Josias de Souza
Colunista do UOL 25/11/2020 21h23
Em depoimento por escrito ao Ministério Público, Fabrício Queiroz admitiu que parte da movimentação milionária encontrada na sua conta bancária vinha da apropriação de nacos dos salários de assessores do antigo gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio.
O operador de rachadinhas alegou ter agido por conta própria, sem que o seu chefe soubesse. Com isso, condenou o primogênito do presidente da República a percorrer a conjuntura na constrangedora posição de imitador de Lula. Assim como o ex-presidiário petista, Flávio foi como que sentenciado a repetir "eu não sabia."
Na política, convém evitar dois extremos. Num, estão os políticos capazes de tudo. Noutro, situam-se os políticos incapazes de todo. Queiroz acomodou Flávio no segundo grupo, onde se aglomeram os políticos meio atoleimados, incapazes de perceber as acrobacias que os assessores realizam sob o seu nariz.
Para sorte do filho Zero Um do presidente, o Ministério Público do Rio não deu crédito a Queiroz. Para os promotores, Flávio não é o bobão que seu ex-assessor tenta pintar, mas o chefe da organização criminosa que se formou em seu gabinete.
Não é por outra razão que a defesa de Flávio Bolsonaro —a atual e a anterior—a adota a barriga como principal ferramenta processual. Os advogados já ajuizaram mais de uma dezena de recursos protelatórios.
Além de retardar o julgamento, conseguiram transferir o processo da primeira instância para o foro especial do Tribunal de Justiça do Rio. O Ministério Público recorreu ao Supremo. Mas Gilmar Mendes, relator do caso, sentou em cima do recurso.
Do ponto de vista político, há um quê de suicida na tática de Flávio. Ao protelar o andamento do processo, o filho do presidente enfia o seu drama penal, que inclui repasses de R$ 89 mil para a primeira-dama Michelle Bolsonaro, para dentro da campanha eleitoral de 2022.
Há três meses, quando lhe perguntaram sobre a origem do dinheiro depositado na conta de sua mulher, Bolsonaro manifestou o desejo de "encher" a boca do repórter de "porrada". Se Flávio continuar atrasando o relógio, seu pai pode ouvir novamente a incômoda pergunta quando estiver com os pés nos palanques. Será que também vai dizer que "não sabia"?
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