Crédito: PEDRO LOBO SCALETSKY |
No primeiro caso, os extremistas chegam a sonhar com pena de morte. No segundo caso, os radicais chegam a sonhar com o fim da repressão. Vem o especialista em complexidade e pontifica: precisamos atacar nas duas frentes ao mesmo tempo. Temos de buscar o equilíbrio. Nem Estado mínimo nem Estado máximo. Nem aumento da repressão cega nem aumento da tolerância frouxa. Como é que se faz isso? Aí é que a complexidade torce o rabo da porca. Soluções simples para problemas complexos produzem resultados simplórios. Tem quem ache que o problema do Brasil é a impunidade. Para quem, cara pálida? As cadeias estão abarrotadas. Mas quem está nelas? O simplório, no sentido nobre dessa palavra, que estou inventando agora, o defensor do simples como saída profunda, é contra progressão de regime de apenados. Põe na rua criminosos.
No outro lado, pois sempre há um outro lado, o idealizador da progressão de regime pode ter pensado menos na reinserção dos apenados na sociedade e mais numa maneira de fazer o Estado economizar com presidiários. Não existe almoço grátis. Muito menos na prisão. Mais tempo de cadeia, poderia argumentar, porém, um advogado da complexidade teórica, tende a aumentar o tempo de exposição à pós-graduação do crime. Não, poderia dizer o simplório, se as cadeias vierem a ser o que deveriam ser, todas de segurança máxima, com prisioneiros trancafiados para sempre em celas isoladas, sem celular nem joguinho de futebol ao sol. A cadeia como eliminação em vida. Quanto pior a cadeia, maior o ressentimento. É humano.
Quando eu fazia doutorado em Sociologia na Sorbonne, em Paris, tínhamos um professor, o saudoso André Akoun, que gostava de revirar essas questões. Jogava de um lado, a turma ia. Jogava do outro, a turma ia também. Parecia um Garrincha. Passava o pé em cima da bola, um "João" caía. Num dia, argumentava em favor do aumento da repressão. Convencia. No outro, mostrava o simplismo dessa tese. Convencia. No terceiro, provava que tínhamos poucas convicções e que a maioria dos argumentos sobre esses temas não tem consistência, não passando de achismo ou de mera reação visceral. Ser complexo dá trabalho.
Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br
Fonte: Correio do Povo, 16/04/11
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