condições que justifiquem tal medida, nada comentou e seguiu adiante nos delírios. Também finge não perceber a cada vez mais forte pressão dos neoaliados do Centrão para que mude de comportamento, sob o risco de perder a base parlamentar.
O que fará agora com a carta dos empresários, banqueiros e economistas? A turma do PIB era o elemento que faltava no cerco que está se apertando em torno de Bolsonaro, e a carta deixa claro que também eles estão cansados do capitão. O certo, o lógico, o racional para um presidente encurralado como ele seria ceder, e até oportunidade para isso ele tem: na quarta-feira, na reunião com os chefes dos demais poderes para tratar de uma ação unificada contra a pandemia.
Conseguirão os desesperados assessores convencer Bolsonaro de que é preciso frear a marcha da insensatez? Façam suas apostas. Ganha uma cartela de cloroquina quem acertar.
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