sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Novo partido do presidente é um bem de família

"A experiência no PSL mostrou que os filhos encrenqueiros de Jair, assim como o pai, querem mandar e não toleram dividir o poder, e nem ouvir contestações. É o comportamento antítese de quem sai a campo para formar um partido, o que exige composição política e capacidade de agregação", resume a jornalista Helena Chagas

Brasil 247, 04/12/2019, 17:13 h
 (Foto: Reprodução)

Por Helena Chagas, no Divergentes e para o Jornalistas pela Democracia

O TSE deu uma mãozinha ao presidente Jair Bolsonaro ao formar maioria a favor da liberação do uso de assinaturas eletrônicas para a criação de partidos. Nada demais, vale para ele e para todo mundo. E o problema principal da Aliança pelo Brasil não é cumprir a exigência das assinaturas e outros trâmites da burocracia partidária. O maior obstáculo é político.

O problema é que o novo partido do presidente da República — o primeiro a tomar esse tipo de iniciativa no cargo — é um bem de família. Jair Bolsonaro colocou o filho Flávio como principal dirigente, e amigos próximos para organizar o partido nos estados. Ninguém duvida que, com a caneta, a máquina pública e o Diário Oficial nas mãos, o clã consiga organizar formalmente a nova agremiação.

O que ela será do ponto de vista político e eleitoral, porém, são outros quinhentos. No nosso indigente sistema partidário, poderá ser mais um partideco, ou até um partidão, com direito a fundo partidário e eleitoral. De direita, é claro, possivelmente atraindo bolsominions espalhados pelo Brasil.

Será um partido, porém, que nasce com uma cabeça enorme, localizada em Brasília, e um corpo minúsculo, sem qualquer enraizamento político nos estados e municípios. O próprio bolsonarismo foi irremediavelmente dividido, por obra da família Bolsonaro.

A experiência no PSL mostrou que os filhos encrenqueiros de Jair, assim como o pai, querem mandar e não toleram dividir o poder, e nem ouvir contestações. É o comportamento antítese de quem sai a campo para formar um partido, o que exige composição política e capacidade de agregação. Nesse quesito, não há ajuda da Justiça eleitoral ou da máquina governista que resolva.

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