domingo, 1 de novembro de 2015

Socos, tapas e pontapés na Volkswagen: era só o começo da tortura

Uma das muitas histórias que os reacionários desconhecem ou querem que se repita em nosso País

, 01/11/2015

Aos 28 anos, Lúcio Bellentani trabalhava na Volkswagen de São Bernardo do Campo (SP) como ferramenteiro, profissão muito requisitada na época. Entrou para o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e tentava organizar uma base do partido em grandes empresas da região. Foi preso em julho de 1972, na ala de prensas em que trabalhava, às 23h30, numa ação acompanhada por seguranças da companhia. Outros 12 operários também foram detidos.

Marcio Fernandes/Estadão Conteúdo
Lúcio Bellentani trabalhava na Volkswagen
e teve os dentes arrancados na prisão
Bellentani primeiro foi levado a uma sala do setor de recursos humanos, onde conta ter levado socos, chutes e pontapés. Depois foi transferido para o Dops e passou por frequentes sessões de tortura: palmatórias nas mãos, pés e cabeça, pau de arara, choque elétrico e chegou a ser arrastado em um veículo amarrado pelas mãos.

Teve dentes arrancados com alicate e, até cinco anos atrás, "era banguela, pois não tinha coragem de ir ao dentista", conta Bellentani, hoje com 71 anos. "Só nos anos mais recentes criei coragem e fui fazer tratamento", diz ele, que também tem pesadelos e afirma não ficar em quartos escuros.

Ele passou, ao todo, um ano e oito meses na prisão. Após ser solto, mudou-se para o interior de São Paulo, pois não conseguiu emprego no ABC, onde morava a família. "As empresas trocavam lista de pessoas que não deveriam ser contratadas, mas como não havia internet, em cidades pequenas era mais fácil conseguir uma vaga". Além disso, os atestados de antecedentes políticos solicitados na época levavam em média seis meses para serem enviados.

O ex-metalúrgico vive atualmente em Jacareí (SP) e há três meses fundou o Sindicato dos Aposentados da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB). Ele esteve na reunião no Ministério Público Federal, onde se encontrou com Manfred Grieger, diretor da Volkswagen.

"Não reivindicamos nenhuma questão de penalidade ou de criminalização. Queremos que a empresa reconheça que fez besteira, e se responsabilize por seus desmandos", diz Bellentani. "Que a verdade venha à tona, pois várias empresas também foram responsáveis pelo que ocorreu em nosso país." As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".

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