sábado, 1 de junho de 2024

Alvarez & Marsal e McKinsey: ‘capitalismo de desastre’ lidera a reconstrução do RS

Disputa sobre como estado será reerguido ‘é a questão fundamental colocada hoje’, diz pesquisador e ativista gaúcho

Publicado por Diário do Centro do Mundo

DCM, 1 de junho de 2024 às 9:01

Arroio do Meio (RS) é uma das cidades que foram inteiramente devastadas pelas águas – Vitor Shimomura

A persistência dos alagamentos e das chuvas, com direito a ciclone e geada, pinta um cenário em que, mais de um mês após o início da maior tragédia climática do Rio Grande do Sul (RS), ainda não é possível ver seu fim. A gestão do desastre, no entanto, faz a transição para uma nova etapa. Com verbas bilionárias e em ano eleitoral, a reconstrução do estado gaúcho já está em andamento, mas tem ainda a disputa dos seus rumos em aberto.

“Essa é a dramaticidade do momento que a gente está vivendo”, resume Tarson Núñez, cientista político, ativista e pesquisador do Observatório das Metrópoles no Rio Grande do Sul.

“Porque governos e setores privados já têm a receita pronta, os instrumentos na mão e só precisam botar a mão no dinheiro, que já está disponível”, avalia Núñez. “É urgente que setores acadêmicos e populares pensemos o que queremos com essa reconstrução”, defende.

Em uma estimativa inicial, o governo do RS avaliou que precisará de R$ 19 bilhões para a reconstrução do estado. Ao GZH, especialistas como o economista Luís Otávio Leal e o consultor Claudio Frischtak falam de cifras ainda maiores, entre R$ 85 bilhões e R$ 90 bilhões.

No seu primeiro pacote de medidas, o governo Lula (PT) anunciou uma injeção de R$ 50,9 bilhões no RS, especialmente com linhas de crédito a juros baixos e adiamento do recolhimento de impostos. No Congresso Nacional, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), defende a aprovação de um “orçamento de guerra”, com regras fiscais flexibilizadas.
“Capitalismo de desastre”

Para Victor Marchezini, sociólogo e professor do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o “capitalismo de desastre se manifestou em Porto Alegre”.

Usando um termo da jornalista canadense Naomi Klein no livro A doutrina do choque, Marchezini se refere ao uso, por parte de gestores privados e públicos, de experiências de choque – como catástrofes – para fazer avançar oportunidades de negócios de maneira que, em situações de normalidade, não seria possível.

No caso do Rio Grande do Sul, esse caminho é expresso na contratação, pelo governo de Eduardo Leite (PSDB), de empresas estadunidenses de consultoria, como Alvarez & Marsal (A&M) e Mckinsey. O que traz, na visão de Núñez e Marchezini, outro problema para além do benefício a interesses privados.

Se a reconstrução for pautada pela lógica do mercado, aponta ele, as cidades serão reerguidas aprofundando o modelo de desenvolvimento que, justamente, causou a tragédia. “É sempre o modo como a gente ocupa o território que gera as consequências do que a chuva, na verdade, está revelando”, sintetiza Marchezini.

“A catástrofe não foi criada pelas nuvens que choveram”, salienta Tarson. “Elas poderiam não ter tido um impacto tão grande se os campos da Serra não tivessem sido aplainados para plantar soja, o que reduziu a cobertura vegetal, assoreou os rios, fez a água cair mais rápido”, exemplifica: “Boa parte do desastre resultou de um modelo econômico que é causador deste processo”.

“Por isso a reconstrução”, preocupa-se Marchezini, “não pode ser guiada pelos mesmos grupos políticos e econômicos responsáveis pela degradação dos últimos anos”.

Com uma equipe da Universidade Federal de São Carlos, Victor visitou locais como Teresópolis (RJ), Barreiros (PE) e Ilhotas (SC) depois de tragédias climáticas, em uma pesquisa que resultou no livro Abandonados nos desastres. “Vimos situações que estamos começando a ver no RS de forma muito rápida”, constata.

“O momento pode ser o de aproveitar a existência de recursos federais em grande escala para pensar uma reconstrução a partir de um novo paradigma, centrado nas pessoas e não no lucro”, observa Núñez, para quem “esta é a questão fundamental colocada hoje”.

“Meu medo é que o drama da situação sirva como uma espécie de cortina de fumaça para que a gente não discuta as causas últimas desta calamidade”, alerta.

169 pessoas morreram no RS. Foto: Marcelo Caumo

McKinsey “espalhando o capitalismo americano”

Na última terça-feira (28), o “termo de cooperação” entre o governo e a McKinsey & Company foi publicado no Diário Oficial do Rio Grande do Sul. A consultora, fundada nos EUA em 1929 e presente em ao menos 60 países, vai “apoiar” o governo “no gerenciamento da crise” causada pelas “chuvas intensas”.

As ações da empresa, diz a súmula, serão de “planejamento para reestabelecimento da atividade econômica”, “identificação de alavancas de apoio ao setor produtivo” e “mapeamento de fontes de recursos financeiros”. O trabalho durante 60 dias é sem repasse de valor. Depois pode ser renovado, não se sabe a qual preço.

No livro Nos bastidores da Mckinsey: A história e a influência da consultoria mais admirada do mundo, o jornalista Duff McDonald afirma que a companhia ajudou “empresas e governos a criar e manter muitos dos comportamentos corporativos que moldaram o mundo em que vivemos”.

Se tornando “parte indispensável” em decisões de alto escalão, escreve McDonald, a Mckinsey ajudou a “inventar o que enxergamos como capitalismo americano e a espalhar isso para cada canto do mundo”.

“Historicamente, clientes procuram a Mckinsey para ajudá-los a resolver problemas – a consultoria foi responsável ao longo das décadas por aconselhar de demissões em massa a aquisições e novas possibilidades de negócios”, descreve matéria da Exame.
O furacão privatista da A&M

Já a Alvarez & Marsal foi contratada primeiro pelo prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB). Os serviços teriam sido oferecidos voluntariamente por Pedro Bortolotto, um dos diretores da empresa no Brasil que é porto-alegrense. Questionado sobre a escolha, Melo declarou: “porque eu posso decidir”.

Quatro dias depois, Leite seguiu o mesmo caminho. A “doação de serviços sem encargos” ao governo estadual foi firmada em 14 de maio, com vigência de 30 dias, podendo ser renovada.

Presente no Brasil desde 2004, a A&M ganhou manchetes por ter empregado o ex-juiz Sergio Moro em 2020, depois de receber R$65 milhões para administrar judicialmente empresas alvos da Lava Jato, por ele comandada. O possível conflito de interesse está sendo investigado pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

A companhia já deixou marcas no próprio estado gaúcho. Sem licitação, foi contratada para fazer uma avaliação financeira da Companhia Rio-grandense de Saneamento (Corsan). Pouco tempo depois, prestou seus serviços para a Aegea Saneamento que, por R$4,1 bilhões, arrematou a privatização da antiga estatal.

Mas é sua atuação em Nova Orleans, nos Estados Unidos, depois de 80% da cidade de Louisiana ficar submersa com a passagem do furacão Katrina em 2005, um dos principais pontos do currículo da A&M.

“Entre os que vislumbraram uma oportunidade nas inundações de Nova Orleans estava Milton Friedman, grande guru do movimento pelo capitalismo sem grilhões”, descreve Naomi Klein em Doutrina do choque.

“A ideia radical de Friedman sustentava que, em vez de gastar uma parte dos bilhões de dólares do dinheiro da reconstrução refazendo e melhorando o sistema escolar público preexistente em Nova Orleans, o governo deveria fornecer vouchers para as famílias, os quais elas poderiam gastar nas instituições privadas, muitas com fins lucrativos, que seriam subsidiadas pelo Estado”, relata.

A A&M seguiu à risca. Em 19 meses, sobraram quatro escolas públicas – outras 318 passaram para a administração privada. Os 4.700 professores membros do sindicato, que tinha forte atuação, foram demitidos.

“O American Enterprise Institute, uma entidade afiliada ao pensamento de Friedman, manifestava seu entusiasmo porque ‘o Katrina havia realizado em um dia aquilo que os reformadores educacionais da Louisiana vinham tentando fazer durante anos’”, conta Klein.

Em 2014, o então prefeito de Nova Orleans pelo partido Democrata, Ray Nagin, foi condenado a dez anos de prisão por fraude, suborno e lavagem de dinheiro durante a reconstrução. Teve de devolver US$ 585 mil aos cofres públicos.

“Hoje Nova Orleans tem 200 mil habitantes a menos do que tinha antes do furacão. Toda a área do distrito histórico da cidade, habitado pela população negra e pobre, foi reconstruída com um modelo voltado a viabilizar negócios. A habitação se tornou cara demais para seus habitantes originários. O ambiente foi gentrificado”, descreve Tarson Núñez.

“Porto Alegre alagou fundamentalmente por uma falha de manutenção dos equipamentos de prevenção da cheia. Portanto, muitas áreas alagaram que não vão se alagar nas próximas enchentes”, aponta o pesquisador do Observatório das Metrópoles.

“No entanto, por exemplo, ao lado da arena do Grêmio tem uma área enorme de habitação popular que o poder público não conseguia retirar porque garantiram seu direito à terra através da luta coletiva. O mercado imobiliário está de olho nessas áreas há anos. Agora, com o alagamento e a destruição das casas, o que a A&M vai sugerir?”, questiona Núñez.

Outra gigante da consultoria atuando no pós-desastre gaúcho é a britânica Ernst & Young (EY). Até o momento, no entanto, não há contratos publicados no Diário Oficial.

Em nota, a empresa informou que foi “acionada pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul” e vai “prestar apoio no desenho da estratégia de levantamento e utilização de recursos necessários para promover a reconstrução do estado”. A consultoria, afirma a EY, “será realizada por quatro semanas, de maneira pro bono” a partir da assinatura do contrato, ainda em processo de aprovação. As outras empresas foram procuradas pela reportagem, mas não responderam até o fechamento deste texto.

“Eu acho ‘estranho’ que uma consultoria esteja disposta a trabalhar sem receber remuneração pelos seus serviços. Olha, como toda empresa, seu objetivo é crescer e gerar lucros. Elas operam a partir da lógica do mercado e atuam para atender os interesses do contratante. Essas consultorias não são ingênuas”, avalia a geógrafa Claudia Marcela Orduz Rojas.

