sábado, 18 de julho de 2020

Fiocruz não se dobra a Pazuello: "não há base científica para a cloroquina"

Ouviu, general? Ouviu, capitão?

Conversa Afiada, 17/07/2020
       (Foto 1: José Dias/PR - Foto 2: Redes Sociais)

O pesquisador e coordenador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância da Fiocruz Brasília, Cláudio Maierovitch, reforçou nesta sexta-feira 17/VII que a instituição não recomenda o uso de cloroquina ou hidroxicloroquina para tratar pacientes que contraíram a Covid-19.

O sanitarista disse que não há estudos que comprovem a eficácia do medicamento, ao ser questionado sobre o Ministério da Saúde ter enviado um ofício orientando a Fiocruz a divulgar amplamente e recomendar o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento precoce contra o novo coronavírus.

"A Fiocruz orienta profissionais, ela afirma que não há base científica para a cloroquina, pelo contrário, há evidências de que não deve ser utilizada. Mas, se recebe comunicado do Ministério da Saúde, não pode deixar de informar seus profissionais. Internamente, é conhecido [na Fiocruz] que [a cloroquina] não tem eficácia", declarou em entrevista à Globo News.

Segundo Maierovitch, a Fiocruz tem a obrigação de retransmitir comunicados enviados pelo Ministério da Saúde a seus profissionais. No entanto, isso não interfere nas pesquisas e estudos desenvolvidos pela instituição, nem significa que a Fiocruz corrobora o conteúdo do ofício.

"Nesse caso, não é papel da Fiocruz dizer à sociedade que aquilo deve ser praticado, isso cabe os canais do próprio Ministério da Saúde. Não é conhecimento da Fiocruz ou que tenha respaldo científico da Fiocruz, é um ofício enviado a vários serviços de saúde que a Fiocruz recebe e informa a quem deve ser informado dentro da instituição", afirmou.
Com informações do UOL

Bolsonaro: Amazônia não pega fogo porque "é úmida" e "índio provoca incêndio"

Ainda chamou a Europa de "seita"

Conversa Afiada, 17/07/2020
        (Redes Sociais)

Em meio à crescente desmoralização do Brasil no cenário externo por causa da trágica política ambiental do governo federal, Jair Bolsonaro decidiu usar sua transmissão ao vivo nas redes sociais nesta quinta-feira 16/VII para, mais uma vez, minimizar o desmatamento na Amazônia e culpar os indígenas.

Ele tornou a dizer que a floresta "não pega fogo" porque "é úmida": "o que pega fogo é periferia", completou. E mais:

“Somos o tempo todo acusados injustamente de maltratar o meio ambiente do Brasil. A imprensa lá fora criticando o Brasil, imprensa que fraudou números para criticar o governo, fica ameaçando o tempo todo; 90% desses focos de calor são em áreas desmatadas. Não é novo incêndio. E 5% são em terras indígenas, o índio que faz isso”, prosseguiu.

Mas ele não parou por aí. Bolsonaro ainda elevou o tom das críticas à Europa e afirmou que o continente é "uma seita ambiental", enquanto o Brasil é "potência no agronegócio".

Época: ex-mulher de Bolsonaro comprou 14 imóveis durante o casamento

Parte deles com dinheiro vivo

Conversa Afiada, 17/07/2020
           (Redes Sociais)

"Durante a década em que esteve com Jair Bolsonaro, Ana Cristina Siqueira Valle, a segunda ex-mulher do presidente, conquistou uma significativa evolução patrimonial. Quem a vê agora andando pela Câmara Vereadores de Resende, sempre maquiada, cabelo louro impecavelmente escovado, cortado em estilo long bob (mais comprido na frente do que atrás) e salto fino, se recorda pouco da assessora parlamentar sem nenhum imóvel dos anos 1990, quando trabalhava no gabinete do deputado federal pela Bahia Jonival Lucas e conheceu seu futuro segundo marido — até se relacionar com Bolsonaro, ela era casada com um coronel da reserva do Exército", diz reportagem publicada na edição desta semana da revista Época.

Segundo a matéria, assinada por Juliana Dal Piva e Chico Otavio, Ana Cristina se transformou em grande negociadora imobiliária ao se relacionar com Bolsonaro. Do final de 1997, quando se envolveu com o então deputado federal, até 2008, ano do rompimento, ela comprou, com Jair, 14 apartamentos, casas e terrenos, que somavam um patrimônio, em imóveis, avaliado em cerca de R$ 3 milhões - o equivalente a R$ 5,3 milhões em valores corrigidos pela inflação.

