Num artigo sensato e corajoso, o escritor Luis Fernando Verissimo contesta a tese que se alastrou entre os veículos de comunicação conservadores, todos apoiadores do regime militar de 1964, de que a Comissão Nacional da Verdade deveria ter igualado os crimes cometidos por agentes do Estado aos atos de violência ligados à esquerda revolucionária; 'Não aceitar a diferença entre a violência clandestina de contestação a um regime ilegítimo e a violência que arrasta toda uma nação para os porões da ditadura é desonesto", diz Verissimo.
RS 247 - Logo depois que a Comissão Nacional da Verdade apresentou seu relatório final, na semana passada, apontando os nomes de 377 agentes do Estado brasileiro que cometeram crimes contra a humanidade, durante o regime militar, alastraram-se editoriais, nos veículos de comunicação conservadores, todos apoiadores do regime, sobre a parcialidade da CNV. Segundo os Marinho, os Frias e os Mesquita, era necessário também condenar os responsáveis pelos crimes cometidos pela esquerda revolucionária.
Num corajoso artigo publicado nesta quinta-feira, chamado 'Os dois lados', o escritor Luis Fernando Verissimo contesta a tese de que agentes do Estado que prendem dissidentes, matam e torturam podem ser igualados a cidadãos que combatem um regime ilegítimo.
"A principal diferença entre um lado e outro é que os crimes de um lado, justificados ou não, foram de sublevação contra o regime, e os crimes de outro lado foram do regime. Foram crimes do Estado brasileiro. Agentes públicos, pagos por mim e por você, torturaram e mataram dentro de prédios públicos pagos por nós. E, enquanto a aberração que levou a tortura e outros excessos da repressão não for reconhecida, tudo o que aconteceu nos porões da ditadura continua a ter a nossa cumplicidade tácita. ão aceitar a diferença entre a violência clandestina de contestação a um regime ilegítimo e a violência que arrasta toda uma nação para os porões da ditadura é desonesto", diz ele.
Verissimo cobra ainda um pedido de desculpas dos militares. "Enquanto perdurar o silêncio dos militares, perdura a aberração. E você eu não sei, mas eu não quero mais ser seu cúmplice."
Fonte: RS 247, 18/12/14
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