sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Brasil está sendo 'transformado num puteiro', diz geólogo que ajudou a descobrir pré-sal


O geólogo Guilherme Estrella, ex-diretor da Petrobras, fez um desabafo apaixonado durante o seminário sobre o petróleo e o pré-sal promovido pelo Clube de Engenharia, no Rio.

Para Estrella, o Brasil está sendo transformado num “puteiro” do capitalismo financeiro internacional, perdendo a soberania da mesma forma que a China perdeu no século 19. Para ele o golpe foi o “mergulho no poço”.

Apavorado, Temer fez reunião de emergência


Em pânico com as reações ao depoimento de Marcelo Calero à Polícia Federal —em que o ex-ministro revela que Michel Temer também o pressionou na disputa com Geddel— o Planalto realizou uma reunião de emergência ontem à noite para tentar conter os estragos.

A situação deve se agravar ainda mais agora que se sabe que Calero gravou diálogos com Temer, Padilha e Geddel.

O governo avalia que a crise, antes restrita à questão do espigão em Salvador, já se tornou generalizada e ameaça o presidente; partidos de oposição já se articulam para pedir a abertura de um processo de impeachment e jornalistas também já deixam aberta essa possibilidade.

Parte da mídia que apoiou Temer na remoção de Dilma Rousseff do cargo começa a virar as costas para o peemedebista.

George Marques cobra vazamento de áudio de Calero


"Especialista em divulgar áudios impróprios, a dúvida em Brasília é quando Sérgio Moro irá divulgar os áudios entre Calero e Michel Temer", brinca o jornalista, nas redes sociais, em referência principalmente à divulgação das conversas entre Dilma Rousseff e Lula pelo juiz de Curitiba.

As gravações que Marcelo Calero teria feito de Temer, Eliseu Padilha e Geddel Vieira Lima, porém, se ocorreram, estariam com a Polícia Federal, que é subordinada ao Ministério da Justiça, de Alexandre de Moraes.

Para porta voz da Presidência Temer que arbitrar conflitos entre a corrupção e a integridade

Fazer o papel de advogado do diabo é cruel demais

Um governo tem dois ministros: um corrupto e um honesto; no entanto, na visão do porta-voz Alexandre Parola, o papel de um presidente da República é "arbitrar conflitos" entre seus ministros – e não o de fazer a escolha óbvia pela integridade.

“O presidente buscou arbitrar conflitos entre os ministros e órgãos da Cultura sugerindo a avaliação jurídica da Advocacia-Geral da União, que tem competência legal para solucionar eventuais dúvidas entre órgãos da administração pública", disse Parola, na noite de ontem.

No entanto, a ministra Grace Mendonça, da AGU, rapidamente pulou fora desse rolo e disse que não tem qualquer solução mágica para o crime proposto por Geddel Vieira Lima a Marcelo Calero.

"As eventuais questões jurídicas relacionadas ao caso foram examinadas pela própria Procuradoria do Iphan, órgão competente para analisá-las", afirmou. Parola também deveria se demitir.

Geddel, o corrupto braço direito de Temer, se demite

E Temer, quando cairá?

Cai o articulador político de Michel Temer, Geddel Vieira Lima, que usou seu cargo para tentar obter benefícios privados.

Geddel foi também um dos principais articuladores do golpe parlamentar de 2016, mas sua demissão não resolve os problemas de Temer, que também foi gravado pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero.

Insustentável no cargo, ele já teria a carta de demissão pronta e deve sair ainda nesta sexta-feira 25. Como também foi citado nas delações das empreiteiras, Geddel perderá o foro privilegiado.

Com 6 meses, governo Temer já parece velho

Folha/Fábio Zanini, 25/11/2016

Faça um teste, leitor: tente explicar em uma frase o que são pedaladas fiscais.

Agora, repita o exercício: resuma em poucas palavras o que envolve Michel Temer na controvérsia em torno do prédio embargado pelo Iphan. É bem mais fácil: o presidente se envolveu pessoalmente numa operação para liberar um empreendimento imobiliário privado que atende aos interesses de seu braço-direito, Geddel Vieira Lima.

