Por Fernando Brito, editor do Tijolaço
O dramalhão do tal “pacto de sangue” entre Lula e Emílio Odebrecht, descrito no estilo “novela mexicana” por Antonio Palocci teve hoje na Folha o melhor e mais isento tratamento que se pode dar às versões apresentadas pelo ex-ministro da Fazenda, pelo velho empreiteiro e por seu filho Marcelo, que assumiu o comando do império em 2010.
Simplesmente, comparar o que cada um diz.
Emíli0, o primeiro a falar – em junho, para tentar liberar o filho da cadeia onde estava havia então dois anos – disse que o encontro com Lula (e só com Lula) foi durante a campanha de 2010 e que teria prometido ajuda, sem tocar em valores.
Em setembro, Marcelo fala que “a única pessoa que pode dizer que Lula sabia ou deixava de saber (do oferecimento de valores) é meu pai” e que o encontro entre os dois ocorrera no início da campanha de 2010. E ainda que a “ajuda” prometida ao PT seria de R$ 200 milhões.
Já Palocci falou duas vezes.
Na primeira, em abril, começava a negociar sua delação e disse ter ouvido de Lula que a Odebrecht destinaria R$ 200 milhões como contribuição ao PT, sem que ele estivesse presente em reunião alguma. Tudo teria ocorrido “antes da eleição de 2010”
Na segunda, no início do mês, apresentou uma história de que teria sido no finalzinho de 2010, já agora num encontro entre Lula, Dilma e Emílio, e o valor muda para R$ 300 milhões.
As versões, você vê, não coincidem em datas, números e personagens.
Passarão a coincidir, porque um ou dois depoimentos serão “emendados”, na base do “eu não me recordava direito”, agora que todos sabem o que os outros falaram.
A diferença de valores vai virar “um engano do papai” e a de datas será resolvida com “foram várias reuniões”.
Basta um telefonema entre os advogados, todos muito interessados na leniência judicial para seus clientes, que lhes pagam bom dinheiro para isso. Até porque são bancas que entraram no caso exatamente para isso: negociar bem as reduções de penas e multas, no valor de bilhões de reais. Quem conhece o mundo da advocacia sabe o que é “taxa de êxito”.
É evidente que valerá a versão mais comprometedora para Lula.
É evidente que o financiamento privado das campanhas políticas ocorreu (e ocorre) com o PT e com todos os partidos. Mas a tentativa de incriminação pessoal de Lula é também evidentemente frágil.
Palocci – e todos o sabem ao menos desde o caso Francenildo – não é homem de grandes pudores, ainda menos com dinheiro e com a verdade.
Faz negócios e este, ao que parece, será o mais lucrativo de sua vida.
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