quinta-feira, 8 de abril de 2021

Fracasso, isolamento e mortes levam governo a ensaiar mudança internacional

Homem carrega cilindro de oxigênio a hospital de Manaus Imagem: Carlos Madeiro/UOL

Jamil Chade, Colunista do UOL
08/04/2021 04h00

RESUMO DA NOTÍCIA

  • Com um ano de atraso, autoridades passam a considerar nos bastidores novas estratégias internacionais
  • Ministérios da Economia, Saúde e Itamaraty foram acionados para trazer resultados
  • Comunidade internacional ainda desconfia que nova tentativa pode sofrer resistência de ala mais radical do bolsonarismo
Por mais de um ano, o governo de Jair Bolsonaro tripudiou as recomendações da OMS, faltou às reuniões com grandes produtores de vacinas, esnobou encontros ministeriais para tratar dos imunizantes, minou propostas de ampliação de distribuição de doses e se recusou a ampliar o leque de alternativas para lidar com a covid-19.

Mas com o país transformado em uma ameaça sanitária global, o vírus descontrolado, fechado aos demais vizinhos e sem uma expectativa real de recuperação econômica, membros do governo ensaiam nos bastidores uma movimentação para buscar uma nova estratégia internacional e uma resposta à crise.

A iniciativa vem num momento em que o governo tem uma previsão de entregar apenas metade das vacinas prometidas para abril e ocorre apesar de discursos e narrativas do presidente Jair Bolsonaro, direcionada em grande parte para atender alas mais radicais de sua base de apoio.

Segundo membros do governo, a operação vem ocorrendo em diferentes frentes e com o reconhecimento de alguns dos principais embaixadores do país pelo mundo de que a estratégia adotada no primeiro ano da pandemia foi um "enorme fracasso".

Embate entre ala radical e políticos

Dificilmente haverá uma mudança brusca em todos os aspectos da resposta à pandemia e temas como o lockdown continuarão sofrendo resistência. Os próprios membros do Palácio do Planalto acreditam que Bolsonaro deve continuar a defender medidas sem base científica em seus discursos públicos e a minimizar a dimensão da crise.

Mas uma atitude diferente está sendo vista em reuniões fechadas envolvendo o segundo escalão do governo. Para alguns dos interlocutores, apenas uma resposta à pandemia poderá abrir chances de uma eventual reeleição de Bolsonaro em 2022.

A primeira frente foi iniciada no fim de semana, com o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, mantendo uma reunião com a cúpula da OMS e na qual foi estabelecido um entendimento de que a agência prestaria ajuda ao Brasil de forma regular para lidar com a crise.

Dois dias depois, foi a vez de Queiroga se reunir com a embaixada da China, alvo também de críticas por parte de membros do governo de Jair Bolsonaro.

A aceitação de um papel mais contundente da OMS e a sinalização de aproximação às autoridades de Pequim foram consideradas na diplomacia internacional como uma mudança na estratégia do Brasil.

Gestos ainda são vistos com desconfiança

Os gestos ainda são recebidos com desconfiança, principalmente diante do tom usado nos últimos dias pelo presidente Bolsonaro ao defender medidas sem eficácia comprovada e diante do temor de que as alas mais radicais do bolsonarismo possam fazer naufragar a nova tentativa.

A desconfiança não ocorre por acaso. Por meses, a ordem no governo era a de deslegitimar as recomendações da agência, culpar a OMS pela crise e ainda tentar impedir que ela fosse o centro de uma resposta global.

Em 2020, quando Donald Trump se retirou da OMS, vozes dentro do governo brasileiro também chegaram a defender um ato similar, inclusive com a suspensão de pagamentos para a organização. Não faltaram ainda encontros no qual o então chanceler Ernesto Araújo deixou claro que as respostas à covid-19 não viriam das entidades internacionais, mas de "governos soberanos".

Num outro encontro na OMS, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, sequer citou o papel que a agência deveria ter na pandemia e não mencionou a OMS por seu nome durante o discurso.

Antes, em abril de 2020, o governo ficou inicialmente de fora do lançamento da iniciativa mundial da OMS que visava criar um mecanismo para distribuir vacinas aos países mais pobres. Enquanto fragilizava de forma deliberada a resposta global, o Brasil se afastava de parceiros tradicionais e ampliava crises diplomáticas.

Mesmo para experientes embaixadores dentro do Itamaraty, o preço pago por essas atitudes foi elevado. Além da falta de insumos, a recusa em aceitar as recomendações científicas internacionais foi traduzida em um número inédito de mortes.

Cenário: abril mortífero

A meta é a de conseguir reverter a crise a partir de maio. Mas admite-se que abril ainda será um "mês mortífero". Enquanto isso, outra dimensão fundamental dessa nova etapa é o envolvimento ativo do Itamaraty como forma de reconstruir relações que permitam resultados concretos na luta contra a pandemia..

Nesta semana, ao tomar posse no Itamaraty, o novo chanceler Carlos França foi claro em dizer que a urgência sanitária exigiria "diálogo" com parceiros e voltou a usar o termo "multilateral", rejeitado por Araújo.

"O Brasil sempre foi ator relevante no amplo espaço do diálogo multilateral", destacou. "O que nos orienta, antes de tudo, são nossos valores e interesses. Em nome desses valores e interesses, continuaremos a apostar no diálogo como método diplomático. Método que abre possibilidades de arranjos e convergências que sempre soubemos explorar em nosso favor. O consenso multilateral bem trabalhado também é expressão da soberania nacional", disse, numa frase que ressoou como uma resposta à estratégia de Araújo e de olavistas dentro e fora do Itamaraty.

Imediatamente, em diferentes postos, embaixadores indicaram que o discurso foi imediatamente entendido como uma instrução de uma mudança de postura.

"As missões diplomáticas e consulados do Brasil no exterior estarão cada vez mais engajados numa verdadeira diplomacia da saúde", prometeu França. "Em diferentes partes do mundo, serão crescentes os contatos com governos e laboratórios, para mapear as vacinas disponíveis. Serão crescentes as consultas a governos e farmacêuticas, na busca de remédios necessários ao tratamento dos pacientes em estado mais grave. São aportes da frente externa que podemos e devemos trazer para o esforço interno de combate à pandemia. Aportes que não bastam em si, mas que podem ser decisivos", disse. Ele ainda se comprometeu em "engajar o Brasil em intenso esforço de cooperação internacional, sem exclusões".