A simplicidade do que está acontecendo é o que há de tão nocivo para Temer. Os indícios de uma conduta no mínimo bastante inapropriada abundam, e são de fácil compreensão para qualquer um.

O governo acaba de completar seis meses e já parece velho. A estratégia de conquistar legitimidade popular, com a retomada da economia e a estabilização política, rapidamente naufraga para um presidente que não tem a chancela do voto.

O escândalo do La Vue Ladeira da Barra fragiliza um governo que tem de deixar seu ambicioso programa de reformas em stand by para estancar uma crise inesperada.

Não é o único problema nesse front. Em poucas semanas, o país passará por um choque de instabilidade com a monstruosa delação premiada da Odebrecht.

Na Câmara, a manobra do presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ) para se reeleger em fevereiro, chancelada pelo Planalto apesar da vedação expressa em lei, arrisca-se a quebrar uma base aliada até aqui dada como inexpugnável. Temer, presidente da Casa três vezes, parece ter se esquecido que poucas coisas têm tanto potencial para desarrumar politicamente um governo quanto uma disputa descontrolada pelo comando da Câmara. É só perguntar a Lula sobre Severino Cavalcanti.

A economia, tábua de salvação deste governo desde seu início, não colabora. A retomada não veio, contrariando prognósticos de que uma equipe econômica respeitada bastaria para ressuscitar o PIB. A previsão de crescimento de 2017 acaba de ser rebaixada para modesto 1%. O desemprego não cederá antes do segundo semestre do ano que vem, na melhor das hipóteses.

Temer, subitamente, vê sua credibilidade desvalorizada pela desastrada intervenção num assunto paroquial em Salvador. Ao manter a qualquer custo Geddel na equipe, passa o recibo de que não entende o que mudou no país desde a glorificação da Lava Jato. Que dê apoio tácito a uma articulação de seus aliados no Congresso para anistiar caixa dois só agrava a percepção de descompasso com a realidade. Projetos ambiciosos como aprovar uma reforma da Previdência parecem, à luz de hoje, mais um pedaço desse delírio.

Se há uma lição a ser tirada da queda de Dilma Rousseff é que crise política e marasmo econômico são mortais quando vêm juntos. Escândalos em série, inabilidade política e o mau humor da população fazem lembrar os tristes estertores do mandato da petista. Um impeachment depois, nada de substancial parece ter mudado no comando do país.

Quanto mais o PT e a esquerda se divide, mais a direita cresce e mais o golpe avança

Enquanto o Campo majoritário articula a aprovação da emenda que aprovará a Anista ao Caixa 2, um grupo à esquerda discorda, o que pode provocar uma debandada do PT

A bancada petista rachou. O PT tem 58 deputados e o grupo majoritário – chamado Construindo um Novo Brasil (CNB) – é favorável à anistia ao caixa 2. Mas um grupo de 26 deputados divulgou um manifesto (leia aqui a íntegra) de repúdio à anistia.
Alguns petistas pediam a liberação de bancada. Os 26 que assinaram o documento contra a anistia são membros do Muda PT, união de grupos mais à esquerda dentro do partido. O dissenso pode ser a gota d’água para uma diáspora da legenda.
A vice-líder do partido na Câmara, deputada Maria do Rosário (RS), é de uma das correntes que integra o grupo Muda PT. Segundo ela, há um descontentamento desses 26 deputados com decisões internas.
“Não só a anistia ao caixa 2, mas muito tem acontecido no PT que deixa essa parte da bancada descontente e faz com que pense nisso [deixar a legenda]”, afirmou. “Mas ainda há muito a se perder [ao sair do PT]. O partido ainda tem uma base social forte”, disse.
Pelo menos, por enquanto é necessário que o PT não perca parlamentares, que consiga discutir e apresentar propostas de contraposição ao golpe e quem sabe até impedir algumas ações e medidas mais nefastas dos golpistas. 
Quanto mais o PT diminui menos respeitado ele será, o que implica no rolo compressor congressual  orientado e apoiado pelo Planalto.

Dividido pela anistia ao caixa 2, PT pode perder até metade da bancada

Grupo à esquerda não concorda com anistia e Campo Majoritário articula a aprovação da emenda

Uol/Fernando Rodrigues, 25/11/2016

Nem a convocação de congresso nacional do PT para 2017 pacificou a bancada

A bancada petista rachou. O PT tem 58 deputados e o grupo majoritário – chamado Construindo um Novo Brasil (CNB) – é favorável à anistia ao caixa 2. Mas um grupo de 26 deputados divulgou um manifesto (leia aqui a íntegra) de repúdio à anistia.

A votação do projeto das 10 medidas contra a corrupção foi adiada nesta 5ª feira (24.nov). Deputados de vários partidos articulavam a votação de uma emenda que anistiasse os crimes de caixa 2 realizados no passado. A maior parte era da base aliada ao governo de Michel Temer.

Alguns petistas pediam a liberação de bancada. Os 26 que assinaram o documento contra a anistia são membros do Muda PT, união de grupos mais à esquerda dentro do partido. O dissenso pode ser a gota d’água para uma diáspora da legenda.

A vice-líder do partido na Câmara, deputada Maria do Rosário (RS), é de uma das correntes que integra o grupo Muda PT. Segundo ela, há um descontentamento desses 26 deputados com decisões internas.

“Não só a anistia ao caixa 2, mas muito tem acontecido no PT que deixa essa parte da bancada descontente e faz com que pense nisso [deixar a legenda]”, afirmou. “Mas ainda há muito a se perder [ao sair do PT]. O partido ainda tem uma base social forte”, disse.

Caso esses 26 deputados deixem a legenda, a bancada ficará com 32 cadeiras. Seria o menor número desde 1986, há 30 anos, na 2ª eleição disputada pelo partido, quando elegeu 16 deputados.


Na 1ª eleição do ex-presidente Lula, o partido teve seu auge de eleitos: 91. Em 2006 e 2014, pleitos próximos a escândalos de corrupção envolvendo a legenda, a bancada teve queda: 83 e 69 deputados, respectivamente.

Desde as eleições de 2014, a bancada já perdeu 11 deputados. Somados aos 26 que ameaçam a debandada agora, poderia significar um encolhimento de mais da metade da bancada eleita em 2014.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Juízes que fazem política ameaçam a democracia, diz chefe da Unasul


Evitando se referir diretamente ao juiz Sérgio Moro, o secretário-geral da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), Ernesto Samper, criticou nesta quinta-feira, 24, a judicialização da política e afirma que juízes que estão fazendo "política sem responsabilidade" ameaçam a democracia.

"O que também me preocupa é que depois da judicialização da política vem a politização da Justiça. Ou seja, juízes fazendo política abertamente. Acho que cada país deve examinar suas situações e circunstâncias particulares, e tirar suas conclusões", afirmou Samper em entrevista à BBC Brasil.

Dilma: “Eu acho grave Jucá virar líder do governo”

Será que o Temer não sabe o quanto Jucá descaracteriza o seu governo?

Na entrevista exclusiva que concedeu ao 247, a presidente deposta Dilma Rousseff disse considerar "grave" que o senador Romero Jucá (PMDB-RR), pivô de um escândalo em que defendeu sua saída da presidência para "estancar a sangria" da Lava Jato, tenha sido nomeado por Michel Temer como líder do governo.

"Eu acho grave o senador Jucá transformar-se em líder do governo, porque ele foi gravado. Toda a preocupação dele era de que a investigação chegasse até ele. Então é impossível se supor que nesses seis meses ele mudou de posição. Ele não foi interrogado, ele foi gravado", disse.

Lindbergh decide pedir impeachment de Temer


O motivo é o crime denunciado pelo ex-ministro Marcelo Calero, que acusou Michel Temer de pressioná-lo para liberar uma obra ilegal: o espigão de Salvador, onde o ministro Geddel Vieira Lima tem uma apartamento de R$ 2,4 milhões.

