sábado, 10 de abril de 2021

Lula tem mais que o dobro de aprovação que Bolsonaro nas redes sociais

Apesar do recuo da militância de esquerda na participação nas redes sociais, o ex-presidente registra menções favoráveis em 71% das publicações em que é citado

Brasil 247, 10/04/2021, 11:01 h Atualizado em 10/04/2021, 11:34
  (Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)

O ex-presidente Lula tem mais que o dobro de menções favoráveis nas redes sociais se comparado a Jair Bolsonaro, informa Lauro Jardim, do jornal O Globo. O levantamento, é da MAP, agência de análise de inteligência em dados e mídias, e foi realizado entre 30 de março e 7 de abril.

Ambos tiveram praticamente o mesmo número de citações nas redes: Lula 9,1% e Bolsonaro 10,1%.

No entanto, o petista recebeu apoio em 71% das publicações em que foi mencionado. Bolsonaro, por outro lado, teve aprovação em apenas 32,3%.

Um dado interessante é que Lula se mantém com boa aprovação nas redes mesmo com um recuo da militância de esquerda na geração de conteúdo nas plataformas. A participação da esquerda nas redes sociais caiu para 10,5%, contra 22% dos alinhados à direita.

sexta-feira, 9 de abril de 2021

STF responde a Bolsonaro em nota defendendo a Constituição; Marco Aurélio diz que "não dá pra sentar em cima" de CPI

O STF reagiu aos ataques feitos por Jair Bolsonaro contra o ministro Luís Roberto Barroso, que determinou que o Senado instale a CPI da Pandemia e afirmou que os ministros tomam suas decisões “conforme a Constituição e as leis”. Para o ministro Marco Aurélio, "não dá para sentar em cima" da CPI

Brasil 247, 9/04/2021, 14:04 h Atualizado em 9/04/2021, 14:51
  (Foto: Agência Brasil)

Numa nota institucional inusual, o STF respondeu ao ataque de Jair Bolsonaro que, nesta sexta-feira (5), acusou o ministro Luís Roberto Barroso de "fazer politicalha" ao ordenar ao Senado a instalação da CPI da Pandemia. Na nota, divulgada no começo da tarde, a Corte afirmou que os ministros "tomam decisões conforme a Constituição". O ministro Marco Aurélio Mello saiu em defesa da decisão de Barroso e disse que "comissão parlamentar de inquérito é instrumental ao alcance da minoria, e não apenas da maioria. E aí evidentemente se tem um terço de assinaturas. Não dá para sentar em cima".

"O Supremo Tribunal Federal reitera que os ministros que compõem a Corte tomam decisões conforme a Constituição e as leis e que, dentro do estado democrático de direito, questionamentos a elas devem ser feitos nas vias recursais próprias, contribuindo para que o espírito republicano prevaleça em nosso país", diz a nota do STF. Antes de determinar que o Senado instalasse a CPI, Barroso ouviu informalmente todos os demais membros da Corte. A maioria dos ministros teria avalizado a decisão.

Para o ministro Marco Aurélio Mello, a instalação da “Comissão Parlamentar de Inquérito é instrumental ao alcance da minoria, e não apenas da maioria. E aí evidentemente se tem um terço de assinaturas. Não dá para sentar em cima”.

Questionado sobre os ataques feitos por Bolsonaro, Marco Aurélio recomendou “deixar a retórica de lado e trabalhar”. “O que eu digo é que devemos deixar a retórica de lado e trabalhar para fazer frente à pandemia. Trabalhar, e trabalhar muito, arregaçar as mangas, porque é muito triste o quadro vivenciado no Brasil. Veja a percentagem. Mundialmente temos 2,7% da população. Em número de mortes no mundo, temos 27%. Tem alguma coisa aí errada”.

Descontrolado, Bolsonaro faz ataque violento a Barroso e diz que ele fez "politicalha" ao mandar abrir CPI

Jair Bolsonaro atacou o ministro do STF Luís Roberto Barroso, que determinou que o Senado instale a CPI da Pandemia. "Vivemos um momento crítico de pandemia, pessoas morrem, e o ministro do Supremo Tribunal Federal faz politicalha junto ao Senado Federal”, disse

Brasil 247, 9/04/2021, 10:56 h Atualizado em 9/04/2021, 12:35
   (Foto: NELSON JR./SCO/STF | Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Jair Bolsonaro fez um ataque violento ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso na manhã desta sexta-feira (9). Disse que Barroso fez “politicalha", teve como objetivo atacar seu governo e praticou “ativismo judicial” ao determinar que o Senado instale a CPI da Pandemia, para apurar eventuais crimes e omissões do governo federal no enfrentamento à pandemia de Covid-19. Para reforçar a contundência do ataque, Bolsonaro postou o vídeo com seu curto discurso em seu Twitter:

“Pelo que me parece, falta coragem moral para o Barroso e sobra ativismo judicial. Não é disso que o Brasil precisa. Vivemos um momento crítico de pandemia, pessoas morrem, e o ministro do Supremo Tribunal Federal faz politicalha junto ao Senado Federal”, disse Bolsonaro durante encontro com apoiadores no Palácio do Planalto, de acordo com o jornal O Globo.

Bolsonaro também criticou a abertura da CPI, por não investigar também governadores e prefeitos. Ainda segundo ele, Barroso teria feito uma "jogadinha casada" com os senadores da oposição para "desgastar o governo”.

“A CPI não é para apurar desvio de recursos de governadores. É para apurar, segundo está lá na ementa do pedido de CPI, omissões do governo federal. Ou seja, uma jogadinha casada, Barroso (e) bancada de esquerda do Senado para desgastar o governo. Eles não querem saber o que aconteceu com os bilhões desviados por alguns governadores e alguns poucos prefeitos também”, disse.

A decisão de Barroso determinando que o Senado instale a CPI foi tomada de forma monocrática nesta quinta-feira (8). Antes, o ministro realizou uma consulta informal aos demais membros da Corte sobre o assunto. Eles teria citado a jurisprudência do STF sobre o assunto e avalizado o posicionamento de Barroso.

Bolsonaro ataca Barroso por CPI sobre pandemia: 'falta-lhe coragem moral'



Fábio Castanho e Hanrrikson de Andrade* Do UOL
São Paulo em Brasília 09/04/2021 09h56
Atualizada em 09/04/2021 13h17

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) atacou o ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), por determinar que o Senado Federal abra uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) sobre as ações do governo federal na pandemia sobre o novo coronavírus.