Guedes também envolvido

Nesta semana, também foi a vez de o ministro da Economia, Paulo Guedes, entrar em cena. Ele usou uma reunião do Fundo Monetário Internacional para pedir uma cooperação mundial para garantir o abastecimento de vacinas.

"Apelamos aos setores públicos e privados, bem como às organizações multilaterais e cooperação bilateral, para ajudar a preencher as lacunas de financiando e distribuição, inclusive incentivando a transferência de tecnologia e licenciamento voluntário de propriedade intelectual", disse.

Uma das apostas do governo é no projeto na Organização Mundial do Comércio para que haja um acordo amplo entre indústria e governos no sentido de garantir uma maior distribuição e doação de doses dos países ricos aos emergentes.

Hoje, das 600 milhões de doses já dadas contra a covid-19, 150 milhões ocorreram apenas nos EUA. Na África, foram apenas 11 milhões e, em todos os mais de cem países em desenvolvimento no mundo, o mecanismo da OMS conseguiu enviar apenas 36 milhões de doses.

Araraquara x Bauru: dois retratos do Brasil com e sem lockdown contra a covid-19

  Lokdown decretado pela prefeitura de Araraquara chegou a parar inclusive transporte público e        supermercados Imagem: Divulgação/Prefeitura de Araraquara

Laís Alegretti, Da BBC News Brasil, em Londres (Reino Unido)
08/04/2021 08h48Atualizada em 08/04/2021 12h45

Ao mesmo tempo em que o Brasil enfrenta o momento mais mortal da pandemia sem um plano nacional para conter o avanço do coronavírus, governos locais vêm tomando suas próprias ações para lidar com a covid-19 e suas variantes.

Mas isso nem sempre acontece de forma coordenada.

Enquanto o governo estadual de São Paulo impôs uma série de restrições (veja mais abaixo), dois municípios chamam atenção por posturas opostas contra a pandemia. Bauru e Araraquara estão separadas por cerca de 100 km.

De um lado, o prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), decretou um rigoroso lockdown em fevereiro, depois de um aumento brusco em números de casos e ocupação de leitos de UTI. O município suspendeu todos os serviços que não têm relação direta com a área da saúde, incluindo transporte público e supermercados — que só podiam funcionar pelo sistema de delivery.

Já em Bauru, a prefeita Suéllen Rosim (Patriota) impôs restrições mais leves. Ela defende a abertura de lojas e tem declarado que lockdown não funciona. No Instagram, Rosim publicou vídeo de uma carreata que, em suas palavras, pedia a "abertura responsável do comércio local". Em outra publicação em que aparece cantando em uma igreja, em fevereiro, a prefeita disse que "tudo deveria ser considerado essencial em quase um ano de pandemia".

Em entrevistas, Rosim também criticou restrições impostas pelo governo estadual para tentar reduzir os casos de covid-19 e disse que o lockdown "não funcionaria em Bauru".

"Araraquara é prova disso", afirmou ao portal UOL.

Depois do lockdown, no entanto, Araraquara viu queda em casos diários e mortes. Já em Bauru, nas últimas semanas, tanto a média diária de mortes quanto a de casos subiram.

Veja, a seguir, como foi a evolução desses números e como eles podem ser interpretados, segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.

Antes, o que é lockdown?

Literalmente, a expressão em inglês significa algo como "fechamento total".

Não existe definição única para "lockdown", mas o termo se refere a medidas duras tomadas por governos para restringir radicalmente a circulação de pessoas. Isso inclui o fechamento por longos períodos de escritórios, serviços considerados não-essenciais (fora saúde e segurança, por exemplo) e locais públicos.

Em alguns países, decretos de lockdown incluíram multas e outras penas para quem insistir em sair de casa e desobedecer regras de isolamento.

O objetivo da medida é garantir o distanciamento social - uma defendida por cientistas, governos e pela Organização Mundial da Saúde para reduzir contaminações e mortes pelo coronavírus.

O efeito do lockdown

Araraquara registra média de 11,9 mortes por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias. A taxa de Bauru, no mesmo período, é bem mais alta: 26,4 mortes por 100 mil habitantes, segundo dados de 7 de abril divulgados pelo governo estadual.

É importante notar que esta comparação revela a proporção de mortes nas duas cidades, e não seus números absolutos. Este paralelo permite um retrato mais fiel da realidade nos dois lugares, especialmente porque suas populações são bem distintas: Bauru tem 379 mil habitantes e Araraquara, 238 mil.

Para analisar a evolução dos casos, óbitos e internações em cada um dos municípios neste ano, também vale prestar atenção nos "caminhos" revelados pelos gráficos — eles sobem, caem ou seguem estáveis?

Os dados de casos diários de covid-19 mostram que Araraquara, que apostou em lockdown, teve queda de mais de 50% na média de novos casos diários, passando de quase 140 mortes no fim de fevereiro para pouco mais de 60 em meados de março.

No mesmo período, o número de casos em Bauru subiu, como mostra o gráfico abaixo.

Imagem: BBC 

Em março, a quantidade de mortes — que geralmente demora mais a refletir medidas restritivas, devido ao tempo natural que a doença leva para se desenvolver nas pessoas — subiu em Bauru e caiu em Araraquara.


Outro dado essencial para entender a situação da doença e a capacidade de atendimento das cidades é o número de internações.

As informações sobre fevereiro e março mostram alta na média diária de internações em Bauru, que se aproximou de 130 na segunda quinzena de março.

Em Araraquara, a média móvel de internações cresceu no início de fevereiro e, depois, se manteve relativamente estável. A prefeitura diz que os dados gerais de internação não refletem totalmente quedas em casos e óbitos no período porque, depois da desaceleração no ritmo de infecções locais, Araraquara passou a atender maior pacientes de fora do município.

Em entrevista à BBC News Brasil, o prefeito Edinho Silva disse que pacientes de Araraquara ocupam atualmente 36% dos leitos de UTI e 29% dos leitos de enfermaria. Já moradores de outras cidades ocupam, segundo ele, 53% dos leitos de enfermaria e 61% dos leitos de UTI.

Em fevereiro, no pico da contaminação, Silva diz que a maioria dos pacientes internados moravam na cidade.

"Inclusive, (na época) mandamos pacientes para outras regiões do estado porque todos os nossos leitos estavam ocupados", diz. "Agora completamos 30 dias sem nenhum paciente aguardando internação nas unidades do município. Para nós, é a principal demonstração de que estamos no caminho certo.".

Silva diz que "o lockdown é a última saída, quando você tem uma curva de contaminação altíssima como essa que enfrentamos no fim de janeiro e começo de fevereiro". Ele considera o resultado das medidas restritivas "inegável", apontando a redução de casos e mortes no município.

A BBC News Brasil procurou a prefeita de Bauru para entrevistas, mas sua assessoria de imprensa informou que ela não teria disponibilidade.

Por e-mail, a prefeitura disse que o aumento de casos no município "se deve à presença das novas variantes, o que acontece no país todo".

A assessoria disse ainda que a prefeita "mantém o mesmo posicionamento sobre o lockdown, diante da realidade econômica e social do país". A reportagem havia questionado se, diante do atual cenário, a prefeita mantinha a visão de que "lockdown não funciona".

A nota aponta que a prefeitura considera que "o momento é crítico, como ocorre em praticamente todos os municípios".

"A perspectiva é que, com o avanço na vacinação e com as medidas de enfrentamento, os casos e óbitos diminuam nas semanas seguintes.".

A prefeitura de Bauru disse ainda que, além das determinações estaduais, "a prefeitura de Bauru limitou a 30% a capacidade de ocupação dos supermercados, com a entrada de apenas uma pessoa de cada família" e proibiu venda de bebidas alcoólicas das 18h às 6h, em todos os dias da semana, além de ter ampliado a fiscalização.

Tanto Bauru quanto Araraquara informaram que seguem o calendário de vacinação do governo estadual e que nesta etapa (em 5 de abril) vacinam pessoas a partir de 68 anos e começam a imunização de profissionais da segurança pública.

Especialistas têm apontado que o Brasil não pode apostar exclusivamente na vacinação, sem outras medidas de controle. O ritmo de imunizações no país é menor que o esperado e, mesmo países com vacinação mais acelerada, como Israel e Reino Unido, fizeram lockdown enquanto imunizavam boa parte de suas populações.

'Ainda não estamos vivendo o estrago total'

O epidemiologista Davi Rumel, que foi vice-diretor da Anvisa e professor de saúde pública da USP, diz à BBC News Brasil que o lockdown promovido por Araraquara "foi pra valer", e não um "faz de conta" — termo que ele usa para descrever a situação em cidades que usaram o termo lockdown, mas não pararam ou reduziram as atividades e circulação de fato.

Rumel avalia que os números mostram sucesso, mas alerta que a medida, aplicada apenas uma vez, não é garantia de controle da situação.


A variante P1, identificada pela primeira vez no começo do ano em Manaus, é um dos fatores que ajudam a explicar o colapso enfrentado por Araraquara Imagem: Getty Images

"Como a velocidade da taxa de imunização da população não acompanhou esse lockdown, você vai voltar a ter a mesma situação já já", alerta.

"Araraquara fez muito bem em sair na frente, mas uma vez só não é suficiente. E Bauru corre o risco de querer adiar o lockdown e chegar em uma circunstância em que nem vai adiantar mais porque já é tarde. E aí vai enxugar gelo em situação de alta transmissibilidade", diz. "Essa é a diferença entre Bauru e Araraquara. Bauru está indo para o desastre e Araraquara sinalizou a saída, mas só sinalizou".

A epidemiologista Adélia Marçal dos Santos, especialista na dinâmica de transmissão de doenças infecciosas e professora de Medicina da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, diz que "ainda não estamos vivendo o estrago total que vai acontecer com a P1", em referência à variante descoberta em Manaus.

Ela destaca que é importante comparar a realidade de diferentes cidades não necessariamente no mesmo intervalo de tempo, mas nos mesmos "momentos epidemiológicos".

Nesta fase da pandemia, isso significaria, segundo ela, avaliar o momento de chegada de variantes a esses locais.

"O tempo que a P1 leva para dobrar sua capacidade de espalhamento é menor que o tempo que as variantes anteriores demoravam. Então ela antecipa e a curva fica mais acentuada, considerando as mesmas circunstâncias", diz.

O monitoramento das variantes no Brasil, no entanto, fica aquém do que desejariam os pesquisadores. "Seria importantíssimo ter esse monitoramento de variante para ajustar medida da resposta", ela aponta.

Em Araraquara, a variante P1 foi identificada inicialmente em 12 de 22 amostras coletadas entre 29/01 e 09/02. Mais tarde, ela apareceu em 64 de 139 amostras coletadas entre 15 e 23 de fevereiro, segundo a prefeitura.

Já em Bauru, a prefeitura confirmou no início de março a identificação de três casos da variante P1, junto a 23 casos de outras variantes. Até agora, segundo a prefeitura, só essas amostras foram analisadas, "uma vez que não ocorreram mudanças epidemiológicas significativas".

Os dois médicos apontam que, além de fazer ciclos de lockdown, é necessário promover um trabalho de conscientização da população e adaptar estabelecimentos comerciais e transporte público à nova realidade, com ampliação das condições de ventilação.

Santos diz que "uma coisa que dificultou muito a contenção da doença no mundo inteiro foi a dificuldade de admitir a transmissão aérea do vírus".

Ela aponta que, até hoje, governos e empresas tentam conter uma transmissão que acontece pelo ar - e portanto se espalha com facilidade - com barreiras limitadas de transmissão por contato.


"A gente fica apostando o tempo inteiro que ela (a pandemia) vai acabar, mas não vai acabar", completou Rumel.

Em boletim divulgado em 6 de abril, a Fiocruz aponta que "as medidas de bloqueio (lockdown) constituem um remédio amargo, mas que são absolutamente necessárias em momentos de crise e colapso do sistema de saúde como a que o país vive agora, evitando mais mortes".

No mesmo texto, a fundação aponta que medidas de bloqueio precisam durar pelo menos 14 dias e, em algumas situações, podem demandar mais tempo, dependendo de quão ampla e rigorosa for a aplicação.

"Estudos internacionais mostram que pode haver uma redução da ordem de 40%, se (as medidas) forem combinadas e aplicadas rigorosamente. Neste contexto, é fundamental que todos os que não realizam atividades diretamente relacionadas aos serviços essenciais fiquem em casa e que o estado, por meio de medidas emergenciais de auxílio e assistência social, garanta isso."

A Fiocruz também aponta que o momento de crise exige medidas combinadas e complexas, o que torna fundamental "coerência e convergência dos diferentes poderes do Estado brasileiro (Executivo, Legislativo e Judiciário), bem como dos diferentes níveis de governo (municipais, estaduais e federal) em favor das medidas de bloqueio".

Falta de coordenação

A falta de um plano nacional de medidas restritivas para combater a covid-19 é visto como um fator que dificulta o cumprimento de regras estaduais e municipais pela população. O presidente Jair Bolsonaro tem criticado repetidamente medidas de lockdown, normalmente sob o argumento de que muitos brasileiros precisam sair para trabalhar e sustentar suas famílias.

O governo federal, no entanto, passou os três primeiros meses de 2021 sem pagar o auxílio emergencial. A retomada acontece em abril.

    Embora tenha começado a aparecer de máscara em algumas situações, Bolsonaro 
    segue criticando lockdown Imagem: Reuters

A cientista política e professora na Universidade de Oxford Andreza Aruska de Souza Santos pesquisa sobre medidas tomadas por prefeituras no Brasil contra a covid em 2020.

À BBC News Brasil, ela diz que "os governos locais ficaram com uma grande responsabilidade" e aponta que eles são os agentes com maior contato direto com a população local.

Ou seja, "estão mais próximos para receber a pressão social", explica Santos.

Sem comentar especificamente sobre Bauru e Araraquara, a professora diz que, em geral, um fator que dificulta é que "nem todas as prefeituras e cidades têm centros de epidemiologia e pesquisa avançados para acompanhar a situação local com exatidão".

A influência de outros municípios da mesma região também é apontada por epidemiologistas como um fator que afeta as tentativas de controle dos casos. Isso também ilustra a importância de ações coordenadas: é muito comum, por exemplo, que pessoas trabalhem em uma cidade e vivam em outra, transitando diariamente entre locais com regras diferentes e potencialmente levando consigo o vírus.

As orientações divergentes também podem confundir a população, diz a cientista política.

"É possível que as pessoas se confundam com as regras por lerem jornais regionais, se informarem em programas de TV nacionais, mas terem regras locais a cumprir. Mesmo os pesquisadores têm dificuldade em acompanhar um país continental com milhares de ações distintas sendo tomadas em tempos distintos, com nomes distintos, e duração distintas", diz.

Fase emergencial

Os dois municípios, assim como as demais cidades do estado de São Paulo, estão hoje na chamada fase emergencial do plano do governo estadual de combate à pandemia.

Essa fase, que reúne as medidas mais rígidas de restrição de circulação e atividades, está em vigor para todas as cidades do estado desde 15 de março e terminaria no fim daquele mês, mas foi prorrogada pelo governo estadual até 11 de abril para as mais de 600 cidades do estado.

O objetivo é frear transmissão e mortes, além de reduzir a sobrecarga em hospitais públicos e particulares.

Entre as medidas de restrição previstas pelo governo estadual nessa fase estão o toque de recolher todos os dias, de 20h às 5h, a proibição do acesso a praias e parques, além da abertura das escolas da rede estadual exclusivamente para entrega de materiais e distribuição de merenda a alunos mais pobres.

Pessoas também estão proibidas de retirar pessoalmente produtos em restaurantes e lanchonetes e receberem atendimento presencial em lojas de material de construção. Celebrações religiosas coletivas e atividades esportivas em grupo também estão vetadas até 11 de abril.

Nicolelis: “Brasil virou Fukushima biológico”

 "É um reator nuclear que entrou em reação em cadeia e está fora de controle. É um Fukushima biológico”, disse o neurocientista Miguel Nicolelis, um dos mais respeitados do mundo, sobre o avanço da Covid-19 no Brasil. Segundo ele, o país deverá registrar cerca de 500 mil mortes por volta de maio ou junho


Brasil 247, 8/04/2021, 09:37 h Atualizado em 8/04/2021, 09:52

Reuters - O Brasil pode superar o recorde dos Estados Unidos de mais de 5 mil óbitos por Covid-19 em um único dia, e ruma para se tornar o lugar do mundo com o maior número de vítimas fatais da doença.

A gravidade da situação deve aumentar ainda mais com a aproximação do inverno, período em que o país registrou no ano passado seu primeiro pico da doença, avaliaram especialistas, o que pode elevar o total de vítimas fatais a mais de 500 mil ainda no primeiro semestre.

“A Organização Mundial da Saúde expôs o Brasil como alvo principal, mas acho que eles ainda não se deram conta do tamanho do rojão aqui. É um reator nuclear que entrou em reação em cadeia e está fora de controle. É um Fukushima biológico”, disse à Reuters o neurocientista Miguel Nicolelis, que acompanha de perto o avanço da Covid-19 no Brasil desde o início da pandemia.

Com uma campanha de vacinação lenta, poucas medidas efetivas de restrição de circulação de pessoas e a rápida disseminação de variantes mais transmissíveis, o Brasil se tornou o novo epicentro da pandemia, sendo responsável por uma de cada quatro mortes no mundo pelo coronavírus atualmente.

Na última semana epidemiológica o país registrou média diária superior a 2.800 mortes, com um recorde de 3.860 óbitos registrados em 24 horas na quarta-feira.

De acordo com Nicolelis, o Brasil está em rota para chegar a 500 mil mortes por volta de maio ou junho, mediante a aceleração recente da doença e a chegada dos meses mais frios do ano.

Estudo do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), ligado à Universidade de Washington, no Estados Unidos, apontou que o Brasil pode chegar a 563 mil mortes por Covid-19 em 1º de julho, caso se mantenha o cenário atual de distribuição de vacinas e medidas de restrição.

Um cenário mais positivo, em que 95% da população usasse máscara, o número estimado de mortes no período cairia para 508 mil, enquanto no pior dos cenários, com menos pessoas usando máscaras do que atualmente e um avanço ainda mais rápido das variantes mais transmissíveis, o número chegaria a 598 mil no período.

Atualmente o Brasil registra o segundo maior número de óbitos pela doença no mundo, com 332.752 até segunda, enquanto os Estados Unidos têm a maior perda de vidas da pandemia, com 555.826 óbitos.

Mas, ao contrário da curva crescente do Brasil, os Estados Unidos têm registrado quedas constates nas mortes diárias por Covid, com média nos últimos sete dias inferior a 900.

“A chance é muito grande de a gente passar os Estados Unidos, tanto do ponto de vista do dia mais letal, mas certamente tudo leva a crer que nós temos uma chance de passar no total acumulado de óbitos também”, afirmou Nicolelis, que no início do ano já alertava para a marca de 3 mil óbitos por dia que foi cruzada no mês passado.

“Sem reduzir o fluxo não essencial de pessoas pela malha aérea, ferroviária e rodoviária, e sem dobrar o número de vacinas para 2 milhões por dia, a crise vai se esticar, no inverno vamos ter a confluência das outras moléstias respiratórias, e com isso vai ter gente morrendo na rua pelo Brasil.”

O número assombroso de mortes pelo país já tem provocado impacto inclusive no crescimento populacional, uma vez que a diferença entre mortes e nascimentos atingiu uma mínima histórica e pode haver, inclusive, um maior número de óbitos do que nascimentos pela primeira vez, com o colapso do sistema de saúde provocado pela Covid impossibilitando também o atendimento a outras doenças graves.

Na cidade de São Paulo, que concentra os maiores números de casos e de mortes por Covid no país, cemitérios tem batido seguidos recordes de enterros por dia e o setor funerário tem recorrido a enterros noturnos e aceleração das exumações para atender à demanda.
Variantes

Principal arma contra o vírus, a campanha de imunização do país segue em ritmo lento mediante uma escassez de doses, uma vez que o governo federal se recusou a contratar imunizantes no ano passado. Até o momento, foram vacinados 16,7 milhões de brasileiros com a primeira dose, o que equivale a 7,9% da população, de acordo com o Ministério da Saúde. Somente os grupos prioritários somam quase 78 milhões de pessoas.

“A gente tem que lembrar a vacinação provavelmente não vai reduzir o número de óbitos tão cedo, vai demorar a fazer efeito. Precisaríamos de medidas coordenadas nacionalmente para conter a transmissão, mas isso nunca aconteceu aqui no Brasil”, disse o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Christovam Barcellos, um dos coordenadores do painel MonitoraCovid-19.

“A curva deste ano está parecida com a do ano passado. Se a gente tiver comportamento parecido em 2021, começamos com 2 mil, passamos para 3 mil e pode se formar um patamar de 4 mil mortes ao longo do inverno. Isso é uma tragédia”, acrescentou.

A drástica aceleração da pandemia coincidiu com a o avanço da variante P.1 do coronavírus, originada e Manaus e que se tornou predominante na maior parte do país. Com capacidade de transmissão duas vezes maior, ela tem atingido principalmente pessoas mais jovens, o que resultou num aumento exponencial de internações dessas pessoas. Segundo a Fiocruz, as mortes por Covid-19 aumentaram 352,62% na faixa etária de 30 a 39 anos entre janeiro e março deste ano.

O descontrole da transmissão provoca o risco ainda do surgimento de novas variantes. “Os nossos riscos são gigantes, e o mundo descobriu que o Brasil é uma bomba-relógio, um laboratório a céu aberto com 100 mil casos diários, um número explosivo de mutações ocorrendo, e quanto mais mutações, maior a chance de novas variantes, e algumas delas evidentemente vão ser mais problemáticas”, afirmou Nicolelis.

Na segunda-feira o país cruzou a marca de 13 milhões de casos confirmados, tendo acumulado um milhão de casos em apenas 14 dias –= o ritmo mais rápido desde o início da pandemia. Até o momento, são 13.013.601 infecções registradas pelo Ministério da Saúde.

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Deputado repudia omissão de Bolsonaro: "gastou milhões para vir a Santa Catarina fazer o quê?"

“Custo de deslocamento enorme; não trouxe nenhum centavo pra cidade ou pra SC; reafirmou seu negacionismo com tratamento precoce da Covid-19; agrediu quem acredita na ciência; espalhou umas 3 ou 4 Fake News; e foi embora”, criticou o deputado Pedro Uczai (PT-SC)

Brasil 247, 7/04/2021, 18:13 h Atualizado em 7/04/2021, 18:51
   Pedro Uczai (Foto: Reprodução)

O deputado federal Pedro Uczai (PT-SC), nas redes sociais, criticou a omissão de Jair Bolsonaro e sua ida para Chapecó (SC) nesta quarta-feira, 7. “Não trouxe recursos para nossos hospitais, nada de vacina ou apoio aos agricultores, não anunciou nenhuma nova obra ou recursos para manutenção e conservação das rodovias federais”, afirmou o deputado.

“Gastou milhões para vir a Santa Catarina fazer o quê?”, perguntou.

BOLSONARO EM CHAPECÓ: não trouxe recursos para nossos hospitais, nada de vacina ou apoio aos agricultores, não anunciou nenhuma nova obra ou recursos para manutenção e conservação das rodovias federais. Gastou milhões para vir a Santa Catarina fazer o quê? 🤔 #ForaBolsonaro pic.twitter.com/SgsVDHSTZj
— Pedro Uczai (@uczai) April 7, 2021

“Entre março e dezembro de 2020 foram 123 mortes por Covid-19 em Chapecó. De janeiro até 7 de abril de 2021 saltamos para 544 óbitos. Em 97 dias de governo João Rodrigues morreram 421 pessoas. Em 2020, falecia uma pessoa a cada dois dias. Em 2021, são, em média, 4,3 óbitos/dia”, lembrou o deputado em outra publicação.

Entre Março e Dezembro de 2020 foram 123 mortes por #covid19 em Chapecó. De Janeiro até 07 de Abril de 2021 saltamos para 544 óbitos. Em 97 dias de Governo João Rodrigues morreram 421 pessoas. Em 2020, falecia uma pessoa a cada dois dias. Em 2021, são, em média, 4,3 óbitos/dia.
— Pedro Uczai (@uczai) April 7, 2021

“Resumo da visita de Bolsonaro à Chapecó: custo de deslocamento enorme; não trouxe nenhum centavo pra cidade ou pra SC; reafirmou seu negacionismo com tratamento precoce da Covid-19; agrediu quem acredita na ciência; espalhou umas 3 ou 4 Fake News; e foi embora. Pronto, acabou!”, reforçou.

Resumo da visita de Bolsonaro à Chapecó: custo de deslocamento enorme; não trouxe nenhum centavo pra cidade ou pra SC; reafirmou seu negacionismo com tratamento precoce da #covid19; agrediu quem acredita na ciência; espalhou umas 3 ou 4 Fake News; e foi embora. Pronto, acabou!— Pedro Uczai (@uczai) April 7, 2021

Jair Bolsonaro, em Chapecó, descartou a adoção de um lockdown de caráter nacional para prevenir o contágio pelo novo coronavírus. "Seria muito mais fácil atender e fazer, como alguns querem, da minha parte – porque eu posso – um lockdown nacional. Não vai ter lockdown nacional", disse.

Petistas elogiam eventual apoio de Barbosa a Lula para derrotar Bolsonaro

      19/04/2018 Joaquim Barbosa, ex-presidente do STF, durante reunião em Brasília do PSB, partido ao qual se filiou  Imagem: Renato Costa/Frame Photo/Estadão 

Fábio Góis e Luciana Amaral, Do UOL, em Brasília
07/04/2021 16h32Atualizada em 07/04/2021 16h37

Parlamentares petistas no Congresso Nacional declararam ver com bons olhos o fato de o ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa cogitar a possibilidade de apoiar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra o atual chefe do Executivo, Jair Bolsonaro (sem partido), que deve tentar a reeleição em 2022.

Segundo a colunista do UOL Carolina Brígido, o relator do processo do mensalão, julgamento que levou diversos caciques do PT à cadeia, virou crítico ferrenho de Bolsonaro e pretende emprestar "o peso de seu nome à esquerda" para derrotar o presidente. Para tanto, Barbosa não descarta apoiar eventual candidatura do Lula, mesmo duvidando que o petista saia candidato.

À reportagem, líderes do PT ainda ecoam o impacto do mensalão para o partido, mas dizem que o caso pode ficar no passado em nome do fortalecimento da eventual candidatura de Lula.

O líder do PT na Câmara, Bohn Gass (RS), avalia que contra Barbosa não pesa nenhuma suspeita de parcialidade, ao contrário de Sergio Moro, ex-juiz federal que atuou na Operação Lava Jato e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro.

"Barbosa é um homem digno. Dito isso, avalio como positivo o fato de ele querer livrar o Brasil de Bolsonaro. Esta deve ser a principal luta de todos e todas que têm a democracia como valor", afirmou.

Ele avalia que Joaquim Barbosa não tem hoje força para figurar como "presidenciável", mas acredita que suas conversas com políticos são positivas para poder "ajudar a desmistificar a criminalização da política".

Terceiro secretário do Senado, Rogério Carvalho (PT-SE) ressalta a recente retomada dos direitos políticos de Lula, no STF, como "grande novidade e o maior fato político recente do país". "A volta de Lula o colocou quase que imediatamente como grande polo capaz de unir forças, pacificar o país e derrotar Bolsonaro", defendeu o senador.

"Todos os democratas que olham para o futuro, incluindo o Joaquim Barbosa, veem em Lula a condição de reconciliação e reconstrução do Brasil", afirmou Carvalho, acrescentando que a elegibilidade do ex-presidente, seja ou não candidato em 2022, "dará a credibilidade necessária para que o Brasil se reencontre com a democracia, como um país mais justo e solidário".

Não se pode negar apoio, avaliam petistas

Ex-ministro da Saúde no governo Lula, o senador Humberto Costa (PT-PE) considera que ninguém deve rejeitar votos ou apoio, embora considere precisar ouvir mais de Barbosa por este já ter sido "muito duro em vários outros momentos" com o PT.

"O Brasil está vivendo hoje uma situação tão terrível que Lula termina sendo uma alternativa para muitos setores, até conservadores. É uma coisa de salvar vidas. A única coisa que não pode acontecer é o Bolsonaro continuar", sublinhou.

O deputado Enio Verri (PT-PR) concorda com Humberto Costa ao afirmar que toda ajuda é bem-vinda. Para Verri, a experiência atual do PT ao lado do PSB, PCdoB, PSOL, PDT e Rede na Câmara mostra ser possível construir uma aliança de centro-esquerda para enfrentar Bolsonaro em 2022.

"Se há alguma contradição, não é do Lula nem do PT nem dos partidos [de oposição]. Se ele [Barbosa] no passado acusou o PT ou membros do PT, e hoje entende que o candidato do PT é o melhor nome, é a história nos absolvendo", avaliou.

Líder da Minoria no Senado, Jean Paul Prates (PT-RN) também vê com bons olhos a manifestação de Joaquim Barbosa, especialmente em meio à pandemia do coronavírus.

"O atual momento exige uma união de todos para o enfrentamento da covid. Toda e qualquer ação que possa realmente unir as forças progressistas para derrotar o obscurantismo e o retrocesso representado por Bolsonaro é meritória no país", afirmou.

terça-feira, 6 de abril de 2021

Juristas afirmam que suspeição de Moro deve se estender a todos os casos que envolvem Lula

"O vício processual não está em um procedimento específico, mas no vínculo subjetivo estabelecido entre o juiz e o réu, razão pela qual a suspeição se estende, por imperativo lógico, reitera todos os demais inquéritos e processos", afirmam os juristas do grupo Prerrogativas

Brasil 247, 6/04/2021, 09:55 h Atualizado em 6/04/2021, 10:45
  (Foto: ABr | Stuckert)

Por Grupo Prerrogativas* (Publicado originalmente na Carta Capital)

Ao julgar a suspeição de Sergio Moro, o Supremo Tribunal Federal enfim reconheceu que Lula não teve direito a julgamentos justos no âmbito da Operação Lava Jato.

Vítima de uma perseguição política liderada por um juiz acusador, que coordenou a equipe de procura da Força Tarefa, Lula foi retirado de uma eleição para a qual era franco favorito, e foi criminosamente de sua liberdade por 580 dias.

Embora ainda não tenha sido disponibilizado o acórdão, a certidão de julgamento registrou que a ordem foi concedida para anular todos os atos decisórios praticados pelo então juiz Sergio Moro no caso do tríplex, incluindo-se os atos praticados na fase pré-processual, nos termos do que veiculou o ministro Gilmar Mendes.

Portanto, não há dúvida de que o caso do tríplex foi integralmente anulado, desde o seu início e sem qualquer possibilidade de convalidação dos atos instrutórios.

A questão que se segue diz respeito ao destino dos demais casos em que Sergio Moro proferiu decisões contra Lula.

Notadamente sobre os casos do Sítio de Atibaia e do Instituto Lula haveria possibilidade de extensão ordem de habeas corpus?

A simples leitura do voto histórico do ministro Gilmar Mendes, que foi acompanhado por votos não menos brilhantes da lavra de Ricardo Lewandowski e de Cármen Lúcia, nos remete a uma única resposta possível: todos os casos em que Sergio Moro proferiu decisões contra Lula devem ser anulados, uma vez que a suspeição, nos termos reconhecidos pelos ministros, por pacífica Doutrina a respeito e por farta jurisprudência, é condição personalíssima de um juiz em relação a um determinado réu. Condição que qualquer possibilidade de conduzir com equilíbrio e isenção qualquer que seja o ato processual em relação aquele específico réu.

Se estamos diante de uma condição personalíssima que afeta e compromete o juiz Sergio Moro em face de Lula, está claro que esta suspeição é inafastável sempre que a mesma relação processual se repetir. Assim, não resta outra alternativa senão reconhecer a quebra da imparcialidade em todos os processos nos Moro praticou atos decisórios que afetaram Lula, direta ou indiretamente.

Gilmar Mendes dá 5 dias para Ministério da Justiça de Bolsonaro explicar uso da Lei de Segurança Nacional contra oposição

O ministro do STF Gilmar Mendes cobrou do Ministério da Justiça o uso da Lei de Segurança Nacional (LSN) contra oposicionistas do governo Jair Bolsonaro. A Defensoria Pública pediu ao Supremo a concessão de salvo conduto às pessoas que estiverem promovendo pacificamente manifestação

Brasil 247, 6/04/2021, 07:48 h Atualizado em 6/04/2021, 08:40
Gilmar Mendes e o Ministério da Justiça (Foto: Agencia Brasil)

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes determinou nesta segunda-feira (5) que o Ministério da Justiça esclareça em até cinco dias o uso da Lei de Segurança Nacional (LSN) contra oposicionistas do governo Jair Bolsonaro. O ministro também cobrou explicações da da Polícia Civil do Rio, e da Polícia Militar do Distrito Federal e de Minas Gerais.

O número de procedimentos abertos pela Polícia Federal com o objetivo de apurar supostos delitos contra a segurança nacional aumentou 285% nos dois primeiros anos do governo Bolsonaro, na comparação com o mesmo período das gestões Dilma Rousseff e Michel Temer. Entre 2015 e 2016 foram 20 inquéritos. O número subiu para 77 investigações na primeira metade da administração Bolsonaro.

"Com base na causa de pedir e nos pedidos formulados à inicial, determino que sejam solicitadas informações, no prazo de 5 (cinco) dias, às seguintes autoridades coatoras: a) Ministro da Justiça e Segurança Pública; b) Comandante Geral da Polícia Militar do Distrito Federal; c) Secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro", determinou Gilmar. O conteúdo do documento foi publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo.

O ministro do STF atendeu a um habeas corpus movidos pela Defensoria Pública da União (DPU) e por um grupo de advogados. A DPU pediu ao Supremo a concessão de salvo conduto às pessoas que estiverem promovendo pacificamente manifestação, impedindo quaisquer medidas de coerção fundamentadas na Lei de Segurança Nacional.

A Defensoria também pediu à Corte que determine às secretarias de segurança publica que as polícias não restrinjam, "de maneira alguma, a liberdade de mera manifestação da opinião política".

Em editorial, The Guardian afirma que Bolsonaro é um perigo para o Brasil e para o mundo

Em editorial, o The Guardian faz referência a Jair Bolsonaro e afirma que "seu tratamento desastroso com Covid-19 parece estar causando dúvidas entre a elite econômica que anteriormente o abraçava". "Era um homem com histórico de atacar mulheres, gays e minorias, que elogiava o autoritarismo e a tortura. O pesadelo se revelou ainda pior na realidade", continua

Brasil 247, 6/04/2021, 10:29 h Atualizado em 6/04/2021, 10:45
  Jair Bolsonaro (Foto: Alan Santos/PR | Reprodução)

Em editorial, o jornal britânico The Guardian afirma que "a perspectiva de o extremista de direita Jair Bolsonaro se tornar presidente do Brasil sempre foi assustadora". "Era um homem com histórico de atacar mulheres, gays e minorias, que elogiava o autoritarismo e a tortura. O pesadelo se revelou ainda pior na realidade", continua. "Seu tratamento desastroso com Covid-19 parece estar causando dúvidas entre a elite econômica que anteriormente o abraçava. Algumas partes dos militares aparentemente compartilham desse mal-estar", acrescenta.

De acordo com o periódico, "ele não apenas usou uma Lei de Segurança Nacional da época da ditadura para perseguir os críticos e supervisionou o aumento do desmatamento na Amazônia em 12 anos, mas também permitiu que o coronavírus se alastrasse sem controle, atacando as restrições de movimento, máscaras e vacinas".

No texto, o jornal diz que "ataques violentos do presidente e seus comparsas não conseguiram conter um ambiente vibrante de mídia, intimidar os tribunais ou silenciar os críticos da sociedade civil".

Segundo o The Guardian, "a possibilidade do retorno de Lula é suficiente para concentrar mentes da direita em encontrar um candidato alternativo, menos extremista do que Bolsonaro". "Pode ser irritante ver aqueles que ajudaram sua ascensão se posicionarem como os guardiões da democracia, ao invés de seus próprios interesses. Mas sua saída seria bem-vinda, pelo bem do Brasil e do planeta".

Bolsonarista, Nunes Marques é considerado "tecnicamente frágil" pelos ministros e está isolado no STF

Novato no STF, Nunes Marques está isolado dos demais ministros. Indicado por Bolsonaro, está se mostrando um prestador de serviços ao governo, o que o tem desgastado na Corte, e vem sendo criticado nos bastidores por conta de decisões consideradas tecnicamente frágeis, incluindo a decisão sobre reabertura de igrejas

Brasil 247, 6/04/2021, 08:19 h Atualizado em 6/04/2021, 08:41
  Ministros do STF Gilmar Mendes e Kassio Nunes Marques (Foto: Agência Brasil | Reprodução)

Novato no STF, Nunes Marques está isolado dos demais ministros. Indicado por Bolsonaro, está se mostrando um prestador de serviços ao governo, o que o tem desgastado na Corte, e vem sendo criticado nos bastidores por conta de decisões consideradas tecnicamente frágeis, incluindo a decisão sobre reabertura de igrejas.

Indicado por Jair Bolsonaro para ocupar a cadeira na Suprema Corte, ele foi criticado nesta segunda-feira (5) por Gilmar Mendes, após decidir neste sábado (3), unilateralmente, que igrejas poderiam reabrir no momento mais crítico da pandemia, contrariando a própria medida estabelecida na Casa de que estados e municípios possuem autonomia para emitir medidas para conter a Covid-19. Por conta de decisões consideradas tecnicamente frágeis e seu alinhamento ideológico com o bolsonarismo, Nunes encontra-se isolado.

Segundo reportagem do jornal Estado de S.Paulo, o também ministro Gilmar Mendes rebateu Nunes, contrariando os interesses do Palácio do Planalto e manteve 0 decreto do governo de São Paulo que proibiu cultos e missas em meio ao agravamento da pandemia.


Em seu parecer contra a medida de Nunes, Gilmar criticou “postura negacionista” diante da pandemia do novo coronavírus, que já levou à morte de mais de 330 mil brasileiros. Também expôs as contradições de Kassio, ao apontar que o plenário do Supremo – com o voto do próprio Kassio – já concluiu, por unanimidade, que a Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure) não é uma entidade de classe com legitimidade para entrar com ação no Supremo contra decretos estaduais e municipais.

Único indicado por Jair Bolsonaro ao STF, Nunes observou naquela decisão que o País estava em plena “Semana Santa, a qual, aos cristãos de um modo geral, representa um momento de singular importância para as celebrações de suas crenças”, ignorando o caos sanitário que o país enfrenta e que aglomerações são as maiores causas de propagação do vírus.

Gilmar não foi o primeiro da Corte a se manifestar contra Nunes. Marco Aurélio Mello o chamou de “novato”, ao liberar a realização de missas e cultos por todo o País.

Outro ponto rechaçado por Gilmar Mendes na decisão desta segunda-feira foi a legitimidade da Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure) de entrar com ação no Supremo contra decretos estaduais e governamentais. A decisão de Nunes, que liberou missas e cultos, foi tomada justamente numa ação movida pela Anajure. Ele ressaltou que, em fevereiro deste ano, o STF arquivou uma outra ação, da mesma associação.

Durante a votação a votação da Segunda Turma do STF que declarou o ex-juiz Sérgio Moro parcial ao condenar o ex-presidente Luiz Inácio Lula, Gilmar também criticou o voto de Nunes favorável ao ex-juiz. Após Nunes Marques dar voto favorável a Moro, Gilmar disse que “não há salvação para o juiz covarde”.

Mourão afaga militares e rechaça eventual golpe bolsonarista

O vice-presidente Hamilton Mourão fez o mais claro sinal de que está se preparando para o impeachment de Bolsonaro: em artigo no jornal O Estado de S.Paulo, sinalizou que a presença em massa de militares será mantida em seu eventual governo e atacou Bolsonaro, traçando um paralelo entre a ação do presidente brasileiro e a tentativa de golpe de Donald Trump no final de seu mandato nos EUA

Brasil 247, 6/04/2021, 08:40 h Atualizado em 6/04/2021, 08:40
  Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão (Foto: Divulgação)

Em artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo, o general vice-presidente, Hamilton Mourão, indicou que a presença em massa de militares no governo federal está garantida, se ele assumir a Presidência. Ele atacou Bolsonaro, traçando um paralelo entre a ação do presidente brasileiro e a tentativa de golpe de Donald Trump no final de seu mandato nos EUA.
Escreveu Mourão sobre os militares e seus cargos: “Os militares que foram chamados a trabalhar no governo que se iniciou em janeiro de 2019 vieram tão somente participar – como cidadãos no pleno exercício de seus direitos e como profissionais de Estado capazes – do esforço de racionalização, efetividade e moralização da administração pública, em prol do soerguimento do País”.

O ataque a Bolsonaro foi flagrante. Mourão repetiu o discurso da cúpula militar na crise da última semana, afirmando que “nas democracias, as ordens são legais e emitidas por quem de direito, sendo integralmente cumpridas na forma da lei. Fora disso, transita-se perigosamente entre a desordem e o autoritarismo. Políticos e soldados profissionais das grandes democracias já sabem disso”.

Para exemplificar, de maneira até surpreendente, usou (e criticou) a tentativa de golpe de Donald Trump no fim de seu mandato, que teve apoio entusiasmado de Bolsonaro e seus filhos: “Recentemente o mundo assistiu, com alguma perplexidade, à Junta de Chefes de Estado-Maior dos Estados Unidos, os comandantes das Forças Armadas norte-americanas, virem a público garantir a transição presidencial na maior democracia do mundo, em meio a contestações do processo eleitoral e aos tumultos que atingiram a sede do Legislativo em Washington, DC”.

Além disso, o artigo repete a cantilena usual de Mourão contra a corrupção e em defesa do golpe militar de 1964.