Ao Brasil de Fato, o governo de Eduardo Leite declara que “a natureza da parceria com as consultorias é a mesma que a realizada com as universidades e academia. São parceiros para a reconstrução do Rio Grande do Sul, que darão apoio e suporte à realização dos projetos do Plano Rio Grande”.

Eduardo Leite (PSDB), governador do RS. Foto: reprodução

Capitalismo de desastre no Brasil

“Tudo acontece de forma muito rápida e alinhada porque o ‘receituário’ da doutrina do choque, elaborado pelo economista norte-americano Milton Friedman, já foi testado diversas vezes”, explica Rojas.

Nas disputas dos rumos da gestão de desastres, a velocidade é um dos tantos aspectos que fazem sair em vantagem os setores que não estão, por exemplo, com a casa submersa, o corpo contaminado ou o amigo desaparecido.

“O tratamento do choque permite a eliminação progressiva da esfera pública (privatização progressiva de setores estratégicos), a garantia de total liberdade para as corporações (que vem crescer seus rendimentos) e a redução ao máximo dos gastos sociais. A proposta é tão radical e prejudicial para a grande maioria, que só pode ser aplicada em situações excepcionais”, define Rojas.

Claudia estudou o rompimento da barragem da Samarco (Vale / BHP Billiton), que em 2015 matou 19 pessoas e despejou rejeitos minerais pela Bacia do Rio Doce, em Minas Gerais. Para ela, foi aí que aconteceu o “primeiro experimento de grande monta do capitalismo de desastre no Brasil”.

E só foi possível, em sua visão, a partir de três terapias de choque. A primeira, o rompimento da barragem. A segunda, um “ambicioso programa econômico neoliberal, antidemocrático e impopular” para reparar danos que, impulsionado por corporações, inaugurou um nicho de mercado. A terceira, a imposição de mecanismos de tortura coletiva aos atingidos, de forma a “reduzir o gasto social” e “neutralizar a resistência”.

Indagada sobre os aprendizados que o episódio pode oferecer para pensar a tragédia gaúcha, Rojas destaca que “os processos de reparação e reconstrução não podem ficar a cargo de empresas privadas”.

“As emergências, a miséria e os vulneráveis tornaram-se as mercadorias mais valiosas do mundo”, constata a pesquisadora. “Auferir lucros a partir do caos, da devastação e da miséria parece ser o único objetivo da ‘indústria do desastre’, que conta com um aliado incondicional: o Estado”, diz.

A Secretaria da Reconstrução Gaúcha, criada pelo governador Eduardo Leite no último 17 de maio e comandada por Pedro Capeluppi, tem quatro subsecretarias. Nenhuma delas trata de questões ambientais ou emergência climática. São elas: Projetos para reconstrução; Projetos Estruturantes; Parcerias e concessões; e Inteligência mercadológica.

Para Victor Marchezini, uma expressão do capitalismo de desastre que “talvez o Rio Grande do Sul tenha inaugurado no Brasil, embora tenha um efeito de mobilizar a sociedade civil na arrecadação de donativos, é a monetização da tragédia por personalidades que vão à cena do desastre, ganham seguidores, etc. Ou mesmo as fake news, que geram engajamento”.
Reação popular e dispersão

Tarson Núnez viu seu edifício em Porto Alegre cercado por água por quatro dias. “Eu fui retirado, mas não era um barco da Defesa Civil, não era um barco da Polícia Militar. Era um barco de voluntários”, relata.

“Um elemento que essa tragédia revela é a enorme capacidade de empatia, solidariedade e auto-organização popular que existe na nossa sociedade”, salienta. “Não foi o Estado que saiu organizando voluntários. Os voluntários se organizaram, e o Estado se agregou depois”, conta Tarson.

Além disso, na visão de Núñez, o cenário fortaleceu entidades e movimentos ambientalistas que “vinham sofrendo reveses atrás de reveses”. Entre elas a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), que não conseguiu impedir a alteração, por parte da gestão Leite, de 480 pontos da legislação ambiental do estado.

Também despertou em atores de instituições de pesquisa e ensino “um sentimento de urgência de colaborar”: “A emergência catalisou um movimento que estava dormido. Gente que tem capacidade intelectual e técnica e que hoje está se movimentando para influir neste debate”, destaca Tarson Núñez.

“As cozinhas comunitárias são maravilhosas, estão salvando a vida de milhares de pessoas. Mas todas essas iniciativas, que estão surgindo de baixo para cima com muita consistência e capacidade técnica, estão dispersas. E precisam ser unificadas”, opina Tarson.

Na avaliação de Claudia Rojas, tragédias ambientais se tornarão cada vez mais frequentes e, assim, “a próxima fase do capitalismo de desastre vai se complexificar e sofisticar”.

“A ‘infraestrutura de desastre’ estará disponível para qualquer um que possa pagar, pelo preço que o mercado determinar. Tudo estará à venda, do resgate por helicópteros em telhados a água potável e camas em abrigos. A economia do desastre não só vem crescendo como é amplamente assimilada pelas dinâmicas do mercado. A cada crise, dobra-se a aposta no capital”, discorre Rojas.

