O pronunciamento do presidente, em alguns aspectos, é resultado da pressão popular que começa a voltar as ruas, em virtude da insatisfação com a postura de Bolsonaro e com as ações ou falta delas, principalmente em se tratando de vacinas e de auxílio emergencial
(Foto: Reprodução)
Durante seu discurso, Bolsonaro tentou fazer uma retrospectiva positiva de seu governo, que está pressionado pelas ruas e pela CPI da Covid. Ele exaltou a marca de 100 milhões de doses de vacinas distribuídas pelo Brasil, falou da produção de IFA que se iniciará em breve no país, voltou a dizer que o governo federal não obrigou ninguém a ficar em casa - mas também não ajudou nas medidas de combate à pandemia - exaltou o auxilio emergencial - que em 2021 tem um valor pífio - e disse esperar um crescimento acima de 4% da economia brasileira neste ano.
BOLSONARO FEZ UM BALANÇO DAS AÇÕES DE SEU GOVERNO
Por Ricardo Brito (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro fez um pronunciamento em cadeia nacional nesta quarta-feira para fazer um balanço das ações do governo federal na pandemia, destacando medidas econômicas e o acordo de transferência de tecnologia para a produção da vacina AstraZeneca no país, além de criticar, de forma indireta, as medidas de restrição para conter a Covid-19.
"O nosso governo joga dentro das quatro linhas da Constituição, considera o direito de ir e vir, o direito ao trabalho e o livre exercício de cultos religiosos inegociáveis", disse o presidente.
Durante o curto pronunciamento, de cerca de cinco minutos, foram registrados panelaços em diversas cidades brasileiras, como Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, mostrando o desgaste do presidente, que também está sob pressão na CPI da Covid no Senado.
Em sua fala, o presidente disse sentir profundamente cada vida perdida no país, mas exaltou o fato de que já se alcançou 100 milhões de doses de vacina distribuídas a Estados e municípios.
"Neste ano, todos os brasileiros, que assim o desejarem, serão vacinados. Vacinas essas que foram aprovadas pela Anvisa", prometeu ele, em meio a críticas ao governo quanto à lentidão na vacinação e no dia em que o próprio Ministério da Saúde reduziu a projeção de doses contra Covid-19 prevista para junho.
Bolsonaro ressaltou a assinatura do acordo de transferência de tecnologia no Brasil entre a AstraZeneca e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que vai permitir a produção integral da vacina do laboratório no país, reforçando sua mudança de postura em relação às vacinas contra a Covid-19. Várias vezes o presidente minimizou a importância e eficácia dos imunizantes na pandemia.
INDIRETAMENTE BOLSONARO CRITICOU GOVERNADORES
O presidente disse que o governo dele não obrigou ninguém a ficar em casa e não foi responsável por fechar comércio, igrejas ou escolas, em uma crítica indireta a medidas adotadas por governadores e prefeitos para tentar frear a doença. Destacou também que "não tirou o sustento de milhões de trabalhadores informais".
Leia o pronunciamento na íntegra:
"Boa noite,
Sinto profundamente cada vida perdida em nosso país.
Hoje alcançamos a marca de 100 milhões de doses de vacinas distribuídas a estados e municípios.
O Brasil é o quarto país que mais vacina no planeta.
Neste ano, todos os brasileiros, que assim o desejarem, serão vacinados. Vacinas essas que foram aprovadas pela Anvisa.
Ontem, assinamos acordo de transferência de tecnologia para a produção de vacinas no Brasil entre a AstraZeneca e a Fiocruz.
Com isso, passamos a integrar a elite de apenas cinco países que produzem vacina contra a Covid no mundo.
O Nosso governo não obrigou ninguém a ficar em casa, não fechou o comércio, não fechou igrejas ou escolas e não tirou o sustento de milhões de trabalhadores informais.
Sempre disse que tínhamos dois problemas pela frente, o vírus e o desemprego, que deveriam ser tratados com a mesma responsabilidade e de forma simultânea.
Destinamos, em 2020, 320 bilhões para o Auxilio Emergencial para atender aos mais humildes.
Esse montante equivale a mais de 10 anos de Bolsa Família. E mais de 190 bilhões para ajudar estados e municípios.
Alguns setores como bares e restaurantes, turismo, entre outros, em grande parte foram socorridos pelo nosso governo por meio do PRONAMPE (Programa Nacional de Apoio as Microempresas e Empresas de pequeno porte.)
Hoje mesmo sancionamos a nova lei do PRONAMPE, agora permanente, que pode destinar a vários setores até 25 bilhões de reais, onde 20% será destinado ao setor de eventos.
Terminamos 2020 com mais empregos formais que 2019. Somente nos primeiros quatro meses deste ano, o Brasil criou mais de 900 mil novos empregos.
O PIB projetado para 2021 prevê um crescimento da economia superior a 4%.
Só no 1º trimestre deste ano, a economia mostrou seu vigor, estando entre os países do mundo que mais cresceram.
Com o Congresso Nacional estamos avançando, aprovamos:
- A nova lei do gás;
- O marco legal do saneamento;
- A MP da Liberdade Econômica;
- O Banco Central independente; e
- E o novo marco fiscal.
Realizamos leilões de rodovias, portos e aeroportos.
Levamos internet para mais de 8 milhões de brasileiros em grande parte para as regiões Norte e Nordeste.
Ontem, a Bolsa de Valores bateu recorde histórico, a moeda brasileira se fortalece, e estamos avançando no difícil processo de privatizações.
A CEAGESP sob um comando honesto e responsável apresentou, além de lucro, um ambiente salutar entre os permissionários e funcionários.
Essa Companhia socorreu nossos irmãos de Aparecida e Araraquara, entre outras cidades do interior de São Paulo, doando dezenas de toneladas de alimentos.
As estatais, no passado, davam prejuízo de dezenas de bilhões de reais devido à corrupção sistêmica e generalizada. Hoje são lucrativas.
Nos dois primeiros anos do nosso Governo, a Caixa Econômica Federal bateu recorde de lucro mesmo reduzindo os juros do cheque especial, da casa própria, das micros e pequenas empresas e dos empréstimos às Santas Casas.
Estamos avançando na transposição do Rio São Francisco, levando água para todo o Nordeste.
Na infraestrutura, o nosso Governo tem construído pontes, duplicado rodovias, terminando obras paradas há décadas, como a BR-163 no Pará.
Ainda neste ano, será concluída a Ferrovia Norte-Sul, que ligará o Porto de Itaqui, no Maranhão, ao Porto de Santos, em São Paulo, é a retomada do modal ferroviário no Brasil.
Seguindo o mesmo protocolo da Copa Libertadores e Eliminatórias da Copa do Mundo, aceitamos a realização, no Brasil, da Copa América.
O nosso Governo joga dentro das 4 linhas da constituição, considera o direto de ir e vir, o direito ao trabalho e o livre exercício de cultos religiosos inegociáveis.
Todos os nossos 22 ministros consideram o bem maior de nosso povo a sua liberdade.
Que Deus abençoe o nosso Brasil".
REPERCUSSÕES DO PRONUNCIAMENTO
Governo errou nome da vacina
Em legenda durante pronunciamento de Jair Bolsonaro, nesta quarta-feira, 2, o governo errou o nome da vacina da farmacêutica britânica AstraZeneca. “Astrazenica”, estava escrito no vídeo.
No jornal O Globo, o jornalista Ancelmo Gois comenta: "que vacina não é prioridade para o governo de Jair Bolsonaro já está mais do que claro, mas errar o nome de fabricante, que tem fornecido milhões de doses para o país, é novidade para esta administração”.
“A imagem acima está disponível no perfil TV BrasilGov, no YouTube. É o trecho do pronunciamento de hoje em que o governo federal legenda o nome da farmacêutica britânica AstraZeneca como... Astrazenica. Dessa eu nunca ouvi falar”, continuou.
