quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Com mudança na PF, avança o “Plano Jucá”


Falta pouco para que se cumpra um dos objetivos do golpe de 2016: com a indicação do novo diretor da Policia Federal por caciques do PMDB, vai se fechando o “Plano Jucá”, de “estancar a sangria” dos políticos pela Lava Jato, que deveria começar pela derrubada de Dilma Rousseff e sua substituição por Michel Temer. O que atrasou o plano foram as denúncias contra Temer mas agora Janot já foi trocado na PGR, o STF já deu carta-branca ao Legislativo para barrar ações contra parlamentares e arma-se a domesticação da PF.

O relator da CPI da JBS, deputado Carlos Marum, aquele que cantou e dançou no plenário após a segunda absolvição de Temer, promete “investigar quem nos investigou”. Quer convocar Janot, os procuradores Deltan Dallagnol e Carlos Fernando, quem sabe até Sergio Moro. O que ainda falta é a Câmara aprovar o projeto sobre abuso de autoridade (disciplinando delações premiadas, conduções coercitivas e prisões preventivas) e o STF revogar as prisões a partir da segunda instância.

Neste sentido, o golpe é vitorioso. Derrotado é o país, pelos efeitos desastrosos produzidos pelo governo de Temer.

Vale recordar o que dizia Jucá na conversa gravada em março do ano passado por Sergio Machado, pouco antes da autorização do impeachment pela Câmara. A gravação vazou em 23 de maio de 2016, com Dilma já afastada. Machado havia procurado os peemedebistas pedindo ajuda para evitar a própria prisão mas em verdade juntava munição para negociar uma delação premiada. Logo no início da conversa, examinando as ameaças da Lava Jato aos políticos, eles concluem:

MACHADO - Tem que ter um impeachment.

JUCÁ - Tem que ter impeachment. Não tem saída.

MACHADO - E quem segurar, segura.”

A conversa evolui, e tratam da situação de Machado.

JUCÁ - Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. [...] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.

MACHADO - Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel..

JUCÁ - Só o Renan que está contra essa porra. 'Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha'. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.

MACHADO - É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.

JUCÁ - Com o Supremo, com tudo.

MACHADO - Com tudo, aí parava tudo.

JUCÁ - É. Delimitava onde está, pronto.

MACHADO - O Renan é totalmente 'voador'. Ele ainda não compreendeu que a saída dele é o Michel e o Eduardo. Na hora que cassar o Eduardo, que ele tem ódio, o próximo alvo, principal, é ele. Então quanto mais vida, sobrevida, tiver o Eduardo, melhor pra ele. Ele não compreendeu isso não.

JUCÁ - Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem.

MACHADO - A situação é grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado...

JUCÁ - Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com...

MACHADO - Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei se caiu a ficha já.

JUCÁ - Caiu. Todos eles. Aloysio, Serra, Aécio...

MACHADO - Caiu a ficha. Tasso também caiu?

JUCÁ - Também. Todo mundo na bandeja para ser comido.

MACHADO - O primeiro a ser comido vai ser o Aécio.

JUCÁ - Todos, porra. E vão pegando e vão...

MACHADO - O que que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele ser presidente da Câmara? Amigo, eu preciso da sua inteligência.

JUCÁ - Não, veja, eu estou a disposição, você sabe disso. Veja a hora que você quer falar.

MACHADO - Porque se a gente não tiver saída... Porque não tem muito tempo.

JUCÁ - Não, o tempo é emergencial.” 

E de fato, eles pisaram no acelerador. Sergio Machado gravou também conversas com José Sarney e Renan Calheiros. Quando suas gravações vieram à luz, a primeira etapa do plano já havia sido cumprida, Dilma já fora afastada, e logo depois seria condenada pelo Senado a perder definitivamente o cargo. O “Plano Jucá” foi se cumprindo e agora a nomeação de Fernando Segóvia para o comando da PF assinala mais um avanço. Colocá-lo em prática exigiu a quebra da ordem democrática e a posse de um governo cleptocrático, que vem impondo retrocessos nos direitos e conquistas sociais e trabalhistas e entregando o patrimônio nacional.

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