UOL, 15/12/2015
Pedro Ladeira/Folhapress
Polícia Federal cerca residência oficial do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, em Brasília
Nome da nova fase da operação Lava Jato, "Catilinárias" são uma série de quatro discursos que Cícero, o cônsul romano Marco Túlio Cícero, proferiu no Senado romano. Nesta terça (15), a Polícia Federal iniciou uma ação de busca e apreensão na residência oficial da presidência da Câmara, atualmente ocupada pelo deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A ação também é feita nas casas dos ministros Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) e Henrique Eduardo Alves (Turismo).
Os textos de Cícero referem-se a Lúcio Catilina, que teria comandado uma revolução para dissolver o Senado e tomar o poder em Roma em 63 a.C.. Uma das frases mais conhecidas do discurso é a seguinte: "até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?".
Segundo registros históricos, na noite de 6 para 7 de novembro de 63 a.C., Catilina reuniu dirigentes da conspiração para tomarem as últimas decisões antes de uma nova tentativa de golpe em Roma.
Ao saber disso, Cícero teria decidido convocar o Senado. Na reunião, o cônsul teria ficado indignado com a presença de Catilina e acusou-o através do primeiro da série de discursos, que veio a ser conhecida como "Catilinárias". A fala de Cícero teria convencido o Senado de uma possível conspiração de Catilina.
Em dezembro, após o quarto discurso de Cícero e já condenado à morte, Catilina recusou-se a entregar-se. Em janeiro de 62 a.C., Catilina foi morto em um campo de batalha.
Leia um trecho do primeiro discurso das "Catilinárias":
Por quanto tempo ainda há-de zombar de nós essa tua loucura?
A que extremos se há-de precipitar a tua audácia sem freio?
Nem a guarda do Palatino, nem a ronda nocturna da cidade, nem os temores do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para a reunião do
Senado, nem o olhar e o aspecto destes senadores, nada disto conseguiu perturbar-te?
Não sentes que os teus planos estão à vista de todos?
Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem?
Quem, de entre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, em que local estiveste, a quem convocaste, que deliberações foram as tuas?"
A Procuradoria Geral da República denunciou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ao STF (Supremo Tribunal Federal), em agosto de 2015, pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção, supostamente praticados dentro do esquema investigado pela Operação Lava Jato. A denúncia ainda precisa ser aceita pelo STF para que Cunha seja considerado réu no processo. O principal indício do suposto envolvimento de Cunha é o depoimento do lobista Júlio Camargo à Justiça Federal do Paraná. Camargo é um dos delatores da Lava Jato e disse ter pago US$ 5 milhões em propina a Eduardo Cunha por meio do também lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano e apontado como o principal operador do esquema junto ao PMDB. Em sua delação premiada, Fernando Baiano teria confirmado a informação.
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