Diz o texto: "nas escrituras guardadas há quase 20 anos, há informações que despertam a atenção: na compra de cinco desses 14 imóveis, o pagamento ocorreu 'em moeda corrente', ou seja, em dinheiro vivo. Foram duas casas, um apartamento e dois terrenos — tudo feito em negociações separadas ocorridas entre 2000 e 2006, que somam R$ 243.300, em dinheiro da época. Hoje, esse montante somaria R$ 680 mil, com a inflação corrigida pelo IPCA de acordo com a data de cada compra".

terça-feira, 14 de julho de 2020

Dino acha possível uma fusão entre PCdoB e PSB

"Desde o berço temos uma aliança"

Conversa Afiada, 14/07/2020

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), afirmou em entrevista à CNN Brasil que vê como caminho possível uma aliança ou até uma fusão entre seu partido e o PSB. Apontado como possível candidato à Presidência em 2022, Dino também rejeitou a possibilidade de trocar o PCdoB pelo PSB.

"O PCdoB tem uma relação muito próxima com o PSB, a nossa presidente nacional é vice-governadora de Pernambuco com o PSB, temos aliança em Recife. Desde o berço temos essa aliança. Diálogo é muito bom para o país. Eu era muito amigo do Eduardo Campos. Mas nunca uma coisa unilateral minha de sair do PCdoB para ser candidato a presidente pelo PSB, isso jamais. Mas uma aproximação, uma aliança, quem sabe uma incorporação, é um caminho", declarou Dino.

Segundo o governador, o cenário partidário deve se transformar por causa das novas regras, como cláusula de barreira e fim das coligações proporcionais, após as eleições municipais deste ano.

"Temos que esperar o próximo ano, que é uma redefinição partidária no país. Nós vamos ter um redesenho inevitável tendo em vista que as novas regras de cláusula de barreira e fim das coligações proporcionais levarão a muitas fusões. Não agora, porque cada partido vai enfrentar com sua tática eleitoral", completou.

Jessé Souza: "a Lava Jato foi uma máfia desde o começo"

"Não é acusação oca. É análise"

Conversa Afiada, 14/07/2020

Jessé Souza, sociólogo e autor, entre outros, do best-seller "A Elite do Atraso - da Escravidão a Bolsonaro", fez um balanço da Operação Lava Jato em entrevista à revista Cult. Ele foi questionado, entre outras coisas, sobre a influência dos Estados Unidos no desenvolvimento da operação.

"O que acontece com a Lava Jato é que ela assume uma forma judicial de uma espécie de representação de um partido extraparlamentar, que se utiliza mafiosamente das estruturas do Estado. São máfias na Polícia Federal, no Ministério Público e na Justiça que, junto com a imprensa – boca da elite financeira -, queriam tirar o PT do poder. Para isso, era preciso destruir esse projeto de forma extra-eleitoral, dada a hegemonia eleitoral petista, e a Lava Jato foi isso. O que fizeram com Lula foi feito exatamente nos Estados Unidos contra um senador do Alasca, Ted Stevens, um caso que foi reconstruído pelos advogados de Lula. [procuradores do Departamento de Justiça americano pretendiam implicar Stevens em um caso de corrupção tendo como base uma reforma de 200 mil dólares que este havia realizado em seu chalé no Alasca. Foi inocentado em 2009]. Se você vê a mesma estratégia sendo aplicada no Brasil, por que vai precisar de um print do Telegram para acreditar?", disse ele.

Para Jessé, não há dúvida de que Jair Bolsonaro é o produto final da Lava Jato. "Tudo o que o Steve Bannon utilizou com Trump nas eleições americanas foi utilizado por Bolsonaro na eleição brasileira sem tirar nem por. Ficou muito claro pra mim, com Bolsonaro, que o racismo racial é a linguagem como se articulam todos os outros racismos no Brasil – de classe, de raça e o racismo entre culturas", afirmou.

