Folha/Josias de Souza, 17/06/2016
A caciquia do PMDB perdeu o nexo. Ao tratar Sérgio Machado como um patife sem explicar por que um sujeito como ele presidiu em nome do partido uma das mais importantes subsidiárias da Petrobras por quase 12 anos, os pajés peemedebistas estão, no fundo, pedindo à plateia que faça como eles, que se fingem de bobos pelo bem da nação.
Xamãs como Michel Temer e Renan Calheiros sabem que o patriotismo do ex-senador Sérgio Machado cabe numa caixa de fósforos. Mas acham que não devem nada a ninguém. Muito menos explicações. Não convém arriscar a estabilidade do governo provisório por algo tão politicamente dispensável como um lote de esclarecimentos sobre a missão partidária que o agora delator exercia na Transpetro.
Acusado de requisitar uma machadiana de R$ 1,5 milhão para a campanha de Gabriel Chalita, em 2012, Michel Temer amarrou o futuro de sua gestão numa frase: “Alguém que teria cometido aquele delito irresponsável que o cidadão Machado apontou, não teria até condições de presidir o país”. Em timbre pausado, Temer disse que a delação do “cidadão Sérgio Machado” é “irresponsável, leviana, mentirosa e criminosa.”
O procurador-geral Rodrigo Janot analisa se Temer merece ser investigado. Não se pode culpar ninguém com base apenas no verbo de um delator. Mas o substituto constitucional de Dilma Rousseff condenou-se a viver um cotidiano surreal: presidente do PMDB há 15 anos, Temer sempre soube que Machado fazia e acontecia na Transpetro. Administrava os ciúmes do PMDB da Câmara, que não era aquinhoado. Mas agora precisa fingir que não notou que Machado estava lá.
Renan Calheiros, apontado como beneficiário de um supermensalão de R$ 300 mil e propinas que somaram R$ 32 milhões, foi ainda mais incisivo: “Essa delação do ex-senador Sérgio Machado é uma delação mentirosa do começo ao fim. Ela não apresenta uma prova sequer. É a repetição de narrativas de delatores que estão desesperados para sair da cadeia ou querem limpar, lavar milhões que pilharam do setor público. Eu não acho isso razoável.”
Até os fios de cabelo implantados na cabeça de Renan sabem que ele era o padrinho-chefe de Sérgio Machado. Sua tentativa de se desvencilhar do caso Transpetro, apenas a penúltima e mais explosiva de uma cadeia de histórias mal contadas enganchadas em sua biografia, também envolve uma conclamação ao sacrifício da sanidade nacional. Renan diz que Machado pilhou o setor público. Mas se abstém de informar porque o mantinha sob sua proteção política. A reação do PMDB à delação de Machado ofende a inteligência de uma criança de cinco anos.
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