PSB QUER TER A FORÇA QUE NÃO TEM
O partido não é orgânico, não obedece um direcionamento, é socialista apenas no nome e não ajudará tanto o Lula na campanha, como imagina
Por Luís Costa Pinto27 de janeiro de 2022, 15:17
Por Luís Costa Pinto, do 247 – Eram poucos, entre líderes políticos da esquerda e da centro-esquerda, aqueles que acreditavam na disposição da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, quando ela dizia ser verdadeiro e honesto o empenho pela consumação da Federação partidária com PSB, PCdoB e PV até a reunião das legendas na última quarta-feira 26 de janeiro. Eram muitos, entre esses mesmos líderes políticos da esquerda e da centro-esquerda, aqueles que preferiam dar ouvidos às duras reclamações e imposições públicas para a grande aliança postas à mesa de negociações pelo presidente do PSB, Carlos Siqueira.
Gleisi estava certa, Siqueira parece ter jogado pragmaticamente e corretamente. A Federação está desenhada, tem prevalência dos petistas em seu Conselho Político e está às vésperas de se constituir no ato juridicamente perfeito (inclusive, registrado em cartório civil como se fosse uma sociedade de fato, como exige a regulamentação das federações instituída pelo Tribunal Superior Eleitoral) por meio do qual o ex-governador paulista Geraldo Alckmin sacramentará sua entrada no PSB e a confirmará seu nome como candidato a vice-presidente da República na chapa encabeçada pelo ex-presidente Lula. Como em todas as eleições tudo que está pré-estabelecido vale até a visita do Sobrenatural de Almeida às coxias do teatro de operações da política, é esse o roteiro que está valendo.
Vencido o obstáculo da Federação, vamos ao PSD
Portanto, bem encaminhada a solução de Federação Partidária com o PSB, o PCdoB e o PV e definido o espectro do personagem Geraldo Alckmin no script de 2002, o “Lula Movimento” dedica-se a roteirizar um novo ato do grande drama brasileiro que nos tem a todos como sujeitos e espectadores de cena – como se estivéssemos em meio a uma apresentação de peça dirigida por José Celso Martinez Correa.
O novo ato, ora em esboço, é a integração do PSD de Gilberto Kassab a essa união de largo diapasão que o ex-presidente constrói já agora a fim de lhe permitir vencer no 1º turno a disputa presidencial e sentar na cadeira presidencial o mais rápido possível. O País está em ruínas, desgovernado, e não haverá tempo a ser desperdiçado com construção de maiorias ou agendas de convergências depois de janeiro de 2023. Elas têm de estar explícitas e definidas muito antes disso.
Kassab demarcou o espaço de sua legenda, o PSD, fundado depois da cisão do antigo PFL, em 2003, e o papel central que desempenharia nas negociações presidenciais, ao dizer há alguns meses ter a pretensão de lançar candidato próprio à Presidência. O ex-prefeito paulistano jamais levou a sério uma candidatura de seu partido. Porém, serviu-se dela – no caso, do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, a quem sentou no trono transitório e imaginário de “candidato”. Com isso, deu corda a arranjos regionais, estabeleceu os lances milimétricos para ampliar a bancada federal e se estabeleceu na boca do palco. Mesmo que não estabeleça Federação com nenhuma outra legenda, o PSD é candidato a sair das urnas proporcionais de 2022 (eleições para deputado federal e deputado estadual) como um dos partidos integrantes do primeiro pelotão.
Lula encontrará Gilberto Kassab nos próximos dias, em conversa remarcada por causa da convalescença do pessedista. Ele contraiu Covid-19 e só agora se recuperou. O ex-prefeito paulistano poderá anunciar – em minha opinião, a tendência é essa e ele deverá fazê-lo – a desistência de Pacheco do pleito nacional e uma aliança com o PT e sua Federação, aberta ou intrínseca, em diversos estados.
Eis as pedidas pessedistas sobre a mesa:
Em Minas Gerais, o rumo é o apoio dos petistas ao prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil. No Rio de Janeiro, o PT estará coligado com o PSB de Marcelo Freixo, para o governo estadual, porém, o prefeito carioca Eduardo Paes, do PSD, negocia apoio ao ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT) ou a candidatura própria do presidente da OAB Felipe Santacruz e pode passar a se movimentar sem maiores hostilidades do PT e de seus aliados fluminenses. Na Bahia, 4º maior colégio eleitoral do País, a determinação passaria a ser consolidar a chapa do senador Jaques Wagner (PT) ao governo e apoiar a reeleição de Otto Alencar (PSD) ao Senado. No Amazonas, raro estado onde Jair Bolsonaro ainda vence o petista, o PT pode apoiar o senador Omar Aziz (PSD), que deseja voltar ao governo local. De quebra, caso esse “argumento” de roteiro para o novo ato das alianças vingue, Rodrigo Pacheco pavimentaria uma tranquila reeleição como presidente do Senado no primeiro biênio da próxima legislatura, 2023-2025.
O ex-presidente Lula é hoje, ao mesmo tempo, roteirista, produtor, diretor e protagonista dessa espetacular peça de engenharia política cuja encenação testemunhamos – ora atônitos, pela genialidade e sofisticação da trama, ora surpresos e até indignados pelo tanto que nos exige de olhar para a frente sem mirar o retrovisor da História. Coisa assim, só vimos Juscelino Kubitscheck fazer, em 1955, ao perdoar os golpistas que queriam revogar-lhe o direito à posse, e Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, na costura da Aliança Democrática de 1984/85.
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