O sociólogo reforça, com duras palavras, que a Lava Jato se comportou, desde o início, como uma máfia:

"(...) Sem a Lava Jato não teria Bolsonaro. A Lava Jato queria tirar o PT do poder para por o PSDB e acabou por criminalizar toda a política, o que é um terreno perfeito para o surgimento de um cara como Bolsonaro como via de salvação para a moralidade pública. Mas a Lava Jato foi desde o primeiro dia um projeto político. Moro ia para os EUA aprender com o FBI desde 2007, sete anos antes da Lava Jato. Isso foi montado. A Lava Jato foi desde o começo uma máfia. Não é uma acusação oca, é uma análise. Ela não observou nunca nenhuma ordem legal, foi criminosa e contraditou a lei o tempo inteiro por conta da blindagem midiática elitista que a protegia. E é muito importante que a gente diga que a Lava Jato não causou só uma perda em dinheiro, não acabou só com infraestrutura, com milhões de empregos, com a pujança econômica do Brasil, não só empobreceu o país. Ela destruiu consensos democráticos extremamente difíceis de construir. Muita gente deu a vida por isso, seja porque foi assassinado ou porque empenhou a vida nisso. São ao menos duas gerações que lutaram para transformar a fé na democracia num desejo de todos os brasileiros, e isso é frágil. Esses 50 anos desde a luta contra a ditadura pela democratização foi o que a Lava Jato ajudou a destruir. O Brasil tem hoje consensos autoritários, mais do que jamais teve, e isso é produto do que essa operação fez, jogando com o tema da honestidade do modo mais hipócrita possível, enquanto destruía o âmago de uma democracia".

segunda-feira, 13 de julho de 2020

General é assessor “direto e imediato” de Toffoli junto a “outros Poderes”, informa STF

Colunista Jeferson Miola critica o fato de o general Ajax Porto Pinheiro ser assessor do presidente do STF, Dias Toffoli. "Esta aberração institucional aconteceu em meio ao clima de tutela militar e de conspiração contra o Estado de Direito marcado pelas ameaças infames do general Villas Bôas ao Supremo para impedir a libertação do ex-presidente Lula"

Brasil 247, 13/07/2020, 10:26 h Atualizado em 13/07/2020, 10:30
General Ajax Porto Pinheiro e Dias Toffoli (Foto: Reprodução | Rosinei Coutinho/SCO/STF)

Em resposta à consulta feita em 26/5/2020 por meio da Lei de Acesso a Informações, o gabinete da presidência do STF informou que “o cargo em comissão – que foi ocupado pelo General Fernando Azevedo e Silva e, atualmente, encontra-se ocupado pelo General Ajax Porto Pinheiro – é de Assessor Especial do Gabinete da Presidência”.

A presidência do STF informou que as atribuições do general Ajax Porto Pinheiro “se referem ao assessoramento direto e imediato ao Presidente do Supremo Tribunal Federal no relacionamento com outros Poderes e demais agentes externos”.

A página do general Ajax no wikipédia contradiz esta informação. Lá, consta que o cargo “é responsável pelo assessoramento do presidente do Poder Judiciário em assuntos relacionados à segurança pública, dentre outros”.

Na resposta, o STF ainda ressalta, talvez como eventual atenuante, “que as referidas atribuições do cargo foram/são desempenhadas pelos referidos militares, já na reserva, na qualidade de civis”. Seria muito inocente acreditar que quando um militar passa para a reserva ele se desmilitariza.

Embora o STF não tenha respondido diretamente ao questionamento sobre a existência de cargo “cativo” para o comissionamento de militares que se revezam em ocupá-lo, o fato é que antes da presidência do ministro Dias Toffoli, não há registro no STF de general para exercer nenhuma função, menos ainda as informadas pela presidência.

O 1º general nomeado para este cargo foi o atual ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva, em 27/9/2018, logo no início do mandato do Toffoli. Azevedo e Silva foi indicado a Toffoli pelo então Comandante do Exército, general Villas Bôas, ainda no período eleitoral. Ele atuou na elaboração do programa de governo e na campanha de Bolsonaro.


Após aceitar o convite para o ministério bolsonarista, Azevedo e Silva indicou o general Ajax Porto Pinheiro para substituí-lo no cargo, o que aconteceu em 30/11/2018.

Em vídeo de propaganda eleitoral divulgado alguns dias antes do 2º turno da eleição de 2018, o general Ajax revelou-se um fanático e fervoroso militante bolsonarista – além, naturalmente, de odioso antipetista.