Por isso, opina Rojas, “é crucial estabelecer e fortalecer uma grande coalizão com as pessoas e não com as corporações. É imprescindível ressignificar a ideia e o sentido da riqueza. É vital garantir que o poder e o conhecimento, cuja finalidade é servir à vida, pare de servir a si mesmo”.

Publicado originalmente no Brasil de Fato.

Justiça dá prazo para Regina Duarte indenizar a filha de Leila Diniz por fake news

FAKE NEWS

Publicado por Augusto de Sousa

DCM, 1 de junho de 2024
 o Regina Duarte, ex-secretária da Cultura no governo Bolsonaro. Foto: reprodução


A atriz e diretora Janaina Diniz iniciou a execução da sentença que condenou a atriz Regina Duarte pelo uso indevido da imagem de sua mãe, Leila Diniz. Segundo o jornal O Globo, a bolsonarista tem até 13 de junho para pagar R$ 74 mil em danos morais e juros, por não ter cumprido a sentença que a obrigava a se retratar pela publicação indevida da imagem de Leila em um post a favor da ditadura militar.

Em março, Regina foi condenada a pagar R$ 30 mil por uso indevido da imagem da atriz, que morreu em 1972. Em dezembro de 2022, ela publicou um vídeo defendendo a ditadura militar, usando uma foto fora de contexto das atrizes Eva Todor, Tônia Carrero, Eva Wilma, Leila Diniz, Odete Lara e Norma Bengell para ilustrar o discurso do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O vídeo afirmava que “64 foi uma exigência da sociedade” e que “as mulheres nas ruas pediam o restabelecimento da ordem”. Contudo, a imagem das artistas foi tirada em 1968, representando um protesto contra a censura e a ditadura militar. Na época, Janaina processou a ex-global por uso indevido de imagem e “violação à honra” de Leila Diniz, destacando que a memória de sua mãe se opõe ao conservadorismo defendido pelo PL e Michelle Bolsonaro.
Post distorcido de Regina Duarte. Foto: reprodução

Netanyahu confirma proposta de cessar-fogo, mas descarta fim do genocídio em Gaza

MUNDO

Publicado por Augusto de Sousa

DCM, 1 de junho de 2024 às 7:22


Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel. Foto: reprodução

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou na sexta-feira (31) que autorizou a proposta de cessar-fogo em Gaza apresentada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. No entanto, o sionista deixou claro que o massacre dos palestinos só terminará com a “eliminação” política e militar do Hamas.

“O governo israelense está unido pelo desejo de conseguir o retorno de nossos reféns o mais cedo possível e está trabalhando para atingir esse objetivo”, afirmou o gabinete de Netanyahu em comunicado. O primeiro-ministro ressaltou que a guerra não terminará até que todos os objetivos sejam alcançados, incluindo a eliminação das capacidades “de guerra” e governamentais do Hamas.

A proposta apresentada por Israel é dividida em três fases distintas:

1) Cessar-fogo inicial e retirada: um cessar-fogo de seis semanas com a retirada das forças israelenses das áreas povoadas no território palestino;

2) Negociações e troca de prisioneiros: durante o período de cessar-fogo, iniciar negociações para finalizar os combates, com a troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos, além da libertação de mulheres e crianças;

3) Libertação de reféns e reconstrução: a última fase prevê a libertação de todos os reféns em Gaza e um grande programa de reconstrução para a região, que está devastada pelos conflitos.
Joe Biden e Benjamin Netanyahu. Foto: reprodução

Mais cedo na Casa Branca, Biden enfatizou a necessidade de Israel resistir à pressão daqueles que apoiam um conflito “interminável”. “É hora de esta guerra acabar”, disse Biden enfaticamente. “Não podemos deixar passar esta oportunidade”. O presidente dos EUA também destacou a situação humanitária em Gaza, onde os civis estão vivendo em condições “infernais”.

Na última quinta-feira (30), o Hamas havia demonstrado disposição para uma trégua na Faixa de Gaza, condicionando isso ao fim dos bombardeios israelenses. No entanto, o Exército israelense confirmou nesta sexta-feira que suas tropas entraram no centro de Rafah, desafiando os apelos internacionais para interromper a genocídio palestino.

Biden havia alertado que reconsideraria seu apoio a Israel caso houvesse uma ofensiva em larga escala em Rafah. A ONU estimou que antes da operação israelense, 1,4 milhão de pessoas se refugiavam em Rafah, com um milhão de pessoas fugindo desde então, segundo a Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA).

Ex-Lava Jato, desembargador diz que não sabia que filho era sócio de Moro

CORRUPÇÃO

Publicado por Yurick Luz
DCM, 1 de junho de 2024 às 9:04

Sergio Moro e Marcelo Malucelli. Foto: reprodução

O desembargador Marcelo Malucelli, do TRF-4 (PR, SC e RS), afirmou em depoimento ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que não tinha conhecimento da sociedade entre seu filho, o advogado João Malucelli, e Sergio Moro em um escritório de advocacia.

Essas declarações foram feitas à Corregedoria Nacional de Justiça em 1º de junho de 2023, durante uma investigação da Lava Jato. O depoimento, conduzido pelo juiz auxiliar Otávio Port, durou cerca de 40 minutos.

