quinta-feira, 4 de março de 2021

Com desastre no Brasil, Bolsonaro fica estagnado e vê Lula se aproximar em ranking de popularidade digital

Segundo dados medidos pela consultoria Quaest, Bolsonaro tem 62,3 pontos de popularidade digital e Lula tem 55,9, uma diferença de apenas 6,4. “O que fez Lula voltar? Temas de comparação entre os preços na era Lula e agora”, explica professor da UFMG

Brasil 247, 4/03/2021, 18:51 h Atualizado em 4/03/2021, 19:13
    (Foto: Ricardo Stuckert | Reuters)

Para além dos altíssimos preços dos combustíveis e do desastre na condução da pandemia e da vacinação contra Covid-19, Jair Bolsonaro tem agora uma nova derrota: enquanto se mantém estagnado no ranking de popularidade digital medido pela consultoria Quaest, o chefe do governo federal vê o ex-presidente Lula se aproximar de sua posição.

A Quaest avalia o desempenho de personalidades políticas brasileiras nas plataformas Facebook, Instagram, Twitter, YouTube, Wikipedia e Google.

Em uma escala de 0 a 100, sendo que 100 representa o máximo de popularidade, Bolsonaro tem 62,3 pontos no ranking, na liderança da lista. Lula, por sua vez, apresentou crescimento nos últimos meses e, agora, tem 55,9 pontos. Com uma diferença de 6,4 pontos, Lula é o principal antagonista de Bolsonaro também no campo digital.

Vale lembrar que as mídias sociais foram a principal arma utilizada por Bolsonaro em 2018 para chegar à presidência e, ainda hoje, são usadas pelo governo como forma de driblar a imprensa.

Segundo o pesquisador Felipe Nunes, professor de ciência política da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e diretor da Quaest, ouvido pela Folha de S. Paulo, um outro fator além do péssimo desempenho de Bolsonaro no governo pode estar contribuindo para a ascensão de Lula. “O que fez Lula voltar? Objetivamente: ele cresceu em número de seguidores, cresceu em engajamento e cresceram as procuras por ele no Google. O que causou isso? Temas de comparação entre os preços na era Lula e agora”, disse.

No mesmo ranking, o apresentador da TV Globo Luciano Huck apresenta 41,2 pontos, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) 28,1 e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), 20.

Estado de sítio na cabeça de Bolsonaro

"Bolsonaro está acuado, e todo mundo se pergunta até onde ele pode ir, além do tom agressivo de suas falas. É improvável que ele tenha apoio para tomar atitudes mais drásticas", escreve a jornalista Helena Chagas. "Mas, de um lado e de outro da Praça dos Três Poderes, é bom que as instituições fiquem de olho"

Brasil 247, 4/03/2021, 14:15 h Atualizado em 4/03/2021, 14:15
  Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução)

Por Helena Chagas, para o Jornalistas pela Democracia

Jair Bolsonaro, para fugir da responsabilidade pelo caos, reclamou hoje mais uma vez que o STF deu poderes demais aos estados e municípios. Nada de novo em ver o presidente, acuado, tirar o corpo fora dos estragos da pandemia. Todo mundo sabe que é um insensível, incapaz de ver a dor do outro, quase ao nível de uma psicopatia. Mas é preocupante ver, na boa de Bolsonaro, a expressão estado de sítio.

Ele se referiu a isso em relação ao que chamou de “superpoder” dado pelo Supremo às prefeituras, “poder que só no estado de sítio existe, e assim mesmo, não é decisão do presidente”. E emendou: “O presidente baixa um decreto e o Congresso, tem parlamentares aqui, é que vai dizer se vale ou não estado de sítio. Impuseram estado de sítio no Brasil via prefeituras. Isso está errado”.

Ao pronunciar ao menos três vezes o estado de sítio, Bolsonaro pode ter cometido um ato falho, mostrando num escape de linguagem o que vai lá no fundo de sua mente. Pode ser que sim, pode ser que não. Mas o presidente voltou ao modo destemperado nos últimos dias, à medida em que a crise da pandemia se agrava, contrariando suas previsões e expondo cada vez mais a incompetência de seu governo.

Também hoje, ele mandou: “Tem muito idiota aí me mandando comprar vacina. Só se for na casa da sua mãe”. Palavras do presidente da República do Brasil, que vão ficar registradas para a posteridade.

Bolsonaro está acuado, e todo mundo se pergunta até onde ele pode ir, além do tom agressivo de suas falas. É improvável que ele tenha apoio para tomar atitudes mais drásticas, ainda mais se estiverem fora da cartilha do Estado Democrático de Direito, como a decretação de um intempestivo estado de sítio. Mas, de um lado e de outro da Praça dos Três Poderes, é bom que as instituições fiquem de olho.

Flávio comprou mansão do namorado de juíza que trabalhou com ex-presidente bolsonarista do STJ

Ministro João Otávio de Noronha votou a favor de Flávio Bolsonaro no julgamento que pedia a quebra de sigilo do senador no caso das rachadinhas, barrando o caso no tribunal. Ele foi assessorado pela juíza Cláudia Silvia de Andrade, namorada do empresário Juscelino Sarkis, que vendeu a casa para o senador

3 de março de 2021, 22:19 h Atualizado em 3 de março de 2021, 23:09
  Flávio Bolsonaro (Foto: Reprodução | Jane de Araújo/Agência Senado)

O senador Flávio Bolsonaro comprou a casa milionária em Brasília do namorado de uma juíza que trabalhou com um dos ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que votou pela anulação das provas contra ele no caso das rachadinhas.

Trata-se do ministro bolsonarista João Otávio de Noronha, presidente do STJ entre 2018 e 2020, aliado de Jair Bolsonaro. Seu voto pró-Flávio acabou barrando o julgamento do caso na Corte.

Ele foi assessorado pela juíza Cláudia Silvia de Andrade, namorada do empresário Juscelino Sarkis, que vendeu a casa para o senador. As revelações foram feitas pelo Jornal Nacional nesta quarta-feira, 3.

Noronha é também o homem para quem o presidente Jair Bolsonaro dirigiu essas palavras amorosas em abril de 2020: pic.twitter.com/Pxevs0Aaer— Samuel Pancher (@SamPancher) March 4, 2021


No processo da rachadinha, o Ministério Público do Rio de Janeiro o acusa de desviar R$ 6,1 milhões dos cofres públicos, através do desvio de salários de ex-assessores fantasmas quando era deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

Os promotores destacam, ainda, que, entre 2010 e 2017, o então deputado estadual lucrou R$ 3 milhões em transações imobiliárias com “suspeitas de subfaturamento nas compras e superfaturamento nas vendas”.
Pagamentos não batem


Segundo os registros da transação, fornecidos pelo próprio vendedor do imóvel de luxo, Juscelino Sarkis, Flávio fez a primeira TED em 20 de novembro do ano passado, no valor de R$ 200 mil. Em 9 de dezembro, ele transferiu outros R$ 300 mil e, no dia seguinte, mais R$ 590 mil.

Os valores somam R$ 1.090.000,00, mas na escritura de venda consta que o senador teria pago R$ 2.870.000,00 de entrada. Na escritura, consta também que Flávio Bolsonaro conseguiu um empréstimo de R$ 3,1 milhões com o Banco Regional de Brasília (BRB), em parcelas entre R$ 18,7 mil e R$ 21,5 mil.

O cartório rasurou os valores referentes à composição da renda de Flávio e da esposa Fernanda, que é dentista. Pelas regras do sistema financeiro habitacional, a prestação não pode ultrapassar 30% da renda bruta. O salário líquido do senador é de R$ 25 mil - o bruto é de R$ 33.763

Mais cedo, Flávio afirmou que vendeu um apartamento na Barra da Tijuca (RJ) e a franquia de sua loja de chocolates para dar a entrada no imóvel de luxo. Na campanha eleitoral de 2018, o senador declarou patrimônio de R$ 1,7 milhão ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Esta é a super-mansão de 6 milhões que o sena Flávio Bolsonaro financiou pelo Branco Regional de Brasília (BRB) em 30 anos, com juros de 3.75% ano, enquanto o pobre tem juros na Caixa de 4,5% ao ano pra cima

Isso é bem a cara do Brasil dos privilegiados pic.twitter.com/ta6QHECV1X— George Marques 🇧🇷 (@GeorgMarques) March 1, 2021
Possível fraude também no BRB

Em uma série de postagens no Twitter, o jornalista André Shalders destacou que “o simulador imobiliário do BRB parece (atenção, parece) mostrar que a instituição ofereceu condições mais vantajosas a Flávio Bolsonaro do que ao público em geral ao comprar a mansão no lago sul”.

“Segundo o simulador do banco, um financiamento no valor daquele obtido pelo senador, com o mesmo prazo de pagamento, exigiria uma renda líquida mínima de R$ 46,8 mil -- bem mais que o salário de Flávio no Senado”, diz em outro post.

Como senador, Flávio recebe um salário bruto no valor de R$ 33.763,00, que após os descontos é reduzido para R$ 24,9 mil.

O parcelamento obtido por Flávio Bolsonaro junto ao BRB, foi feito em condições mais vantajosas que as oferecidas ao cidadão comum. O valor de R$ 3,1 milhões foi parcelado em 360 meses, com “taxa de juros nominal reduzida de 3,65% ao ano”, abaixo da inflação do ano passado, que foi da ordem de 4,52%.

O BRB é presidido pelo executivo Paulo Henrique, que tem o nome cotado para assumir a presidência do Banco do Brasil. Ele também é ligado ao governador Ibaneis Rocha, aliado do clã Bolsonaro.

Governadores identificam nova onda de fake news bolsonaristas contra eles

Ataques e fake news foram intensificados após Jair Bolsonaro culpar os governadores pela alta no preço dos combustíveis e divulgar informações distorcidas sobre os recursos federais repassados para os Estados combaterem a Covid-19

Brasil 247, 4/03/2021, 10:18 h Atualizado em 4/03/2021, 11:12
   Bolsonaro / Fake News/ What's app (Foto: Reuters | Reprodução)

As equipes de comunicação de diversos estados identificaram uma “segunda onda de ataques coordenados” contra os governadores nas redes sociais. Segundo reportagem da Coluna do Estadão, do jornal O Estado de S. Paulo, os ataques e fake news foram intensificados a partir da segunda quinzena de fevereiro, quando Jair Bolsonaro culpou os governadores pela alta no preço dos combustíveis, e ganharam força no último final de semana, após ele divulgar uma tabela com informações distorcidas sobre os recursos federais repassados para os Estados combaterem a Covid-19.

A maior parte das fake news está ligada às medidas restritivas, como o lockdown, adotadas por diversos governadores para tentar conter o avanço da pandemia e o colapso do sistema de saúde. No Ceará, por exemplo, uma das notícia falsas apontava a existência de um “decreto” baixando a medida por um período de 40 dias. A fake news trazia, ainda, a logomarca do governo estadual.

No Piauí e no Maranhão, um mesmo texto com supostas medidas de restrição, incluindo o pagamento de multa no valor de R$ 180 para quem desobedece a determinação, circulou nas redes sociais e teve que ser desmentido oficialmente pelos governos locais.

