sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Como a queda da bolsa chinesa afeta o resto do mundo

BBC, 25/08/2015

A queda nas ações chinesas pressionou as bolsas em todo o mundo, que registraram fortes baixas na segunda-feira. Mas por que isso é tão importante?
O que está por trás da queda na China?

O crescimento econômico da China está desacelerando e há temores sobre as consequências da transição para um ritmo mais lento e sustentável.

Além disso, houve um boom no mercado acionário chinês, que viu o principal índice em Xangai mais do que dobrar entre junho de 2014 e o mesmo mês deste ano.

Isto se deve, em parte, à compra de ações com dinheiro emprestado. Assim, quando o mercado começou a cair, muitos investidores decidiram - ou foram obrigados a - se desfazer de investimentos para pagar suas dívidas. Isso ampliou a queda inicial.

Muitas vezes há um fator específico que pressiona para baixo as ações em determinados dias. Mas dessa vez se tratou de um fator esperado que não aconteceu. O Banco Central Chinês não tomou medidas para estimular o crédito bancário, o que foi uma decepção para investidores - que apostavam em maiores incentivos.

Como não houve estímulo novo, as ações caíram, e bruscamente.
O que isso significa para o resto do mundo?

A China é agora uma força tão grande na economia global que um desaquecimento brusco inevitavelmente afetaria o resto do mundo. É a segunda maior economia e o segundo maior importador de mercadorias e serviços comerciais.

Mas o impacto financeiro direto da queda dos preços das ações na China é moderado. Não há investimento estrangeiro suficiente no mercado chinês para que isso se torne um grande problema. A consultoria Capital Economics, de Londres, diz que estrangeiros possuem apenas 2% das ações.

A questão maior é se esse movimento expõe a desaceleração econômica da China, uma preocupação que foi reforçada pela desvalorização da moeda local, o yuan, no início deste mês.

E o Brasil?

A China é o maior parceiro comercial do Brasil, que exporta, majoritariamente, commodities. Entre os principais produtos vendidos pelo Brasil estão soja e minério de ferro.

Em 2014, o comércio entre os dois países caiu para US$ 78 bilhões, ante os US$ 83 bilhões do ano anterior. Neste ano, as exportações brasileiras registraram queda de 19% entre janeiro e julho na comparação com o mesmo período de 2014.

O menor apetite chinês por matérias primas e o preço mais baixo das commodities são fatores que contribuíram para desaceleração da economia brasileira.

A queda no ritmo do crescimento chinês tem afetado também outros países da América Latina, como Venezuela e Chile, que vendem petróleo e cobre, respectivamente, ao país asiático.

A Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) sinalizou que a região crescerá cerca de 0,5% neste ano e citou a queda dos preços das matérias primas devido à desaceleração chinesa como uma das principais causas.

As moedas de países emergentes também têm sido pressionadas pelas notícias vindas da China. Na segunda-feira, em meio à tensão nos mercados, o dólar atingiu o maior valor em mais de 12 anos ante o real.
Não são apenas as bolsas

Os preços de muitas commodities foram afetados, especialmente o do petróleo.

O preço do petróleo Brent caiu cerca de um terço desde meados de junho - quando começou a queda do mercado de ações chinês.

A China é grande compradora de commodities industriais e a possibilidade de o país reduzir o consumo de materiais também pressionou os preços do cobre e alumínio, por exemplo.

O ouro subiu nas últimas semanas, embora seu preço ainda esteja menor do que no início da queda da bolsa chinesa em junho. A commodity é vista por muitos como um investimento seguro, proteção contra inflação e instabilidade financeira.

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