sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Olyntho Contente: Venda de ações da Vale mostra que BTG controla Ministério da Economia

Viomundo, 10/09/2020
      Foto: Valter Campanato/Agência Brasil


Mais do que a entrega suspeita da carteira de crédito de R$ 2,9 bilhões do Banco do Brasil por R$ 371 milhões ao BTG-Pactual, cerca de 10% do valor, a venda de 135 milhões de ações da Vale em poder do BNDES, nos dias 4 e 5 de agosto, deixou evidente a transformação do Ministério da Economia numa espécie de sucursal do banco privado de investimentos.

Esta realidade coloca sob suspeição todas as medidas tomadas pelo ministério cujas ações se confundem com os interesses do grupo privado e de seus clientes.

A primeira operação, BB-BTG-Pactual — que já está sendo investigada pelo Ministério Público do Tribunal de Contas da União, o que causou o pedido de demissão do então presidente do BB, Rubem Novaes —, foi autorizada pelo ministro da Economia Paulo Guedes.

Mas a venda das ações da gigante mineradora brasileira foi comandada por três ex-executivos do BTG-Pactual: além de Guedes, o presidente do BNDES, Gustavo Montezano e pelo presidente do Conselho de Administração do banco público, Marcelo Serfaty.

A transação foi um péssimo negócio para o BNDES e para o Estado brasileiro, já que foi feita em um momento de recuperação, tanto da Bolsa de Valores, quanto das ações da própria mineradora.

Em outras palavras, foi um excelente negócio, mas somente para os grupos privados que lucraram agora comprando ações que já se recuperaram do tombo causado pela tragédia de Brumadinho e pela pandemia, mas que até dezembro vão se valorizar ainda mais.

Vale a pena lembrar que do esquema do BTG-Pactual levado por Guedes para dentro do Ministério e das estatais a ele subordinadas está ainda o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães.

Este último também foi sócio-diretor do Banco Plural. Um dado grave e preocupante é que este banco de investimentos aparece como participante de operações comandadas por Paulo Guedes, investigadas pela Procuradoria da República do Distrito Federal na Operação Greenfield, suspeitas de fraude que causaram prejuízos bilionários a fundos de pensão de estatais.

O grupo Bozano é outro que, junto com o Modal e o Plural, integra a rede nacional de ligações de Paulo Guedes que possui laços estreitos também fora do país.

Outra investigada no mesmo inquérito é a assessora especial de Assuntos Estratégicos do Ministério da Economia, Daniella Marques Consentino, ex-diretora da Mercatto S2 Participações, empresa da teia societária da Bozano Investimentos, hoje Crescera Investimentos, da qual Guedes era sócio até entrar no governo.

Diretor da mesma empresa, Sérgio Eraldo Salles Pinto, ocupou, até maio, o cargo de conselheiro da Embraer.

A Bozano Investimentos, aparece na investigação dos procuradores da República na Operação Greenfield, como tendo incorporado a BR Educacional Gestora de Recursos S/A, de Paulo Guedes, que, através do Fundo de Investimentos (FIP) Brasil de Governança, fez investimentos na Enesa, com recursos de sete fundos de pensão, que viraram pó: a Enesa tinha patrimônio negativo. Também era responsável por estes investimentos, o FIP Caixa Modal Brasil Óleo e Gás, incorporado pela Brasil Plural Gestão de Produtos Estruturais.

Ambos pertencem às gestoras de recursos Modal e Plural, depois transformadas em bancos.

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