Para a secretária de Comunicação do Rio Grande do Norte, Maria da Guia Dantas, a situação é considerada “surreal”: “O Brasil com tantas mortes e, desde o final de semana, estamos gastando o precioso tempo da comunicação oficial para esclarecer sobre informações distorcidas”.

Em São Paulo, a Casa Militar vem monitorando as ameaças feitas diretamente contra o governador João Doria (PSDB) que, segundo a reportagem, foram intensificadas após ele anunciar que o Estado estava entrando na fase vermelha para o conter avanço do coronavírus.

Aprovação do governo Bolsonaro cai pela primeira vez abaixo de 30%; evangélicos são seu apoio principal

Pesquisa do IPEC, formado por ex-executivos do Ibope, aponta pela primeira vez entre os institutos que têm pesquisado regularmente o governo Bolsonaro, que a aprovação caiu abaixo de 30% - 28% agora. Evangélicos fundamentalistas sustentam Bolsonaro

Brasil 247, 4/03/2021, 08:46 h Atualizado em 4/03/2021, 08:57
  (Foto: Divulgação)

Pela primeira vez desde a posse de Jair Bolsonaro, a aprovação a seu governo cai abaixo de 30%. É o que aponta a pesquisa do IPEC (Inteligência, Pesquisa e Consultoria), realizada presencialmente entre 18 e 23 de fevereiro. 28% dos entrevistados consideram a gestão Bolsonaro ótima ou boa, enquanto 39% avaliam como ruim ou péssima. Segundo os dados do IPEC, o eleitorado evangélico é a principal base de apoio a Bolsonaro, que tem avaliação positiva de 38% neste segmento. A margem de erro é de dois pontos.

O IPEC é formado por executivos que deixaram o Ibope após o encerramento das atividades com pesquisas de opinião pública. Apesar da queda da aprovação do governo Bolsonaro, nenhum instituto havia até agora apontado uma taxa abaixo de 30%. Segundo levantamento da Fundação Perseu Abramo, que consolidou as pesquisas dos principais institutos, os índices de aprovação do governo Bolsonaro até agora eram: Datafolha, 31% (campo em 20 e 21 de janeiro); XP/Ipespe, 30% (02 a 04 de fevereiro); PoderData, 30% (01 e 03 de fevereiro); Exame/Ideia, 31% (12 de fevereiro).

A parcela evangélica fundamentalista do eleitorado apresenta, na pesquisa do IPEC, um desenho inverso em relação à avaliação geral do governo. Neste segmento, é o percentual de avaliações como ótimo ou bom que se aproxima da faixa de 40% dos entrevistados. Entre os evangélicos, 27% consideram o governo ruim ou péssimo. É a menor taxa de rejeição registrada em todo o levantamento.

A pesquisa do IPEC, veiculada pelo jornal O Globo, indica que, para 87% dos brasileiros, há alguma expectativa de pagamento do auxílio emergencial “até a situação econômica voltar ao normal” — o que pressupõe um prazo maior do que os quatro meses do planejamento do governo federal.

No recorte por renda, 93% dos que têm renda mensal de até um salário mínimo — parcela da população à qual o benefício é majoritariamente destinado — concordam, ao menos de forma parcial, que o auxílio deve durar até uma normalidade econômica.

Para a cientista política Luciana Veiga, professora da Unirio, o cenário atual de baixa aprovação, que aponta um comprometimento de seu projeto de reeleição em 2022, pode estimular Bolsonaro a tentar um prolongamento do benefício, contrariando suas próprias declarações e as projeções da área econômica, comandada pelo ministro Paulo Guedes: “O que Bolsonaro faz com o auxílio não é conquistar eleitores que não gostam dele, mas sim trazer o que está nesse bloco do regular. É um eleitor muito prático, menos apegado a questões ideológicas, e que pode oscilar a depender do impacto do governo federal em sua vida. É aí que entra o auxílio. Por outro lado, este eleitor também é mais pressionado pelo cenário da Saúde, já que depende da rede pública — avaliou Veiga”.

A CEO do IPEC, Márcia Cavalari, afirma que a análise dos resultados deve levar em consideração o contexto à época da realização das pesquisas. O levantamento do IPEC, que ouviu 2.002 pessoas presencialmente em 143 municípios entre 18 e 23 de fevereiro, ocorreu nos dias que se seguiram à primeira ameaça de Bolsonaro de trocar o comando da Petrobras por insatisfação com aumentos nos preços de combustíveis, O anúncio da demissão de Roberto Castelo Branco da presidência da petroleira ocorreu no dia 19, durante a realização da pesquisa. “Esta é uma das possíveis hipóteses para que a rejeição ao governo seja mais alta entre os eleitores com maior remuneração do que entre os mais pobres. Para o segmento de menor renda, a troca pode não ter soado tão ruim, por conta do discurso de baratear o combustível”, afirmou Márcia.

Haddad: quem pensa é inimigo do governo Bolsonaro

Ex-prefeito criticou duramente mais uma ação antidemocrática do governo que, desta vez, através da CGU, abriu processo contra professores universitários que criticaram Bolsonaro nas redes sociais

Brasil 247, 4/03/2021, 11:41 h Atualizado em 4/03/2021, 12:14
   Fernando Haddad (Foto: Ricardo Stuckert)

O ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro Fernando Haddad usou suas redes sociais nesta quinta-feira (4) para criticar mais uma ação antidemocrática do governo Bolsonaro.

Desta vez, através da Controladoria Geral da União (CGU), o governo federal abriu processo contra professores universitários que criticaram JairBolsonaro nas redes sociais.