Geddel é investigado pela comissão de ética e será denunciado pela procuradoria-geral da República, por ter cometido os crimes de advocacia administrativa, usando seu cargo público em benefício próprio, e de tráfico de influência, mas Temer decidiu blindá-lo: "Temer tem que sair imediatamente", diz Lindbergh.

Advogada do impeachment diz que anistia pode ir além do caixa dois


Pedro Ladeira - 30.ago.2016/Folhapress 24/11/2016
A advogada Janaína Paschoal diz que a anistia ao Caixa 2 fere de morte a Operação Lava Jato

A advogada e professora de direito penal Janaina Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, afirma que a proposta costurada na Câmara dos Deputados para anistiar o crime de caixa dois funcionaria também para proteger políticos de acusações de falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.

Ainda segundo a advogada, a movimentação na Câmara representa "perigos concretos à Operação Lava Jato e a muitas outras".

Nesta quinta (24), deputados tentaram inserir uma emenda que trata da anistia no pacote anticorrupção que tramita na Câmara, projeto originalmente proposto pelo Ministério Público Federal e levado ao Congresso na forma de um projeto de iniciativa popular que reuniu 2 milhões de assinaturas.

Com falta de consenso e polêmica, a votação que ocorreria no plenário sobre o tema foi adiada.

A Folha apurou que a emenda elaborada pelos deputados falava "em eximir de punições criminais, eleitorais ou cíveis todo aquele que recebeu doação, declarada à Justiça ou não (caixa dois), para fins eleitorais e partidários até a publicação da lei". A redação discutida também menciona doação "omitida ou ocultada de bens, valores ou serviços".

"Essa redação é bastante ampla", critica Paschoal. "Note que ela não trata apenas do recebimento de valores. Ela abrange a contabilização, a declaração e a omissão dos valores recebidos. Isso impacta diretamente no crime de falsidade ideológica do Código Eleitoral", afirmou.

"Além de falar na contabilização dos valores, a cláusula trata da ocultação de bens. A ocultação está diretamente relacionada ao crime de lavagem", acrescenta.

Deputados pretendem, com a inclusão da emenda, dar argumento jurídico de defesa aos alvos da Lava Jato, já que a maioria dos políticos acusados de receber recursos desviados da Petrobras, via empreiteiras, afirmam ter usado o dinheiro em campanhas ou atividades partidárias.

Ou seja, eles argumentariam judicialmente que em vez de serem processados por crimes já existentes, como corrupção e lavagem de dinheiro, eles têm que ser enquadrados na nova tipificação do caixa dois. E como a lei penal não pode retroagir para prejudicar o réu, estariam livres de punição.

Para a advogada, a inserção da emenda fará com juízes tenham que decidir se políticos que receberam recursos desviados da Petrobras poderão ou não responder por lavagem de dinheiro ou falsidade ideológica.

"Se essa cláusula for inserida, dependeremos do bom-senso do Poder Judiciário. Não tem sentido correr esse risco", argumentou.

ABRANDAMENTO

Diante da repercussão do caso, deputados chegaram a discutir um abrandamento da proposta de anistia explícita.

Pelo texto original dos procuradores, devem ser enquadrados na nova legislação do crime de caixa dois apenas os "candidatos", ou seja, os que receberam recursos não declarados à Justiça no período eleitoral, que são os 45 dias anteriores ao primeiro turno das eleições.

A ideia de anistia "alternativa" é estender a criminalização do caixa dois para aqueles que receberam caixa dois fora do período eleitoral. Daí eles teriam que provar que usaram os recursos estritamente para fins eleitorais ou partidários para pleitear na Justiça o perdão.

Bomba: Calero diz que Temer também o pressionou a liberar a obra ilegal

O governo é uma ação entre amigos! Está caindo a máscara! 

247 – Não foi só Geddel Vieira Lima que pressionou o ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero, a liberar uma obra ilegal em Salvador, que agride o patrimônio histórico da capital baiana.

Em seu depoimento à Polícia Federal, Calero afirmou que Michel Temer também o pressionou a liberar o espigão de 107 metros de altura, onde Geddel tem um imóvel de R$ 2,4 milhões.

