Manifestantes que usavam camisetas da Seleção Brasileira de futebol vestiram seu José, morador de rua, com uma placa de papelão dupla com os dizeres “era empresário, virei mendigo” e “tomei no c*”. Ele também teve adesivos de “Fora Dilma” colados na cabeça semicalva. Constatei que ele estava sendo usado.
Seu José, o mendigo que protestava contra Dilma na avenida Paulista
Pedro Zambarda de Araújo, DCM
Fui embora da Paulista com lágrimas nos olhos, aflito e com uma dúvida: não sabia se o nome dele era José ou Antônio. Saí perambulando por toda a avenida atrás de um senhor que estava no chão com uma placa de papelão dupla, no peito e nas costas com os dizeres: “era empresário, virei mendigo” e “tomei no c*”.
Eram 18hrs quando bati a foto com o celular. Seu José estava no chão, sem mover as pernas, com apenas um chinelo, e vibrava contra Dilma. Morador de rua, ele foi vestido pelos manifestantes com a placa e teve adesivos de “Fora Dilma” colados na cabeça semicalva. Ele se divertia, deixava-se fotografar e cumprimentava alguns dos homens vestidos com camisetas da Seleção Brasileira.
O número de mendigos na Avenida Paulista aumentou nos últimos anos, segundo a própria prefeitura, refletindo a desigualdade de São Paulo sob Geraldo Alckmin e Fernando Haddad. Um morador sem teto que sempre fica próximo da estação de metrô Brigadeiro não estava por lá, mas vi ele no ano passado.
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A avenida ficou suja para que outros mendigos, catadores de latinha, recolhessem algum entulho das cervejas, hot-dogs e churrasquinhos consumidos naquele momento em que o MBL comemorava mais de um milhão de pessoas na rua e muita gente iria dormir sem um teto pra aquecer.
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Como um protesto desses teria o apoio de moradores sem teto? Ainda mais considerando as barbaridades que a direita diz sobre Guilherme Boulos e suas discussões envolvendo o MTST dentro de São Paulo. Sem teto não tem voz e nem vez com a elite.
Sempre fui fã do jornalismo de repórteres como Eliane Brum, que partem do ponto de vista dos desfavorecidos e dos desvalidos para explicar as desigualdades sociais e os problemas políticos brasileiros. Neste protesto contra Dilma, vi como a direita utiliza os pobres para sempre tentar provar que está certa. Eu fotografei isso.
Mas confesso que não consegui reagir da melhor forma ao ver o que fizeram com o senhor José. E me perturbou vê-lo sorrindo. Constatei que ele estava sendo usado.
Deveria tê-lo ajudado.
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“Agora eu acho que esse governo corrupto vai cair”, diziam os antipetistas.
Enquanto batemos boca sobre Dilma, Lula, Aécio e FHC, milhões de pessoas vão dormir na rua e até na própria Avenida Paulista, em condições de vida obscenas.
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