quarta-feira, 31 de março de 2021

Rejeição a Bolsonaro cresce cinco pontos, para 59%; outros 53% reprovam trabalho do governo

Pesquisa nacional PoderData realizada nesta semana, de segunda a quarta-feira, indica crescimento na rejeição a Bolsonaro. No entanto, percentual dos que seguem fiéis ao político se mantém estável, com 1/3 do eleitorado

Brasil 247, 31/03/2021, 19:48 h Atualizado em 31/03/2021, 20:13
  (Foto: Isac Nóbrega/PR)

Nova pesquisa PoderData divulgada na noite desta quarta-feira (31) e realizada entre segunda e quarta-feira com 3.500 pessoas revela crescimento na rejeição a Jair Bolsonaro e na reprovação ao trabalho do governo federal.

O governo Bolsonaro é hoje rejeitado por um recorde de 59% dos eleitores - um crescimento de cinco pontos, em comparação aos 54% da pesquisa de duas semanas atrás. Essa é a taxa mais alta registrada desde o início da pandemia por esse levantamento.

A avaliação negativa do trabalho de Bolsonaro manteve-se estável, num nível alto. A proporção dos que consideram a atual gestão “ruim ou péssima” passou de 52% para 53% (oscilação dentro da margem de erro) no período de 15 dias. Os que consideram o trabalho “bom ou ótimo” somam 26% (ante 24% no levantamento anterior).

Por outro lado, o percentual dos que seguem fiéis ao político segue estável, na faixa de 1/3 do eleitorado. Os que aprovam o governo Bolsonaro eram 32% há duas semanas e agora são 33%, o que indica estabilidade.

O que explica o aumento na rejeição é a redução expressiva dos que dizem não saber responder, hoje em 8% - contra 14% há 15 dias.

A pesquisa foi feita em meio ao clima político tenso no País, quando foram demitidos seis ministros do governo, entre eles o da Defesa, Fernando Azevedo, que culminou na demissão coletiva dos três chefes das Forças Armadas pela primeira vez na história do Brasil.

Braga Netto confirma novos chefes das Forças Armadas e diz que "o maior patrimônio da nação é a democracia"

"A Marinha, o Exército e a Força Aérea Brasileira se mantêm fiéis às suas missões constitucionais de defender a pátria, garantir os poderes constitucionais e as liberdades democráticas", disse o novo ministro da Defesa

Brasil 247, 31/03/2021, 18:13 h Atualizado em 31/03/2021, 18:18
    Almir Garnier Santos, Braga Netto, Paulo Sergio Nogueira e Carlos de Almeida Baptista Junior (Foto: Reprodução)

Em curto pronunciamento no final da tarde desta quarta-feira (31), o novo ministro da Defesa, Walter Braga Netto, confirmou os nomes dos novos comandantes das Forças Armadas e afirmou que a democracia é "o maior patrimônio de uma nação".

O Exército passa a ser comandado pelo general Paulo Sergio Nogueira, a Marinha pelo Almirante de Esquadra Almir Garnier Santos e a Aeronáutica pelo tenente-brigadeiro Carlos de Almeida.

Braga Netto tentou afastar os rumores de um novo golpe militar em curso e destacou que "a Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira se mantêm fiéis às suas missões constitucionais de defender a pátria, garantir os poderes constitucionais e as liberdades democráticas".

O ministro afirmou que o "desafio que o país enfrenta neste momento é o combate à Covid-19" e que "as Forças Armadas são fatores de integração nacional e têm contribuído diuturnamente nessa tarefa com a Operação Covid-19, com inúmeras atividades, entre elas: a de logística de transporte de EPIs e oxigênio, evacuação de pacientes de Manaus para todo o país e a vacinação de povos indígenas em áreas remotas".

Comitê anticovid mostra que a união faz a farsa

Josias de Souza, Colunista do UOL
31/03/2021 15h42

Uma semana depois de sua criação, reuniu-se o comitê anticovid. Tomado pelas declarações dos participantes, o encontro foi um diálogo entre os cegos e o surdo. Rodrigo Pacheco e Arthur Lira, chefes do Senado e da Câmara, fingiram enxergar uma conversão de Bolsonaro à racionalidade. E o presidente da República, com os ouvidos bloqueados para a lógica, condenou novamente o isolamento social. Pregou a volta à "normalidade", potencializando a impressão de que o Brasil continua sob a presidência da anormalidade.

