quarta-feira, 16 de março de 2011

Gerenciamento de estresse em professores ( I )

As causas são nossas velhas conhecidas, o interessante é saber identificá-las para lidar com o estresse e ganhar qualidade de vida

Por Marcello Árias Dias Danucalov*

Homeostase

É o conjunto de mecanismos que regulam e mantêm na íntegra a constituição do organismo, permitindo seu bom funcionamento por meio de mecanismos que o adaptam às condições externas variáveis da natureza

Hans Selye

No prefácio do seu livro The Stress of Life, de 1978, o endocrinologista austro-húngaro Seye resumiu os gatilhos causadores das doenças: “A vida é, principalmente, um processo de adaptação às circunstâncias em meio às quais nós todos existimos. O segredo da saúde e da felicidade está no sucesso com que nós conseguimos nos adaptar às infindáveis mudanças que ocorrem no nosso mundo. Quando não conseguimos nos adaptar, ficamos doentes e sofremos”.

Corpo

Pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos, a pedido da empresa Phlillips em sete países, constatou que os brasileiros têm a menor autopercepção do estresse, Enquanto 36% afirmaram ter experimentado estresse de forma moderada a severa no último ano, nos Estados Unidos este índice alcançou 79% dos entrevistados. Na China, 69%; na França, 56%; na Holanda 62% e, na Bélgica, a grande campeã de estressados, 81% se declarou estressado. Apesar desta resposta sugerir um olhar afirmativo do brasileiro com relação ao próprio bem-estar, 1/3 dos brasileiros declarou sofrer de privação de sono, com comprometimento do desempenho profissional e pessoal. A maioria diz estar descontente com os salários e os custos de vida, sendo as questões econômicas as grandes responsáveis pelo estresse. Quase metade dos entrevistados (46%) se considera acima do peso e a insatisfação estética também é apontada como influenciadora no estresse.

A sociedade contemporânea tem sido classificada como a sociedade do estresse. O incessante ritmo da globalização, as constantes alterações tecnológicas, as rotineiras mudanças e “imposições” sociais ditadas pela mídia e pela moda, assim como a progressiva requisição de qualidade nos produtos e serviços exigidos pelo nosso atual modelo social têm impelido boa parte das pessoas a um estado de perplexidade e impotência frente a tais circunstâncias da vida. Para alguns indivíduos, a aquisição de um corpo que se enquadre dentro dos modelos eleitos pela sociedade passa a ser uma obrigação; para outros, a conquista de status profissional é um pré-requisito para a felicidade. Dependendo da intensidade de nossa cobrança, tais desejos podem produzir emoções desastrosas. Ninguém está a salvo das possíveis garras do estresse, e entre suas potenciais vítimas encontramse os professores, quer sejam do ensino básico, fundamental, médio ou universitário. Todavia, antes de versar sobre esta população em especial, é prudente definir melhor o que vem a ser estresse.

Estresse na escola

O estresse é um fenômeno biológico comum e conhecido por todos nós através de nossas experiências. Em sua etimologia o verbete estresse tem como sinônimo o termo “strain” e remonta às origens das línguas indo-europeias. No grego antigo, era a raiz de “strangale” e do verbo “strangaleuin” que significa estrangular. Em latim, a raiz formou o verbo “stringere” que significa apertar. Logo, as raízes do estresse remetem à ideia do empenho de forças fundamentalmente contrárias.

A percepção do estresse é bem antiga. Para os homens primitivos, a perda de vigor e o sentimento de exaustão que sentiam após um trabalho intenso ou exposição prolongada ao frio, ao calor, perda de sangue, medo ou doença teriam alguma semelhança entre si.

Um dos primeiros passos em direção ao entendimento do estresse foi dado por Walter Cannon, fisiologista de homeostase americano que desenvolveu a noção ou de Homeostase ou homeostasia (harmonia ou estado estável) do qual depende a qualidade de vida do ser humano. Esses mecanismos são os responsáveis pela detecção e correção de variações em diversos parâmetros orgânicos. Tendo esses conceitos como base, o austríaco Hans Selye , em 1938 definiu o estresse como um estado de alteração da homeostase, onde o organismo apresenta diversos sintomas que demonstram sua capacidade em adaptar-se aos agentes físicos ou corpo puramente mentais. Sendo assim, o corpo pode ser preparado para lutar ou fugir mediante a visão de um predador real, ou mesmo mediante a imaginação deste.

Diferentes indivíduos possuem diferentes capacidades de resistir às influências adversas do meio ambiente.

Logo, o que pode ser percebido como um fator gerador de estresse para uma pessoa, para outra pode ser um fato corriqueiro. Um indivíduo estressado pode passar por três estágios: no primeiro momento a experiência parece ser muito dura - é a reação de alarme do organismo. Em seguida acostuma-se a ela - é o estado de resistência; e finalmente não pode mais suportá-la – é o estado de exaustão. É este estado de exaustão que caracteriza o estresse crônico, que produz desequilíbrios orgânicos e patologias diversas, também chamadas mais recentemente de distresse.

Entre os principais sintomas encontrados no estresse destacamse a dificuldade de concentração, inquietação, dores de cabeça e musculares, tonturas, fadiga, ansiedade, e até mesmo depressão. Outro agravante tem sido documentado na literatura científica, os problemas associados ao sono. Durante o processo do dormir ocorrem modificações fisiológicas e comportamentais importantíssimas. Há também uma interferência direta nos processos cognitivos e de aprendizagem.

Os dados fornecidos pelas pesquisas científicas são alarmantes, uma vez que durante o estresse o organismo automaticamente utiliza suas reservas de energia para se reequilibrar, ou seja, ocorre uma ação reparadora do organismo tentando restabelecer o seu equilíbrio interno. Nesta fase, dois sintomas aparecem de modo bastante frequente: a sensação de desgaste generalizado sem causa aparente e dificuldades com a memória. No nível fisiológico, muitas mudanças ocorrem, principalmente em termos do funcionamento de algumas glândulas endócrinas, como as adrenais que produzem mais corticosteroides, hormônios que sabidamente minam o sistema imunológico, aumentando assim a probabilidade da pessoa adoecer.
Artigo da




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