Entenda o caso

A Controladoria-Geral da União (CGU) abriu um processo contra os professores da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel) Pedro Hallal e Eraldo dos Santos Pinheiro, que fizeram críticas a Jair Bolsonaro no Youtube e no Facebook.


A representação contra os docentes, que foram obrigados a assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) proibindo-os de proferirem críticas a Bolsonaro por dois anos, foi feita pelo deputado federal bolsonarista Bibo Nunes (PSL-RS).

No ano passado, a CGU elaborou um documento aos moldes ditatoriais estabelecendo punições para os servidores públicos federais que utilizarem as redes sociais para criticar superiores hierárquicos ou órgãos que ocupam. De acordo com o jornal O Globo, um dos professores alvos da CGU é o ex-reitor da Ufpel Pedro Hallal.

Como um dos maiores pesquisadores sobre o tema hoje no Brasil, Hallal é crítico do posicionamento de Bolsonaro no enfrentamento à pandemia de Covid-19 e se comprometeu a não repetir o ato novamente pelos próximos dois anos. O outro alvo da ação aberta pela CGU foi o professor Eraldo dos Santos Pinheiro.

O processo na CGU foi motivado por um comentário realizado durante uma transmissão ao vivo sobre a nomeação de Isabela Fernandes Andrade para o cargo de reitora da Ufpel. Ela foi escolhida por Jair Bolsonaro para chefiar a instituição apesar de ter sido a segunda mais votada na lista tríplice da comunidade acadêmica.

quarta-feira, 3 de março de 2021

Rui Costa: “O responsável maior por essa tragédia é o presidente”

“Precisamos da vacina para salvar o Brasil desta tragédia", enfatizou o governador da Bahia, Rui Costa (PT), afirmando que o veto à medida que "poderia ter resolvido o problema da burocracia da Anvisa é um absurdo"

Brasil 247, 3/03/2021, 17:28 h Atualizado em 3/03/2021, 18:13
  (Foto: Reprodução)

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), criticou a conduta de Jair Bolsonaro pelo atual avanço da pandemia do novo coronavírus.

“Precisamos da vacina para salvar o Brasil desta tragédia. O veto do presidente à medida que poderia ter resolvido o problema da burocracia da Anvisa é um absurdo. Vamos abrir mais leitos de UTI, agora no hospital de campanha da Fonte Nova, mas só a vacina nos dará a vitória”, disse Costa.

Para o governador, “o responsável maior por essa tragédia é o presidente”. Ele disse ainda que não aceitaria estar no lugar de Pazuello para receber as ordens que vem sendo dadas por Bolsonaro.

Os governadores dos nove estados do Nordeste encomendaram 25 milhões de doses da Sputnik V, vacina produzida pela Rússia contra a Covid-19. A vacina ainda não foi aprovada pela Anvisa.

O que aconteceu com aquele PT?

"O Partido dos Trabalhadores era muito mais uma rede de expressões regionais e sociais plurais do que um partido centralizado em São Paulo", escreve o professor de História da USP Lincoln Secco

Brasil 247, 27/02/2021, 18:01 h Atualizado em 27/02/2021, 18:01
    Militância e bandeira do PT (Foto: PAULO PINTO)

Por Lincoln Secco

(Publicado no site A Terra é Redonda)

Quando a primeira vereadora negra eleita no Rio de Janeiro tomou posse, a Câmara quis negar-lhe carro oficial porque ele não poderia subir o morro da favela em que ela morava. Naquele ano vários operários chegaram à câmara dos deputados. A primeira bancada em São Paulo elegeu três mulheres de esquerda. Os mandatos foram concebidos como coletivos e faziam plenárias regulares. Ao partido confluíam militantes do movimento de saúde e habitação, psicólogos e arquitetos, professores e estudantes, empregadas domésticas e pequenos comerciantes, gays e lésbicas, donas de casa e integrantes do movimento negro, clubes de mães, e católicos das comunidades eclesiais de base, ecologistas e grupos de teatro. Havia reuniões em sindicatos e salões paroquiais, quadras de escola e centros espíritas, praças públicas e sindicatos e, principalmente, nas casas de militantes.

Não! Este não é o retrato da esquerda nas eleições municipais brasileiras de 2020 e nem de algum novo partido – movimento europeu. Trata-se das eleições de 1982! e, claro, da história do PT. É de certa maneira o mesmo partido conciliador que venceu quatro eleições presidenciais no século XXI, cuja direção envelheceu agarrada a cargos e desapegada de ideais e sofreu um golpe de Estado em 2016.

Lutas de classes

A primeira prefeita de uma capital do PT foi Maria Luiza Fontenelle, em Fortaleza. Ela governou com os conselhos populares e foi acusada de incentivar a população a ocupar prédios abandonados e de convocar uma greve dos próprios funcionários municipais. Em Diadema, o vice-prefeito Tonhão se aliou ao movimento de moradia e enfrentou a polícia e o prefeito do seu próprio partido. Em Salvador militantes de um grupo clandestino abrigado no PT resolveu expropriar um banco. Bancários atiravam bolinhas de gude nas vidraças dos bancos à noite. Mesmo nas campanhas eleitorais milhares de militantes eram presos na boca de urna, corriam da polícia ou entravam em confronto com adversários da direita.

