Da Universa, no Rio de Janeiro e São Paulo, 29/09/2018 11h14
O ato "Mulheres Contra Bolsonaro" aconteceu neste sábado (29) em várias cidades brasileiras durante o dia. O evento, protagonizado pelas mulheres, foi o maior dessas eleições no país. A dispersão começou por volta das 21h, após cerca de 8h de manifestação. O assunto também teve força nas redes sociais. No fim da tarde, mais de 60 cidades registraram atos contra o candidato e em ao menos 27 os atos foram também favoráveis.
Em São Paulo, no Largo da Batata, 500 mil pessoas se reuniram, segundo os organizadores. A polícia não costuma estimar público presente em manifestações assim. Elas marcharam para a Avenida Paulista, onde chegaram por volta das 19h30. Lá, a cantora Elza Soares se apresentou. Uma das organizadoras teve seu celular hackeado no dia anterior ao evento.
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Na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, mais de 200 mil pessoas se reuniram, segundo os organizadores. O protesto tomou proporções gigantescas e é um dos maiores que já aconteceu na cidade. Elas rumaram em volta de um caminhão de som para a Praça XV, onde aconteceram shows da percussionista Lan Lanh com a atriz Nanda Costa e a sambista Tereza Cristina. Organizadores avaliaram o evento como "um dia histórico".
Todos os protestos aconteceram de maneira pacífica, sem confrontos. Celebridades também se uniram pela causa e postaram fotos se posicionando. No Rio de Janeiro, muitas atrizes estiveram no ato e se declararam contra o candidato.
Também aconteceram atos a favor do candidato do PSL em São Paulo e no Rio.
Pela manhã, aconteceram manifestações contrárias a Bolsonaro em Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Santa Catarina, interior de São Paulo e no Tocantins, em um total de 35 cidades.
Exterior também se posicionou
Os protestos "Mulheres no Exterior Contra Bolsonaro" aconteceram em 63 cidades espalhadas por 20 países, neste sábado (29) e domingo (30): Cidade do Cabo (África do Sul), Berlim (Alemanha), Buenos Aires (Argentina) e Londres (Reino Unido) estão entre elas.
Atos a favor de Bolsonaro foram registrados em 27 cidades. No Rio de Janeiro, manifestantes a favor de Bolsonaro se uniram no calçadão da praia de Copacabana.
Carnaval de protesto no Rio
No Rio de Janeiro, um ato do início da tarde na escadaria da Câmara dos Vereadores, no centro do Rio. Mais de 80 blocos de carnaval se uniram em um clima de festa. No fim da tarde, milhares se concentraram na Cinelândia.
As crianças começaram cedo, no cortejo “Brincato” com suas mães, e foram recebidas nas escadarias da Câmara dos Vereadores pela organização do evento. O povo abriu caminho para se sentarem em família. Lá, elas amamentaram bebês e cantaram músicas contra o candidato. Na sequência, grupo de mulheres leu um manifesto em forma de jogral e seguiu em marcha para a Praça XV.
Protesto contra o candidato à presidência da República pelo PSL, Jair Bolsonaro na Cinelândia, no Rio de Janeiro (RJ), na tarde deste sábado (29).Imagem: Francisco Proner/Farpa/Folhapress
Candidatos estiveram em São Paulo
Marina Silva (Rede), Guilherme Boulos e Sonia Guajajara (Psol) estiveram no Largo da Batata na tarde de sábado. "Estamos aqui todas juntas pra dizer ele não, contra o facismo, contra o machismo e contra a violência", afirmou Guajajara. Marina afirmou que na democracia temos que respeitar aqueles que pensam diferente de nós. "As mulheres devem ser respeitadas e devem ver seus direitos respeitados". As vices Manuela D'ávila (PCdoB), do candidato petista Fernando Haddad (PT) e Katia Abreu (PDT), de Ciro Gomes, também estavam no evento.
A atriz Mônica Martelli também esteve no Largo da Batata: "eu sou mulher, e estou aqui dizendo não ao candidato que não respeita as mulheres. As mulheres vão mudar o mundo e mudar o resultado dessa eleição", afirmou.
Luiza Erundina, candidata a deputada federal pelo Psol, afirmou que é preciso ter ousadia. "Não é só eleição que resolve. Resolve só uma parte. O povo tem que estar na rua. Ele é fascista, brutamontes, machista, atrasado, estuprador, reacionário e não merece a sociedade e o povo que tem. Nós vamos derrubá-lo e reconstruir a democracia no País. Com o povo na rua!”, disse.
Indignação
A menos de um mês das eleições presidenciais de 2018, grupos virtuais de mulheres se mobilizaram na rede contra e a favor às declarações de Jair Bolsonaro. Até pouco antes da manifestação, a página que chamava para o ato contra o candidato, no Largo da Batata, em São Paulo, tinha 83 mil pessoas confirmadas e 238 mil interessados.
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“O que é importante enfatizar é que existe um grande movimento da sociedade que está sendo liderado pelas mulheres, mas que é um movimento da sociedade. São mulheres que tomaram consciência de seu papel de eleitoras e que de fato podem, quando se unem, fazer escolhas determinantes em eleições, como já aconteceu em 2016 com o candidato Pedro Paulo na prefeitura do Rio de Janeiro. Agora isso está acontecendo de novo em escala nacional. As mulheres liderando esse processo, mas boa parte da sociedade não concorda com as ideias que ele tem, e também está se manifestando”, diz a diretora e roteirista Antonia Pellegrino, uma das articuladoras do movimento no Rio.
Efeito de atos contrários pode ser sentido às vésperas da eleição
Na avaliação de especialistas em opinião pública, o efeito dos atos convocados por mulheres para este sábado poderá ser avaliado na próxima semana, já às vésperas da eleição. Mulheres mais pobres, protestos de rua e um comportamento inédito do eleitorado feminino -- mais distante do voto masculino -- podem enfraquecer a campanha de Jair Bolsonaro em um eventual segundo turno.
As mulheres formam o grupo que mais rejeita a candidatura de Jair Bolsonaro à presidência. Segundo pesquisa do Datafolha divulgada na última sexta (28), Bolsonaro é líder nas pesquisas, com 28% das intenções do voto. Apesar disso,
mantém uma rejeição entre 46% das mulheres. Comparado com a última pesquisa, a rejeição feminina subiu três pontos percentuais.
"As mulheres estão na rua porque o Bolsonaro não as respeita, isso é evidente. O projeto de país dele é um atraso e é contra isso que as mulheres estão se insurgindo. Nesse projeto de país, que é do atraso, está lá a cláusula de que as mulheres voltam a ser cidadãs de segunda classe".
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