sábado, 22 de novembro de 2014

10 passos para renegociar suas dívidas com o banco


Exame.com, 22/11/14

Inflação, juros altos e desaceleração econômica. O cenário no Brasil não é dos melhores. Por isso, quem está no vermelho deve buscar um acordo com os credores o quanto antes para quitar dívidas e se preparar para eventuais turbulências da economia.

Acompanhe os passos para obter uma boa negociação com a instituição financeira:

1) Faça cálculos realistas

De nada adianta chegar na mesa de negociação do banco e aceitar uma proposta que você não terá condições de pagar.

O primeiro passo, portanto, é colocar no papel a renda líquida do mês (descontados impostos e benefícios), e subtrair os gastos essenciais, como habitação e saúde. 

Após realizar esse cálculo, o consumidor deve cortar os gastos supérfluos,. O saldo final é o que deve ser proposto como pagamento mensal da dívida ao banco.

Nesse cálculo, é possível também incluir rendas extras que serão recebidas no futuro, como o 13º salário, que podem ser utilizadas para abater a dívida e render descontos.

2) Analise o contrato 

Antes de renegociar a dívida, verifique se o contrato do financiamento não contém irregularidades, seja porque provoca prejuízos consideráveis ou cobra taxas a mais. 

Caso haja alguma irregularidade, o consumidor deve denunciá-la aos órgãos de defesa do consumidor e ao Banco Central e utilizar isso como argumento na busca por um acordo com o banco. Dessa forma, será possível melhorar as condições do pagamento do débito.

Ione Amorim, economista do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), diz que a dica é válida principalmente no caso de empréstimos que têm valor maior, como os financiamentos de veículos. “Essas operações podem embutir taxas extras irregulares. Também é recomendável revisar o cálculo do saldo devedor”.

3) Pesquise as condições oferecidas por outros bancos

É possível portar a dívida para outra instituição financeira que ofereça condições melhores de pagamento. Ao pesquisar taxas de juros, prazos e benefícios oferecidos por outras instituições o cliente pode pressionar o seu banco para que sejam oferecidas condições semelhantes.

Caso o acordo não avance, o consumidor deve considerar levar a dívida para outra instituição financeira. “Alguns bancos não exigem abertura de conta corrente nesse caso”, diz Ione, do Idec.

4) Contate o banco da forma certa

Alguns bancos, como o Bradesco, já permitem ao cliente renegociar a dívida online. Para realizar uma proposta, basta inserir o valor da entrada e prazo de pagamento.

Mas especialistas recomendam aos correntistas entrar em um acordo com a instituição financeira pessoalmente.

Soluções online, além de padronizadas, podem ser baseadas em um perfil médio de cliente. “A proposta pode não ser a melhor para o perfil do consumidor”, diz Ione Amorim

Renata Pedro, técnica da associação de consumidores Proteste, indica que, de qualquer forma, o acordo deve ser documentado por escrito, e até com assinatura de testemunhas, no caso dos acordos feitos na agência.

Se a negociação só for possível por telefone, ela recomenda ao consumidor guardar o registro do atendimento.

5) Sugira soluções durante a conversa

É necessário participar de forma ativa do acordo. Mas, para isso, é necessário fazer propostas razoáveis.

Caso o consumidor tenha contratado um financiamento de veículo em 48 parcelas, com juros de 1,2%, e em apenas três meses de pagamento atrasar a parcela, dificilmente a instituição financeira vai reduzir os juros contratados, diz a economista do Idec.

“O consumidor estava ciente da taxa e o prazo é curto para negociar essa condição”, explica Ione. Nesse caso, é melhor renegociar tarifas extras, como seguros, por exemplo.

No caso do financiamento de veículos e outros bens, os juros geralmente podem ser negociados apenas quando a inadimplência ultrapassa três meses. Após esse prazo, os bancos podem passar a cobrar juros de mora, o que eleva a taxa de juros prevista no contrato.

Caso a dívida seja no cartão de crédito, a situação muda. “Os juros cobrados no cartão, em média de 10,5% ao mês, podem ser considerados abusivos”, diz Ione.

Portanto, no momento em que o consumidor verificar que não conseguirá pagar a fatura do cartão, é necessário pedir imediatamente a suspensão de cobrança de juros futuros e renegociar o débito o quanto antes.