Fazendo um paralelo entre a postura do Supremo em relação a uma campanha, feita em grande parte por apoiadores bolsonaristas, pelo impeachment do ministro Alexandre de Moraes, Bolsonaro disse que "falta coragem moral" e "sobra imprópria militância política" a Barroso. Ele ainda reclamou que a decisão não engloba investigação sobre governadores.

"A CPI que Barroso ordenou instaurar, de forma monocrática, na verdade, é para apurar apenas ações do governo federal. Não poderá investigar nenhum governador, que porventura tenha desviado recursos federais do combate à pandemia", escreveu Bolsonaro no Twitter, reproduzindo parte de sua conversa com apoiadores.

"Barroso se omite ao não determinar ao Senado a instalação de processos de impeachment contra ministro do Supremo, mesmo a pedido de mais de 3 milhões de brasileiros. Falta-lhe coragem moral e sobra-lhe imprópria militância política", completou. Ele ainda usou o termo "ativismo judicial" ao se referir ao ministro.

Ontem, Barroso concedeu uma decisão liminar sobre um mandado de segurança apresentado pelos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Jorge Kajuru (Cidadania-GO) determinando a instauração da comissão. Mais tarde, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmou ser contra a CPI neste momento, mas vai cumprir a determinação.

A decisão monocrática do ministro Barroso será levada a plenário para apreciação dos demais ministros da Corte no dia 16 de abril, em julgamento virtual.

A decisão de Barroso gerou forte de reação de apoiadores de Bolsonaro e membros do governo. O ministro das Comunicações, Fábio Faria, falou em "politização e caos".

Apesar da cobrança de Bolsonaro para que Barroso determine a abertura de processo de impeachment contra colegas, um ministro do Supremo não pode tomar decisões sem que tenha sido provocado por uma ação movida junto à corte, como foi o caso do pedido feito pelos senadores do Cidadania no caso da CPI da Covid.

Em nota, o STF disse que as decisões dos ministros seguem a Constituição Federal. "O Supremo Tribunal Federal reitera que os ministros que compõem a Corte tomam decisões conforme a Constituição e as leis e que, dentro do estado democrático de direito, questionamentos a elas devem ser feitos nas vias recursais próprias, contribuindo para que o espírito republicano prevaleça em nosso país", diz a nota.

Ataque foi feito em conversa com apoiadores

O ataque de Bolsonaro a Barroso foi feito durante conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada. Além das frases reproduzidas em seu Twitter, o presidente da República fez mais críticas ao ministro do STF, falando em "jogadinha casada" entre Barroso e a bancada de esquerda do Senado para "desgastar o governo".

"Não é disso que o Brasil precisa, vivendo um momento crítico de pandemia, pessoas morrem, e o ministro do Supremo faz 'politicalha' junto ao Senado Federal", afirmou.

Ele ainda citou o fato de Barroso, antes de assumir o cargo no STF em 2013, ter sido advogado de Cesare Battisti, italiano acusado de terrorismo que pediu asilo político ao Brasil. Indiretamente, Bolsonaro questionou a indicação do ministro pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT) .

"Barroso, nós conhecemos teu passado, sua vida, o que você sempre defendeu, como chegou ao STF, inclusive defendendo o terrorista Cesare Battisti. Então, use sua caneta para boas ações, em defesa da vida e do povo brasileiro e não para fazer 'politicalha' dentro do senado. Se tiver moral, um pingo de moral, Luís Barroso, mande abrir processo de impeachment contra alguns de seus companheiros do Supremo", disse.

À época de sua sabatina na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, em 2013, Barroso foi indagado sobre o caso Battisti e disse ter atuado de "modo muito confortável". Segundo ele, que estava no exercício de sua profissão, defenderia o acusado novamente caso fosse necessário.

"Consultei argumentos que me deram conforto moral, jurídico e político para defender a causa. Trinta anos depois do crime, a Itália o transformou numa espécie de símbolo de um acerto de contas com o passado", declarou ele, na ocasião.

Desde que se tornou ministro, Barroso concedeu várias entrevistas à imprensa e comentou em outras oportunidades o trabalho à frente da defesa de Battisti. Na visão dele, não houve qualquer aspecto de irregularidade ou conduta equivocada.

Ataque a outros ministros do STF

Não é a primeira vez que Bolsonaro direciona ataques a ministros do STF. No ano passado, o presidente da República fez críticas veementes a Alexandre de Moraes e Celso de Mello.

Em abril de 2020, o presidente disse que Moraes havia entrado no STF "por amizade" e que "não engolia" a decisão do ministro em barrar a nomeação de Alexandre Ramagem, delegado e amigo de Bolsonaro, para o comando da Polícia Federal.

No mês seguinte, ele voltou a atacar Moraes por autorizar uma operação da PF (Polícia Federal) no inquérito das fake news contra investigadores que eram seus apoiadores. "As coisas têm limite", disse, antes de soltar um palavrão: "Acabou, p.

Já em maio de 2020, ele criticou a decisão do ministro Celso de Mello de liberar a gravação da reunião ministerial de abril de 2020, na qual o ex-ministro Sergio Moro acusava o presidente de tentativa de interferência na PF.

Aquele período correspondeu ao momento de maior tensão entre Bolsonaro e o STF, inclusive com a participação do presidente em manifestações antidemocráticas que pediam, entre outras coisas, o fechamento do Supremo.

*Com informações da agência Reuters.

Bolsonaro ataca o STF e a CPI. Não sabe o que fala, mas sabe por que fala


    Imagem: Reprodução

Reinaldo Azevedo, Colunista do UOL
09/04/2021 07h26

O presidente Jair Bolsonaro é um caso raro, quem sabe único. Ele quase nunca sabe o que diz. Mas costuma saber por que o diz. Parece complicado, mas é assim. E espero que se esclareça ao longo do texto.

Ele, claro!, ficou bravo com a decisão do ministro Roberto Barroso, do Supremo, que determinou que se instale a CPI da Covid. Como não sabe o que diz, afirmou que o tribunal interfere nos outros Poderes. Duvido mesmo que conheça a Constituição. Era deputado e certamente aplaudiu quando o tribunal determinou, em 2007, a instalação da CPI do apagão aéreo.

Aliás, ele tem em palácio alguém que conhece a história direitinho. Um dos que recorreram ao tribunal foi o então líder do PFL na Câmara, Onyx Lorenzoni, que é hoje secretário-geral da Presidência. E olhem que, naquele caso, a maioria do plenário havia votado para derrubar a comissão, numa patranha meio vergonhosa, é verdade.