Autoconvertido numa espécie de coordenador do comitê, Pacheco realçou a relevância da "uniformização do discurso" em torno de algumas obviedades: "...É necessário se vacinar, usar máscara, higienizar as mãos, distanciamento social, de modo a prevenirmos o aumento da doença no nosso país." Foi ecoado por Lira e Marcelo Queiroga, o quarto ministro da Saúde da pandemia.

Falando aos jornalistas noutro evento, Bolsonaro praticou o acesso da uniformização da retórica. Praticou seu esporte predileto: tiro ao alvo. O alvo é conhecido: governadores e prefeitos. O capitão acomodou todas as formas de isolamento sob o guarda-chuva do lockdown, uma modalidade draconiana de confinamento que o Brasil ainda não experimentou. E disparou:

"O apelo que a gente faz aqui é que esta política de lockdown seja revista. Isso cabe, na ponta da linha, aos governadores e aos prefeitos. Porque só assim podemos voltar à normalidade. O Brasil tem que voltar a trabalhar."

Os comentários repetem uma cantilena que Bolsonaro entoa desde que o coronavírus fez a sua primeira vítima oficial no Brasil, em 17 de março de 2020.

Para o presidente, pandemia é um outro nome para "histeria". O isolamento social, por "inútil", só serve para arruinar a economia. Por isso, os brasileiros deveriam submeter-se à infecção "como homens", pois ela é inevitável.

Bolsonaro graduou-se em ciência lendo a bula da cloroquina. Demora a notar que a doença do ignorante é ignorar a sua própria ignorância. Dá de ombros para singelas evidências. Por exemplo: sem vacina, o vírus foge ao controle.

Crescem as filas hospitalares. Quem consegue chegar à UTI corre o risco de ser entubado a seco, pois faltam sedativos. Quanto menor for a taxa de adesão ao isolamento, maior tende a ser a pilha de cadáveres.

O problema poderia ser menor se Bolsonaro não tivesse retardado a aquisição de vacinas. Sobre sua inépcia, o presidente não tem nada a dizer. Simula uma amnésia.

Bolsonaro confunde memória fraca com consciência limpa. E terceiriza a encrenca para governadores e prefeitos. No limite, transfere para os brasileiros a prerrogativa de escolher o seu próprio caminho para o inferno, optando por viver com medo ou morrer com valentia.

Pacheco repetiu um bordão que destoa da atmosfera confusa que se seguiu à reunião do comitê anticovid. Declarou que o Brasil precisa escolher um entre dois caminhos: a união o caos. Considerando-se que a união entre os Poderes faz a farsa, o país continuará no caminho do caos. Uma trilha que leva aos 400 mil cadáveres.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Isolado, Bolsonaro insiste em sua campanha a favor do coronavírus

ANÁLISE
Presidente da Câmara, Arthur Lira, do Senado, Rodrigo Pacheco, e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em entrevista após reunião do comitê de enfrentamento da covid-19Imagem: Reprodução/TV Câmara

Diogo Schelp, Colunista do UOL
31/03/2021 13h12

Ao final da reunião do comitê para o enfrentamento à covid-19, nesta quarta-feira (31), os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, falaram juntos à imprensa sobre o que foi discutido no encontro. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que oficialmente comanda o comitê, não participou do anúncio. Em vez disso, alguns minutos depois, fez um rápido discurso à parte, a pretexto de anunciar o pagamento do novo auxílio emergencial. As declarações de Bolsonaro destoaram das falas de Pacheco, Lira e Queiroga no que refere às medidas para combater a pandemia.

Bolsonaro, mais uma vez, atacou as medidas de isolamento social adotadas por governadores e prefeitos para reduzir o contágio pelo novo coronavírus na população. "Essa política, entendo eu, esse isolamento, com supressão do direito de ir e vir, extrapola — e muito — até mesmo um estado de sítio. Eu apelo a todas as autoridades do Brasil que revertam essas medidas e permitam que o povo vá trabalhar", disse Bolsonaro.