“Enquanto o consumidor não se manifestar, a dívida irá crescer de forma rápida e pode se tornar impagável, o que dificulta acordos”, diz Ione.

6) Analise a contraproposta do banco

Antes de aceitar a proposta oferecida pela instituição financeira, no calor da negociação, peça um tempo para refletir sobre as condições do acordo.

Geralmente a primeira proposta do banco costuma vir com valores altos e apenas alonga a dívida, repartindo o débito em mais parcelas para dar a impressão de que a prestação não vai pesar no bolso. Porém, é necessário analisar se há, de fato, um benefício na opção. “Quanto mais parcelas, mais juros o consumidor vai pagar, ainda que a taxa seja baixa”, diz Ione.

É necessário verificar se o prazo proposto para o pagamento da dívida não é muito extenso e se, em um tempo menor, é possível que as parcelas ainda caibam no bolso do consumidor.

A taxa de juros cobrada também não deve estar acima da média praticada no mercado, o que pode aumentar de forma considerável o valor da dívida, além dos riscos de um novo descontrole no futuro. 

Juntar todas as dívidas do banco em apenas um débito também pode não ser uma solução. Ao fazer isso pode ser mais difícil calcular o benefício do acordo, já que cada modalidade de crédito tem uma taxa de juros específica. 

7) Não se intimide

Algumas instituições aproveitam o momento de fragilidade e assediam o cliente ao condicionar a renegociação da dívida à contratação de serviços.

Essa prática é considerada venda casada e é proibida pelo Código de Defesa do Consumidor. “Nesse caso o consumidor não deve aceitar nenhuma proposta que traga ônus e serviços que não irá utilizar”.

A forma de cobrança, caso seja feita em tom de ameaça, também pode render indenizações. 

8) Se não houver acordo, peça ajuda

Caso não seja possível entrar em um acordo com o banco, é possível pedir ajuda de forma gratuita.

Os Núcleos de Superendividamento do Procon e a parceria da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) com as Defensorias Públicas de Estado do Rio de Janeiro, de Rondônia e do Tocantins auxiliam acordos entre consumidores e instituições financeiras.

Porém, ambas as opções são apenas para clientes que se enquadrem no perfil de superendividado e já estão inadimplentes. Para quem precisa de ajuda e não se enquadra no perfil, pode ser necessário contratar um advogado, e arcar com as despesas do serviço.

Renata, da Proteste, aponta que o advogado pode ser contratado apenas para intermediar o acordo. Uma eventual ação judicial deve ser buscada apenas em último caso. “Além de gerar mais custos, para ser bem-sucedido o processo depende do entendimento do juiz”.

9) Participe de feirões

Antes de buscar um acordo com o banco, verifique também se há mutirões para renegociar débitos sendo realizados e se a instituição financeira participa dessas negociações. Esses eventos não têm um cronograma fixo.

As condições oferecidas nos feirões geralmente são melhores do que a oferecida em acordos individuais. Isso porque o banco busca receber pagamentos pelo volume de acordos, e não pelo valor de cada negociação.

Mesmo assim, o consumidor deve se preparar para a negociação. Na ansiedade de resolver o débito durante o evento, o acordo pode ser desfavorável ao cliente do banco, diz Ione.

10) Não caia de novo na armadilha

© Fornecido por Exame.com Negociação: Saiba como se preparar e sair ganhando na queda de braço com a instituição financeira

Depois que a dívida for renegociada, é necessário um cuidado ainda maior para não descontrolar as finanças novamente.

Caso o consumidor volte a não conseguir pagar a dívida, será mais difícil renegociar o débito com o banco. “A instituição financeira fica menos flexível em caso de reincidência”, diz a economista do Idec.

O banco pode, nesse caso, optar por não baixar a taxa de juros ou reduzir o valor da dívida e também se negar a alongar o prazo de pagamento.

Ione afirma que os bancos costumam ter seus próprios cadastros de inadimplência. “Apesar de consideramos a prática abusiva, ela existe. É necessário se prevenir”, conclui a economista do Idec.

O endividamento deve corresponder, no máximo, a 30% da renda para evitar descontroles financeiros, segundo especialistas. 

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