sábado, 22 de novembro de 2025

Espécies estranhas, clima extremo: a ilha perdida no meio do oceano que parece de mentira

BIODIVERSIDADE

Turistas descrevem o lugar como “extraterrestre, num misto de estranhamento e fascínio

Revista Forum, 21/11/2025

Créditos: Flickr / Rod Waddington / Creative Common

Artigo de Por Raony Salvador, publicado em
MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE,  21/11/2025 · 13:01 hs

Quem pisa em Socotra tem a sensação de ter deixado a Terra para trás. A ilha iemenita, perdida no meio do Oceano Índico, é conhecida por abrigar formas de vida que não aparecem em nenhum outro ponto do planeta. O isolamento geográfico, o clima extremo e uma evolução moldada ao longo de milhões de anos criaram ali uma paisagem que desafia a imaginação.

Com 3.625 km², Socotra é a maior ilha de um arquipélago formado por quatro ilhas principais e duas ilhotas rochosas, situada a cerca de 380 quilômetros da costa do Iêmen. Por estar tão distante do continente, desenvolveu uma biodiversidade singular. Turistas descrevem o lugar como “extraterrestre”, num misto de estranhamento e fascínio — em especial ao observar as árvores que se tornaram símbolo local.

Entre as espécies mais emblemáticas está a Sangue de Dragão (Dracaena cinnabari). A copa arredondada, semelhante a um guarda-chuva invertido, e a seiva espessa de cor vermelha — liberada quando o tronco é cortado — renderam à árvore uma fama quase mitológica, como se tivesse saído de um cenário de ficção científica.
Dracaena cinnabari. Fonte: Boris Khvostichenko/Wikipedia

Outra espécie exclusiva do arquipélago é a árvore garrafa, de tronco volumoso e formato incomum, capaz de armazenar grandes quantidades de água para sobreviver à aridez extrema. Em determinados meses do ano, flores rosadas surgem no topo de seus galhos, criando um contraste marcante com o solo rochoso e seco da região.

Estudos indicam que cerca de 37% das plantas nativas de Socotra só existem ali. Entre os répteis, o índice de exclusividade chega a 90%, e entre os caracóis terrestres, a 95%. A diversidade marinha também impressiona: são mais de 730 espécies de peixes, além de uma grande variedade de aves — incluindo espécies ameaçadas de extinção — que utilizam a ilha como área de reprodução e descanso.

Apesar de toda essa riqueza natural, a vida humana é marcada pela precariedade. Estima-se que cerca de 60 mil pessoas vivam em Socotra. O clima é árido, as temperaturas são elevadas e a terra é infértil e rochosa, o que torna a criação de gado uma das principais formas de sustento. Em muitas casas, não há água corrente nem eletricidade, e o acesso a serviços básicos é limitado.


De junho a setembro, a ilha é atingida por ventos muito fortes que tornam a navegação perigosa e já foram responsáveis por diversos naufrágios ao longo da história. O isolamento imposto pelas condições climáticas reforça ainda mais o caráter remoto do arquipélago.

A origem geológica de Socotra ajuda a explicar sua singularidade. Pesquisadores apontam que a ilha foi separada do continente africano há milhões de anos, permitindo que seus ecossistemas evoluíssem de forma isolada. Essa distância física se traduziu em uma natureza própria, com alta taxa de endemismo e paisagens únicas.

A história humana também deixou marcas profundas. Socotra foi colônia portuguesa, depois protetorado britânico, até integrar oficialmente o Iêmen em 1967. Em 2008, o arquipélago foi reconhecido pela Unesco como Patrimônio da Humanidade, e todas as ilhas passaram a contar com proteção legal, num esforço para preservar um dos ecossistemas mais extraordinários do planeta.





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