Não há qualquer equivalência entre as medidas sanitárias adotadas por estados e municípios, autorizadas por lei federal promulgada pelo próprio Bolsonaro no ano passado, e o estado de sítio, em que são suprimidos, por exemplo, direitos como o sigilo telefônico e de correspondência.

O presidente falou sobre o impacto econômico da pandemia, alegou, sem apresentar provas, que a fome mata mais que o vírus, e não dispensou nenhuma palavra sobre os mais de 3.700 óbitos por covid-19 registrados no dia anterior no país.

As declarações dadas por Pacheco, Lira e Queiroga minutos antes mostram que o presidente está falando sozinho.

Ao apresentar o seu resumo da reunião com o presidente, Pacheco disse que o comitê anticovid tem a coordenação técnica do Ministério da Saúde, com base na ciência e na medicina. Elencou iniciativas do Congresso para propiciar o aumento de leitos de UTI e a aceleração da vacinação e listou algumas das reivindicações dos governadores feitas a ele em reunião realizada na semana passada.

O presidente do Senado também disse ter reforçado junto ao presidente a necessidade de usar a estrutura de comunicação do governo para informar a população sobre a importância de se vacinar, de usar máscara, de lavar as mãos e de respeitar o distanciamento social. Sim, o distanciamento social, expressão que na boca de Bolsonaro só assume conotação negativa.

Lira falou pouco. Concentrou-se em lembrar que existe um "carência de ações" para resolver os problemas da vacinação, de leitos hospitalares e de insumos. Também cobrou transparência dos governos dos estados na divulgação de informações sobre as doses de vacinas recebidas e aplicadas.

O novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, falou da possível participação da iniciativa privada nos esforços de vacinação e deixou claro que as medidas para evitar as mortes de pacientes internados são importantes e urgentes, mas que controle epidemiológico também se faz necessário.

Queiroga afirmou ter sugerido ao presidente que o governo aproveitasse a Semana Santa para reforçar, junto à população, a necessidade de evitar aglomerações e de usar máscaras para conter a disseminação do vírus.

A diferença gritante no conteúdo das declarações dos chefes do Poder Legislativo e até do ministro da Saúde em comparação como que o presidente disse sobre a pandemia mostra que ele está isolado em sua campanha a favor do vírus.

Ninguém na cúpula dos outros poderes da República quer se juntar a ele nas críticas infundadas às medidas de isolamento social ou "lockdown", como ele gosta de chamar. Nem mesmo o seu próprio ministro da Saúde. Muito menos os agora ex-comandantes da Forças Armadas, que esta semana foram demitidos por se recusarem a permitir que a instituição fosse politizada pelo presidente e usada por ele como instrumento de ameaça contra as medidas de restrição social.

Bolsonaro quer que as pessoas voltem às ruas e à vida normal, o que favoreceria a circulação do vírus e agravaria ainda mais a situação da pandemia. Ele é radicalmente contra o isolamento social. Mas nisso, quem está isolado é ele.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Globo, que apoiou os golpes de 1964 e 2016, nega apoio a tentativa golpista de Bolsonaro

 Jornal O Globo, que apoiou o golpe militar de 1964 e a derrubada de Dilma Roussef em 2016, publicou um editorial pedindo que os generais não “embarquem em qualquer aventura da delirante fantasia bolsonarista”


Brsil 247, 31/03/2021, 09:17 h Atualizado em 31/03/2021, 09:36
  (Foto: Divulgação)



O jornal O Globo, que apoiou o golpe militar que desaguou na ditaduramilitar de 64, e o golpe contra Diolma Roussef em 2016, publicou nesta quarta-feira (31) um texto pedindo que os generais não “embarquem em qualquer aventura da delirante fantasia bolsonarista”. Além do apoio à ditadura, o grupo Globo também deu sustentáculo à chegada de Bolsonaro.

No editorial, o jornal da família Marinho destaca que as Forças Armadas vivem atualmente uma crise “sem paralelo em pelo 40 anos” motivada pela demissão do general Fernando Azevedo e Silva do Ministério da Defesa. Ainda segundo o texto, a saída subsequente dos comandantes do Exército (Edson Pujol), Marinha (Ilques Barbosa) e da Aeronáutica (Antônio Carlos Bermudez), demonstra “que não será fácil ao presidente Jair Bolsonaro usá-las [as FFAA] para fins políticos”.

