André Falcão*
Desde quando a crise internacional por aqui desembarcou, e os grandes grupos midiáticos tupiniquins passaram a bombardear a cabeça do brasileiro, dia após dia, por semanas e meses a fio, venho, pasmo, a observá-la (a crise), aos fenômenos que lhe margeiam e aos coros dos descontentes, manipulados, porque incautos, ou de má-fé, mesmo, no seu contumaz exercício de desonestidade intelectual movido pela luta de classes em que está enfronhado, a par com fatos e números da economia que teimam em refutá-la.
Até por isto, já se tornou famosa e objeto de pilhéria e deboche a expressão “apesar da crise”, a iniciar o título de notícia positiva da economia veiculada pelos grandes grupos midiáticos, ou a findá-lo, quando não lhe é possível escamoteá-los, apesar da crise!
Claro que a crise alcançou o Brasil, e que ela é perversa e relevante. O problema é que o seu tamanho, aqui, é criminosamente amplificado pelos artifícios midiáticos, de modo que seus efeitos se dão tanto efetivamente, quanto apenas no plano psicológico.
A crise existe, é internacional, e o governo tem parcela de responsabilidade pelo seu incremento e equívocos no seu enfrentamento. Porém, pela manipulação e clima criado pela oposição incompetente e irresponsável, sob o comando da mídia de direita aparelhada para dar-lhe sustentação, ela não apenas se torna maior, mesmo, do que seria ou é, como dá a impressão (psicológica) de uma estatura ainda mais robusta.
É de se notar, inclusive, que boa parte do empresariado mais engabelado pela mídia e suas pretensões políticas, que inicialmente fez coro à crise, com o objetivo de enfraquecer, para golpear, um governo recente e legitimamente re-eleito, agora, ao sentir o gosto amargo da cria que alimentou, percebe que deu um tiro-no-pé, quando não no coração (de sua empresa).
Assim, enquanto presencio por todo o país aeroportos, hotéis e rodovias lotados de brasileiros, pasmo, pois, com a esquisita crise alardeada pela mídia criminosa, a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (ALSHOP) divulga que as compras em suas lojas sofreram em 2015 (ano da crise) um incremento de 1,7% relativamente a 2014. E que houve uma queda de (apenas) 1% em relação ao Natal dos últimos 10 anos (apesar da crise).
O que a mídia, então, noticiou, enfaticamente? A queda de 1%. E como é de seu feitio, o fez sem esclarecer que ela refere-se ao período de 1 a 24 de dezembro, tampouco que há onze anos atrás (e há doze, treze, etc.), o incremento foi maior.
Assim é a chamada grande mídia.
*André Falcão é advogado e autor do Blog do André Falcão. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político
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