“Fui pego de surpresa (…). É engraçado contar porque minha esposa, nervosa, disse em casa: ‘Inclusive, estão dizendo que você é sócio do Moro e não sei o quê. Que absurdo’. E ele (João, o filho) falou assim: ‘É, mas eu sou. Eu faço parte. Meu nome tá lá’ (…). Foi aquela surpresa geral em casa. Eu não sabia. Mas isso aí jamais interferiria nos meus julgamentos”, disse.

Vale destacar que a sociedade entre João Malucelli e Sergio Moro no escritório Wolff & Moro Sociedade de Advogados foi mencionada em representações contra Malucelli por alvos da Lava Jato, como Rodrigo Tacla Duran, e por Renan Calheiros.


O CNJ está investigando se Malucelli agiu para restabelecer uma ordem de prisão contra Tacla Duran, que vive na Espanha.

O casal João Malucelli e Julia Wolff. Foto: Reprodução

A sociedade não seria fonte de renda para João, que até novembro passado trabalhava no gabinete do deputado estadual Luiz Guerra (União-PR) com um salário de R$ 10,8 mil, por indicação de Moro. A sociedade seria apenas “protocolar”. Ele, que namora a filha mais velha de Moro, Júlia Wolff, também é sócio dela, do senador e de Rosangela Moro.

Malucelli também explicou que se afastou dos casos da Lava Jato após a revelação da sociedade entre seu filho e Moro. Ele afirmou que essa decisão foi tomada por razões pessoais ligadas à atuação do juiz Eduardo Appio, que substituiu Moro nos casos da operação.

Segundo Malucelli, Appio teria telefonado para João em tom ameaçador — uma gravação do telefonema foi divulgada, levando ao afastamento e à mudança de função do juiz.

"Ocidente quer provocar conflito armado com a Rússia", diz Pepe Escobar

MUNDO

Jornalista afirma que a paciência da Rússia está sendo testada e que uma resposta devastadora pode ser inevitável

Brasil 247, 01 de junho de 2024, 05:39 h

(Foto: Laura Aldana | Reuters )

O correspondente internacional Pepe Escobar afirmou em um vídeo publicado Pepe Café que o Ocidente está tentando provocar um conflito armado com a Rússia. Escobar relatou que participou de diversas reuniões importantes em Doha, no Qatar, abordando temas de geopolítica, geoeconomia, arte e arquitetura. Ele destacou a importância do Fórum Econômico de São Petersburgo, onde estará presente para cobrir os eventos relacionados à presidência russa dos BRICS e outras questões cruciais.

No vídeo, Escobar argumenta que a decisão da OTAN de permitir que a Ucrânia use mísseis de médio e longo alcance para atacar alvos dentro da Rússia é uma provocação deliberada. Ele menciona que esses sistemas de ataque já foram fornecidos à Ucrânia no início do ano, e que ataques a instalações sensíveis da Rússia já estão ocorrendo. Escobar conclui que a paciência da Rússia está sendo testada e que uma resposta devastadora pode ser inevitável se os ataques continuarem.

Escobar destaca que há uma divisão dentro da OTAN sobre a extensão dos ataques. Enquanto alguns países, como a Alemanha e a França, adotam uma posição mais cautelosa, permitindo apenas ataques a alvos militares legítimos, outros, como os países bálticos e a Polônia, defendem ações mais agressivas. Essa divergência, segundo Escobar, é uma cortina de fumaça para esconder a real intenção de provocar uma resposta militar russa.

Ele argumenta que, apesar das provocações, a Rússia tem mostrado paciência e não reagiu de forma proporcional até agora. No entanto, essa situação poderia mudar rapidamente, pois a Rússia pode considerar essas ações como um ataque direto da OTAN. Escobar aponta que o presidente Vladimir Putin já alertou sobre a seriedade da situação, indicando que a Rússia poderia tomar medidas severas em resposta a ataques contínuos.

Além disso, Escobar ressalta que a atual crise econômica nos Estados Unidos e o crescente endividamento do país estão influenciando a postura agressiva do Ocidente. Ele sugere que uma guerra total poderia ser vista como uma solução extrema para "resetar" a economia global. Segundo Escobar, as elites ocidentais acreditam, erroneamente, que podem vencer uma guerra contra a Rússia, uma superpotência nuclear.

Em conclusão, Escobar adverte que o risco de uma guerra total está aumentando, com a Europa sendo o principal campo de batalha devido à sua proximidade geográfica. Ele enfatiza que os próximos meses serão críticos, com eventos como a cúpula dos BRICS e o Fórum Econômico de São Petersburgo desempenhando um papel importante na determinação do futuro geopolítico da região.

sexta-feira, 31 de maio de 2024

PF prende dois suspeitos de ameaçar família de Moraes

DCM, 31 de maio de 2024 às 11:47

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Foto: reprodução

A Polícia Federal (PF) prendeu nesta sexta-feira (31) dois suspeitos por ameaças contra a família do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Os detidos serão ouvidos pela polícia para esclarecer os fatos.

Um dos alvos foi preso na Vila Clementino, bairro nobre da Zona Sul de São Paulo, enquanto o outro foi detido no estado do Rio de Janeiro. Segundo informações da CNN Brasil, um deles é fuzileiro naval. Os crimes investigados são ameaça e perseguição.