Bolsonaro espalha fake news em rede nacional ao falar sobre prejuízos de estatais
Jair Bolsonaro voltou a espalhar fake news sobre as estatais brasileiras em governos anteriores nesta quarta-feira (2), desta vez em rede nacional de televisão e rádio.
Em pronunciamento, Bolsonaro afirmou que "as estatais, no passado, davam prejuízo de dezenas de bilhões de reais, devido a corrupção sistêmica e generalizada", e citou a Caixa Econômica Federal como exemplo: "bateu recorde de lucro, mesmo reduzindo juros".
Em maio, Bolsonaro já havia feito tal alegação, que é falsa. No primeiro ano do governo Lula, em 2003, a Caixa teve o maior lucro de sua história até então.
"Em 2004, o banco voltou a ter lucro: 1,4 bilhão de reais. Em 2005, o lucro da Caixa subiu 46% em relação ao ano anterior e foi de 2,07 bilhões. Em 2006, novo recorde: 2,38 bilhões de lucro. Em 2007, 2,5 bilhões de reais de lucro. No ano de 2008, lucro líquido de 3,9 bilhões de reais, 62,3% superior ao registrado no ano anterior. Em 2009, lucro de 3 bilhões de reais. Em 2010, último ano do governo Lula, o lucro da Caixa subiu 25% em relação a 2009 e fechou o ano em 3,8 bilhões", relatou o site Socialista Morena à época.
Durante seu discurso, Bolsonaro tentou fazer uma retrospectiva positiva de seu governo, que está pressionado pelas ruas e pela CPI da Covid. Ele exaltou a marca de 100 milhões de doses de vacinas distribuídas pelo Brasil, falou da produção de IFA que se iniciará em breve no país, voltou a dizer que o governo federal não obrigou ninguém a ficar em casa - mas também não ajudou nas medidas de combate à pandemia - exaltou o auxilio emergencial - que em 2021 tem um valor pífio - e disse esperar um crescimento acima de 4% da economia brasileira neste ano.
CPI rebatem pronunciamento de Bolsonaro: celebra vacinas com atraso de 432 dias e quase 470 mil mortes
"O Brasil esperava esse tom em 24 de março de 2020, quando inaugurou-se o negacionismo minimizando a doença, qualificando-a de ‘gripezinha’", dizem os membros da CPI da Covid em resposta ao pronunciamento em rede nacional de Bolsonaro
Membros da CPI da Covid divulgaram uma nota rebatendo o pronunciamento de Jair Bolsonaro em rede nacional na noite desta quarta-feira (2).
Durante seu discurso, Bolsonaro exaltou a marca de 100 milhões de doses de vacinas distribuídas pelo Brasil, falou da produção de IFA que se iniciará em breve no país, voltou a dizer que o governo federal não obrigou ninguém a ficar em casa - mas também não ajudou nas medidas de combate à pandemia - exaltou o auxílio emergencial - que em 2021 tem um valor pífio - e disse esperar um crescimento acima de 4% da economia brasileira neste ano.
"Um atraso de 432 dias e a morte de quase 470 mil brasileiros, desumano e indefensável. A fala deveria ser materializada na aceitação das vacinas do Butantan e da Pfizer no meio do ano passado, quando o governo deixou de comprar 130 milhões de doses, suficientes para metade da população brasileira. Optou-se por desqualificar vacinas, sabotar a ciência, estimular aglomerações, conspirar contra o isolamento e prescrever medicamentos ineficazes para a Covid-19", diz a nota, assinada pelo presidente da CPI, Omar Aziz, pelo vice-presidente, Randolfe Rodrigues, pelo relator, Renan Calheiros, e demais membros do colegiado.
Para Manuela, Bolsonaro sentiu o peso das ruas
"Bolsonaro sentiu o poder das ruas e seu pronunciamento cheio de mentiras só mostra que esse Brasil com recorde de vacinados existe só na cabeça dele", postou Manuela D'Ávila, em seu twitter, ao comentar o pronunciamento em rede nacional de Jair Bolsonaro, que mereceu um gigantesco panelaço da população brasileira.