Apesar de ter escalado na carreira do Exército durante os governos petistas, que inclusive lhe prestigiaram com missões internacionais, o general Ajax transborda incompreensível ressentimento e ingratidão em relação aos governos do PT, aos quais delirantemente acusa de terem “aparelhado” o Exército [sic].

Nas pregações eleitorais para “meus ex-cadetes, ex-capitães, amigos, militares e familiares”, o general explora o mito do “inimigo interno”. Eles – ou seja, o PT – “foram escorraçados do poder. Agora, eles voltam numa situação diferente, e tenho certeza, eles voltam com sede de vingança. Se eleitos, nós, do Exército, seremos as principais vítimas. Eles tentarão fazer como na Venezuela. Isso acontecerá caso eles vençam as eleições”, discursou o general bolsonarista.

Algumas semanas depois da divulgação deste vídeo eleitoral, Ajax foi nomeado por Dias Toffoli como assessor especial, onde inacreditavelmente continua lotado até hoje.

É de se anotar o grave contexto em que se deu a nomeação dos generais para atuarem diretamente no gabinete do presidente do STF. Esta aberração institucional aconteceu em meio ao clima de tutela militar e de conspiração contra o Estado de Direito marcado pelas ameaças infames do general Villas Bôas ao Supremo para impedir a libertação do ex-presidente Lula e sua candidatura presidencial.

É difícil encontrar explicação aceitável – ou, ao menos, razoável – para a nomeação de generais no gabinete do presidente da Suprema Corte. Nem mesmo se fosse para supostos temas “relacionados à segurança pública”, como consta no wikipédia do general Ajax, se poderia aceitar isso.

Mais fora ainda de qualquer razoabilidade é a nomeação dos generais para o “assessoramento direto e imediato ao Presidente do Supremo Tribunal Federal no relacionamento com outros Poderes e demais agentes externos”.

Neste caso, e considerando o projeto de poder militarista no país e o avanço do “Partido Militar”, fica difícil não caracterizar a situação como sendo de tutela consentida do presidente do STF pelas Forças Armadas.

Esta é uma realidade absolutamente inédita, não encontrável na literatura sobre as teorias do Estado democrático. A presença e a participação de militares na política, assim como no coração do Judiciário, é absolutamente reprovável e inaceitável em qualquer democracia; é uma afronta ao Estado de Direito.

A pergunta que o STF precisa responder, por isso, é: por que mantém um general lotado no gabinete da Presidência da Suprema Corte para assessorar no relacionamento com outros poderes?

Bolsonaro paga para general 'trabalhar para mim', diz secretário dos EUA

"Nosso novíssimo acréscimo ao nosso quartel general: general David, um dos mais afiados nas forças armadas brasileiras", afirmou o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Mark Esper. "Novamente, brasileiros pagando para ele vir aqui e trabalhar para mim [work for me] para fazer diferença em segurança"

Brasil 247, 13/07/2020, 09:40 h Atualizado em 13/07/2020, 12:38
Mark Esper, Donald Trump e Jair Bolsonaro (Foto: Reuters)

Em sua coluna publicada no jornal Folha de S.Paulo, Nelson de Sá destacou uma frase dita pelo secretário de Defesa dos Estados Unidos, Mark Esper, ao presidente Donald Trump durante reunião do Comando Sul das Forças Armadas dos EUA, agradecendo ao Brasil e a Bolsonaro por pagarem um general americano para integrar o "U.S. Southern Command".

Numa resposta a Trump, Esper afirmou: "E [agradecer] nosso presidente brasileiro, Bolsonaro, com nosso novíssimo acréscimo ao nosso quartel-general: general David, um dos mais afiados nas forças armadas brasileiras. Novamente, brasileiros pagando para ele vir aqui e trabalhar para mim [work for me] para fazer diferença em segurança", disse

Ele se referia ao general David Bellon, que acaba de se integrar ao comando. No Comando Sul das Forças Armadas dos EUA há um general brasileiro desde 2019, Alcides Valeriano de Faria Júnior, que recebe ordem diretamente do Exército daquele país. O fato é inédito na história brasileira. 

Trump tinha ido à sede do Comando Sul das forças americanas, num subúrbio de Miami, onde fez ameaças a países como China e Venezuela, e aproveitou saudações aos "parceiros" Colômbia e Brasil. 