Eis um trecho de seu depoimento:

"Que na quinta, 17, o depoente foi convocado pelo presidente Michel Temer a comparecer no Palácio do Planalto; que nesta reunião o presidente disse ao depoente que a decisão do Iphan havia criado 'dificuldades operacionais' em seu gabinete, posto que o ministro Geddel encontrava-se bastante irritado; que então o presidente disse ao depoente para que construísse uma saída para que o processo fosse encaminhado à AGU [Advocacia-Geral da União], porque a ministra Grace Mendonça teria uma solução (...) Que, no final da conversa, o presidente disse ao depoente 'que a política tinha dessas coisas, esse tipo de pressão'".

Apesar de todas as evidências de que Geddel agiu em interesse próprio, Temer decidiu blindá-lo.

Hoje, o jornal O Globo, um dos principais responsáveis pelo golpe parlamentar de 2016, pediu a demissão de Geddel (leia aqui), o que deixa no ar uma dúvida: pedirá de Temer também?

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Senador Renan, da turma do Temer, pode ser réu pela primeira vez no Supremo

Pedro Ladeira/Folhapress 
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL)

O STF (Supremo Tribunal Federal) marcou para 1º de dezembro o julgamento de uma denúncia contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O plenário da corte decidirá se recebe ou não a denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República), o que pode tornar o senador réu em uma ação penal pela primeira vez.

A denúncia, oferecida ao STF em 2013, refere-se a uma investigação iniciada há nove anos. A PGR acusa Renan de usar dinheiro de uma empreiteira para pagar a pensão de uma filha que teve fora do casamento com a jornalista Mônica Veloso.

O relator do caso, ministro Edson Fachin, liberou a denúncia para ir a plenário em 4 de outubro deste ano. Renan é ainda investigado em outros 11 inquéritos no STF.

Se a denúncia for acolhida, o presidente do Senado passará a responder pelas acusações de peculato, falsidade ideológica e uso de documento falso. A soma das penas pode chegar de 5 a 23 anos de prisão, mais multa. O caso, que o fez renunciar à presidência do Senado à época, tramita em segredo de Justiça.

De acordo com a PGR, Renan não tinha recursos suficientes para bancar os repasses feitos a Mônica Veloso entre janeiro de 2004 e dezembro de 2006. Para justificar os pagamentos, o senador apresentou documentos e disse ter recebido uma parte do dinheiro com venda de gado.

Segundo a denúncia, ele inseriu "informações diversas das que deveriam ser escritas sobre seus ganhos com atividade rural, com o fim de alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante, qual seja, sua capacidade financeira".

Romero Jucá, líder do governo Temer no senado, é réu pela oitava vez no Supremo. Mas isso não vem ao caso!

O senador responde a outros sete inquéritos no STF. Também são alvos do novo processo os deputados Alfredo Kaefer, Jorge Côrte Real e o senador José Pimentel. Os quatro serão investigados por corrupção passiva e prevaricação

Congresso em foco, 23/11/2016

Em nota, líder do governo negou que "tenha recebido recursos para beneficiar empresas por meio de medidas provisórias"

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski decidiu nesta quarta-feira (23) abrir inquérito para investigar indícios encontrados contra o senador Romero Jucá (PMDB-RR) na Operação Zelotes. O caso tramita em segredo de Justiça. Além deste caso, o líder do governo Temer no Senado responde a outros sete inquéritos no STF, sendo dois deles referentes à Operação Lava Jato.

Além de Jucá, também são alvos do novo inquérito os deputados Alfredo Kaefer (PSL-PR) e Jorge Côrte Real (PTB-PE). Lewandowski também abriu inquérito contra o senador José Pimentel (PT-CE). Os quatro parlamentares serão investigados por corrupção passiva e prevaricação. Destes, apenas Jucá já era investigado em outro inquérito da Zelotes.

Segundo relatório da Polícia Federal, o líder do governo no Senado alterou uma medida provisória de 2013 para favorecer o Grupo Gerdau. Na ocasião, o parlamentar era relator da matéria e fixou mudanças nas regras de tributação de lucros de empresas no exterior. Já Alfredo Kaefer e Jorge Côrte Real são investigados como autores de emendas criadas para beneficiar a empresa.

