terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A importância de um “laudo” sobre o rio Tapajós

Do jornalista e professor universitário Manuel Dutra (foto), sobre o post Estrago ambiental a “olho nu” no rio Tapajós:
 
Caro Jeso,

Quero parabenizar o deputado Dudimar Paxiúba pelo seu trabalho em favor das populações do Tapajós, notadamente quanto à grave ameaça de contaminação do vale do grande rio.

E quero também discordar quanto à necessidade de pesquisa de campo, urgente, a fim de verificar os níveis da degradação. O deputado afirma que basta a observação a “olho nu”. Dessa forma, não teríamos respostas a estas perguntas, que se acham na Carta Aberta ao governador do Pará:

1. “O Rio Tapajós e seus principais afluentes estão sofrendo processo de contaminação por elementos físicos e químicos estranhos à sua composição hídrica natural?

2. Esta pergunta se desdobra (em caso afirmativo): Que elementos contaminantes são estes? Quais os níveis da presença de elementos estranhos nas águas do rio? Há riscos para a saúde animal e humana? Há contaminação da fauna aquática, especialmente das espécies mais consumidas na região? Há contaminação do plâncton e da cadeia alimentar? Já existe contaminação humana? Há mudança de coloração das águas do Tapajós?

Portanto, há, sim, necessidade da pesquisa, da mesma forma e até com mais apuro do que se fez há 30 anos. Não sei se o deputado Paxiúba recorda o que ocorreu naquele momento, quando eu fiz dezenas de reportagens denunciando não só a mudança de cor do Tapajós, mas tudo que isso significava em termos de saúde pública, tanto dos garimpeiros quanto das populações próximas.

Naqueles anos foram realizadas pesquisas por cientistas da UFPA, do Instituto Evandro Chagas e da Universidade de Kumamoto, do Japão. Foram verificados os níveis de contaminação das águas, dos peixes e da cadeia alimentar e foram examinadas dezenas de pessoas cujo sangue e o sistema nervoso central se achavam comprometidos, com níveis de mercúrio no organismo muito acima do mínimo aceito pela Organização Mundial de Saúde.

Se o deputado Paxiúba está acompanhando a presente campanha, deve ter percebido que estamos iniciando uma luta que promete ser longa. A necessidade da pesquisa visa à obtenção de um dado concreto, científico, sobre o qual se possa trabalhar, inclusive denunciar, de maneira idêntica como foi feito da outra vez em que o Tapajós ficou tomado pela ameaçadora poluição física e química.

Demos um prazo ao governo do Estado a fim de que este gerencie esse trabalho, chamando e financiando instituições reconhecidamente capazes de executar o trabalho de campo e de laboratório. É por isso que solicitamos que o trabalho se faça por pesquisadores da área acadêmica – da UFOPA e da UFPA e também pelo respeitadíssimo Instituto Evandro Chagas.

O que nós pretendemos, com isso, é justamente fugir das observações apenas “a olho nu”. Nós queremos a prova irrefutável, a partir da qual poderemos, inclusive levar ao Congresso Nacional e a outras instituições a situação medieval da garimpagem e da mineração em geral, que se pratica à revelia das leis ambientais, causando danos às populações, danos que, agora, poderão ser irreversíveis.

Se a SEMA E A SEICOM já vêm realizando essas pesquisas há razoável tempo, onde estão os seus resultados? Além disso, queremos que a pesquisa seja realizada por pessoas/instituições sem vinculações administrativas com o governo do Estado e por pesquisadores que nunca tiveram e não têm vínculo administrativo com a atividade mineradora. Se essas instituições encomendaram tais pesquisas, quem é que as está executando?

Demos ao governo o prazo até junho deste ano, findo o qual esperamos ter recebido respostas às principais perguntas que lhe endereçamos. Se não houver as respostas, a luta prosseguirá, a olho nu ou por outros meios para conseguirmos comprovar a degradação e as ameaças à saúde pública – dos próprios garimpeiros e das populações envolventes – e à economia regional. 
 

Fonte: Blog do Jeso Carneiro,18/02/14

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