INPE: governo Bolsonaro demite responsável por monitorar o desmatamento

A culpa é do mensageiro

Conversa Afiada, 13/07/2020

O governo de Jair Bolsonaro exonerou nesta segunda-feira 13/VII a coordenadora-geral de Observação da Terra do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Lubia Vinhas. A demissão, assinada pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, saiu no Diário Oficial da União.

A Observação da Terra é a área do INPE responsável pelo monitoramento da devastação da Amazônia, por meio do sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter).

Na semana passada, o instituto divulgou que junho teve o maior número de alertas de desmatamento para o mês em toda a série histórica, iniciada em 2015. No semestre, os alertas apontam devastação em 3.069,57 km² da Amazônia, aumento de 25% em comparação ao primeiro semestre de 2019. Só em junho, a área de alerta foi de 1.034,4 km².

Após a exoneração de Vinhas, o Greenpeace afirmou, em nota, que a demissão "não surpreende" em razão de decisões anteriores tomadas pela gestão Jair Bolsonaro, mas "dá novamente a entender que o governo é inimigo da verdade".

"Mas não será escondendo, passando uma maquiagem nos dados ou investindo em propaganda que o governo irá mudar a realidade. E isso acontece por uma razão bem simples: Bolsonaro não quer mudar os rumos da sua política, afinal, a destruição é o seu projeto do governo”, diz o comunicado da porta-voz de Políticas Públicas da organização, Luiza Lima.

Com informações do G1

domingo, 12 de julho de 2020

Novo partido de Bolsonaro só tem 3,2% das assinaturas necessárias

Aliança pelo Brasil conta com apoio de 44 eleitores que já morreram...

Conversa Afiada, 12/07/2020
Original: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Quem ainda se lembra da "Aliança pelo Brasil"?

O partido da família Bolsonaro, lançado no final de novembro de 2019, após a guerra civil dentro do PSL, prometia ser o grande instrumento dos conservadores brasileiros.

Não deu certo.

Em fevereiro deste ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) só havia validado 2,9 mil assinaturas das 492 mil necessárias para o registro do partido.

Em março, não mudou muita coisa: poucos mais de 8 mil assinaturas - 1,6% do total necessário.

Já à época, representantes da nova sigla afirmavam que, muito provavelmente, o partido não conseguiria o registro a tempo de participar das eleições municipais de 2020.

Nos meses seguintes, a situação continuou difícil: até o dia 9/VII, foram validadas apenas 15.721 assinaturas - ou seja, 3,2%.

Reportagem de Ranier Bragon, na Folha de São Paulo, aponta que o número de assinaturas rejeitadas pelo TSE é 61% superior ao de validadas: 25.384 nomes foram recusados pelo tribunal.

Os motivos são vários:

• 18.112 são eleitores já filiados a outros partidos
• 3.352 preencheram um estado diferente daquele no qual estão registrados na Justiça Eleitoral
• 1.284 são assinaturas duplicadas
• 150 eleitores não existem
• 44 são pessoas que já morreram...
• 2.442 nomes foram rejeitados por outros motivos

Outras 98.873 assinaturas ainda aguardam validação pelo TSE.

A Aliança, agora, tenta correr para participar das eleições de 2022. Mas nem esse plano tem garantia de dar certo. Tendo isso em mente, o ex-deputado federal Roberto Jefferson convidou Jair Bolsonaro para disputar a reeleição pelo PTB. Segundo o partido, Bolsonaro "declarou que vai analisar com carinho e seriedade o convite"...

Artigo do Globo foi escrito para a direita, não para petistas, diz Luis Felipe Miguel

"A Globo sente que não é mais - se é que um dia de fato foi - aquele poder supremo que faz e desfaz presidentes no Brasil. Já havia sido derrotada por Temer. E agora não consegue enquadrar Bolsonaro. Daí o aceno ao PT", analisa o professor de Ciência Política da UnB Luis Felipe Miguel

Brasil 247, 12/07/2020 
...Luis Felipe Miguel (Foto: Reprodução)

Por Luis Felipe Miguel, em seu Facebook - O infame artigo n'O Globo sobre "perdoar o PT" é um dos acontecimentos mais significativos da conjuntura política.

O sentido do golpe de 2016 foi silenciar de vez o campo popular na política brasileira, a fim de que o desmonte do Estado e dos direitos pudesse avançar com rapidez e sem contratempos.