A oposição metalúrgica de São Paulo enfatizava a organização no local de trabalho e uma central sindical que reunisse também oposições sindicais e não apenas direções eleitas dos sindicatos. Por isso a CUT se chamou Central Única dos Trabalhadores, era contra a legislação trabalhista legada por Getúlio Vargas (a CLT), o imposto sindical e a tutela do Estado sobre os sindicatos. Mas aquele era um momento ascensional das lutas e uma superação positiva da CLT estava no horizonte radical da classe trabalhadora. Ainda assim, os comunistas e velhos trabalhistas alertavam para o risco de deixar ao relento os pequenos sindicatos e as categorias profissionais menos mobilizadas. Ruim com o pelego, pior sem ele, diziam. Isso porque a ausência de apoio jurídico aos trabalhadores e trabalhadoras impede a proteção dos direitos na hora da contratação e rescisão, em que a pessoa está sozinha diante da empresa. Destruir sindicatos pode gerar instabilidade nas relações trabalhistas também para o empresário, mas o maior perdedor não é ele, pois na maioria dos casos não surge uma mobilização espontânea para pressionar os patrões.

Apesar do discurso da CUT e do PT, nos anos 1980 a auto organização da classe trabalhadora buscou assumir as direções sindicais e não suprimi-las e acabou por conviver com a legislação trabalhista e manter e até ampliar o patrimônio material e jurídico dos sindicatos. Isso não impedia inovar as formas de luta. Depois de derrotas anteriores devido à repressão do exército, em 1985 a campanha salarial do ABC paulista adotou a tática da Vaca Brava. Conhecendo o mapa da cadeia produtiva, os trabalhadores paravam um setor numa fábrica e impediam o fornecimento para outras empresas. Nos anos 1970 a greve pipoca interrompia diferentes setores numa mesma fábrica. Agora, os trabalhadores de uma montadora ficavam parados por falta de entrega de peças e não por estarem em greve. Mas quando o fornecimento se normalizava era a vez deles declararem greve.

Trajetórias

Aquele PT dos anos 1980 também não foi só uma agremiação operária que se espraiou a partir das greves metalúrgicas do ABC paulista. Decerto, o sindicalismo e a liderança de Lula foram vitais e exerceram uma atração centrípeta. Mas isso só aconteceu porque havia energia social espalhada pelo país que se auto organizou autonomamente. A pesquisa nas fontes históricas permite reconstituir um movimento que era muito mais uma rede de expressões regionais e sociais plurais do que um partido centralizado em São Paulo.

Suas contradições e lutas internas também nasceram dessa diversidade. Trabalhadores manuais sem educação universitária e que compuseram as primeiras direções partidárias nunca vieram a ter cargos públicos executivos destacados ou ministérios nos governos petistas como foram os casos de Osmarino Amâncio dos seringueiros do Acre; os irmãos Ganzer dos agricultores do oeste do Pará; Manoel da Conceição dos trabalhadores rurais do interior maranhense ou sindicalistas de São Paulo como Jacó Bittar, Vicentinho e Meneghelli. Claro que houve exceções importantes:, Lula, o torneiro mecânico da Villares, foi presidente; a empregada doméstica Benedita da Silva, governadora do Rio de Janeiro; e o metalúrgico da Braseixos João Paulo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados.

A experiência de um partido formado por núcleos de base e surgido em barracões de sem terra, seringais, conventos católicos, sindicatos, grupos de esquerda e no movimento estudantil logo chocou-se com a realidade da institucionalização. A partir de 1984 o PT gradualmente substitui aquela lógica federativa de núcleos pela disputa de tendências organizadas. Ou melhor: entre a Articulação, tendência dominante que congregava a força dos sindicatos e os políticos de maior expressão eleitoral, e os grupos da esquerda partidária. A adoção da proporcionalidade na composição das direções do PT foi o modus vivendi encontrado pelos dirigentes.

Apesar da oligarquização inerente aos partidos políticos, as direções petistas tinham um projeto para o país. Mesmo domesticado por sucessivas concessões, alianças, compromissos e abandono de ideais, o programa reformista que chegou ao poder em 2003 alterou a feição do Brasil, mudou as relações entre classes e legou programas sociais e de direitos humanos.

Desde o V Encontro Nacional de 1987 o PT visou eleger Lula presidente e implementar o programa democrático popular. Ao longo dos anos 1990 aquele programa incorporou a defesa de cotas raciais, políticas específicas para mulheres e jovens e muitas outras. Internamente, os congressos do PT garantiram creches para que as mães participassem das discussões políticas e estabeleceu 30% delas nos cargos de direção (hoje 50%).

Todavia, aquelas iniciativas não contraditavam o programa geral. Estavam integradas, ainda que de forma incipiente. Se por um lado o PT perdeu o protagonismo em políticas nas quais foi o pioneiro, por outro os novos militantes muitas vezes reduzem suas ações ao puro taticismo. Voltarei a esse tema depois.

A pergunta que se faz hoje é o que aconteceu com aquele PT?

A dialética do poder

É um truísmo relembrar todos os erros dos governos petistas: a política econômica, a missão no Haiti, as leis que fortaleceram o aparato jurídico-repressivo e tudo aquilo que ficou conhecido indevidamente como republicanismo.

Um exemplo disso foram as nomeações para o STF. A Constituição garante ao Presidente da República e à maioria que ele constitui no Senado Federal, o poder de interferir na sua composição. Dessa forma é dever constitucional do presidente nomear pessoas que estejam de acordo com o programa que a população livremente estabeleceu pelo voto. Quando Fernando Henrique Cardoso foi eleito, ele nomeou juízes que criaram o entendimento jurídico dentro do qual ele ergueu o modelo econômico escolhido pelo povo. Caberia aos juízes inviabilizar questionamentos que duvidassem das privatizações, por exemplo. Em 2002 o povo escolheu um novo modelo de desenvolvimento e era esperado do presidente que nomeasse para o STF juízes que calçariam sua opção pelo social, punição dos criminosos da ditadura etc. Mas, ao contrário de FHC, Lula seguiu uma interpretação errônea do que seria a República pois o STF é um tribunal político. É que o Direito não é só um conjunto de fatos ou normas, como rezam os positivistas, mas a expressão de uma relação de poder. Nada disso atenta contra a Democracia. Esta é apenas a forma de um domínio encoberto pelo consenso da sociedade. A violação do direito ocorre se um dos lados usa a força e se põe fora da legalidade. Afinal, a própria imprensa trata tranquilamente da posição partidária dos membros da suprema corte dos Estados Unidos, mas vocifera contra qualquer “escolha política” em países latino americanos, como a Venezuela ou Argentina.