Em nota, Jucá negou ter recebido “recursos para beneficiar empresas por meio de medidas provisórias”. O líder afirmou ainda que “anunciou em plenário o veto a uma emenda que supostamente teria sido comprada. Em outra, o próprio acusador do senador já desmentiu a informação e disse que não pagou nenhum valor ao senador”.

Já o deputado Alfredo Kaefer disse estar “tranquilo” quanto à denúncia. Ele ressaltou que fez uma emenda para uma medida provisória para beneficiar “todas empresas multinacionais” e acabou chamando atenção de André Gerdau, que recomendou que a emenda fosse acatada por Jucá. O deputado afirma que foi procurado por um interlocutor do executivo, mas que não houve um encontro. O representante da empresa levou apenas um cartão da assessoria do parlamentar. Kaefer negou ainda conhecer André Gerdau pessoalmente, mas admitiu que conhece o pai dele, Jorge Gerdau.

Até o fechamento desta reportagem, o deputado Jorge Côrte Real ainda não havia se posicionado sobre o caso.

Leia a íntegra da nota do senador Romero Jucá:

“O senador Romero Jucá nega que tenha recebido recursos para beneficiar empresas por meio de medidas provisórias. Em relação a uma acusação específica, o senador anunciou em plenário o veto a uma emenda que supostamente teria sido comprada. Em outra, o próprio acusador do senador já desmentiu a informação e disse que não pagou nenhum valor ao senador”.

Leia a íntegra da nota do senador José Pimentel:

“Não fui notificado sobre os fatos que embasaram a decisão do ministro Lewandowski. O que posso dizer, mesmo sem saber do seu conteúdo, é que nunca pratiquei ato ilegal, nem recebi qualquer vantagem indevida no exercício da atividade parlamentar.”

Maia e líderes definem emenda para anistiar alvos da Lava Jato; PT repudia

Assim, vai ficando claro demais, para os incautos, que a Lava Jato era só fachada, que o combate a corrupção era só um discurso

Folha, 23/11/2016

Alan Marques/Folhapress 
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ)

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acertou nesta quarta-feira (23) com líderes dos principais partidos políticos a emenda que pretende anistiar a prática do caixa dois eleitoral e que pode livrar a maioria dos alvos da Operação Lava Jato.

O acerto foi feito em almoço realizado na residência oficial da presidência da Câmara, no Lago Sul de Brasília, e depende agora apenas de aval das bancadas partidárias. Há resistência em algumas legendas, porém, entre elas o PT.

A intenção é aprovar a medida ainda na noite desta quarta, no plenário, como emenda ao pacote de medidas propostas pelo Ministério Público Federal, que deve ser aprovado nesta quarta em comissão da Casa e, na sequência, ir diretamente para votação no plenário.

Segundo a Folha apurou, o texto elaborado estabelece na legislação que não sofrerão punição aqueles que receberam doações, contabilizadas ou não, de valores, serviços e bens para atividades eleitorais e partidárias realizadas até a data da entrada em vigor da regra.

Esse texto abre margem para livrar grande parte dos alvos da Operação Lava Jato, já que os políticos que receberam recursos desviados da Petrobras, via empreiteiras, têm argumentado que usaram esse dinheiro em campanhas ou atividades partidárias, declaradas à Justiça ou não –essa segunda hipótese, é o chamado caixa dois.

A intenção de Maia e aliados é aprovar a medida no plenário de forma "simbólica", ou seja, sem registro nominal dos votos. O objetivo é evitar desgaste individual à imagem dos deputados.

Quase metade da bancada do PT –26 de 58 deputados– divulgou nota no início da noite desta quarta para "repudiar" as tentativas de anistia ao caixa dois.

"Entendemos que seja este um dos objetivos do golpe [como o partido classifica o impeachment de Dilma Rousseff]: 'Estancar a sangria', nas palavras de um dos golpistas [referência ao peemedebista Romero Jucá], proteger deputados que votaram pelo impeachment da presidenta Dilma e que podem ser envolvidos com este crime eleitoral nas investigações em curso".

Apesar disso, integrantes do partido participaram do almoço com Maia.

O principal temor do mundo político hoje é com a delação premiada da empreiteira Odebrecht, a maior do país e tradicional financiadora de congressistas. Estima-se que mais de cem políticos sejam incriminados após o acordo da empresa com as autoridades da Lava Jato, cuja assinatura deve ocorrer nesta quinta.

Em setembro houve uma tentativa de aprovação na Câmara da anistia em uma votação-relâmpago, mas a operação acabou fracassando. 

Gilmar Mendes autoriza prorrogar prazo para investigações contra Aécio Neves. Porquê?

Foto: Ricardo B. Labastier/JC Imagem


O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes autorizou, nesta quarta-feira (23), a prorrogação do inquérito que investiga acusações contra o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG).

No inquérito que tramita na Corte, o tucano foi acusado pelo ex-senador Delcídio do Amaral de tentar interferir nos trabalhos da extinta Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios, criada em 2005 para investigar as denúncias do mensalão.

No despacho, Gilmar Mendes afirmou que “houve atraso no desenvolvimento das investigações”, porque três testemunhas que estavam previstas para prestar depoimentos ainda não foram ouvidas. Mendes também determinou que a Polícia Federal (PF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR) cumpram os prazos da investigação.

“Ficam a Autoridade Policial e o Ministério Publico Federal instados a observar os prazos de tramitação nesta e em todas as investigações supervisionadas por este relator”, decidiu o ministro.

As investigações são baseadas em um dos depoimentos do ex-senador Delcídio do Amaral, em colaboração com a Justiça. De acordo com Delcídio, em 2005, durante os trabalhos da CPMI dos Correios, o senador Aécio Neves, então governador de Minas Gerais, “enviou emissários” para barrar quebras de sigilo de pessoas e empresas investigadas, entre elas o Banco Rural.

“Os autos foram remetidos à Corregedoria-Geral da Polícia Federal para inquirição de três testemunhas, interrogatórios do investigado, além de requisição e juntada de documentação constante dos autos de outras investigações. 

A remessa dos autos à Corregedoria-Geral da Polícia Federal foi feita em 10.6.2016. (…) "As inquirições não foram realizadas ou agendadas. (…) Ficam a Autoridade Policial e o Ministério Público Federal instados a observar os prazos de tramitação, nesta e em todas as investigações supervisionadas por este Relator”, diz o texto.

Texto da reforma previdenciária de Temer está quase pronto; quais são as principais mudanças?

As novas regras, que estão praticamente finalizadas pela equipe técnica comandada pelo secretário de Previdência Social, Marcelo Caetano, foram discutidas entre segmentos trabalhistas e empresariais.
Entre as principais medidas, está a fixação da idade mínima para requerer a aposentadoria por tempo de contribuição em 65 anos, tanto para homens quanto para mulheres. Esta regra também deverá ser estendida aos trabalhadores do setor público.

Como informou ao EXTRA uma fonte ligada às discussões, o governo aguarda a votação em primeiro turno, no Senado, da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241 — a chamada PEC dos Gastos Públicos —, que prevê a fixação de um limite para as despesas da União. Somente depois disso, enviará o texto da reforma à Câmara dos Deputados, o que deverá acontecer na primeira quinzena de dezembro.

Confira as principais mudanças

Idade mínima

No setor privado, atualmente, os trabalhadores se aposentam em torno de 50 anos de idade, após completarem o tempo de contribuição (35 anos, para homem, e 30, para mulher). O governo, porém, quer fixar uma idade mínima de 65 anos para ambos, chegando a 70 para as novas gerações. No funcionalismo, já há uma idade mínima (60 anos, para homem, e 55, para mulher), mas esse patamar também subirá para igualar os regimes.