A PF informou que também está cumprindo cinco mandados de busca e apreensão nas mesmas cidades. A operação que resultou na prisão dos suspeitos foi realizada a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) e trata-se de um caso novo, ainda em apuração pela PF.

“A Polícia Federal cumpre, nesta quarta-feira (31/5), mandados expedidos pelo Supremos Tribunal Federal, com o objetivo de complementar as evidências em torno de violentas ameaças sofridas por familiares de um Ministro daquela Corte. As medidas foram solicitadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR)”, disse a corporação, em nota.

Em janeiro, Moraes disse que as investigações dos ataques golpistas de 8 de janeiro promovidos por bolsonaristas revelaram três planos para matá-lo.

“O primeiro previa que as Forças Especiais do Exército me prenderiam em um domingo e me levariam para Goiânia. No segundo, se livrariam do corpo no meio do caminho para Goiânia. Aí, não seria propriamente uma prisão, mas um homicídio”, disse o ministro ao Globo.

“E o terceiro, de uns mais exaltados, defendia que, após o golpe, eu deveria ser preso e enforcado na Praça dos Três Poderes”, completou.

quinta-feira, 23 de maio de 2024

Prefeitura de Porto Alegre drena primeiro enchente de região pouco habitada e ocupada por grandes empresas

Acredite se quiser

Diretor do Dmae afirma que decisão é técnica: “não é por causa das empresas”

Brasil 247, 23 de maio de 2024, 11:16 h

Sebastião Melo (Foto: Leonardo Lucena)

A Prefeitura de Porto Alegre e o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) instalaram as quatro primeiras bombas flutuantes emprestadas pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) em zona pouco habitada, mas ocupada por empresas como Femsa Coca-Cola, Stok Center, Havan e Motormac Geradores, informa o jornal GZH. A decisão revoltou moradores do bairro Sarandi, já que as estruturas produzem um efeito local de drenagem e não melhorarão a situação nas regiões mais habitadas.

“Os abusos não acabam. O governo Melo está atendendo os prejuízos de apenas alguns, enquanto mais de 26 mil moradores seguem alagados. O Sarandi pede socorro!”, disse a deputada estadual Laura Sito (PT-RS) via rede social.

O bairro Sarandi tem uma região que é densamente povoada e é coberta pela Estação de Bombeamento de Águas Pluviais (EBAP) número 10. No entanto, a casa de bombas não está funcionando por conta do nível das águas, que impede o religamento das estruturas. Assim, a região com milhares de casas continuará submersa.

O diretor-geral do Dmae, Mauricio Loss, afirma que a decisão de atender primeiro a EBAP 9 foi tomada com base em questões técnicas. “Estamos aqui para beneficiar a população. A gente não tem como chegar na casa de bombas número 10 porque o dique está completamente tomado de casas. Temos de, primeiramente, partir da casa de bombas número 9 e colocar ela em funcionamento. Não é por causa das empresas. É por causa da casa de bombas que estamos ali. Não temos como colocar as bombas lá dentro (da Ebap 10) porque não temos para onde bombear”, explicou.

Protestos em outros bairros - Durante a última quarta-feira (22), moradores dos bairros Navegantes e Humaitá protestaram contra a inoperância da prefeitura no escoamento das águas da região, que permanecem na altura do telhado das casas. Eles alegam que seria possível instalar uma bomba no local para escoar a água através de canos que passariam pela Freeway, rodovia que passa próxima a região. No entanto, Loss afirmou que a abertura de comportas ajudaria mais do que a instalação de bombas.

O ministro extraordinário de Apoio à Reconstrução do RS, Paulo Pimenta (PT), foi ao local dos protestos acompanhado do prefeito Sebastião Melo (MDB). Pimenta afirmou que os moradores terão prioridade nas medidas de apoio implementadas pelo governo federal. Já Melo anunciou a abertura das comportas da região.

terça-feira, 14 de maio de 2024

Deputados de extrema direita e Jorginho Mello estão entre os políticos que mais amplificaram fake news sobre as enchentes

MÍDIA

As postagens originais dessas fake news alcançaram 13,46 milhões de visualizações, segundo dados das plataformas

Brasil, 14 de maio de 2024, 05:37 h, atualizado em 14 de maio de 2024, 09:34 h

Jorginho Mello (Foto: Roberto Zacarias/SECOM)

Duas semanas após o início das fortes chuvas no Rio Grande do Sul, autoridades e a sociedade civil enfrentam, além dos danos físicos, o desafio da desinformação. Conforme reportagem do jornal O Globo, pelo menos vinte notícias falsas circularam durante este período, sendo amplificadas por políticos e artistas, quase todos ligados à extrema direita. As postagens originais dessas fake news alcançaram 13,46 milhões de visualizações, segundo dados das plataformas.

Na última segunda-feira, na Câmara dos Deputados, sete deputados federais foram alvo de uma representação judicial movida pelo PSOL por propagação de fake news durante uma sessão na Casa. Entre os deputados citados estão Filipe Martins (PL-TO), Gilvan da Federal (PL-ES), Paulo Bilynskyj (PL-SP), Caroline de Toni (PL-SC), General Girão (PL-RN), Coronel Assis (União-MT) e Coronel Ulysses (União-AC). Letícia Capone, pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Internet e Política da PUC-Rio, destacou que as fake news podem causar pânico, dificultar operações de resgate e colocar a segurança pública em risco.