Bolsonaro certamente achava muito justo que se fizesse uma investigação. Afinal, pouco antes havia caído um Boeing, matando 154 pessoas. Ele só não se comove com 350 mil mortos.

Aí o presidente decidiu pescar em águas turvas: 
"Agora, no Senado, tem pedido de impeachment de ministro do Supremo. Eu não estou entrando nesta briga, mas tem pedido. Será que a decisão não tem que ser a mesma também, para o Senado botar em pauta o pedido de impeachment de ministro do Supremo?"

Claro que não está entrando... Está pedindo que suas milícias digitais entrem por ele. Há até garotos de programas que se dedicam a criar abaixo-assinados virtuais para depor membros da Corte.

Aí baixou no presidente o falso espírito de Madre Teresa: 
"Não está na hora de, em vez de ficar procurando responsáveis, unir Supremo, Legislativo, Executivo para a busca de soluções? O que que vai levar a abertura da possível CPI? As provas que estamos no caminho certo, que fizemos tudo o possível estão aí".

Nem parecia aquele que, na noite anterior, havia tratado aos palavrões um adversário político — no caso, o governador João Doria, cuja iniciativa responde por 80% das vacinas aplicadas no país.

O presidente que não sabe o que fala, mas sabe por que fala, foi adiante: 
"É uma medida que, não tenho a menor dúvida, é para atingir o governo federal".

Depende do que ele quer dizer por "atingir". Se o significado for "investigar, apurar eventuais desvios, erros e crimes", está coberto de razão. CPIs são instrumentos da minoria e servem justamente a esse propósito.

Faça o seguinte, senhor presidente, chame Onyx Lorenzoni e pergunte por que ele recorreu ao Supremo em 2007 para que se fizesse a CPI do apagão aéreo. Apelando a seus termos, certamente era para "atingir" o governo Lula, não? E olhe que o fato gerador, insisto, foi a queda de um Boeing que matou 154 pessoas. Sem dúvida, uma tragédia. O senhor mesmo fez declarações fortes à época. Por que lhe parece tão razoável a morte de 350 mil?

Referindo-se, suponho, a Barroso, afirmou:
"Agora, queria que ele fizesse a mesma coisa, já que fez para nós, eu não queria entrar numa briga com ninguém do Supremo, uma liminar para o Senado abrir o processo de impeachment de ministro do Supremo Tribunal Federal também. Afinal de contas, aí mostra que ele é isento e tira meu discurso de agora, [...] que seria uma perseguição ao Poder Executivo".

Como se vê, não sabe o que fala, mas sabe por que fala. Lembrem-se que, no universo paralelo do bolsonarismo, já se chegou até a cogitar uma ampliação do número de ministros do Supremo para transformar o tribunal numa espécie de bancada governista. A propósito: impeachment de ministros do Supremo por quê? Ele tem de dizer a razão.

Quanto ao desafio de pedir que provem que ele está errado fazendo o que é do seu agrado, bem, a sofisticação do truque retórico fala por si mesma.

Deu ainda a seguinte declaração à CNN:
"Temos decisões acontecendo, e vocês sabem qual a minha opinião, OK, e vamos tocar a vida aí. O Brasil está sofrendo demais, e o que nós menos precisamos é de conflitos. Da minha parte, você sabe a minha posição. Respeito completamente a nossa Constituição. Não tem um pingo fora das quatro linhas da mesa".

Como naquela música, com adaptação, "não fazes favor nenhum em gostar da Carta". Até porque não é uma escolha. Ademais, a decisão de Barroso está dentro das, aderindo a metáfora, "quatro linhas". Presidente, entre no Google e coloque lá "Parágrafo 3º do Artigo 58 da Constituição". E o sistema de busca vai lhe devolver a seguinte resposta:
"As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.".

É o que basta para uma CPI. E, sim, será sempre um instrumento da minoria oposicionista para investigar a maioria governista. Só faltava ser o contrário, né? Aí seria coisa de ditadura.

A propósito: quando o plenário da Câmara revogou a instalação da CPI do apagão aéreo, em 2007, Bolsonaro concedeu uma entrevista à TV Câmara. Os subscritores do requerimento haviam recorrido ao Supremo. O então deputado afirmou que não esperava um resultado positivo porque, afinal, o tribunal tinha uma maioria de ministros indicados pelo PT. Defendeu a comissão e acusou o governo Lula de estar com medo de que se descobrissem irregularidades.

Pois é... O Supremo, por unanimidade, mandou instalar a CPI.

Pergunta: o senhor está com medo, presidente?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Militares pedem a Mourão para não ser vice de Bolsonaro em 2022


              29.mar.2021 - Vice-presidente Hamilton Mourão recebe primeira dose da vacina contra o coronavírusImagem: Reprodução/Twitter

Kennedy Alencar, Colunista do UOL
08/04/2021 20h25

O vice-presidente Hamilton Mourão tem ouvido conselhos de militares para não repetir a dobradinha com Jair Bolsonaro em 2022. Cresce entre os militares da ativa um desejo de se afastar do presidente, apesar de as Forças Armadas serem sócias do desastre que é o atual governo.

Mourão e Bolsonaro têm relação ruim. O presidente teve durante muito tempo o desejo de se livrar do atual vice numa candidatura à reeleição. Isso mudou agora. No entorno de Bolsonaro, há quem diga que manter Mourão seria uma forma de continuar a ter algum apoio militar.

O vice-presidente tem escutado até pedidos para tentar encabeçar uma chapa, mas ele diz que considera uma aventura concorrer ao Palácio do Planalto.

Perigo

Bolsonaro foi aconselhado a tentar melhorar a relação pessoal com Mourão. Com uma CPI da Pandemia a ser instalada no Senado, a sugestão faz mais sentido ainda.

O nome

Na campanha eleitoral de 2002, o PT deixou correr solta a especulação de que um empresário seria ministro da Fazenda. Quando foi eleito, Lula disse que o posto seria de um petista de sua confiança. Antonio Palocci Filho foi o escolhido.

Caso Lula volte ao poder, a fórmula deve ser repetida. Fernando Haddad é o nome com mais força hoje junto a Lula. Poderia comandar a Casa Civil ou a economia. Uma candidatura ao governo paulista entrou no radar do ex-ministro da Educação. O projeto presidencial perdeu força com a volta de Lula ao jogo eleitoral.

Lado errado da História

Não surpreendeu ninguém o voto de Dias Toffoli a favor da tese de Nunes Marques para liberar missas e cultos no auge da pandemia.
Pressão federal

A instalação de uma CPI no Senado para investigar crimes de Bolsonaro e de seus ministros da Saúde é uma ótima notícia para quem defende pressão sobre o governo a fim de que haja alguma racionalidade no combate à pandemia. Não faltam crimes a serem investigados. Eventual impeachment volta a assombrar Bolsonaro.

