Ex-presidente da ABDI acusa secretário de Produtividade do ministério da Economia
Conversa Afiada, 04/09/2019
Luiz Augusto Ferreira, ex-presidente da ABDI (Reprodução: Divulgação/Metrópoles)
O Diário Oficial da União de hoje, 4/IX, traz na primeira página o decreto do presidente Jair Messias que exonera Luiz Augusto Ferreira do cargo de presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), órgão ligado ao ministério da Economia do ministro Paulo Guedes.
A ABDI é a agência responsável pela melhoria da competitividade da indústria brasileira.
Em entrevista à Veja no último dia 30/VIII, Ferreira afirmou que recebeu "pedidos não republicanos" de seu superior, o secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do ministério da Economia, Carlos da Costa.
Costa e Ferreira travavam há meses uma "guerra particular", segundo o detrito sólido de maré baixa. No início da semana passada, o secretário pediu a demissão do presidente da ABDI.
Ferreira, entretanto, não aceitou a decisão: disse que só deixaria o cargo com uma ordem expressa do presidente da República.
"Não tenho a menor dúvida que o motivo da discussão da minha saída é o ódio do secretário Carlos da Costa porque não atendi aos pedidos não republicanos dele e os quais, inclusive, tenho provas para apresentar para o presidente", disse Ferreira.
Indagado sobre quais pedidos seriam, ele respondeu: "É coisa que tem potencial de estrago bem grande. (...) O secretário Carlos da Costa me fez pedidos não republicanos e recusei. Ponto. Não posso abrir agora."
Ele continua:
"Você sabia que ele não pagou a bolsa de doutorado dele? Pergunta se ele terminou o doutorado que colocou no currículo. Pergunta quem paga as passagens aéreas dele, se é ele ou a secretária do ministério. Pergunta quem está pagando as viagens que ele faz com o filho dele nos eventos do LIDE. Aí você vai entender o porquê que eu posso estar saindo ou não. Talvez eu não tenha concordado com algumas coisas. Não só discordei dos pedidos não republicanos como neguei. E fui pressionado por ter recusado."
Ao Estadão, Ferreira revelou que um dos supostos "negócios não republicanos" seria o aluguel sem necessidade de salas comerciais em São Paulo - o que geraria um custo adicional de R$ 500 mil por ano à ABDI.
Ferreira, entretanto, se negou a citar outros possíveis pedidos que teriam sido feitos por Costa.
Na segunda-feira, 2/IX, ao comentar o episódio, o presidente Bolsonaro disse que "um dos dois" ou "os dois" poderiam perder a cabeça.
"Eu tomei conhecimento, estou louco para saber. Já entrei em contato com o Paulo Guedes e quero saber que pedido é esse. Um dos dois, no mínimo, vai perder a cabeça", disse Bolsonaro.
Em nota, a Secretaria de Produtividade, Emprego e Competitividade informa que Costa refuta "terminantemente ter feito qualquer pedido não republicano". Disse, também que iria tomar providências judiciais a respeito do que chamou de "denúncias infundadas".
Ao portal Metrópoles, Ferreira afirmou que uma eventual investigação sobre suas acusações não seria imparcial: "a relação do ministro [Paulo Guedes] com o Carlos da Costa, que nem sequer avalia os resultados dele, é muito forte, anterior ao ministério. Não é uma apuração que eu considero isenta".