“Está claro, em que pese a coincidência no calendário, que o cenário institucional hoje é bem diferente. Não há nenhuma indicação de que os militares aceitariam deixar de se submeter à Constituição e ao Estado democrático de direito, para embarcar em qualquer aventura da delirante fantasia bolsonarista”, diz um trecho do editorial.

O jornal também ressalta a carreira militar e política do ex-capitão e o compara ao ex-presidente venezuelano Hugo Chavez, já falecido. “Capitão expulso do Exército por indisciplina, Bolsonaro dedicou sua vida política a atrair apoio entre militares de baixa patente e policiais. Eleito presidente, aumentou as ambições. Inspirado talvez no caudilho venezuelano Hugo Chávez, parece almejar uma mistura de governo e Forças Armadas no poder. É a receita da tragédia. O modelo chavista destruiu a Venezuela”, destaca.

“Bolsonaro se caracteriza pelo desassombro e pelo desrespeito a limites. Tornou o Brasil pária mundial pela atuação no meio ambiente, no combate à Covid-19 e noutras áreas. Para o próprio bem, os militares não devem compactuar com os devaneios de um impensável retrocesso democrático”, finaliza o texto.

Sinais dos tempos!

 É a primeira vez na História do Brasil que um general de três estrelas exercerá o poder de mando sobre generais de quatro estrelas

João Doria confronta ordem do dia do general Braga Netto e diz que Brasil “tem muitas razões para chorar a ditadura militar”

“Ao contrário do que declarou ontem o novo Ministro da Defesa, General Braga Neto, o Brasil não tem razão nenhuma para comemorar o Golpe de 64. Tem sim, muitas razões para chorar a ditadura militar” - este é o trecho de um tuíte contundente de João Doria postado na manhã desta quarta-feira

Brasil 247, 31/03/2021, 10:49 h Atualizado em 31/03/2021, 11:34

Num tuíte surpreendente, o governador de São Paulo, João Doria, confrontou a Ordem do Dia do novo ministro da Defesa, general Braga Netto que defendeu a “celebração” do golpe militar de 1964 e afirmou que “o Brasil não tem razão nenhuma para comemorar o Golpe de 64. Tem sim, muitas razões para chorar a ditadura militar”.

A ”Ordem do Dia Alusiva ao 31 de março de 1964” de Braga Netto foi divulgada na noite desta terça-feira (30) e o tuíte de Doria em resposta ao general foi postado na manhã desta quarta-feira.

Escreveu Doria: “Ao contrário do que declarou ontem o novo Ministro da Defesa, General Braga Neto, o Brasil não tem razão nenhuma para comemorar o Golpe de 64. Tem sim, muitas razões para chorar a ditadura militar e os milhares de mortos e torturados na fase mais dura da história brasileira”.

Veja o tuíte de Doria:

O novo ministro da Defesa, o general Walter Braga Netto publicou no início da noite desta terça-feira (30) seu primeiro comunicado desde que assumiu o cargo, a "Ordem do Dia Alusiva ao 31 de março de 1964", e nela, defende a “celebração” do golpe militar de 1964, que culminou em prisões, torturas e repressão por mais de duas décadas no País.

No texto, ele define o papel das Forças Armadas no episódio da seguinte forma: “As Forças Armadas acabaram assumindo a responsabilidade de pacificar o País, enfrentando os desgastes para reorganizá-lo e garantir as liberdades democráticas que hoje desfrutamos”.

E defende que “o movimento de 1964 é parte da trajetória histórica do Brasil. Assim devem ser compreendidos e celebrados os acontecimentos daquele 31 de março”.

Braga Netto entrou no lugar de Fernando Azevedo, depois que o último bateu de frente com Bolsonaro e impediu a demissão do comandante do Exército, Edson Leal Pujol. Com a troca no ministério da Defesa, foi anunciada a demissão coletiva dos três chefes do Exército, Aeronáutica e Marinha.

Confira a íntegra da Ordem do Dia de Braga Netto nesta terça-feira, véspera de 31 de março, data do golpe militar:

Ordem do Dia Alusiva ao 31 de Março de 1964

MINISTÉRIO DA DEFESA - Ordem do Dia Alusiva ao 31 de março de 1964

Brasília, DF, 31 de março de 2021

Eventos ocorridos há 57 anos, assim como todo acontecimento histórico, só podem ser compreendidos a partir do contexto da época.

século XX foi marcado por dois grandes conflitos bélicos mundiais e pela expansão de ideologias totalitárias, com importantes repercussões em todos os países.

Ao fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo, contando com a significativa participação do Brasil, havia derrotado o nazi-fascismo. O mapa geopolítico internacional foi reconfigurado e novos vetores de força disputavam espaço e influência.

A Guerra Fria envolveu a América Latina, trazendo ao Brasil um cenário de inseguranças com grave instabilidade política, social e econômica. Havia ameaça real à paz e à democracia.

Os brasileiros perceberam a emergência e se movimentaram nas ruas, com amplo apoio da imprensa, de lideranças políticas, das igrejas, do segmento empresarial, de diversos setores da sociedade organizada e das Forças Armadas, interrompendo a escalada conflitiva, resultando no chamado movimento de 31 de março de 1964.

As Forças Armadas acabaram assumindo a responsabilidade de pacificar o País, enfrentando os desgastes para reorganizá-lo e garantir as liberdades democráticas que hoje desfrutamos.

Em 1979, a Lei da Anistia, aprovada pelo Congresso Nacional, consolidou um amplo pacto de pacificação a partir das convergências próprias da democracia. Foi uma transição sólida, enriquecida com a maturidade do aprendizado coletivo. O País multiplicou suas capacidades e mudou de estatura.

O cenário geopolítico atual apresenta novos desafios, como questões ambientais, ameaças cibernéticas, segurança alimentar e pandemias. As Forças Armadas estão presentes, na linha de frente, protegendo a população.

A Marinha, o Exército e a Força Aérea acompanham as mudanças, conscientes de sua missão constitucional de defender a Pátria, garantir os Poderes constitucionais, e seguros de que a harmonia e o equilíbrio entre esses Poderes preservarão a paz e a estabilidade em nosso País.

O movimento de 1964 é parte da trajetória histórica do Brasil. Assim devem ser compreendidos e celebrados os acontecimentos daquele 31 de março.

WALTER SOUZA BRAGA NETTO, Ministro de Estado da Defesa

Ditadura, nem pensar!

Artigo do jornalista Jota Parente 

Quem não viveu na época do golpe de estado de 1964, quando os militares depuseram o presidente João Goulart, assumindo o poder por longos vinte e um anos, ou não estuda a sério a História do Brasil, não tem condições de criticar ou fazer argumentações a respeito desse fato histórico que durou um quinto de século. Eu estava lá.

Para aqueles que preferem ser marionetes, batendo continência, seja mantendo o seu emprego, ou qualquer outra atividade, pode ter sido uma maravilha. Esse negócio de liberdade de expressão, direito de ir e vir é coisa de quem está sempre insatisfeito com tudo, dizem eles.

Eu prefiro a liberdade com responsabilidade. Não comungo dessas ideias de cerceamento dos direitos fundamentais dos seres humanos. Nem por isso, jamais tive que comparecer a uma delegacia de polícia, ou de um juiz de direito para dar explicações sobre qualquer malfeito, porque respeito as leis do meu país.

De agosto de 1971, quando comecei no Rádio, até 1985, eu e meus colegas de trabalho sofremos muito com a censura. Houve um período em que a Delegacia da Polícia Federal ficava a uns 30 metros da Rádio Rural. Tempos muito complicados, em que a pressão era enorme e o medo de fazer alguma coisa que os caras não gostasse era grande.

Hoje, dia 31 de março de 2021, completam-se 57 anos que a ditadura foi implantada no Brasil. A proposta inicial era para não demorar muito, pois o que se soube na época foi que dentro de um ano, ou um pouco mais, os militares promoveriam eleições diretas gerais, devolvendo o poder aos civis, o que só viria acontecer muito mais tarde.

O Brasil era, naquele momento, um verdadeiro barril de pólvora, pronto para explodir diante da menor faísca. O populista Jânio Quadros, de direita, do qual pouco se fala, foi a razão dessa confusão toda, pois, calculou mal as consequências de sua renúncia. Ele esperava voltar nos braços do povo, mas, o que aconteceu foi que seu vice João Goulart, um populista de esquerda, assumiu a presidência e ficou.

Naquele tempo, votava-se no candidato a presidente e no candidato a vice-presidente, assim como para governador e vice, e prefeito e vice. Por isso, Jango, que era vice de Juscelino, decidiu concorrer mais uma vez, sendo reeleito, apesar da disparidade política que havia entre ele e o presidente eleito.

Jango assumiu e arregaçou as mangas para tentar colocar em prática seus ideais políticos, o que não foi possível com Juscelino. Reforma agrária era uma das metas do conterrâneo de Getúlio Vargas, tema que dava calafrios em todo mundo da direita, sobretudo nos latifundiários.

O alinhamento de João Goulart com Cuba e União Soviética afetou os interesses de Washington na América Latina. O Brasil defendia a manutenção de Cuba no bloco de países interamericanos, o que ia de encontro ao que queriam os Estados Unidos. Não se deve esquecer que se vivia sob o clima da Guerra Fria.

Com Jango o Brasil foi cambando, cada vez mais para a esquerda, até chegar ao ponto de ruptura quando, com apoio de fortes lideranças de direita, com o governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, e das vozes das ruas, e com as bençãos dos americanos, na noite de 31 de março para 1º de abril de 1964 aconteceu o golpe.

Durante os vinte e um anos em que as forças armadas ficaram no poder, houve muitos investimentos em infraestrutura por todo o país, ao custo de um imenso endividamento externo. Direitos fundamentais foram restringidos e muitos brasileiros desapareceram para sempre, principalmente quem se envolvia em guerrilhas.

É natural que chorem os seus mortos para sempre. Para a esquerda, foram mártires que lutaram para restabelecer a liberdade no país, porém, a liberdade ao modo como concebiam suas lideranças, seria liberdade para elas. Para o povo sobraria uma ditadura de esquerda, passando por cima de tudo e de todos.

Talvez o golpe tenha sido um mal necessário que durou mais do que deveria, pois o país caminhava para uma anarquia política, cujas consequências seriam imprevisíveis. Provavelmente, seria implantada uma ditadura de esquerda, porque caminhava para isso, e aí seria trocar seis por meia dúzia, com agravante de que só um golpe defenestraria a esquerda do poder.

Nada há para comemorar nesse 31 de março, mesmo porque temos um presidente que, só não deu um novo golpe até hoje, porque não encontrou apoio de quem mais esperava, os militares do alto escalão, pois, sem nenhuma competência para fazer o gerenciamento político inerente ao cargo de comandante em chefe da nação brasileira, Jair Bolsonaro atolou o país numa crise política e crise de gestão poucas vezes vivenciadas na história do Brasil.

Aos jovens, sugiro que leiam, leiam bastante sobre esse marcante fato da história do país, que foi a ditadura militar. Evitem ficar repetindo o que dizem pessoas mais velhas, que por algum motivo tenham saudades dos anos de chumbo. Certamente, foi porque se beneficiaram com o regime, ou porque nunca prezaram esse bem inalienável, que é a liberdade plena.

Meu respeito pelos militares das três forças, Exército, Marinha e Aeronáutica, que com suas cabeças arejadas pelos ares do Século XXI, tem uma visão correta de que sua missão é servir o Estado, em vez de ser subserviente ao governo, qualquer governo. Ao não aceitarem embarcar nas aventuras tresloucadas de Bolsonaro, prestam um grande serviço ao Brasil.

Ditadura, nunca mais!

Jota Parente

Fritura de comandante é perde-perde

As Forças Armadas não são milícia

Elio Gaspari

Faltavam três dias para a posse de Jair Bolsonaro, e o professor Delfim Netto ensinou: 
— Na quarta-feira, o presidente terá que abrir a quitanda às nove da manhã com berinjelas para vender a preço razoável e troco no caixa para atender à freguesia. Pelos próximos quatro anos, a rotina essencial será a mesma: abrir a quitanda, com berinjelas e troco. Todos os desastres da economia brasileira deram-se quando deixou-se de prestar atenção na economia da loja.