Está se apequenando rapidamente

Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado, fica mal na foto com a opinião pública devido à decisão do ministro do STF Roberto Barroso para que seja instalada a CPI da Pandemia. Pacheco se omitiu e terá de agir por ordem do Supremo. Mas ele fica bem com Bolsonaro, que tem ouvido o senador mineiro em nomeações para o governo.

Fracasso, isolamento e mortes levam governo a ensaiar mudança internacional

Homem carrega cilindro de oxigênio a hospital de Manaus Imagem: Carlos Madeiro/UOL

Jamil Chade, Colunista do UOL
08/04/2021 04h00

RESUMO DA NOTÍCIA

  • Com um ano de atraso, autoridades passam a considerar nos bastidores novas estratégias internacionais
  • Ministérios da Economia, Saúde e Itamaraty foram acionados para trazer resultados
  • Comunidade internacional ainda desconfia que nova tentativa pode sofrer resistência de ala mais radical do bolsonarismo
Por mais de um ano, o governo de Jair Bolsonaro tripudiou as recomendações da OMS, faltou às reuniões com grandes produtores de vacinas, esnobou encontros ministeriais para tratar dos imunizantes, minou propostas de ampliação de distribuição de doses e se recusou a ampliar o leque de alternativas para lidar com a covid-19.

Mas com o país transformado em uma ameaça sanitária global, o vírus descontrolado, fechado aos demais vizinhos e sem uma expectativa real de recuperação econômica, membros do governo ensaiam nos bastidores uma movimentação para buscar uma nova estratégia internacional e uma resposta à crise.

A iniciativa vem num momento em que o governo tem uma previsão de entregar apenas metade das vacinas prometidas para abril e ocorre apesar de discursos e narrativas do presidente Jair Bolsonaro, direcionada em grande parte para atender alas mais radicais de sua base de apoio.

Segundo membros do governo, a operação vem ocorrendo em diferentes frentes e com o reconhecimento de alguns dos principais embaixadores do país pelo mundo de que a estratégia adotada no primeiro ano da pandemia foi um "enorme fracasso".

Embate entre ala radical e políticos

Dificilmente haverá uma mudança brusca em todos os aspectos da resposta à pandemia e temas como o lockdown continuarão sofrendo resistência. Os próprios membros do Palácio do Planalto acreditam que Bolsonaro deve continuar a defender medidas sem base científica em seus discursos públicos e a minimizar a dimensão da crise.

Mas uma atitude diferente está sendo vista em reuniões fechadas envolvendo o segundo escalão do governo. Para alguns dos interlocutores, apenas uma resposta à pandemia poderá abrir chances de uma eventual reeleição de Bolsonaro em 2022.

A primeira frente foi iniciada no fim de semana, com o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, mantendo uma reunião com a cúpula da OMS e na qual foi estabelecido um entendimento de que a agência prestaria ajuda ao Brasil de forma regular para lidar com a crise.

Dois dias depois, foi a vez de Queiroga se reunir com a embaixada da China, alvo também de críticas por parte de membros do governo de Jair Bolsonaro.

A aceitação de um papel mais contundente da OMS e a sinalização de aproximação às autoridades de Pequim foram consideradas na diplomacia internacional como uma mudança na estratégia do Brasil.

Gestos ainda são vistos com desconfiança

Os gestos ainda são recebidos com desconfiança, principalmente diante do tom usado nos últimos dias pelo presidente Bolsonaro ao defender medidas sem eficácia comprovada e diante do temor de que as alas mais radicais do bolsonarismo possam fazer naufragar a nova tentativa.

A desconfiança não ocorre por acaso. Por meses, a ordem no governo era a de deslegitimar as recomendações da agência, culpar a OMS pela crise e ainda tentar impedir que ela fosse o centro de uma resposta global.

Em 2020, quando Donald Trump se retirou da OMS, vozes dentro do governo brasileiro também chegaram a defender um ato similar, inclusive com a suspensão de pagamentos para a organização. Não faltaram ainda encontros no qual o então chanceler Ernesto Araújo deixou claro que as respostas à covid-19 não viriam das entidades internacionais, mas de "governos soberanos".

Num outro encontro na OMS, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, sequer citou o papel que a agência deveria ter na pandemia e não mencionou a OMS por seu nome durante o discurso.

Antes, em abril de 2020, o governo ficou inicialmente de fora do lançamento da iniciativa mundial da OMS que visava criar um mecanismo para distribuir vacinas aos países mais pobres. Enquanto fragilizava de forma deliberada a resposta global, o Brasil se afastava de parceiros tradicionais e ampliava crises diplomáticas.

Mesmo para experientes embaixadores dentro do Itamaraty, o preço pago por essas atitudes foi elevado. Além da falta de insumos, a recusa em aceitar as recomendações científicas internacionais foi traduzida em um número inédito de mortes.

Cenário: abril mortífero

A meta é a de conseguir reverter a crise a partir de maio. Mas admite-se que abril ainda será um "mês mortífero". Enquanto isso, outra dimensão fundamental dessa nova etapa é o envolvimento ativo do Itamaraty como forma de reconstruir relações que permitam resultados concretos na luta contra a pandemia..

Nesta semana, ao tomar posse no Itamaraty, o novo chanceler Carlos França foi claro em dizer que a urgência sanitária exigiria "diálogo" com parceiros e voltou a usar o termo "multilateral", rejeitado por Araújo.

"O Brasil sempre foi ator relevante no amplo espaço do diálogo multilateral", destacou. "O que nos orienta, antes de tudo, são nossos valores e interesses. Em nome desses valores e interesses, continuaremos a apostar no diálogo como método diplomático. Método que abre possibilidades de arranjos e convergências que sempre soubemos explorar em nosso favor. O consenso multilateral bem trabalhado também é expressão da soberania nacional", disse, numa frase que ressoou como uma resposta à estratégia de Araújo e de olavistas dentro e fora do Itamaraty.

Imediatamente, em diferentes postos, embaixadores indicaram que o discurso foi imediatamente entendido como uma instrução de uma mudança de postura.

