Sociólogo e professor avalia em entrevista à TV 247 que Jair Bolsonaro age como um chefe de quadrilha, e lembrou que, há duas décadas, ele vem trabalhando em conjunto com as milícias. “Um país que elege Bolsonaro é como a Alemanha que elegeu Hitler. E não é apenas uma aproximação retórica. Estamos falando de dois absurdos humanos, dois monstros”, diz Jessé Souza.
Brasil 247, 23/07/2021, 15:21 h Atualizado em 23/07/2021, 16:03
(Foto: Brasil247)
Os desmandos políticos e sociais cometidos por Jair Bolsonaro desde que assumiu a presidência da República e a sua ligação com organizações paramilitares deram o tom da entrevista do escritor, advogado e sociólogo Jessé Souza a Ricardo Nêggo Tom no programa “Um Tom de resistência” na TV 247.
Para Jessé, o projeto de poder do atual mandatário do País visa unificar milícias e forças de segurança do Estado para garantir a sua governabilidade. “Esse sempre foi o seu plano. E ele nunca deixou de explicitar isso. Bolsonaro é o líder político da milícia, e trabalha há duas décadas em conjunto com essa organização, tendo várias ligações entre eles. A forma como ele se utiliza da política, a questão das “rachadinhas”, que, certamente, foi ele quem ensinou aos filhos como se faz. Ele age como um chefe de quadrilha. Não tem outra definição melhor”.
O autor de “A elite do atraso” associa a suposta política de combate ao crime que levou Bolsonaro ao poder - e que conta com a operacionalidade das milícias como braço do Estado - à continuidade do genocídio da população preta brasileira, o que ele classificou como racismo. “Bolsonaro é o principal representante da mensagem miliciana, que propaga uma noção de guerra contra o crime, sob a forma de um racismo popular. Porque quem morre na guerra contra a polícia é o jovem negro. As balas disparadas pela polícia sempre escolhem o corpo negro como alvo. Nas classes populares, quando se fala de violência policial, de guerra contra o crime, guerra contra as drogas e etc, as pessoas sabem que isso é uma senha para a matança indiscriminada de jovens negros. Obviamente, isso é uma das formas de racismo. Quase sempre, o racismo precisa assumir uma forma, uma máscara, para que ele possa se exercitar dizendo que é outra coisa”.
O escritor aponta ainda o presidente da República como o homem escolhido pela elite burguesa para manter a estrutura social racista e excludente no País. “Bolsonaro é, e sempre foi o líder político desse racismo, que ele uniu ao racismo secular das classes dominantes brasileiras, que apoiaram Sérgio Moro no ‘combate à corrupção’. Que também é uma máscara para o racismo, excluindo a participação de negros e pobres, para estigmatização do povo, para criminalizar a soberania popular e os eventuais líderes que as classes populares, na sua maioria, negra e mestiça, possa colocar no poder”. Jessé Souza também avaliou a educação brasileira sob o governo de Jair Bolsonaro e classificou como “maldade em estado puro” o fato de o presidente ter recorrido ao STF para não ter que oferecer internet aos alunos da rede pública de ensino.
Jessé entende que “não há outra admissão para este fato. Bolsonaro não é apenas um político conservador como, por exemplo, Geraldo Alckmin, que governa para a elite, mas não é obrigatoriamente um monstro. Imagina um cara que recorre ao STF para impedir as crianças brasileiras que mais precisam de terem acesso à internet. Isso é algo que demonstra a monstruosidade do que está acontecendo no País, que está no seu pior instante. A questão é entender como 57 milhões de pessoas votaram para eleger esse monstro, que todos já sabiam que era assim. O que está vindo à tona sobre ele são detalhes. Porém, o que ele sempre foi e desejava já estava explícito. Estamos lidando com alguém que nunca escondeu quem ele era. E isso foi legitimado pela parte da sociedade que o elegeu. Uma prova de que estamos num país perverso e literalmente doente. Um país que elege Bolsonaro é como a Alemanha que elegeu Hitler. E não é apenas uma aproximação retórica. Estamos falando de dois absurdos humanos, dois monstros”.
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