Os equívocos de Lula não eram pessoais, mas derivados de uma cultura política marcada pela recusa do vanguardismo e pelo obreirismo. Ela permitiu ao partido crescer colado às lutas cotidianas do povo, mas também introduziu o preconceito contra o marxismo e o desleixo com o debate estratégico. Quando o PT chegou ao governo (e não ao poder), o seu núcleo dirigente estava despreparado para conceber essa diferença. Agiu como se o Estado fosse um órgão neutro e deixou intocadas as forças armadas e o poder judiciário.

Obviamente que não se tratou apenas de uma escolha ou desconhecimento de uma teoria marxista do Estado, mas também da acomodação pragmática aos cargos e ao receio de confrontos. Mas independentemente disso, o conflito social se acirraria de qualquer modo, pois as classes dominantes não toleram que os pobres aumentem sua participação no orçamento público. Bastou a inversão do ciclo econômico para que elas optassem pelo golpe de Estado, apoiado nos militares, no congresso, na mídia e sancionado pelo poder judiciário.

Apesar de toda a propaganda midiática, o PT demonstrou que estava preparado para administrar o Estado melhor do que os partidos conservadores e com um grau muito menor de corrupção. No entanto, não estava preparado para exercer o poder.

Uma crise programática

Ao transformar o PT e a CUT em meras correias de transmissão do Governo federal, aquela Articulação que tinha promovido o aggiornamento social democrata do PT perdeu sua função histórica. Desprovida de ideais, sobrou-lhe os cargos. Como um cadáver adiado, esse grupo que hoje parasita a história do PT e consome seus últimos recursos simbólicos, manteve-se intacto em sucessivas disputas internas porque ainda tinha resultados eleitorais para entregar ao seu séquito. Afinal, sob a política de acomodação no poder o PT ganhou quatro eleições e tudo parecia ir muito bem.

Sintomático da falta de ideias, é que a geração de dirigentes sindicais ou da luta armada foi gradualmente derrubada pelos escândalos do mensalão e a operação lava jato. Dirigentes históricos como José Dirceu e José Genoíno foram substituídos não por jovens ativistas de movimentos sociais ou intelectuais orgânicos de esquerda, mas por burocratas que iniciaram a carreira política como gestores ou políticos profissionais locais. A direção de ex integrantes dos sindicatos e das organizações da luta armada cedeu lugar a outra. Não por acaso, alguns dos principais formuladores da CNB exerceram um mesmo cargo: a secretaria de finanças, através da qual se fazia a interface da direção nacional com as doações empresariais para campanhas e a distribuição de verbas do fundo partidário público. O PT deles não é o partido dos trabalhadores, mas o dos tesoureiros.

Antigos dirigentes podem ser caracterizados como neopetistas enquanto novos militantes como defensores das bandeiras históricas do partido. Não se trata de simples corte geracional, portanto. O ex governador baiano Jacques Wagner, que elogiou o seu secretário de segurança pública quando ele atirou em militantes do MST em 2013, é fundador do PT, mas não é de esquerda. Camila Moreno, jovem da comissão executiva nacional defende bandeiras históricas do partido.

Não cabe a um intelectual definir o que a esquerda deve fazer e muito menos os capas pretas petistas. Mas é evidente que o modelo de governo negocial que o PT usou não funciona mais. Não que não deva haver alianças para governar. Mas a esquerda só mantêm seus objetivos se ameaçar, antes de negociar. Isso vale também para a luta interna do PT. A esquerda partidária nunca foi uma ameaça à CNB. Quando eu escrevi a História do PT em 2010, ainda parecia correto falar em esquerda e direita do partido. Hoje é diferente. Há petistas de direita e de esquerda. Essa é uma mudança resultante da fragilidade organizativa do partido, mas também da sua hegemonia no campo democrático popular. Pois de outra maneira não se entenderia por que um político petista ataca o próprio partido mas não abandona a legenda do PT. Tal personagem “fictício” não é da “direita do PT”. Ele é mesmo de direita, talvez do centro, e provavelmente social liberal e democrata. De novo cumpre lembrar que não se trata de ataque a uma pessoa específica, que deve pensar de si mesma outra coisa. Trata-se de uma caracterização das suas opiniões e ações públicas.

Mas é preciso dizer que o antigo PT tem muito a nos ensinar. Parcelas da “nova” esquerda parecem ter desaprendido a centralidade da classe social, enquanto a “velha” militância não aprendeu que a classe em si mesma precisa ser ressignificada e assumir suas faces negra e feminina que são majoritárias no Brasil. Sem essa vinculação do parcial com o apelo ao universal e das táticas com a estratégia, vamos defender pautas legítimas, porém facilmente assimiláveis pela ordem burguesa. Obviamente que não se deve generalizar e dispomos de muitas teóricas que o tempo todo nos chamam a atenção para isso como Silvia Federici e Roswitha Scholz com grande sofisticação teórica e base historiográfica. Ou no movimento negro Angela Davis e o brasileiro Clovis Moura, entre uma miríade de outras. O problema continua sendo integrar a teoria numa prática realmente socialista e classista.

