segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Sindicalista diz que fechar escolas e superlotar salas é um crime

Mas os governos do PSDB querem isso em todos os estados que governam

SP 247 - Continua a repercutir muito mal entre os professores a decisão do governador Geraldo Alckimn de fechar 94 escolas da rede pública estadual de ensino em São Paulo. A 'reorganização' elaborada pelo Estado tem objetivo de economizar dinheiro, e os profissionais de educação avaliam que a escolha da área para se fazer economia foi a pior possível.

Em texto publicado na Rede Brasil Atual, a presidente da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), Maria Izabel Azevedo Noronha, afirma que 'fechar escolas e superlotar salas é um crime'. Ela ainda desconstrói todos os argumentos do ponto de vista pedagógico usados como justificativa pelo governo Alckmin. Abaixo a íntegra do texto.

'Fechar escolas e superlotar salas é um crime!'

Temos dito, e reafirmamos, que esta verdadeira bagunça que o governo Alckmin está fazendo, com o fechamento de 94 escolas e mudanças em outras 752 unidades visa tão somente o corte de gastos, a "racionalização" administrativa e financeira, o "enxugamento" da máquina do Estado, enfim, a aplicação do receituário neoliberal do Estado mínimo, concepção sempre implementada pelo PSDB aos serviços públicos.

A tese de que é preciso separar crianças menores de crianças maiores e separar crianças e adolescentes não tem nenhuma sustentação pedagógica e não tem nada a ver com ciclos de aprendizagem. Em sua correta acepção, os ciclos reúnem estudantes de acordo com seus estágios de aprendizagem, pouco importando suas idades.

O que o governo estadual está fazendo é um retrocesso, um rompimento com os avanços que experimentamos nos últimos anos e a quebra do ensino fundamental de nove anos. É um retorno à seriação, aos tempos em que, em plena ditadura, tínhamos separados o primário, o ginásio e o segundo grau (ou colegial).

Alckmin tenta justificar as barbaridades que está fazendo por exemplo dizendo que quer implantar escolas de "ciclo único" (termo incorreto, como já vimos), mas entre as 94 escolas que quer fechar, 40% já são de "ciclo único". Diz que vai investir no ensino médio, mas 10% das escolas a serem fechadas são de ensino médio. Diz que quer melhorar a qualidade do ensino, mas muitas escolas que serão fechadas tŅm médias mais altas no IDEB e no IDESP, que são indicadores de avaliação nacionais e estaduais.

Afinal, como acreditar em um governo estadual que tergiversa tanto? Primeiro, fecharia ou alteraria a situação de 30% das escolas; depois, não fecharia escolas, agora anuncia o fechamento de 94 unidades, sendo que muitas delas nem sequer são as mesmas cogitadas inicialmente.

Esta bagunça vai alterar muita coisa na vida de estudantes, suas famílias e professores. Fechar escolas é enviar estudantes para outras unidades, superlotando salas de aula. Da mesma forma, fechar o noturno ou uma etapa de ensino em uma unidade é sobrecarregar as demais da região ou a rede municipal. Não apenas serão afetadas escolas com as quais o governo paulista mexe diretamente, mas toda a rede, pelo "efeito cascata".

No caso dos professores, será mais difícil compor jornada em apenas uma unidade escolar, se ministrarem aulas para o segundo ciclo do ensino fundamental e no ensino médio. Professores das escolas que serão fechadas irão disputar aulas com os colegas das demais unidades, assim como os das escolas "reorganizadas". Se não conseguirem aulas, poderão ficar "adidos", ou seja, "encostados", recebendo salários menores.

Por exemplo, um professor PEB II, com jornada de 40 horas semanais, hoje recebe R$ 2.415,89 em início de carreira. Na disputa por aulas, poderá ter sua jornada reduzida para 30 horas ou 24 horas semanais de trabalho, com redução salarial. No limite, poderá ficar adido, recebendo salário equivalente à jornada inicial (12 horas semanais de trabalho). No caso do PEB II, significa R$ 724, 77. No caso de PEB I, poderá passar de R$ 2.086,93 (40 horas semanais) para R$ 626,07. O que está em jogo é a sobrevivência desses professores. O governo do PSDB quer mesmo transformar o magistério em um "bico".

Fonte: Brasil 247, 01/11/2015


Nenhum comentário: