terça-feira, 14 de maio de 2024

RS: fake news contaminam redes, e 70% das menções ao Exército são negativas

Reportagem

Letícia Casado/Colunista do UOL/14/05/2024 04h00

Voluntários e entes públicos estão envolvidos nos resgates no Rio Grande do Sul
Imagem: JORGE LANSARIN/Agencia Enquadrar/Folhapress

A disseminação de notícias falsas sobre a atuação do governo federal e do Exército nos resgates no Rio Grande do Sul alimentou a insatisfação de parte da população com a atuação de entes públicos na resposta à catástrofe

Essa insatisfação pode ser traduzida em números. Levantamento feito pela consultoria Quaest a pedido da coluna mostra que 70% das menções ao Exército nas redes sociais entre os dias 3 e 10 de maio foram negativas.

A empresa, especializada em monitoramento digital, analisou as menções sobre o assunto nas principais redes sociais — X (antigo Twitter), Instagram, Facebook, Reddit, Tumblr e YouTube —, e nos sites de notícias com uma ferramenta própria para buscar palavras-chaves relacionadas ao tema.

A Quaest coletou uma amostra de mais de 732 mil menções relacionadas ao desempenho das Forças Armadas durante a tragédia no estado. Elas foram originadas por 146 mil perfis nas redes.

Diretor da Quaest, Felipe Nunes diz que não foi possível comprovar se o movimento dos ataques ao Exército foi organizado: "Parece ser bem orquestrado sim. Mas não temos evidências disso. Por isso é difícil afirmar."

Especialistas consultados pelo UOL veem por trás dos comentários indícios de uma máquina de fake news organizada e bem articulada na distribuição de desinformação sobre a omissão de socorro no Rio Grande do Sul.

Fake news de caminhões e no Congresso

A Quaest coletou uma amostra de mais de 732 mil menções relacionadas ao desempenho das Forças Armadas durante a tragédia no estado. Elas foram originadas por 146 mil perfis nas redes.

Diretor da Quaest, Felipe Nunes diz que não foi possível comprovar se o movimento dos ataques ao Exército foi organizado: "Parece ser bem orquestrado sim. Mas não temos evidências disso. Por isso é difícil afirmar."

Especialistas consultados pelo UOL veem por trás dos comentários indícios de uma máquina de fake news organizada e bem articulada na distribuição de desinformação sobre a omissão de socorro no Rio Grande do Sul.

Fake news de caminhões e no Congresso

O pico dos ataques ao Exército se deu entre os dias 8 e 9 da semana passada, segundo a pesquisa.

Foi justamente neste período que entraram em cena dois ingredientes que potencializaram a guerra de narrativas sobre quem ajuda mais os gaúchos: governo e Forças Armadas ou os voluntários.

Diversas publicações nas redes sociais desinformavam sobre o trânsito de doações para o Rio Grande do Sul antes mesmo de uma reportagem do SBT mostrar um caminhão multado por excesso de peso, no dia 7. No entanto, seis de um total de 7.928 veículos foram autuados e liberados —depois, a ANTT publicou uma série de medidas para orientar o trânsito de ajuda humanitária e informou que as multas seriam anuladas.

Mas a reportagem foi disseminada como o padrão para a situação— ainda que os internautas ignorassem que os outros 7.922 veículos foram liberados sem problemas.

No dia seguinte, quarta-feira (8), ao menos sete deputados usaram seu tempo de fala no plenário para reproduzir desinformação sobre as enchentes durante sessão na Câmara.

Parlamentares bolsonaristas passaram então a usar as redes para atacar governo e Exército. Essas publicações geram engajamento negativo para os entes públicos.

Mudança de posicionamento de bolsonaristas

A coluna mostrou que a disseminação de fake news por parte de bolsonaristas expõe a decepção deste grupo com o Exército na era Lula.

A pesquisa Quaest constatou que as reações de internautas e parlamentares às ações das Forças Armadas na tragédia "tem indicado uma mudança de posicionamento entre os dois polos políticos".

"Enquanto políticos ligados à direita se tornaram os principais críticos das Forças Armadas, figuras alinhadas à esquerda têm mencionado a instituição de forma mais positiva." (Relatório da Quaest)

O que dizem nas redes, segundo a Quaest

As críticas argumentam que outras pessoas e instituições têm auxiliado mais do que as Forças Armadas no enfrentamento das enchentes no Rio Grande do Sul.

Parlamentares alinhados ao bolsonarismo têm publicado supostas fake news sobre a qualidade dos equipamentos das Forças Armadas e criticado a eficiência logística da instituição, além de apontar suposta demora no auxílio aos afetados.

No lado do governo, a narrativa é diferente: enquanto ministros e parlamentares argumentam que o trabalho do governo em conjunto das Forças Armadas tem salvado diversas vidas durante a tragédia, influenciadores alinhados ao governo destacam o trabalho ininterrupto do Exército.

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