Para combater a desinformação, o governo federal lançou no domingo uma campanha de conscientização. Na semana anterior, já havia solicitado que a Polícia Federal abrisse inquérito contra o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG) e o influenciador Pablo Marçal por suas publicações sobre as chuvas. Eduardo Bolsonaro afirmou que Lula só tomou providências quatro dias após o início das chuvas, apesar do governo ter reconhecido a calamidade e começado a destinar recursos três dias após as chuvas começarem. Cleitinho e Marçal alegaram que as doações ao estado não estavam chegando devido à falta de nota fiscal, informação desmentida pelo secretário-chefe da Casa Civil, Arthur Lemos.

Outros políticos também disseminaram informações falsas. O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), declarou que caminhões estavam sendo multados, embora a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) tenha negado essa informação um dia antes. O deputado Gilvan da Federal (PL-ES) afirmou na Câmara que barcos e motos aquáticas estavam sendo parados para verificação de documentação, mas o coronel Douglas Soares, subcomandante geral da Brigada Militar, desmentiu a informação.

Uma das fake news mais divulgadas foi do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que afirmou que somente o Ministério da Saúde poderia repor medicamentos em falta no estado, destacando a insulina. A Anvisa já havia esclarecido que não há obstáculos para doações de medicamentos. Deputados como Gustavo Gayer (PL-GO) e Paulo Bilynskyj (PL-SP) também fizeram alegações falsas sobre médicos impedidos de trabalhar e falta de vacinas no estado, ambas desmentidas por autoridades. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou que não há desabastecimento de vacinas no Rio Grande do Sul.

RS: fake news contaminam redes, e 70% das menções ao Exército são negativas

Reportagem

Letícia Casado/Colunista do UOL/14/05/2024 04h00

Voluntários e entes públicos estão envolvidos nos resgates no Rio Grande do Sul
Imagem: JORGE LANSARIN/Agencia Enquadrar/Folhapress

A disseminação de notícias falsas sobre a atuação do governo federal e do Exército nos resgates no Rio Grande do Sul alimentou a insatisfação de parte da população com a atuação de entes públicos na resposta à catástrofe

Essa insatisfação pode ser traduzida em números. Levantamento feito pela consultoria Quaest a pedido da coluna mostra que 70% das menções ao Exército nas redes sociais entre os dias 3 e 10 de maio foram negativas.

A empresa, especializada em monitoramento digital, analisou as menções sobre o assunto nas principais redes sociais — X (antigo Twitter), Instagram, Facebook, Reddit, Tumblr e YouTube —, e nos sites de notícias com uma ferramenta própria para buscar palavras-chaves relacionadas ao tema.

A Quaest coletou uma amostra de mais de 732 mil menções relacionadas ao desempenho das Forças Armadas durante a tragédia no estado. Elas foram originadas por 146 mil perfis nas redes.

Diretor da Quaest, Felipe Nunes diz que não foi possível comprovar se o movimento dos ataques ao Exército foi organizado: "Parece ser bem orquestrado sim. Mas não temos evidências disso. Por isso é difícil afirmar."

Especialistas consultados pelo UOL veem por trás dos comentários indícios de uma máquina de fake news organizada e bem articulada na distribuição de desinformação sobre a omissão de socorro no Rio Grande do Sul.

Fake news de caminhões e no Congresso

A Quaest coletou uma amostra de mais de 732 mil menções relacionadas ao desempenho das Forças Armadas durante a tragédia no estado. Elas foram originadas por 146 mil perfis nas redes.

Diretor da Quaest, Felipe Nunes diz que não foi possível comprovar se o movimento dos ataques ao Exército foi organizado: "Parece ser bem orquestrado sim. Mas não temos evidências disso. Por isso é difícil afirmar."

Especialistas consultados pelo UOL veem por trás dos comentários indícios de uma máquina de fake news organizada e bem articulada na distribuição de desinformação sobre a omissão de socorro no Rio Grande do Sul.

Fake news de caminhões e no Congresso

O pico dos ataques ao Exército se deu entre os dias 8 e 9 da semana passada, segundo a pesquisa.

Foi justamente neste período que entraram em cena dois ingredientes que potencializaram a guerra de narrativas sobre quem ajuda mais os gaúchos: governo e Forças Armadas ou os voluntários.

Diversas publicações nas redes sociais desinformavam sobre o trânsito de doações para o Rio Grande do Sul antes mesmo de uma reportagem do SBT mostrar um caminhão multado por excesso de peso, no dia 7. No entanto, seis de um total de 7.928 veículos foram autuados e liberados —depois, a ANTT publicou uma série de medidas para orientar o trânsito de ajuda humanitária e informou que as multas seriam anuladas.

Mas a reportagem foi disseminada como o padrão para a situação— ainda que os internautas ignorassem que os outros 7.922 veículos foram liberados sem problemas.

No dia seguinte, quarta-feira (8), ao menos sete deputados usaram seu tempo de fala no plenário para reproduzir desinformação sobre as enchentes durante sessão na Câmara.