A imprensa corporativa, por exemplo, condena o racismo, mas defende o ajuste fiscal. Mas no Brasil negros e pardos são a maioria da classe trabalhadora. Portanto, o ajuste fiscal é racista. O ataque aos direitos trabalhistas e ao sistema único de saúde são manifestações de um racismo histórico. Basta ver o que houve com a escola pública quando ela se universalizou: os recursos minguaram e ela perdeu a importância do passado. É só olhar para o que ocorre nas universidades públicas depois da expansão promovida pelos governos do PT: estão sendo asfixiadas financeiramente.

O motivo é óbvio: aquilo que atende a pobres e negros deve ser de péssima qualidade. Combater a propaganda ou uma fala racista de uma celebridade é válido, mas não altera a vida material da maioria dos negros e negras do país. Inserir estudantes proletários na universidade foi um passo tão importante quanto colocar todas as crianças na escola primária. Mas é fácil manter essa política cortando verbas de permanência estudantil e depauperando os salários docentes. É à luz dessas questões estruturais que a esquerda precisa redesenhar sua estratégia e promover o encontro da classe com os que a vivenciam em suas múltiplas dimensões.

2020-2022

A aritmética não define o fracasso do PT. Sua queda brutal nas eleições de 2016 refletiu sua derrota política assinalada pela queda da presidenta Dilma Roussef. Quatro anos depois a situação eleitoral do partido não mudou substancialmente, mas a taxa de preferência partidária voltou a subir. Mesmo em seus momentos mais baixos, o PT é o partido de maior preferência dos eleitores desde 1999.

Por outro lado, o bolsonarismo está longe de derrotado.

Ao PT sobrou duas tarefas. Uma interna e outra externa. A primeira consiste em derrotar os novos capas pretas (como eram chamados os caciques partidários pelos militantes). Para isso seus opositores precisariam de duas coisas: um projeto radical para o país e a capacidade de impor medo à direção. Externamente a tarefa é parecida. Independentemente da disputa eleitoral, cabe atacar no cotidiano as ações da direita. Radicalizar e não propor alternativas bem comportadas no congresso nacional para corrigir a política econômica do governo. Vincular cada luta com uma ideia força global. O tempo de uma oposição parlamentar acabou quando a política se deslocou para as ruas e as redes sociais e um movimento fascista de discurso anti sistêmico chegou ao poder. A mera construção de uma frente do centro (PDT, PSB) com a esquerda (PT, PSol, PC do B) é a via preferida dos dirigentes petistas. Ela é improvável porque os partidos acreditam necessitar de candidatos próprios no primeiro turno em função da legislação eleitoral que impede coligações proporcionais.

Para a esquerda voltar à mesa de negociações terá que ser temível. Começando por questionar velhos tabus. Além da necessária defesa da classe trabalhadora, por que não discutir a extinção do senado, dos cartórios e do segundo turno (ou uma alternativa intermediária como a de países como Bolívia e Argentina)? Essa é até mesmo uma agenda que reabre a discussão com as classes médias. Seria preciso propor resolutamente uma alíquota máxima de apuração do imposto bem maior. Ela já alcançou na história do Brasil patamares “nórdicos” antes do golpe de 1964 e mesmo no final da ditadura manteve-se alta. Em 1988 ampliaram-se os direitos sociais, mas diminuiu-se o potencial de arrecadação. Essa é a contradição básica da nossa Constituição. Houve redução no número de faixas de renda tributadas e a alíquota máxima foi diminuída. Some-se a isso o fim do imposto sobre lucros e dividendos e as leis de responsabilidade fiscal e do teto dos gastos públicos, estabelecidas ao longo das décadas. Aliás, foi o ministro ultra liberal Paulo Guedes quem demonstrou intenção de cobrar imposto sobre os lucros e dividendos e reinstituir a contribuição sobre movimentações financeiras. Contra a posição da maioria neoliberal do Congresso e do seu presidente o “democrata” César Maia.

A esquerda precisa estabelecer seus objetivos estratégicos. Já que não é revolucionária, ela será uma esquerda social democrata de verdade, defensora de uma classe social e de um Estado prioritariamente voltado a ela ou será uma esquerda social liberal que compensa monetariamente indivíduos expulsos do processo produtivo? Será nacionalista ou globalizante e semi colonial? Por fim, pretende derrotar Bolsonaro ou eleger um governo de esquerda? Não se trata da mesma coisa. Daí deriva um programa, sua operacionalização, as táticas, as alianças etc.

O PT é a expressão partidária de um vasto campo democrático popular que se estabeleceu desde a massificação da política eleitoral nos anos 1940. Dificilmente poderia ser substituído sem desagregar o espaço material que ocupa. Ele não é ideologicamente coeso. Como no peronismo argentino, petistas de direita e de esquerda continuarão se defrontando. Somente quando a classe trabalhadora recobrar forças para se movimentar é que aquele campo popular abrirá a chance do PT ou outra organização liderar uma nova era de construção de direitos sociais e trabalhistas no Brasil.

segunda-feira, 1 de março de 2021

Dezoito governadores reagem a Bolsonaro e o acusam de buscar confronto e espalhar fake news

Em nota na manhã desta segunda-feira, 18 governadores destacam que em meio à pandemia, agravada pela crise econômica e social, "o Governo Federal parece priorizar a criação de confrontos, a construção de imagens maniqueístas e o enfraquecimento da cooperação federativa"

Brasil 247, 1/03/2021, 10:51 h Atualizado em 1/03/2021, 11:26
  (Foto: Marcos Corrêa/PR)

Dezoito governadores reagiram, em nota na manhã desta segunda-feira (1), à postagem feita por Jair Bolsonaro nas redes sociais neste final de semana em que ele afirma ter repassado bilhões ao estados ao longo do ano passado. "Em meio a uma pandemia de proporção talvez inédita na história, agravada por uma contundente crise econômica e social, o Governo Federal parece priorizar a criação de confrontos, a construção de imagens maniqueístas e o enfraquecimento da cooperação federativa essencial aos interesses da população", diz trecho da nota, de acordo com a CNN Brasil.