Mesmo uma política de moderação extrema, ciosa dos estreitos limites da transformação social no Brasil, como a do lulismo, era considerada algo a ser extirpado.

Para alcançar esse objetivo, a Constituição foi rasgada várias vezes. Uma presidente legítima foi derrubada. Os abusos da Lava Jato foram aplaudidos. Lula foi condenado e preso em julgamentos farsescos e ao arrepio da lei. A violência política se agigantou. Os militares foram trazidos de novo para o proscênio da política nacional.

Quando chegaram as eleições de 2018, os mesmos que articularam o golpe preferiram apoiar um criminoso intelectualmente incapaz a abrir diálogo com um liberal cauteloso como Fernando Haddad.

Uma aposta de risco. Se entregou muito do que prometera, com as medidas antipovo e antinação de Guedes, Bolsonaro por outro lado mostrou-se danoso, seja por sua incompetência administrativa e intemperança verbal, seja por privilegiar os interesses paroquiais (ou devo dizer "miliciais"?) aos quais está associado.

Prisioneiro do discurso superficialmente anti-sistêmico que o projetou, de uma dinâmica de conflito e também de sua própria masculinidade frágil, que o faz ver qualquer compromisso como humilhação, em muitas áreas Bolsonaro mostrou-se disfuncional para grupos que o apoiavam.

A Globo é um deles. A rede exige ser chamada a participar da partilha do poder - e, portanto, zela pela manutenção de seus próprios recursos de pressão diante dos governantes. Já Bolsonaro se sente mais confortável com parceiros menos demandantes.

Estranhou-se com a Globo não apenas criticando sua programação, destratando seus jornalistas ou repetindo bravatas sobre não renovar a concessão. Ele diminuiu sua participação na verba publicitária do governo; agiu no sentido de beneficiar suas concorrentes, recriando sorteios na TV; atingiu uma fonte de receita importantíssima, no caso da transmissão dos jogos de futebol.

E a Globo sente que não é mais - se é que um dia de fato foi - aquele poder supremo que faz e desfaz presidentes no Brasil. Já havia sido derrotada por Temer. E agora não consegue enquadrar Bolsonaro.

Daí o aceno ao PT. O autor é um porta-voz autorizado do império dos Marinho; não é insensato ler o texto como sendo uma posição oficiosa da empresa.

Não vou me estender sobre os absurdos do artigo. Todas as arbitrariedades cometidas nos últimos anos (o golpe contra Dilma, o lawfare contra Lula) são apresentadas como justas punições aos "malfeitos" petistas. O perdão do PT é condicionado ao abandono, pelo partido, de bandeiras abominadas, como democratização da mídia e participação popular.

As respostas dos petistas ao artigo foram, como era de se esperar, de indignação. Mas tendo a crer que não foi para eles que o artigo foi escrito - foi para os outros setores da direita interessada em parar Bolsonaro.

Eles sabem - como Ascânio Seleme escreveu - que não é possível alcançar esse objetivo sem o apoio militante daqueles que estão à esquerda do centro.

Tentaram, em primeiro lugar, obter esse apoio sem abrir qualquer brecha para que o campo popular tivesse voz. Era a estratégia das "frentes amplas", em que cabia à esquerda nada mais do que abraçar FHC, Temer e Huck e assinar manifestos em defesa de valores inefáveis.

Seduziu muita gente, dentro do próprio PT e também do PSOL. Mas a oposição enérgica de Lula freou o entusiasmo. Essa oposição, aliada ao fato de que muitos à direita deixaram transparecer que seu objetivo na "frente ampla" era negociar em melhores condições uma acomodação com Bolsonaro, desinflou estas iniciativas, que no momento parecem ter caído numa desmoralização sem volta.

Por isso, O Globo propõe dar um passo à frente. Ele propõe que se aceite, hoje, aquilo com que Lula acenou tantas vezes depois do golpe, quando se lançou candidato, e que reiterou ao colocar Haddad como substituto: uma repactuação que readmita a centro-esquerda como participante do jogo político, pagando o preço da aceitação da maior parte dos retrocessos dos últimos anos.

Não acho que seja uma boa saída. Mas o fato é que o principal conglomerado da imprensa burguesa está propondo, para seu campo, essa alternativa que, até há pouco, era alvo de anátema. Essa é uma mudança importante na conjuntura.