Crédito: PEDRO LOBO SCALETSKY |
Nada mais complicado do que a complexidade,
que deveria ser simples. Como diz o sábio Edgar Morin, que completará 90
anos em julho, citando Pascal, que completaria 349 em agosto, o
contrário de uma verdade profunda pode não ser um erro sem fundo, mas
outra verdade profunda. Complicou. Especialmente para quem sonha com
preto no branco, sim ou não, Grêmio ou Inter, chimango ou maragato,
comunismo ou capitalismo, Estado mínimo ou Estado máximo. Jornalistas,
muitas vezes, querem verdades simples e sem qualquer oposição. A
criminalidade aumentou: mais cadeia, mais repressão, mais Polícia e
aumento no tempo das penas. E as causas como ficam? Do outro lado, tem
aqueles que, diante do mesmo problema, querem verdades simples opostas:
mais programas sociais, menos repressão, mais explicações sociológicas e
mais tolerância. E as consequências como é que ficam?
No primeiro caso, os extremistas chegam a sonhar com pena de morte. No segundo caso, os radicais chegam a sonhar com o fim da repressão. Vem o especialista em complexidade e pontifica: precisamos atacar nas duas frentes ao mesmo tempo. Temos de buscar o equilíbrio. Nem Estado mínimo nem Estado máximo. Nem aumento da repressão cega nem aumento da tolerância frouxa. Como é que se faz isso? Aí é que a complexidade torce o rabo da porca. Soluções simples para problemas complexos produzem resultados simplórios. Tem quem ache que o problema do Brasil é a impunidade. Para quem, cara pálida? As cadeias estão abarrotadas. Mas quem está nelas? O simplório, no sentido nobre dessa palavra, que estou inventando agora, o defensor do simples como saída profunda, é contra progressão de regime de apenados. Põe na rua criminosos.
No outro lado, pois sempre há um outro lado, o idealizador da progressão de regime pode ter pensado menos na reinserção dos apenados na sociedade e mais numa maneira de fazer o Estado economizar com presidiários. Não existe almoço grátis. Muito menos na prisão. Mais tempo de cadeia, poderia argumentar, porém, um advogado da complexidade teórica, tende a aumentar o tempo de exposição à pós-graduação do crime. Não, poderia dizer o simplório, se as cadeias vierem a ser o que deveriam ser, todas de segurança máxima, com prisioneiros trancafiados para sempre em celas isoladas, sem celular nem joguinho de futebol ao sol. A cadeia como eliminação em vida. Quanto pior a cadeia, maior o ressentimento. É humano.
Quando eu fazia doutorado em Sociologia na Sorbonne, em Paris, tínhamos um professor, o saudoso André Akoun, que gostava de revirar essas questões. Jogava de um lado, a turma ia. Jogava do outro, a turma ia também. Parecia um Garrincha. Passava o pé em cima da bola, um "João" caía. Num dia, argumentava em favor do aumento da repressão. Convencia. No outro, mostrava o simplismo dessa tese. Convencia. No terceiro, provava que tínhamos poucas convicções e que a maioria dos argumentos sobre esses temas não tem consistência, não passando de achismo ou de mera reação visceral. Ser complexo dá trabalho.
No primeiro caso, os extremistas chegam a sonhar com pena de morte. No segundo caso, os radicais chegam a sonhar com o fim da repressão. Vem o especialista em complexidade e pontifica: precisamos atacar nas duas frentes ao mesmo tempo. Temos de buscar o equilíbrio. Nem Estado mínimo nem Estado máximo. Nem aumento da repressão cega nem aumento da tolerância frouxa. Como é que se faz isso? Aí é que a complexidade torce o rabo da porca. Soluções simples para problemas complexos produzem resultados simplórios. Tem quem ache que o problema do Brasil é a impunidade. Para quem, cara pálida? As cadeias estão abarrotadas. Mas quem está nelas? O simplório, no sentido nobre dessa palavra, que estou inventando agora, o defensor do simples como saída profunda, é contra progressão de regime de apenados. Põe na rua criminosos.
No outro lado, pois sempre há um outro lado, o idealizador da progressão de regime pode ter pensado menos na reinserção dos apenados na sociedade e mais numa maneira de fazer o Estado economizar com presidiários. Não existe almoço grátis. Muito menos na prisão. Mais tempo de cadeia, poderia argumentar, porém, um advogado da complexidade teórica, tende a aumentar o tempo de exposição à pós-graduação do crime. Não, poderia dizer o simplório, se as cadeias vierem a ser o que deveriam ser, todas de segurança máxima, com prisioneiros trancafiados para sempre em celas isoladas, sem celular nem joguinho de futebol ao sol. A cadeia como eliminação em vida. Quanto pior a cadeia, maior o ressentimento. É humano.
Quando eu fazia doutorado em Sociologia na Sorbonne, em Paris, tínhamos um professor, o saudoso André Akoun, que gostava de revirar essas questões. Jogava de um lado, a turma ia. Jogava do outro, a turma ia também. Parecia um Garrincha. Passava o pé em cima da bola, um "João" caía. Num dia, argumentava em favor do aumento da repressão. Convencia. No outro, mostrava o simplismo dessa tese. Convencia. No terceiro, provava que tínhamos poucas convicções e que a maioria dos argumentos sobre esses temas não tem consistência, não passando de achismo ou de mera reação visceral. Ser complexo dá trabalho.
Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br
Fonte: Correio do Povo, 16/04/11
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