sábado, 28 de julho de 2018

Agrotóxicos: má-formação congênita e puberdade precoce, uma herança maldita do agronegócio

Diario do Centro do Mundo27 de julho de 2018

Publicado originalmente no Instituto Humanitas Unisinos
Agrotóxicos. Foto: Reprodução/Sindicato Rural de Ibiúna

A pesquisa realizada recentemente pela médica e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Cariri, Ada Pontes Aguiar, intitulada “Más-formações congênitas, puberdade precoce e agrotóxicos: uma herança maldita do agronegócio para a Chapada do Apodi (CE)”, soma-se a uma série de outros estudos feitos no país para demonstrar as implicações dos agrotóxicos na saúde e no meio ambiente.

O cenário da pesquisa de Ada Aguiar é a região da Chapada do Apodi, no estado do Ceará, onde desde os anos 2000 intensificou-se a plantação de fruticultura irrigada com o uso de agrotóxicos. O estudo, que teve como objetivo investigar as relações entre o uso de pesticidas e casos de más-formações congênitas e puberdade precoce nacomunidade de Tomé e as exposições ambientais e ocupacionais dos agrotóxicos, foi feito a partir do acompanhamento de oito famílias e 19 exames toxicológicos. Segundo a pesquisadora, “os resultados do presente estudo são suficientes para visibilizar o adoecimento dessas crianças e suas famílias na comunidade de Tomé, encurraladas pelo modelo produtivo do agronegócio e contaminadas cotidianamente por agrotóxicos”.

Na entrevista a seguir, concedida por e-mail para a IHU On-Line, Ada explica a metodologia empregada na pesquisa e expõe algumas das conclusões alcançadas. Entre elas, a pesquisadora menciona que das oito famílias que participaram da pesquisa, “5 apresentavam histórico de crianças que nasceram com más-formações congênitas (8 crianças) e 3 possuíam crianças em acompanhamento pelo diagnóstico de puberdade precoce (3 crianças)”. Segundo ela, “o estudo demonstrou que todas as 8 famílias participantes possuem um histórico no qual é possível comprovar uma exposição ambiental intensa aos agrotóxicos, por meio de variadas fontes (água, ar, solo, pulverização aérea, alimentos). Todas as crianças envolvidas na pesquisa possuem um histórico de exposição ambiental aos agrotóxicos que se estende desde a gestação – inclusive com alguns relatos das genitoras de terem apresentado quadros típicos de intoxicação aguda em períodos críticos da gravidez, como o primeiro trimestre – até os dias atuais”.

Na avaliação da médica, “para interromper os processos de vulnerabilização das comunidades, responsáveis diretos pela geração de problemas de saúde, não é suficiente reivindicarmos uma maior e melhor atuação do SUS, pois, enquanto não enfraquecermos o modelo de desenvolvimento hegemônico vigente, perpetuador de injustiças e assimetrias, e fortalecermos um caminho de vida plena, como nos incentiva a agroecologia, não será possível restaurar o equilíbrio do processo saúde-doenças das populações”.

Ada Pontes Aguiar é graduada em Medicina pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Especialista em Saúde da Família pela UNA-SUS/UFC, e mestra em Saúde Coletiva pela UFC. Participa como pesquisadora do Núcleo Trabalho, Ambiente e Saúde – Tramas, vinculado ao Departamento de Saúde Comunitária da UFC. Também é professora de Saúde Coletiva na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Cariri – UFCA, em Juazeiro do Norte, Ceará. Atua como preceptora do Programa de Residência de Medicina Geral de Família e Comunidade da UFCA, desde 2017, no município de Barbalha (Ceará), e como supervisora do Projeto Mais Médicos para o Brasil nos municípios de Santana do Cariri, Tarrafas e Saboeiro.

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