quinta-feira, 14 de junho de 2012

Agnelo denuncia tentativa de derrubá-lo e abre sigilos bancário, fiscal e telefônico ao Parlamento

13/6/2012 14:25,  Por Redação - de Brasília

Agnelo Queiroz fala aos parlamentares na CPMI do Cachoeira

O depoimento do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista que investiga as relações de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com agentes públicos e privados foi palco, nesta quarta-feira, de uma nova disputa entre a base de apoio ao governo e a oposição. Agnelo denunciou um esquema em que se “misturam mentiras e meias-verdades para me desgastar e me tirar do governo do Distrito Federal” e negou qualquer envolvimento com o esquema de jogos ilegais, corrupção e tráfico de influência comandado por Cachoeira.

Segundo governador a depor na CPI mista do Cachoeira, Queiroz falou aos parlamentares um dias depois que o de Goiás, Marconi Perillo, negou qualquer ligação com o contraventor Cachoeira. De acordo com as investigações, o contraventor seria sócio oculto da construtora Delta, que manteve contratos de serviços de limpeza urbana com o governo do Distrito Federal até a semana passada. As mesmas investigações afirmam que o grupo de Cachoeira teria também tentado fraudar licitação de bilhetagem eletrônica no transporte público do DF, negócio que acabou não se concretizando. O governador também foi instado a explicar sobre o crescimento do seu patrimônio desde 1998. Nesse período, a soma dos seus bens teria aumentado quase 12 vezes

Em resposta aos questionamentos sobre seu patrimônio, Queiroz ofereceu à CPI do Cachoeira seu sigilo bancário, fiscal e telefônico, com o argumento de que “quem não deve não teme”. O anúncio do governador arrancou aplausos e assovios de assessores do governo do Distrito Federal e parlamentares, que acompanhavam a sessão da CPI. Na sala ao lado da CPI, mais de 30 assessores e deputados assistem à sessão e aplaudem Agnelo conforme as respostas do governador.

– O governador mostrou que não tem nada a esconder – disse o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).

O deputado da oposição Onyx Lorenzoni (DEM-RS) pediu que a promessa de Agnelo seja formalizada ainda hoje e nos mesmos termos das outras quebras de sigilo feito pela CPI, com o prazo de dez anos. O presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), disse que a formalização será discutida depois pela CPI. A promessa de Agnelo foi um aceno à CPMI contra o governador de Goiás Marconi Perillo, do PSDB. Na véspera, o tucano causou bate-boca no plenário ao se recusar a oferecer a quebra de sigilo.

– O PSDB agora acabou. Perillo tem medo, Agnelo não – disse o deputado Silvio Costa (PTB-PE).

Além de negar irregularidades em seu governo, Queiroz desafiou aos parlamentares que encontrassem qualquer falha no contrato com a Delta, cujo ex-diretor era parceiro de Carlos Cachoeira.

– Essa é a história de um governo que vem ser perseguido pelo crime organizado e de um governante que a despeito disso trabalha para restituir o poder público no DF. O contrato da Delta não foi assinado em meu governo e foi a mando da Justiça. Mas o governo eleito não era amigo. Depois de 26 dias que tomei posse determinei um auditoria profunda – disse.

O governador afirmou, ainda, no depoimento à CPMI do Cachoeira, que o grupo do empresário Carlos Cachoeira “tentou, mas não conseguiu”, fraudar uma licitação no governo do Distrito Federal. Segundo Agnelo, a investigação da Polícia Civil do DF sobre a atuação do grupo de Cachoeira na licitação da bilhetagem eletrônica do DFTrans mostra que o governo do DF não tem ligação com o grupo.

– O grupo de Cachoeira tentou fraudar uma licitação do sistema de bilhetagem. Tentou, mas não conseguiu porque o DFTrans sequer realizou a licitação – acrescentou o governador.

Outra acusação, a de que Cachoeira tinha influência em seu governo, segundo Queiroz, é uma ofensa “à inteligência alheia”.

– Como então falar em Carlos Cachoeira operando em licitação no GDF se não houve a licitação? Se ele tivesse ligação do governador, precisava de lobista para chegar até o secretário de Transportes? Não vamos ofender a inteligência alheia – disse.

Queiroz desafiou ainda que qualquer um apontasse algum ato do DF em favor de Cachoeira.
– Que ato do governador que beneficiou essa organização? Quando foi? Eu quero um só – pontuou.
Queiroz levantou, ainda, um outro caso levantado pela Polícia Federal para reafirmar que o governo do DF impediu a atuação do grupo de Carlos Cachoeira.

– Os autos da operação Monte Carlo mostram que eles forjaram a compra de terras públicas e tentaram legalizar a posse. Foi mais uma tentativa frustrada”, disse. “Se Cachoeira tinha acesso ao governador, porque tinha que aliciar funcionários da base e mesmo assim não conseguiu? – questionou.

Anvisa
Queiroz defendeu-se, ainda, da acusação de que teve responsabilidade administrativa na autorização de funcionamento de uma importadora de medicamentos pertencente a um empresário que lhe vendera uma casa.

– O que foi investigado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o próprio certificado mostra que não há nenhum envolvimento meu – afirmou.

Agnelo disse ainda que todas as suas contas como diretor da agência foram aprovadas pelo TCU:
– A Anvisa tem um grau de rigor absurdo. Nenhum dirigente da Anvisa consegue atestado de boas práticas. E todas as minhas contas da Anvisa estão aprovadas pelo Tribunal de Contas da União. Na minha gestão na Anvisa, mudamos toda a demanda reprimida que havia ali. A agência deu um grande salto nesses últimos anos com a minha modesta colaboração como diretor. E observo, fui diretor, não presidente da Anvisa – concluiu Queiroz.

Fonte:Jornal Correio do Brasil, 13/06/12

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