"As missões diplomáticas e consulados do Brasil no exterior estarão cada vez mais engajados numa verdadeira diplomacia da saúde", prometeu França. "Em diferentes partes do mundo, serão crescentes os contatos com governos e laboratórios, para mapear as vacinas disponíveis. Serão crescentes as consultas a governos e farmacêuticas, na busca de remédios necessários ao tratamento dos pacientes em estado mais grave. São aportes da frente externa que podemos e devemos trazer para o esforço interno de combate à pandemia. Aportes que não bastam em si, mas que podem ser decisivos", disse. Ele ainda se comprometeu em "engajar o Brasil em intenso esforço de cooperação internacional, sem exclusões".

Guedes também envolvido

Nesta semana, também foi a vez de o ministro da Economia, Paulo Guedes, entrar em cena. Ele usou uma reunião do Fundo Monetário Internacional para pedir uma cooperação mundial para garantir o abastecimento de vacinas.

"Apelamos aos setores públicos e privados, bem como às organizações multilaterais e cooperação bilateral, para ajudar a preencher as lacunas de financiando e distribuição, inclusive incentivando a transferência de tecnologia e licenciamento voluntário de propriedade intelectual", disse.

Uma das apostas do governo é no projeto na Organização Mundial do Comércio para que haja um acordo amplo entre indústria e governos no sentido de garantir uma maior distribuição e doação de doses dos países ricos aos emergentes.

Hoje, das 600 milhões de doses já dadas contra a covid-19, 150 milhões ocorreram apenas nos EUA. Na África, foram apenas 11 milhões e, em todos os mais de cem países em desenvolvimento no mundo, o mecanismo da OMS conseguiu enviar apenas 36 milhões de doses.

Araraquara x Bauru: dois retratos do Brasil com e sem lockdown contra a covid-19

  Lokdown decretado pela prefeitura de Araraquara chegou a parar inclusive transporte público e        supermercados Imagem: Divulgação/Prefeitura de Araraquara

Laís Alegretti, Da BBC News Brasil, em Londres (Reino Unido)
08/04/2021 08h48Atualizada em 08/04/2021 12h45

Ao mesmo tempo em que o Brasil enfrenta o momento mais mortal da pandemia sem um plano nacional para conter o avanço do coronavírus, governos locais vêm tomando suas próprias ações para lidar com a covid-19 e suas variantes.

Mas isso nem sempre acontece de forma coordenada.

Enquanto o governo estadual de São Paulo impôs uma série de restrições (veja mais abaixo), dois municípios chamam atenção por posturas opostas contra a pandemia. Bauru e Araraquara estão separadas por cerca de 100 km.

De um lado, o prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), decretou um rigoroso lockdown em fevereiro, depois de um aumento brusco em números de casos e ocupação de leitos de UTI. O município suspendeu todos os serviços que não têm relação direta com a área da saúde, incluindo transporte público e supermercados — que só podiam funcionar pelo sistema de delivery.

Já em Bauru, a prefeita Suéllen Rosim (Patriota) impôs restrições mais leves. Ela defende a abertura de lojas e tem declarado que lockdown não funciona. No Instagram, Rosim publicou vídeo de uma carreata que, em suas palavras, pedia a "abertura responsável do comércio local". Em outra publicação em que aparece cantando em uma igreja, em fevereiro, a prefeita disse que "tudo deveria ser considerado essencial em quase um ano de pandemia".

Em entrevistas, Rosim também criticou restrições impostas pelo governo estadual para tentar reduzir os casos de covid-19 e disse que o lockdown "não funcionaria em Bauru".

"Araraquara é prova disso", afirmou ao portal UOL.

Depois do lockdown, no entanto, Araraquara viu queda em casos diários e mortes. Já em Bauru, nas últimas semanas, tanto a média diária de mortes quanto a de casos subiram.

Veja, a seguir, como foi a evolução desses números e como eles podem ser interpretados, segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.

Antes, o que é lockdown?

Literalmente, a expressão em inglês significa algo como "fechamento total".

Não existe definição única para "lockdown", mas o termo se refere a medidas duras tomadas por governos para restringir radicalmente a circulação de pessoas. Isso inclui o fechamento por longos períodos de escritórios, serviços considerados não-essenciais (fora saúde e segurança, por exemplo) e locais públicos.

Em alguns países, decretos de lockdown incluíram multas e outras penas para quem insistir em sair de casa e desobedecer regras de isolamento.

O objetivo da medida é garantir o distanciamento social - uma defendida por cientistas, governos e pela Organização Mundial da Saúde para reduzir contaminações e mortes pelo coronavírus.

O efeito do lockdown

Araraquara registra média de 11,9 mortes por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias. A taxa de Bauru, no mesmo período, é bem mais alta: 26,4 mortes por 100 mil habitantes, segundo dados de 7 de abril divulgados pelo governo estadual.

É importante notar que esta comparação revela a proporção de mortes nas duas cidades, e não seus números absolutos. Este paralelo permite um retrato mais fiel da realidade nos dois lugares, especialmente porque suas populações são bem distintas: Bauru tem 379 mil habitantes e Araraquara, 238 mil.

Para analisar a evolução dos casos, óbitos e internações em cada um dos municípios neste ano, também vale prestar atenção nos "caminhos" revelados pelos gráficos — eles sobem, caem ou seguem estáveis?

Os dados de casos diários de covid-19 mostram que Araraquara, que apostou em lockdown, teve queda de mais de 50% na média de novos casos diários, passando de quase 140 mortes no fim de fevereiro para pouco mais de 60 em meados de março.

No mesmo período, o número de casos em Bauru subiu, como mostra o gráfico abaixo.

Imagem: BBC 

Em março, a quantidade de mortes — que geralmente demora mais a refletir medidas restritivas, devido ao tempo natural que a doença leva para se desenvolver nas pessoas — subiu em Bauru e caiu em Araraquara.


Outro dado essencial para entender a situação da doença e a capacidade de atendimento das cidades é o número de internações.

As informações sobre fevereiro e março mostram alta na média diária de internações em Bauru, que se aproximou de 130 na segunda quinzena de março.

Em Araraquara, a média móvel de internações cresceu no início de fevereiro e, depois, se manteve relativamente estável. A prefeitura diz que os dados gerais de internação não refletem totalmente quedas em casos e óbitos no período porque, depois da desaceleração no ritmo de infecções locais, Araraquara passou a atender maior pacientes de fora do município.

Em entrevista à BBC News Brasil, o prefeito Edinho Silva disse que pacientes de Araraquara ocupam atualmente 36% dos leitos de UTI e 29% dos leitos de enfermaria. Já moradores de outras cidades ocupam, segundo ele, 53% dos leitos de enfermaria e 61% dos leitos de UTI.

Em fevereiro, no pico da contaminação, Silva diz que a maioria dos pacientes internados moravam na cidade.

"Inclusive, (na época) mandamos pacientes para outras regiões do estado porque todos os nossos leitos estavam ocupados", diz. "Agora completamos 30 dias sem nenhum paciente aguardando internação nas unidades do município. Para nós, é a principal demonstração de que estamos no caminho certo.".

Silva diz que "o lockdown é a última saída, quando você tem uma curva de contaminação altíssima como essa que enfrentamos no fim de janeiro e começo de fevereiro". Ele considera o resultado das medidas restritivas "inegável", apontando a redução de casos e mortes no município.

A BBC News Brasil procurou a prefeita de Bauru para entrevistas, mas sua assessoria de imprensa informou que ela não teria disponibilidade.

Por e-mail, a prefeitura disse que o aumento de casos no município "se deve à presença das novas variantes, o que acontece no país todo".

A assessoria disse ainda que a prefeita "mantém o mesmo posicionamento sobre o lockdown, diante da realidade econômica e social do país". A reportagem havia questionado se, diante do atual cenário, a prefeita mantinha a visão de que "lockdown não funciona".

A nota aponta que a prefeitura considera que "o momento é crítico, como ocorre em praticamente todos os municípios".

"A perspectiva é que, com o avanço na vacinação e com as medidas de enfrentamento, os casos e óbitos diminuam nas semanas seguintes.".

A prefeitura de Bauru disse ainda que, além das determinações estaduais, "a prefeitura de Bauru limitou a 30% a capacidade de ocupação dos supermercados, com a entrada de apenas uma pessoa de cada família" e proibiu venda de bebidas alcoólicas das 18h às 6h, em todos os dias da semana, além de ter ampliado a fiscalização.

Tanto Bauru quanto Araraquara informaram que seguem o calendário de vacinação do governo estadual e que nesta etapa (em 5 de abril) vacinam pessoas a partir de 68 anos e começam a imunização de profissionais da segurança pública.

Especialistas têm apontado que o Brasil não pode apostar exclusivamente na vacinação, sem outras medidas de controle. O ritmo de imunizações no país é menor que o esperado e, mesmo países com vacinação mais acelerada, como Israel e Reino Unido, fizeram lockdown enquanto imunizavam boa parte de suas populações.

'Ainda não estamos vivendo o estrago total'

O epidemiologista Davi Rumel, que foi vice-diretor da Anvisa e professor de saúde pública da USP, diz à BBC News Brasil que o lockdown promovido por Araraquara "foi pra valer", e não um "faz de conta" — termo que ele usa para descrever a situação em cidades que usaram o termo lockdown, mas não pararam ou reduziram as atividades e circulação de fato.

Rumel avalia que os números mostram sucesso, mas alerta que a medida, aplicada apenas uma vez, não é garantia de controle da situação.


A variante P1, identificada pela primeira vez no começo do ano em Manaus, é um dos fatores que ajudam a explicar o colapso enfrentado por Araraquara Imagem: Getty Images

"Como a velocidade da taxa de imunização da população não acompanhou esse lockdown, você vai voltar a ter a mesma situação já já", alerta.

"Araraquara fez muito bem em sair na frente, mas uma vez só não é suficiente. E Bauru corre o risco de querer adiar o lockdown e chegar em uma circunstância em que nem vai adiantar mais porque já é tarde. E aí vai enxugar gelo em situação de alta transmissibilidade", diz. "Essa é a diferença entre Bauru e Araraquara. Bauru está indo para o desastre e Araraquara sinalizou a saída, mas só sinalizou".

A epidemiologista Adélia Marçal dos Santos, especialista na dinâmica de transmissão de doenças infecciosas e professora de Medicina da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, diz que "ainda não estamos vivendo o estrago total que vai acontecer com a P1", em referência à variante descoberta em Manaus.

Ela destaca que é importante comparar a realidade de diferentes cidades não necessariamente no mesmo intervalo de tempo, mas nos mesmos "momentos epidemiológicos".

Nesta fase da pandemia, isso significaria, segundo ela, avaliar o momento de chegada de variantes a esses locais.

"O tempo que a P1 leva para dobrar sua capacidade de espalhamento é menor que o tempo que as variantes anteriores demoravam. Então ela antecipa e a curva fica mais acentuada, considerando as mesmas circunstâncias", diz.

O monitoramento das variantes no Brasil, no entanto, fica aquém do que desejariam os pesquisadores. "Seria importantíssimo ter esse monitoramento de variante para ajustar medida da resposta", ela aponta.

Em Araraquara, a variante P1 foi identificada inicialmente em 12 de 22 amostras coletadas entre 29/01 e 09/02. Mais tarde, ela apareceu em 64 de 139 amostras coletadas entre 15 e 23 de fevereiro, segundo a prefeitura.

Já em Bauru, a prefeitura confirmou no início de março a identificação de três casos da variante P1, junto a 23 casos de outras variantes. Até agora, segundo a prefeitura, só essas amostras foram analisadas, "uma vez que não ocorreram mudanças epidemiológicas significativas".

Os dois médicos apontam que, além de fazer ciclos de lockdown, é necessário promover um trabalho de conscientização da população e adaptar estabelecimentos comerciais e transporte público à nova realidade, com ampliação das condições de ventilação.

Santos diz que "uma coisa que dificultou muito a contenção da doença no mundo inteiro foi a dificuldade de admitir a transmissão aérea do vírus".

Ela aponta que, até hoje, governos e empresas tentam conter uma transmissão que acontece pelo ar - e portanto se espalha com facilidade - com barreiras limitadas de transmissão por contato.


"A gente fica apostando o tempo inteiro que ela (a pandemia) vai acabar, mas não vai acabar", completou Rumel.

Em boletim divulgado em 6 de abril, a Fiocruz aponta que "as medidas de bloqueio (lockdown) constituem um remédio amargo, mas que são absolutamente necessárias em momentos de crise e colapso do sistema de saúde como a que o país vive agora, evitando mais mortes".

No mesmo texto, a fundação aponta que medidas de bloqueio precisam durar pelo menos 14 dias e, em algumas situações, podem demandar mais tempo, dependendo de quão ampla e rigorosa for a aplicação.

"Estudos internacionais mostram que pode haver uma redução da ordem de 40%, se (as medidas) forem combinadas e aplicadas rigorosamente. Neste contexto, é fundamental que todos os que não realizam atividades diretamente relacionadas aos serviços essenciais fiquem em casa e que o estado, por meio de medidas emergenciais de auxílio e assistência social, garanta isso."

A Fiocruz também aponta que o momento de crise exige medidas combinadas e complexas, o que torna fundamental "coerência e convergência dos diferentes poderes do Estado brasileiro (Executivo, Legislativo e Judiciário), bem como dos diferentes níveis de governo (municipais, estaduais e federal) em favor das medidas de bloqueio".

Falta de coordenação

A falta de um plano nacional de medidas restritivas para combater a covid-19 é visto como um fator que dificulta o cumprimento de regras estaduais e municipais pela população. O presidente Jair Bolsonaro tem criticado repetidamente medidas de lockdown, normalmente sob o argumento de que muitos brasileiros precisam sair para trabalhar e sustentar suas famílias.

O governo federal, no entanto, passou os três primeiros meses de 2021 sem pagar o auxílio emergencial. A retomada acontece em abril.

    Embora tenha começado a aparecer de máscara em algumas situações, Bolsonaro 
    segue criticando lockdown Imagem: Reuters

A cientista política e professora na Universidade de Oxford Andreza Aruska de Souza Santos pesquisa sobre medidas tomadas por prefeituras no Brasil contra a covid em 2020.

À BBC News Brasil, ela diz que "os governos locais ficaram com uma grande responsabilidade" e aponta que eles são os agentes com maior contato direto com a população local.

Ou seja, "estão mais próximos para receber a pressão social", explica Santos.

Sem comentar especificamente sobre Bauru e Araraquara, a professora diz que, em geral, um fator que dificulta é que "nem todas as prefeituras e cidades têm centros de epidemiologia e pesquisa avançados para acompanhar a situação local com exatidão".

A influência de outros municípios da mesma região também é apontada por epidemiologistas como um fator que afeta as tentativas de controle dos casos. Isso também ilustra a importância de ações coordenadas: é muito comum, por exemplo, que pessoas trabalhem em uma cidade e vivam em outra, transitando diariamente entre locais com regras diferentes e potencialmente levando consigo o vírus.

As orientações divergentes também podem confundir a população, diz a cientista política.

"É possível que as pessoas se confundam com as regras por lerem jornais regionais, se informarem em programas de TV nacionais, mas terem regras locais a cumprir. Mesmo os pesquisadores têm dificuldade em acompanhar um país continental com milhares de ações distintas sendo tomadas em tempos distintos, com nomes distintos, e duração distintas", diz.

Fase emergencial

Os dois municípios, assim como as demais cidades do estado de São Paulo, estão hoje na chamada fase emergencial do plano do governo estadual de combate à pandemia.

Essa fase, que reúne as medidas mais rígidas de restrição de circulação e atividades, está em vigor para todas as cidades do estado desde 15 de março e terminaria no fim daquele mês, mas foi prorrogada pelo governo estadual até 11 de abril para as mais de 600 cidades do estado.

O objetivo é frear transmissão e mortes, além de reduzir a sobrecarga em hospitais públicos e particulares.

Entre as medidas de restrição previstas pelo governo estadual nessa fase estão o toque de recolher todos os dias, de 20h às 5h, a proibição do acesso a praias e parques, além da abertura das escolas da rede estadual exclusivamente para entrega de materiais e distribuição de merenda a alunos mais pobres.

Pessoas também estão proibidas de retirar pessoalmente produtos em restaurantes e lanchonetes e receberem atendimento presencial em lojas de material de construção. Celebrações religiosas coletivas e atividades esportivas em grupo também estão vetadas até 11 de abril.

Nicolelis: “Brasil virou Fukushima biológico”

 "É um reator nuclear que entrou em reação em cadeia e está fora de controle. É um Fukushima biológico”, disse o neurocientista Miguel Nicolelis, um dos mais respeitados do mundo, sobre o avanço da Covid-19 no Brasil. Segundo ele, o país deverá registrar cerca de 500 mil mortes por volta de maio ou junho


Brasil 247, 8/04/2021, 09:37 h Atualizado em 8/04/2021, 09:52

Reuters - O Brasil pode superar o recorde dos Estados Unidos de mais de 5 mil óbitos por Covid-19 em um único dia, e ruma para se tornar o lugar do mundo com o maior número de vítimas fatais da doença.

A gravidade da situação deve aumentar ainda mais com a aproximação do inverno, período em que o país registrou no ano passado seu primeiro pico da doença, avaliaram especialistas, o que pode elevar o total de vítimas fatais a mais de 500 mil ainda no primeiro semestre.

“A Organização Mundial da Saúde expôs o Brasil como alvo principal, mas acho que eles ainda não se deram conta do tamanho do rojão aqui. É um reator nuclear que entrou em reação em cadeia e está fora de controle. É um Fukushima biológico”, disse à Reuters o neurocientista Miguel Nicolelis, que acompanha de perto o avanço da Covid-19 no Brasil desde o início da pandemia.

Com uma campanha de vacinação lenta, poucas medidas efetivas de restrição de circulação de pessoas e a rápida disseminação de variantes mais transmissíveis, o Brasil se tornou o novo epicentro da pandemia, sendo responsável por uma de cada quatro mortes no mundo pelo coronavírus atualmente.

Na última semana epidemiológica o país registrou média diária superior a 2.800 mortes, com um recorde de 3.860 óbitos registrados em 24 horas na quarta-feira.

De acordo com Nicolelis, o Brasil está em rota para chegar a 500 mil mortes por volta de maio ou junho, mediante a aceleração recente da doença e a chegada dos meses mais frios do ano.

Estudo do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), ligado à Universidade de Washington, no Estados Unidos, apontou que o Brasil pode chegar a 563 mil mortes por Covid-19 em 1º de julho, caso se mantenha o cenário atual de distribuição de vacinas e medidas de restrição.

Um cenário mais positivo, em que 95% da população usasse máscara, o número estimado de mortes no período cairia para 508 mil, enquanto no pior dos cenários, com menos pessoas usando máscaras do que atualmente e um avanço ainda mais rápido das variantes mais transmissíveis, o número chegaria a 598 mil no período.

Atualmente o Brasil registra o segundo maior número de óbitos pela doença no mundo, com 332.752 até segunda, enquanto os Estados Unidos têm a maior perda de vidas da pandemia, com 555.826 óbitos.

Mas, ao contrário da curva crescente do Brasil, os Estados Unidos têm registrado quedas constates nas mortes diárias por Covid, com média nos últimos sete dias inferior a 900.

“A chance é muito grande de a gente passar os Estados Unidos, tanto do ponto de vista do dia mais letal, mas certamente tudo leva a crer que nós temos uma chance de passar no total acumulado de óbitos também”, afirmou Nicolelis, que no início do ano já alertava para a marca de 3 mil óbitos por dia que foi cruzada no mês passado.

“Sem reduzir o fluxo não essencial de pessoas pela malha aérea, ferroviária e rodoviária, e sem dobrar o número de vacinas para 2 milhões por dia, a crise vai se esticar, no inverno vamos ter a confluência das outras moléstias respiratórias, e com isso vai ter gente morrendo na rua pelo Brasil.”

O número assombroso de mortes pelo país já tem provocado impacto inclusive no crescimento populacional, uma vez que a diferença entre mortes e nascimentos atingiu uma mínima histórica e pode haver, inclusive, um maior número de óbitos do que nascimentos pela primeira vez, com o colapso do sistema de saúde provocado pela Covid impossibilitando também o atendimento a outras doenças graves.

Na cidade de São Paulo, que concentra os maiores números de casos e de mortes por Covid no país, cemitérios tem batido seguidos recordes de enterros por dia e o setor funerário tem recorrido a enterros noturnos e aceleração das exumações para atender à demanda.
Variantes

Principal arma contra o vírus, a campanha de imunização do país segue em ritmo lento mediante uma escassez de doses, uma vez que o governo federal se recusou a contratar imunizantes no ano passado. Até o momento, foram vacinados 16,7 milhões de brasileiros com a primeira dose, o que equivale a 7,9% da população, de acordo com o Ministério da Saúde. Somente os grupos prioritários somam quase 78 milhões de pessoas.

“A gente tem que lembrar a vacinação provavelmente não vai reduzir o número de óbitos tão cedo, vai demorar a fazer efeito. Precisaríamos de medidas coordenadas nacionalmente para conter a transmissão, mas isso nunca aconteceu aqui no Brasil”, disse o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Christovam Barcellos, um dos coordenadores do painel MonitoraCovid-19.

“A curva deste ano está parecida com a do ano passado. Se a gente tiver comportamento parecido em 2021, começamos com 2 mil, passamos para 3 mil e pode se formar um patamar de 4 mil mortes ao longo do inverno. Isso é uma tragédia”, acrescentou.

A drástica aceleração da pandemia coincidiu com a o avanço da variante P.1 do coronavírus, originada e Manaus e que se tornou predominante na maior parte do país. Com capacidade de transmissão duas vezes maior, ela tem atingido principalmente pessoas mais jovens, o que resultou num aumento exponencial de internações dessas pessoas. Segundo a Fiocruz, as mortes por Covid-19 aumentaram 352,62% na faixa etária de 30 a 39 anos entre janeiro e março deste ano.

O descontrole da transmissão provoca o risco ainda do surgimento de novas variantes. “Os nossos riscos são gigantes, e o mundo descobriu que o Brasil é uma bomba-relógio, um laboratório a céu aberto com 100 mil casos diários, um número explosivo de mutações ocorrendo, e quanto mais mutações, maior a chance de novas variantes, e algumas delas evidentemente vão ser mais problemáticas”, afirmou Nicolelis.

Na segunda-feira o país cruzou a marca de 13 milhões de casos confirmados, tendo acumulado um milhão de casos em apenas 14 dias –= o ritmo mais rápido desde o início da pandemia. Até o momento, são 13.013.601 infecções registradas pelo Ministério da Saúde.

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Deputado repudia omissão de Bolsonaro: "gastou milhões para vir a Santa Catarina fazer o quê?"

“Custo de deslocamento enorme; não trouxe nenhum centavo pra cidade ou pra SC; reafirmou seu negacionismo com tratamento precoce da Covid-19; agrediu quem acredita na ciência; espalhou umas 3 ou 4 Fake News; e foi embora”, criticou o deputado Pedro Uczai (PT-SC)

Brasil 247, 7/04/2021, 18:13 h Atualizado em 7/04/2021, 18:51
   Pedro Uczai (Foto: Reprodução)

O deputado federal Pedro Uczai (PT-SC), nas redes sociais, criticou a omissão de Jair Bolsonaro e sua ida para Chapecó (SC) nesta quarta-feira, 7. “Não trouxe recursos para nossos hospitais, nada de vacina ou apoio aos agricultores, não anunciou nenhuma nova obra ou recursos para manutenção e conservação das rodovias federais”, afirmou o deputado.

“Gastou milhões para vir a Santa Catarina fazer o quê?”, perguntou.

BOLSONARO EM CHAPECÓ: não trouxe recursos para nossos hospitais, nada de vacina ou apoio aos agricultores, não anunciou nenhuma nova obra ou recursos para manutenção e conservação das rodovias federais. Gastou milhões para vir a Santa Catarina fazer o quê? 🤔 #ForaBolsonaro pic.twitter.com/SgsVDHSTZj
— Pedro Uczai (@uczai) April 7, 2021

“Entre março e dezembro de 2020 foram 123 mortes por Covid-19 em Chapecó. De janeiro até 7 de abril de 2021 saltamos para 544 óbitos. Em 97 dias de governo João Rodrigues morreram 421 pessoas. Em 2020, falecia uma pessoa a cada dois dias. Em 2021, são, em média, 4,3 óbitos/dia”, lembrou o deputado em outra publicação.

Entre Março e Dezembro de 2020 foram 123 mortes por #covid19 em Chapecó. De Janeiro até 07 de Abril de 2021 saltamos para 544 óbitos. Em 97 dias de Governo João Rodrigues morreram 421 pessoas. Em 2020, falecia uma pessoa a cada dois dias. Em 2021, são, em média, 4,3 óbitos/dia.
— Pedro Uczai (@uczai) April 7, 2021

“Resumo da visita de Bolsonaro à Chapecó: custo de deslocamento enorme; não trouxe nenhum centavo pra cidade ou pra SC; reafirmou seu negacionismo com tratamento precoce da Covid-19; agrediu quem acredita na ciência; espalhou umas 3 ou 4 Fake News; e foi embora. Pronto, acabou!”, reforçou.

Resumo da visita de Bolsonaro à Chapecó: custo de deslocamento enorme; não trouxe nenhum centavo pra cidade ou pra SC; reafirmou seu negacionismo com tratamento precoce da #covid19; agrediu quem acredita na ciência; espalhou umas 3 ou 4 Fake News; e foi embora. Pronto, acabou!— Pedro Uczai (@uczai) April 7, 2021

Jair Bolsonaro, em Chapecó, descartou a adoção de um lockdown de caráter nacional para prevenir o contágio pelo novo coronavírus. "Seria muito mais fácil atender e fazer, como alguns querem, da minha parte – porque eu posso – um lockdown nacional. Não vai ter lockdown nacional", disse.