terça-feira, 24 de julho de 2018

Haddad: jurisprudência do TSE e do STF é a favor de Lula

Ministro do Supremo tem que ter mandato

Conversa Afiada, 24/07/2018


Da entrevista de Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, à Fel-lha:

(...) O PT propõe fixação de mandato nos tribunais. Isso não pode ser considerado revanchismo contra o Judiciário?

Haddad: De maneira nenhuma. É comum nos países desenvolvidos fixar mandato para as cortes constitucionais. Uma pessoa que é indicada aos 40 para permanecer num tribunal até os 75 anos talvez não dê a agilidade necessária para que os tribunais atualizem jurisprudência. Não tem nada nesse programa que não tenha amparo nas mais ricas experiências. Na questão da concessão dos meios de comunicação, as duas principais influências foram EUA e Inglaterra. Tanto é verdade que esse tipo de regulação liberal tem o apoio de um veículo como a Folha de S.Paulo. Acho que a Folha não pode ser considerada exatamente um órgão de esquerda.

Será uma regulação econômica, como diz a presidente do partido, Gleisi Hoffmann?

Haddad: No Brasil, temos a política se imiscuindo demais na comunicação. Queremos isolar mais o mundo político-partidário do mundo da comunicação. Para garantir mais pluralismo, contraditório e liberdade de expressão. Existe uma agenda que é impedir a propriedade cruzada, a concentração vertical e a concentração horizontal.

Como vai ser feito o controle?

Haddad: Não é um controle de conteúdo. A direita patrimonialista vai tentar vender como censura. Mas contamos com órgãos mais isentos como a Folha para defender o nosso ponto de vista, que é liberal. Temos muita maturidade. Governamos o Brasil 12 anos em clima de total liberdade. 

(...) A Carta aos Brasileiros foi revogada, já que era um aceno aos bancos? 

Haddad: Alguém imagina que vamos reativar a economia com um trabalhador pobre pagando por três geladeiras para levar uma para casa? Não posso criar mecanismos indutores de redução de spread num setor claramente oligopolizado? Vamos introduzir regras de progressividade tributária no setor bancário para induzir fortemente a redução dos spreads. É uma ideia inovadora que vai regular o mercado de créditos no Brasil.

Neste momento o PT está sozinho. Do outro lado o Alckmin vai ter 40% do tempo de TV. 

Haddad: O Alckmin é a continuidade do establishment. A continuidade do governo Temer sem o Temer. [Os tucanos] Vão fazer uma ação diversionista de dizer que não têm nada a ver com o governo que está em curso. Alckmin se comprometeu com todas as propostas do governo Temer. As propostas foram elaboradas pelos tucanos.

Quem vai falar isso com clareza, com o candidato preso? 

Haddad: As pessoas não veem o Lula. As pessoas sentem o Lula. Vá nas periferias das cidades, no campo. Vá no Nordeste. As pessoas sabem quem é o Lula. Faça pesquisas sobre o que está acontecendo. As pessoas perguntam se o Lula está sendo perseguido. 75% respondem que sim.

Mas isso não significa que o candidato a ser indicado pelo Lula vá herdar... 
Haddad: Mas isso se houver duas negativas que ainda não foram dadas. Vocês estão contando com duas negativas que ainda não foram dadas, uma do TSE e outra do STF.

Então o senhor acredita que o Lula será candidato? 
Haddad: Se a jurisprudência dos tribunais for mantida, ele será.

Ainda assim ele está preso. Quem vai falar por ele? 
Haddad: Ele próprio. E as lideranças do partido.

Mas ele não pode gravar. Ele vai falar por carta? 

Haddad: Aí você precisa fazer uma entrevista com o Lula. Ele está há cem dias nessa situação e nem por isso a intenção de voto nele diminuiu. Pelo contrário.

O sr. concorda com a manutenção da candidatura Lula? 

Haddad: Seria um desastre qualquer outra atitude que não fosse estar com Lula neste momento.

Mas o senhor reconhece que é uma estratégia arriscada? 

Haddad: Eu reconheço que é a única e é arriscada. Mas é a única.

(...) O sr. já foi chamado de o mais tucano dos petistas. Isso o tornaria mais palatável, caso o sr. fosse candidato?

Haddad: É que essa possibilidade não está colocada.

Mas o sr. estaria disposto?

Haddad: Não é essa a discussão no PT. A verdade é que não há. Pelo menos com as partes interessadas. Nunca discuti com o Lula esse assunto. (...)

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