Manifestação pró-governo em São Paulo
Jorge Araújo/Folhapress
Folha, 18/03/2016 19h57 - Atualizado às 20h08
Em ato contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff na noite desta sexta-feira (18) na avenida Paulista, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a oposição ainda não aceitou o resultado da eleição de 2014.
"Eles acreditaram que iriam ganhar as eleições. Quando a presidente Dilma ganha, eles, que se dizem pessoas estudadas, não aceitaram. Eles estão atrapalhando a presidente Dilma a governar."
Lula acompanhou os gritos da multidão de "não vai ter golpe" que interromperam seu discurso.
O petista, que começou a falar por volta de 19h30, adotou um tom conciliador com os adversários e não faz críticas à operação Java Jato, como fizera no dia em que foi levado à força para depor pela Polícia Federal.
Dirigindo-se aos que não gostam dos petistas, declarou: "Temos que convencê-los que democracia é o resultado do voto da maioria do povo brasileiro." Ao final do discurso, ainda pediu aos manifestantes que não aceitassem provocações na volta para casa.
"Eu virei outra vez 'Lulinha paz e amor'. Não vou lá para brigar, vou lá [para o ministério] para ajudar a companheira Dilma a fazer as coisas que ela precisa fazer por esse país", afirmou. "Eu acho muito engraçado que essa semana inteira alguns setores ficaram dizendo que nós somos os violentos. E tem gente que prega a violência contra nós 24 horas por dia."
"Venho dizer aos companheiros que fazem protesto contra mim: protestem, eu nasci na vida protestando, fazendo greve, fazendo campanha pelas Diretas. Mas eu queria dizer que eles têm que saber que estas pessoas que estão aqui, de vermelho, são parte das pessoas que produzem o pão de cada dia do povo brasileiro. Elas não estão aqui porque tiveram metrô de graça, não estão aqui porque foram convocadas pelos meios de comunicação a semana toda. Elas estão aqui porque sabem o valor da democracia, porque sabem o valor de fazer o pobre subir uma escala no degrau da economia. Se eles comem três vezes por dia, nós queremos comer três vezes por dia", discursou Lula.
"Quero que esse dia seja uma lição para aqueles que nos tratam como cidadãos de segunda classe, que [acham que] democracia é uma letra morta na constituição"
"Eu pensei que nada mais pudesse mais me emocionar", disse o presidente, com a voz embargada e sob aplauso dos presentes no início de sua fala.
Segundo a organização, há 250 mil pessoas no ato. A PM não fez estimativa.
Ao longo do dia, ônibus chegaram do interior de São Paulo e do ABC com manifestantes. Eles usam roupas vermelhas –soltaram até uma fumaça desta cor na avenida–, tocam o jingle que lançou Lula em 1989, "Lula lá, brilha uma estrela" e cantam "agora, ficou sinistro, o Lula virou ministro".
O ex-presidente, aliás, é o protagonista do protesto. Há poucas menções à presidente Dilma. Na avenida, camelôs tentam, sem sucesso, vender as bandeiras do Brasil que fizeram sucesso no protesto pró-impeachment de domingo (13). O cantor Chico César se apresentou na avenida. Ao fim de cada música, gritos de "não vai ter golpe".
Manifestantes criam uma jararaca de tecido e cartolinas, em alusão ao animal escolhido por Lula para personificar a si próprio.
Jorge Araujo/Folhapress
Ato de militantes e centrais sindical a favor de Dilma e Lula na Paulista
HADDAD
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), discursou logo antes de Lula.
"Esse ato histórico é pela democracia brasileira. O estado democrático de direito está sob risco hoje. Ninguém pode ser constrangido em sua casa para depor coercitivamente. Ninguém pode ter conversas íntimas telefônicas divulgadas dessa maneira. Onde se vê hoje é um julgamento sumário", disse Haddad.
"O que se vê no Brasil hoje é um julgamento sumário", disse o prefeito, pré-candidato à reeleição.
Haddad disse que ato defende inclusive o direto daqueles que foram se manifestar na Paulista no domingo
SOCOS
Por volta das 17h15 desta sexta (18), manifestantes da CUT e do PT jogaram garrafas de plástico e chegaram a trocar socos com um grupo pró-impeachment que tentou abrir um cartaz contra Dilma em frente à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). A PM dispersou a briga com spray de pimenta.
Por volta de 16h50 desta sexta (18), um grupo contra Lula e Dilma chegou prometendo abrir faixas e cartazes em frente à Fiesp. Um empresário de Mauá, Mauro Romam de Melo, 51, levou seus funcionários para fazer uma "resistência pacífica", segundo ele.
Atos pró-governo ocorrem em pelo menos 25 Estados e no Distrito Federal, nas cidades de São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Vitória (ES), Curitiba (PR), Brasília (DF), Manaus (AM), Boa Vista (RR), Florianópolis (SC), Recife (PE), João Pessoa (PB), Salvador (BA), Aracaju (SE), Natal (RN), Fortaleza (CE), Maceió (AL), Belém (PA), Teresina (PI), Belo Horizonte (MG), Goiânia (GO), São Luís (MA), Palmas (TO), Porto Alegre (RS), Campo Grande (MS), Macapá (AP), Porto Velho (RO) e Cuiabá (MT). No Rio, manifestantes levaram bandeiras da Petrobras; outros cantaram "acabou o caô, o ministro chegou, o ministro chegou", parodiando funk de sucesso na cidade.
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