Parlamentares bolsonaristas passaram então a usar as redes para atacar governo e Exército. Essas publicações geram engajamento negativo para os entes públicos.

Mudança de posicionamento de bolsonaristas

A coluna mostrou que a disseminação de fake news por parte de bolsonaristas expõe a decepção deste grupo com o Exército na era Lula.

A pesquisa Quaest constatou que as reações de internautas e parlamentares às ações das Forças Armadas na tragédia "tem indicado uma mudança de posicionamento entre os dois polos políticos".

"Enquanto políticos ligados à direita se tornaram os principais críticos das Forças Armadas, figuras alinhadas à esquerda têm mencionado a instituição de forma mais positiva." (Relatório da Quaest)

O que dizem nas redes, segundo a Quaest

As críticas argumentam que outras pessoas e instituições têm auxiliado mais do que as Forças Armadas no enfrentamento das enchentes no Rio Grande do Sul.

Parlamentares alinhados ao bolsonarismo têm publicado supostas fake news sobre a qualidade dos equipamentos das Forças Armadas e criticado a eficiência logística da instituição, além de apontar suposta demora no auxílio aos afetados.

No lado do governo, a narrativa é diferente: enquanto ministros e parlamentares argumentam que o trabalho do governo em conjunto das Forças Armadas tem salvado diversas vidas durante a tragédia, influenciadores alinhados ao governo destacam o trabalho ininterrupto do Exército.

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Sakamoto: ódio de bolsonaristas pelo governo é maior que sua empatia por sofrimento gaúcho


Diario do Centro do Mundo, Atualizado em 10 de maio de 2024 às 14:07

Membro da Marinha do Brasil resgatando criança de helicóptero. Foto: AFP

Enquanto servidores públicos e voluntários resgatam e cuidam de vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul, hordas digitais de extrema direita lutam para afundá-las ainda mais na lama com a propagação de mentiras que dificultam a chegada de socorro, de água e comida.

O processo não é orgânico. Ou seja, vai muito além de malucos fermentando ódio espontaneamente em seu vazio interior, mas vem sendo estimulado por lideranças políticas, influenciadores e mercadores da morte. É um projeto, não um acidente. Como já comentei antes, o objetivo é lucrar com a desgraça alheia com a audiência das mentiras e impedir que o governo Lula seja reconhecido pela resposta que vem dando à tragédia.

Os arquitetos do caos beneficiam-se do mecanismo de “viés de confirmação” nas bolhas do bolsonarismo radical. O público aceita e compartilha bovinamente conteúdos que recebem, pouco se importando se são fraudulentos ou não, porque concordam com eles.

Como essas mensagens afirmam que Lula vem agindo de forma incompetente e criminosa no Rio Grande do Sul, e isso vai totalmente ao encontro de sua visão sobre o petista, então encaram o conteúdo como fato. Para eles, verdade é tudo aquilo que mostra que o governo federal fez algo ruim e mentira é tudo o que aponta que ele produziu uma coisa boa. A terceirização do raciocínio individual é o último degrau da polarização política.

Lula e sua comitiva no RS. Foto: Divulgação

Como já disse aqui, nenhum governante merece aplausos por fazer o seu trabalho em uma catástrofe. Mas em um Brasil acostumado em ver presidente dar uma passadinha rápida para mandar um salve a atingidos pelas chuvas na Bahia e depois sair correndo para tirar férias, em local paradisíaco, andando de jet ski e brincando em carros de corrida, enquanto as vítimas afundavam na lama, a volta à normalidade causa um estranhamento positivo.

A última rodada da pesquisa Genial/Quaest aponta que a ajuda ao Rio Grande do Sul aparece como a segunda notícia positiva sobre o governo Lula mais vista, lida ou ouvida pelos brasileiros, somente atrás do Bolsa Família. Além disso, a avaliação geral positiva do governo Lula na região Sul, fortaleza de votos bolsonaristas, subiu de 25%, em fevereiro, para 34%, em maio, e a negativa ficou estável dentro da margem, oscilando de 42% para 41%.

Ainda é cedo para cravar que há uma relação direta com a tragédia, mas a extrema direita não quis esperar para ver e está trabalhando a toda, nas redes sociais e aplicativos de mensagens, a fim de disputar a narrativa sobre a reação à catástrofe. Aproveitam-se que contam com milhões de seguidores que repassam como verdade qualquer conteúdo que é contra o seu “inimigo”.

Enquanto servidores públicos e voluntários lutam uma guerra para resgatar famílias, encontrar corpos, reconstruir pontes e levar água e comida, uma parte da extrema direita, no conforto do seu sofá, está em outra guerra, a de narrativas, a fim de reduzir a importância do peso do poder público na resposta. Essa batalha vai ser decisiva para a percepção final da população sobre o que, de fato, aconteceu. Ao que tudo indica, independente dos fatos.

A questão aqui não é o governo do petista naufragar, mas o atendimento às vítimas fazer água, uma vez que fake news atestam que doações não estão chegando, o que pode reduzir o desejo de doar, por exemplo. É triste, mas o ódio de radicais contra Lula é maior que sua empatia com o sofrimento gaúcho.