17/02/2017
Reprodução/Youtube
Youtubers Lukas Marques e Daniel Molo em vídeo que fala do reforma do ensino médio
Um vídeo no YouTube que explica "tudo que você precisa saber sobre o ensino médio" já tem mais de 1,6 milhão de visualizações. Com conclusões positivas sobre a reforma, o material tem a aparência de espontaneidade, mas trata-se de publicidade e disfarçada do MEC (Ministério da Educação).
O governo Michel Temer pagou R$ 65 mil para o canal Você Sabia falar bem da reforma. Comandado por dois jovens, o canal no YouTube conta com 7,1 milhões de assinantes.
No vídeo, publicado em 31 outubro de 2016, os youtubers Lukas Marques e Daniel Molo explicam benefícios da reforma. "Com esse vídeo você aí deve estar dando pulo de alegria. Se eu tivesse que fazer o ensino médio e soubesse dessa mudança eu ficaria muito feliz", diz um deles.
Nada no vídeo diz que se trata de conteúdo pago. Pelo contrário. "A gente achou o tema bastante interessante, uma galera [estava] discutindo nas redes sociais, e então falamos: deixa com nós que a gente explica direitinho", reforça um deles no final.
A reforma no ensino médio foi sancionada nesta quinta-feira (16) pelo presidente Michel Temer. O governo acelerou a tramitação no Congresso Nacional por meio de uma medida provisória.
Os youtubers ressaltam aspectos do projeto, como a possibilidade de escolher as áreas de aprofundamento. "Você ai que quer trabalhar com história, não vai ficar perdendo tempo com célula".
A Folha apurou que outros dois canais foram procurados, mas ambos recusaram. Daniel Molo disse que o conteúdo foi encomenda de sua produtora, a Digital Stars, e que frequentemente trabalham com conteúdo patrocinado. Quando julgam que o resultado será "interessante".
"A gente já ia fazer um vídeo sobre o novo ensino médio. Como recebemos a proposta, decidimos aceitar", diz Molo, que não comentou valores. "Recebemos uma coxinha e um refrigerante em troca", brincou.
A produtora Digital Stars representa alguns dos youtubers mais bem-sucedidos do Brasil, como Kéfera Buchmann, Christian Figueiredo, Felipe Castanhari e Flavia Calina.
Segundo o MEC, canais de influenciadores digitais complementam a estratégia de comunicação institucional. A pasta informou que o pagamento foi realizado dentro da legalidade, por meio da agência já escolhida por licitação para atender o MEC.
Para rebater críticas à reforma, o MEC reforçou o gasto com publicidade. De outubro a janeiro, gastou R$ 13 milhões, valor 51% superior ao gasto no período anterior.
Ao menos até esta quinta-feira (16), propagandas oficiais na TV, rádio e internet divulgavam a reforma do ensino médio.
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