No texto, os governadores destacam que os valores utilizados por Bolsonaro em sua postagem são repasses obrigatórios, previstos na Constituição, como os Fundos de Participação dos Estados e Municípios (FPE e FPM), Fundeb, SUS e royalties. Os gestores estaduais observam, ainda, que Bolsonaro também incluiu os valores pagos por meio do auxílio emergencial, uma "iniciativa do Congresso Nacional", além da suspensão de pagamentos de dívidas federais por via judicial antes do início da pandemia.

Eles também questionam os valores citados por Bolsonaro e cobram explicações sobre “onde foram parar” R$ 642 bilhões em impostos pagos pela população. "Adotando o padrão de comportamento do Presidente da República, caberia aos Estados esclarecer à população que o total dos impostos federais pagos pelos cidadãos e pelas empresas de todos Estados, em 2020, somou R$ 1,479 trilhão. Se os valores totais, conforme postado hoje, somam R$ 837,4 bilhões, pergunta-se: onde foram parar os outros R$ 642 bilhões que cidadãos de cada cidade e cada Estado brasileiro pagaram à União em 2020?", perguntam na nota.

Ainda segundo os gestores estaduais, é preciso reforçar as ações para conter a pandemia de Covid-19. "A contenção de aglomerações – preservando ao máximo a atividade econômica, o respeito à ciência e a agilidade na vacinação – constituem o cardápio que deveria estar sendo praticado de forma coordenada pela União na medida em que promove a proteção à vida, o primeiro direito universal de cada ser humano", finaliza o texto.

Saiba quem são os governadores que assinaram a nota:

Renan Filho - Governador do Estado do Alagoas
Waldez Góes - Governador do Estado do Amapá
Camilo Santana - Governador do Estado do Ceará
Renato Casagrande - Governador do Estado do Espírito Santo
Ronaldo Caiado - Governador do Estado de Goiás
Flávio Dino - Governador do Estado do Maranhão
Helder Barbalho - Governador do Estado do Pará
João Azevêdo - Governador do Estado da Paraíba
Ratinho Júnior - Governador do Estado do Paraná
Paulo Câmara - Governador do Estado de Pernambuco
Wellington Dias - Governador do Estado do Piauí
Cláudio Castro - Governador em exercício do Estado do Rio de Janeiro
Fátima Bezerra - Governadora do Estado do Rio Grande do Norte
Eduardo Leite - Governador do Estado do Rio Grande do Sul
João Doria - Governador do Estado de São Paulo
Belivaldo Chagas - Governador do Estado de Sergipe
Rui Costa - Governador da Bahia
Mauro Mendes - Governador de Mato Grosso

New York Times diz que Moro corrompeu o sistema judicial e é responsável direto pelo caos que o Brasil vive hoje

"Em vez de erradicar a corrupção, a agora notória Operação Lava Jato abriu o caminho para Jair Bolsonaro chegar ao poder após eliminar seu principal rival, Lula, da corrida presidencial. Isso contribuiu para o caos que o Brasil vive hoje", aponta o maior jornal do mundo

Brasil 247, 1 /03/2021, 05:46 h Atualizado em 1/03/2021, 16:16
Sergio Moro, Lula e Jair Bolsonaro (Foto: Reuters | Ricardo Stuckert)

O jornal The New York Times, o mais influente do mundo, diz que o ex-juiz Sérgio Moro é responsável direto pelo caos no Brasil, por ter corrompido o sistema de justiça no País. "O Brasil vive várias crises ao mesmo tempo – a situação catastrófica da saúde, a economia frágil e a polarização política extrema. Agora podemos adicionar a corrupção do sistema judicial à lista. Não precisava ser assim. Os brasileiros tinham grandes esperanças há sete anos, quando um jovem magistrado chamado Sérgio Moro lançou uma operação anticorrupção chamada Lava Jato, ou Operação Lava Jato", diz o artigo assinado pelo cientista político e diretor-executivo do Observatório Político da América Latina e do Caribe (Opalc) da universidade Sciences Po de Paris, Gaspard Estrada.

"A Operação Lava Jato provou que a justiça poderia acabar com a corrupção endêmica no Brasil ou foi apenas um conto de fadas que velou outros interesses políticos? Nas últimas semanas, o lado negro do Lava Jato foi desnudado, e um sentimento de profundo desencanto com a chamada justiça curitibana, que leva o nome da capital do estado do Paraná, onde a força-tarefa estava sediada, se espalhou por todo o país. A Operação Lava Jato foi considerada a maior investigação anticorrupção do mundo, mas se tornou o maior escândalo judicial da história do Brasil. Quando a força-tarefa foi dissolvida em 1º de fevereiro, quase ninguém saiu às ruas ou às redes sociais para lamentar seu fim", apontou ainda Estrada.

O cientista político também responsabiliza Moro diretamente pela destruição do Brasil. "Em vez de erradicar a corrupção, obter maior transparência na política e fortalecer a democracia, a agora notória Operação Lava Jato abriu o caminho para Jair Bolsonaro chegar ao poder após eliminar seu principal rival, Lula, da corrida presidencial. Isso contribuiu para o caos que o Brasil vive hoje", escreveu.