domingo, 16 de novembro de 2025

Estadão manipula dados de pesquisa para fabricar manchete pró Tarcísio

Pesquisa, que revela um salto de 11 pontos na rejeição a Tarcísio, é manipulada para mostrar que postulante da terceira via "atrai simpatia de eleitores de Lula". Ciro Nogueira e Eliane Cantanhêde revelam que matança de Castro empurrou "volta ao jogo".

Revista Fórum, artigo de Plinio Teodoro,16/11/2025 · 11:09

Tarcísio repete efusivamente a cena de privatizador para agradar a mídia liberal e a Faria Lima. Pablo Jacob / Governo do Estado de SP


Em meio às tratativas no clã Bolsonaro para lançar um membro da família à Presidência, o Estadão se colocou em defesa da articulação da Terceira Via e manipulou dados da pesquisa "A Cara da Democracia" para fabricar uma manchete positiva para Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) na edição deste domingo (16), dedicada a consolidar o apoio ao governador paulista como o anti Lula.

A pesquisa, divulgada na última quarta-feira (12), revela que um salto na rejeição de Tarcísio, que saiu de 33% em 2024 para atuais 44% - um crescimento de 11 pontos, enquanto a rejeição de Lula oscilou apenas 1 ponto para mais no período.

No entanto, o Estadão fez um "cruzamento exclusivo" dos dados para tentar mostrar que "Tarcísio tem base mais diversa que Bolsonaro e atrai simpatia de eleitores de Lula".


A reportagem, que destaca um "recorte exclusivo de levantamento ‘A Cara da Democracia’ revela que 22% dos que dizem gostar do governador votaram no petista no segundo turno da última eleição" foi estampada como manchete no site, dando uma falsa percepção de que o governador paulista estaria em uma crescente na percepção popular - contrariando a maioria das pesquisas divulgadas recentemente.

A manchete vem acompanhado de um artigo de Eliane Cantanhede, criadora do histórico termo "massas cheirosas" para definir os eleitores da direita tucana, que diz que "quanto mais pesadelo Lula tem, mais Tarcísio sonha e volta ao jogo de 2026".


Com o governador paulista em meio ao fogo cruzado na direita e perdendo popularidade com a conspiração conduzida por Eduardo Bolsonaro (PL) dos EUA, a "colonista" - como dizia o saudoso Paulo Henrique Amorim - afirma que Lula, que lidera todas as pesquisas, está "cambaleando".

"Com Lula franco favorito, praticamente correndo sozinho, o foco é, ou era, a reeleição ao Palácio dos Bandeirantes. Com Lula cambaleando, como parece agora, o céu é o limite. Ou melhor, a meta é o Planalto", afirma sobre Tarcísio.

No texto, ela expõe a estratégia da terceira via, de "manter os demais governadores em campo, como candidatos, para eliminar o risco de vitória de Lula no primeiro turno e unir forças no segundo turno".

"Mas o fundamental é estar próximo o suficiente de Jair Bolsonaro, para atrair seu eleitorado (sem esses votos, Tarcísio não é nada...), e longe o bastante para não ganhar um hematoma, uma torção, quem sabe uma maca para sair de campo", afirma, desnudando a tática de angariar votos do bolsonarismo, sem Bolsonaro.

"Bolsonaro está às vésperas de entrar na Papuda, numa cela da PF ou num cantinho do QG do Exército, Eduardo Bolsonaro torna-se réu por coação (poderia ser por traição à Pátria...), Michele vive cercada de resistências na própria família. O clã afunda, mas o eleitor anti-PT, evangélico, com ojeriza a beijo gay em novela, que quer sangue no combate ao crime continua à tona, e forte", emenda a jornalista.
Ciro Nogueira e editorial

Em longa entrevista ao jornal, o presidente do PP, Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro de Bolsonaro e um dos principais articuladores da terceira via, sinaliza que a chacina de Cláudio Castro (RJ), que deixou 121 mortos nas comunidades do Alemão e da Penha - entre eles 4 policiais - foi uma jogada eleitoral para ressuscitar a candidatura de Tarcísio.

"O Brasil vai dever muito, eternamente, a esse gesto do governador Cláudio Castro porque, desde quando houve essa operação, o País passou a discutir o maior problema para a população, que é o da segurança. Foi uma virada de página", diz Nogueira, que teve a tese ecoada por Cantanhêde, que abre seu artigo dizendo que "o impacto da operação policial mais letal da história não apenas conteve o embalo do presidente Lula como empurrou o governador Tarcísio de Freitas de volta para o jogo de 2026".

Nogueira ainda afirma ter certeza "de que, se tiver uma escolha de um candidato viável como o Tarcísio, vai se unificar todo o centro e a direita do País". "Não vejo possibilidade de surgir outras candidaturas".

Ele ainda afirmou que vai "trair o presidente Bolsonaro", mas prevê que o encarceramento do ex-presidente à Papuda deve beneficiar Tarcísio.

"Eu acho que, se essa prisão acontecer, o sentimento de injustiça e o apoio ao centro e à direita vão aumentar ainda mais", afirma, ressaltando que "espero que não aconteça".

Para selar o alinhamento, O Estadão ainda retoma antiga ladainha em editorial para criticar "a bagunça dos programas sociais", em que papaguea os neoliberais de que "o problema do Brasil não é gastar pouco, mas gastar mal", para atacar políticas como Bolsa Família e Mais Médicos.

"Desde a redemocratização, nenhuma gestão explorou essa lógica com tanto vigor – e tão poucos resultados – quanto as petistas. Em nome da “inclusão social”, o País multiplicou programas, ampliou transferências e produziu uma dependência estrutural que, em vez de emancipar, perpetua a vulnerabilidade. O Bolsa Família, que deveria ser instrumento de transição, virou ativo eleitoral. A política social converteu-se em plataforma de poder, não política sadia de Estado. Decerto o populismo à direita também surfou nessa onda, mas foi a hegemonia petista que consolidou a confusão entre compaixão e clientelismo. E cobrou o preço mais alto: o de um país menos produtivo, mais endividado e cada vez mais dependente do favor público", brada o Estadão, ignorando dados, e ensaiando o discurso eleitoral para 2026.




Nenhum comentário: