A nova "papamania" não garante o sucesso das reformas na Cúria Romana
Ele reconquistou a admiração de católicos e céticos pela rígida e hierárquica Igreja Católica. Voltou a lotar a Praça de São Pedro, no Vaticano, durante audiências e orações. Amoleceu o coração de mais de 3,5 milhões de jovens espremidos na Praia de Copacabana, em julho do ano passado, na Jornada Mundial da Juventude — o primeiro grande evento internacional do pontificado. Lavou os pés de presidiários, abraçou doentes, carregou ovelha nos ombros, fez duros discursos contra o próprio clero e cativou o povo com bênçãos, sorrisos e um jeito latino de ser.
Com Francisco, o Vaticano começa a se abrir para as questões do mundo no novo século
Há um ano, o cardeal Jorge Mario Bergoglio virava papa Francisco e iniciava uma guinada na imagem da instituição que representa 1,2 bilhão de pessoas do mundo inteiro. O argentino que antes de virar padre namorava e jogava futebol alcançou o cargo máximo do catolicismo após a inusitada renúncia de Bento XVI. Jesuíta, com fortes raízes franciscanas e envolvido com temas políticos e sociais, o pontífice surpreendeu desde a primeira aparição.
As palavras e os gestos ousados do novo papa ajudaram a amenizar o momento sombrio da Igreja, atingida por uma ferrenha disputa pelo poder dentro da Cúria Romana, por desvios de dinheiro e por casos de pedofilia. Mas, ao contrário do que possa parecer, Francisco não é unanimidade. Justamente a simplicidade que encanta a maior parte do povo é o que provoca arrepios na ala mais conservadora. “Eles estão morrendo de raiva”, nota o padre Geraldo de Mori, diretor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje), em Belo Horizonte.
Reação conservadora
Se, dos muros do Vaticano para fora, a Igreja talvez viva seu melhor momento desde os tempos áureos de João Paulo II, internamente o combate de Francisco contra resquícios de uma instituição que insiste no poder político como defesa da fé encontra bastante resistência. “Ele quer uma Igreja mais popular, enquanto muitos ainda alimentam a melancolia de uma época em que a Igreja dominava a sociedade”, afirma um padre que morou por 10 anos em Roma e tem trânsito livre no Vaticano.
Na mesma noite do fim do conclave, em 13 de março do ano passado, comentários nas redes sociais já criticavam a postura de Francisco. Trata-se de grupos católicos pouco simpáticos ao Concílio Vaticano II, considerado fundamental para a atualização da Igreja aos tempos modernos. Se dependesse deles, as missas ainda deveriam ser rezadas em latim, com os padres de costas para a comunidade, e os papas usariam tiara imperial.
A avaliação dos ultraconservadores é de que Francisco exagera na espontaneidade, assumindo um grande risco de se desvencilhar da doutrina da Igreja. “Os católicos que guardam algum senso real de sua fé estão sendo escandalizados pelas palavras e ações do homem que está atualmente sentado na cadeira de Pedro”, diz o texto de um dos vários blogs criados para ridicularizar declarações do papa. “Agora, é a vez da Igreja de todos, onde vale tudo”, completa o texto, em tom de ironia.
Não à toa, o que mais católicos e não católicos se perguntam, diante da papamania, é: até onde conseguirá chegar Francisco? Esse questionamento serviu de inspiração para a manchete da edição argentina do diário francês Le Monde do mês passado, que trouxe um especial sobre o primeiro ano de papado do argentino e sumiu das bancas em poucos dias. “Continuidade ou transformação?”, provoca o jornal, sustentando um dilema ainda sem resposta.
Palavra de especialista: informação só por cargo
“Não me parece que o papa Francisco esteja pensando em marketing. Ele demonstra, de fato, ser uma pessoa muito voltada à religiosidade e aos princípios da Igreja, com muita espontaneidade. Como outros papas, incluindo João Paulo II, ele está tão em sintonia com a sociedade que acaba criando, como consequência, uma imagem favorável, não só perante a comunidade católica. O carisma dele, claro, ajuda para isso. O papa Francisco está de acordo com o seu tempo, consegue inspirar pelo exemplo”.
