domingo, 29 de novembro de 2015

A relação promíscua da coisa pública com o privado

* Anézio Ribeiro de Souza
Por que tanta gente que ser politico? Por que é tão caro ser político no Brasil? Por que a maioria dos filhos de político seguem a carreira politíca? A política já enriqueceu muita gente no Brasil. Aqui, a riqueza de alguns passa necessariamente pelo Estado e pela falta de políticas públicas mais arrojadas, pela falta de uma maior infraestruturação das cidades. Se pegarmos a lista dos principais políticos brasileiros veremos que eles estão eternizados no poder. Muitas famílias são políticas há gerações e enriqueceram com o uso da máquina pública, com o uso do Estado. 

Enquanto na Suécia, deputado é um cidadão comum, aqui é um semi Deus. Por que isso acontece? Por que nosso capitalismo é avesso ao risco? Claro, eles preferem a segurança do Estado protetor e provedor. 

Analisando historicamente o comportamento do poder público frente a economia observamos que os militares defenderam o nacionalismo e protecionismo, desde Getúlio Vargas a Ditadura Militar. Criou-se uma elite empresarial alimentada pelo Estado. Não se pode negar que antes essa relação promíscua também estava presente, mas em menor grau. No governos de Sarney, Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique, Lula e Dilma, aconteceu a mesma coisa: frequentes intervenções na economia e "vista grossa" à corrupção.

Os grandes grupos empresariais brasileiros, com raras exceções, cresceram com o apoio estatal e se desenvolveram, através de relações escusas com políticos, com o poder. Essa é a base da corrupção brasileira. Por outro lado, é impossível falar em desenvolvimento numa sociedade corrupta. O dinheiro que deveria ser investido em saúde, educação, segurança e outras políticas públicas é roubado descaradamente. Muitas vezes, as pessoas sabem e até participam desses esquemas criminosos como se fosse algo absolutamente normal e aceitável.

Sem querer defender o Governo Federal, mas não é só nessa esfera que tem corrupção. Uma investigação criteriosa nos 27 estados e nos 5.570 municípios, no poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, certamente detectará a existência de corrupção. Esse câncer geralmente está onde estiver a máquina pública!

A verdade é que no Brasil, a corrupção virou cultura e até me alegra muito saber que existem movimentos lutando para, pelo menos, diminuir esse problema. Muitos espaços de articulação, de denúncias, devem ser abertos, para propiciar uma maior participação. A fiscalização e o controle, abertos à sociedade possivelmente dará muitos resultados. Na medida que consigo visualizar de onde sai o dinheiro e o caminho que ele percorre, onde e quando ele é investido, também facilita.

O primeiro passo para uma sociedade crescer em todos os sentidos passa pelo desenvolvimento moral, pelo comportamento ético. Sem isso não existe desenvolvimento real. Portanto, embora seja difícil, estamos sendo desafiados a mudar nossa mentalidade, nossa postura frente ao dinheiro público, frente ao dinheiro de todos, bem como frente ao patrimônio público. Destruir, abandonar e fazer mau uso, nem pensar.

Para finalizar, penso que se o governo soubesse que lutar contra a corrupção, levaria a uma crise política que agravaria a crise econômica, talvez ele desistisse de tal atitude.

*Sociólogo, professor da Rede Pública Estadual, ex-secretário de planejamento de Itaituba, Pará.


Nenhum comentário: