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O ministro Gilmar Mendes, que se revela mais político do que jurista no exercício de sua função no Supremo Tribunal Federal, acusou o procurador Rodrigo Janot de agir politicamente e ser despreparado para ocupar o cargo de Procurador Geral da República. Já vai completar quatro anos que Janot está na PGR, mas foi preciso que denunciasse Michel Temer, o amigo de 30 anos de Gilmar, e pedisse a prisão do tucano Aécio Neves para que o ministro do STF descobrisse que ele é desqualificado para o cargo, embora já tivesse denunciado um monte de gente. É claro que, com essa acusação, Gilmar, o mais político dos ministros da Suprema Corte, está preparando o terreno para reforçar a defesa do velho amigo, que deverá ser alvo de novas denúncias de Janot nos próximos dias e parece não ter mais munição suficiente para controlar a maioria dos deputados e manter-se no poder. O ministro, que intensificou os encontros com Temer, aparentemente estaria participando da elaboração de um plano para novamente garantir a salvação do presidente ilegítimo.
Recorde-se que no período que antecedeu o julgamento do mandato de Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral o ministro Gilmar Mendes manteve seguidos encontros com o velho amigo no Palácio do Jaburu. E Temer escapou da cassação graças ao seu voto de minerva, na qualidade de presidente da corte eleitoral. Com a proximidade das novas denúncias de Janot, no entanto, estas muito mais graves do que a primeira, segundo os vazamentos, o presidente fruto do golpe estaria mais vulnerável depois da votação da Câmara que o impediu de ser afastado. Além de já ter praticamente esgotado os recursos das emendas, com os quais comprou os parlamentares – um comércio vergonhoso assistido placidamente pelo Supremo – Temer não deverá contar de novo com os mesmos deputados porque muitos deles já experimentaram o repúdio dos eleitores, com manifestações hostis em diversos lugares, e provavelmente não terão coragem de afrontar novamente a população. Desta vez a coisa será muito mais difícil.
O presidente golpista, que há algum tempo não faz outra coisa a não ser manobrar nos subterrâneos do Jaburu para manter-se no Planalto, já pediu à Suprema Corte a suspeição do procurador Rodrigo Janot e manteve uma conversa reservada à noite, fora da agenda oficial, com a futura PGR, Raquel Dodge, provavelmente orientando-a sobre o que deve fazer para salvá-lo, quando assumir o cargo em setembro próximo. Apesar de bem assessorado em sua desesperada tentativa para ficar no cargo, contando com a colaboração do velho amigo, Temer terá de superar maiores dificuldades do que as vencidas na primeira denúncia. Primeiro porque o STF não deverá aceitar o pedido de suspeição de Janot, do contrário se desmoralizará de vez, e, segundo, porque quando Dodge assumir a PGR as novas denúncias já terão sido encaminhadas ao Supremo e à Câmara dos Deputados e ela não terá muito o que fazer. Além disso, ela deverá enfrentar resistências dentro do próprio Ministério Público, onde Janot tem o apoio da categoria, caso pretenda aliviar a barra de Temer e dos seus acólitos.
A luta de Temer para manter-se no poder, portanto, mais uma vez terá de ser travada na área política, mais precisamente na Câmara dos Deputados, onde é maior seu espaço para manobras, considerando-se o caráter de parlamentares, conforme já demonstrado em outras votações, que se revelam mais preocupados com seus próprios interesses financeiros do que com os interesses dos seus eleitores e do país. Desta vez, no entanto, é quase certo que ele não conseguirá número suficiente para safar-se das novas denúncias, porque o estoque de emendas está praticamente esgotado e, além disso, o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, não deverá ser tão fiel como na primeira votação. Na época, ele pareceu arrependido por não ter aproveitado a oportunidade para assumir a Presidência da República e agora, provavelmente convencido de que já fez a sua parte, não deixará passar a nova oportunidade. Portanto, as possibilidades de Temer permanecer no cargo agora, depois das novas denúncias, são bastante remotas.
Tem outro detalhe: o PSDB, que tem ameaçado desembarcar da base aliada – na verdade uma encenação para enganar seus eleitores porque continua com quatro ministros no governo – já percebeu o profundo desgaste por conta do seu comportamento ambíguo e, embora não querendo desgrudar-se do poder do qual participa sem ter recebido um único voto, terá agora que tomar uma decisão para não afundar junto com Temer. Diante da certeza de que o golpista não mais se sustentará no cargo, os tucanos deverão pular fora do barco. Restará, então, ao presidente golpista, desenvolver a sua última batalha no Supremo, onde aparentemente já teria pelo menos três votos – dos ministros Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes e Celso de Mello – o que, no entanto, não lhe garantiria uma vitória. Até porque na mais alta Corte de Justiça do país ele não tem espaço para o mesmo tipo de comércio que a Câmara lhe proporciona. Então, não é muito difícil prognosticar seu breve afastamento do Planalto.
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