O capitão trocou seis ministros. Noves fora as berinjelas, tinha na quitanda 14 milhões de desempregados e uma pandemia que já matou quase 318 mil pessoas — e decidiu criar uma encrenca militar.

Bolsonaro teria aumentado sua influência sobre o primeiro escalão. Falta dizer para quê.

No rastro dessa troca, veio o veneno: a saída do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, abriria o caminho para a troca do comandante do Exército, general Edson Pujol.

Não se frita comandante do Exército. A troca mais traumática dos últimos 50 anos ocorreu em 1977, quando o presidente Ernesto Geisel demitiu o general Sylvio Frota. Os dois não se bicavam há tempo, mas fritura não houve. Tanto foi assim que Frota chegou ao Palácio do Planalto sem saber que seria demitido. (Quando Bolsonaro era um capitão afastado do Exército abrigado na política, Geisel definiu-o com três palavras: “um mau militar”.)

Fritura de comandantes do Exército foi coisa do governo João Goulart, com quatro ministros em apenas três anos. Em 21 anos, os presidentes militares tiveram oito ministros. Deles, um deixou o cargo para ser presidente (Costa e Silva), e outro morreu (Dale Coutinho). Nenhum foi frito.

Desde que foi criado, em 1999, o Ministério da Defesa teve outros 11 titulares. Todos chegaram e partiram sem ruídos. A demissão do general Azevedo e Silva resultou na saída dos comandantes das três Forças, coisa nunca vista.

O primeiro murmúrio de uma eventual fritura de Pujol surgiu em maio do ano passado, mas não prosperou. Pujol pouco fala e não tuíta.

Trocar comandantes da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica é atribuição do presidente da República. Afinal, ele é o comandante das Forças Armadas. Apesar de o capitão gostar de se referir ao “seu” Exército, elas não são de sua propriedade. Chefes como Henrique Lott, Orlando Geisel e Leônidas Pires Gonçalves nunca usaram essa expressão possessiva. O problema aparece quando se acende o fogareiro da fritura. Isso porque se cria uma situação de perde-perde. Perde se frita e perde se não frita.

O marechal Castello Branco era cauteloso (até demais) e tinha as ideias no lugar. Em março de 1964, ele chefiava o Estado-Maior e distribuiu uma circular reservada onde dizia:

— Não sendo milícia, as Forças Armadas não são armas para empreendimentos antidemocráticos. Destinam-se a garantir os poderes constitucionais e sua coexistência.

O presidente acreditava estar amparado num poderoso dispositivo militar com seus “generais do povo”. Um mês depois, João Goulart estava no Uruguai. Deu no que deu.

As Forças Armadas não são milícia, e na porta da quitanda há quase 318 mil mortos e 14 milhões de desempregados. Em qualquer país e qualquer época, quem tem problemas desse tamanho não precisa de novas encrencas.

terça-feira, 30 de março de 2021

Com demissão de comandantes, Bolsonaro desrespeita e ofende as Forças Armadas, diz Santos Cruz

"Reforma ministerial é absolutamente normal. O que não é normal é trocar os três comandantes das Forças Armadas sem razão e explicação", afirmou o general e ex-ministro de Bolsonaro

Brasil 247, 30/03/2021, 17:47 h Atualizado em 30/03/2021, 18:35
   General Santos Cruz e Jair Bolsonaro (Foto: ABr | Reuters)

O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo, afirmou em entrevista à CNN Brasil nesta terça-feira (30) que a demissão ainda nebulosa dos três comandantes das Forças Armadas é um desrespeito por parte de Jair Bolsonaro à população e à instituição.

"Reforma ministerial é absolutamente normal. O que não é normal é trocar os três comandantes das Forças Armadas sem razão e explicação. Eles não fazem parte da camada política. É um desrespeito e ofensa às Forças Armadas. Sem informar a população. Não é assim que se despede das pessoas que representam uma instituição", falou.

Por diversas vezes, Santos Cruz afirmou que os militares são alinhados exclusivamente à Constituição Federal, afastando a possibilidade de um golpe por Bolsonaro com o apoio das tropas.

Com a troca no comando do Ministério da Defesa e nas Forças Armadas, "se o objetivo era a politização [das Forças] o efeito pode até ser o contrário. Não é qualquer tentativa de politização que vai abalar as Forças Armadas", alertou.