Ele reconquistou a admiração de católicos e céticos pela rígida e hierárquica Igreja Católica. Voltou a lotar a Praça de São Pedro, no Vaticano, durante audiências e orações. Amoleceu o coração de mais de 3,5 milhões de jovens espremidos na Praia de Copacabana, em julho do ano passado, na Jornada Mundial da Juventude — o primeiro grande evento internacional do pontificado. Lavou os pés de presidiários, abraçou doentes, carregou ovelha nos ombros, fez duros discursos contra o próprio clero e cativou o povo com bênçãos, sorrisos e um jeito latino de ser.
Com Francisco, o Vaticano começa a se abrir para as questões do mundo no novo século
Há um ano, o cardeal Jorge Mario Bergoglio virava papa Francisco e iniciava uma guinada na imagem da instituição que representa 1,2 bilhão de pessoas do mundo inteiro. O argentino que antes de virar padre namorava e jogava futebol alcançou o cargo máximo do catolicismo após a inusitada renúncia de Bento XVI. Jesuíta, com fortes raízes franciscanas e envolvido com temas políticos e sociais, o pontífice surpreendeu desde a primeira aparição.
As palavras e os gestos ousados do novo papa ajudaram a amenizar o momento sombrio da Igreja, atingida por uma ferrenha disputa pelo poder dentro da Cúria Romana, por desvios de dinheiro e por casos de pedofilia. Mas, ao contrário do que possa parecer, Francisco não é unanimidade. Justamente a simplicidade que encanta a maior parte do povo é o que provoca arrepios na ala mais conservadora. “Eles estão morrendo de raiva”, nota o padre Geraldo de Mori, diretor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje), em Belo Horizonte.
Reação conservadora
Se, dos muros do Vaticano para fora, a Igreja talvez viva seu melhor momento desde os tempos áureos de João Paulo II, internamente o combate de Francisco contra resquícios de uma instituição que insiste no poder político como defesa da fé encontra bastante resistência. “Ele quer uma Igreja mais popular, enquanto muitos ainda alimentam a melancolia de uma época em que a Igreja dominava a sociedade”, afirma um padre que morou por 10 anos em Roma e tem trânsito livre no Vaticano.
Na mesma noite do fim do conclave, em 13 de março do ano passado, comentários nas redes sociais já criticavam a postura de Francisco. Trata-se de grupos católicos pouco simpáticos ao Concílio Vaticano II, considerado fundamental para a atualização da Igreja aos tempos modernos. Se dependesse deles, as missas ainda deveriam ser rezadas em latim, com os padres de costas para a comunidade, e os papas usariam tiara imperial.
A avaliação dos ultraconservadores é de que Francisco exagera na espontaneidade, assumindo um grande risco de se desvencilhar da doutrina da Igreja. “Os católicos que guardam algum senso real de sua fé estão sendo escandalizados pelas palavras e ações do homem que está atualmente sentado na cadeira de Pedro”, diz o texto de um dos vários blogs criados para ridicularizar declarações do papa. “Agora, é a vez da Igreja de todos, onde vale tudo”, completa o texto, em tom de ironia.
Não à toa, o que mais católicos e não católicos se perguntam, diante da papamania, é: até onde conseguirá chegar Francisco? Esse questionamento serviu de inspiração para a manchete da edição argentina do diário francês Le Monde do mês passado, que trouxe um especial sobre o primeiro ano de papado do argentino e sumiu das bancas em poucos dias. “Continuidade ou transformação?”, provoca o jornal, sustentando um dilema ainda sem resposta.
Palavra de especialista: informação só por cargo
“Não me parece que o papa Francisco esteja pensando em marketing. Ele demonstra, de fato, ser uma pessoa muito voltada à religiosidade e aos princípios da Igreja, com muita espontaneidade. Como outros papas, incluindo João Paulo II, ele está tão em sintonia com a sociedade que acaba criando, como consequência, uma imagem favorável, não só perante a comunidade católica. O carisma dele, claro, ajuda para isso. O papa Francisco está de acordo com o seu tempo, consegue inspirar pelo exemplo”.
Leia a matéria completa em http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2014/03/13/interna_mundo,417243/em-um-ano-a-frente-da-igreja-papa-francisco-mudou-a-imagem-do-pontificado.shtml
Fonte: Correio Braziliense, 13/03/14
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