Quem será afetado

Todos os trabalhadores ativos serão atingidos. Quem tem menos de 50 anos terá que obedecer às novas regras integralmente. Quem hoje tem 50 anos ou mais será enquadrado em normas um pouco mais suaves, mas ainda assim exigindo um tempo adicional para requerer o benefício. Os já aposentados e aqueles que completarem os requisitos para pedir o benefício até a data da promulgação da reforma não serão afetados.

Regras de transição

Haverá uma regra de transição para não prejudicar os trabalhadores que estão perto da aposentadoria. Quem estiver com 50 anos ou mais (homem) e 45 anos ou mais (mulher) poderá se aposentar pelas regras atuais, porém, pagando um pedágio de 50% sobre o tempo que faltava para a aposentadoria.

Regra adicional

A nova regra de transição em estudo prevê uma bonificação para cada ano a mais de contribuição que o segurado tiver além do tempo mínimo de 35 anos, para homem, e 30, para mulher, como previsto na legislação em vigor. Os detalhes estão sendo decididos. O foco são os casos como o de uma mulher com 40 anos e 23 de contribuição, que chegaria aos 65 anos com 48 de contribuição.

Homens e mulheres

Hoje, as mulheres podem se aposentar antes dos homens (com cinco anos a menos). O governo pretende unificar em 65 anos a idade mínima para os dois sexos. A nova regra afetará integralmente as mulheres com até 45 anos. Acima desta idade, valerá a regra de transição. Assim, a igualdade ocorrerá gradualmente, ao longo de 20 anos.

Novo cálculo

O governo pretende mexer na fórmula de cálculo das aposentadorias e pressionar o trabalhador a contribuir por mais tempo. Hoje, dificilmente, o segurado recebe um benefício integral. A ideia da reforma é aplicar um percentual de 50% sobre a média das contribuições, acrescida de 1% a cada ano adicional de contribuição. Por exemplo, caso um homem comece a trabalhar aos 23 anos terá que permanecer no mercado até os 65, já que esta será a idade mínima necessária para pedir o benefício. Assim, essa pessoa recolherá por 42 anos. Portanto, aos 50% da média de suas contribuições serão acrescidos 42% (1% a cada ano trabalhado), gerando um benefício equivalente a 92% da renda a que teria direito.

Aposentadoria especial

A ideia é acabar com aposentadorias especiais para professores, PMs, militares e bombeiros. Os docentes, que atualmente podem se aposentar cinco anos antes, terão de seguir as mesmas regras válidas para os demais trabalhadores. No caso de policiais militares e bombeiros, a competência é dos estados, mas há intenção de fixar uma idade mínima para a ida dos militares para a reserva (passaria de 30 anos para 35). A idade compulsória (limite para permanência na ativa) deverá acabar. Também está sendo avaliado o impacto fiscal da pensão das filhas de militares.

Unificação de sistemas

A meta inicial do governo de unificar todos os sistemas de Previdência (dos trabalhadores da iniciativa privada e dos servidores públicos) está na grande dificuldade dos estados de manterem seus regimes próprios. Pelos cálculos a União, o rombo dos dois sistemas, neste ano, passará de R$ 220 bilhões. A questão é que o Planalto inclui os militares nesta conta — com 16% desse déficit —, embora essa categoria vá ficar de fora do regime único.

Aposentadoria por idade

A reforma também mudará as aposentadorias por idade (que hoje também exigem um número mínimo de recolhimentos ao INSS, além de 60 anos, para mulher, e 65, para homem). A ideia é elevar o mínimo de contribuições, neste caso, dos atuais 15 anos para 20. A exigência para obter a aposentadoria por idade ainda poderá chegar a 25 anos de contribuição. Até lá, o governo estuda criar uma regra de transição, exigindo seis meses a mais de contribuição a cada ano, ao longo de dez anos (até chegar dos 20 aos 25 anos). Se a reforma for aprovada, a regra seria modificada no ano seguinte ao da promulgação. Supondo que a reforma seja aprovada no ano que vem, em 2018, passariam a ser necessário 20 anos e seis meses; em 2019, 21 anos; e assim por diante, até 2028 (25 anos).

Pensão por morte

A pensão por morte, que hoje é integral, deverá ser reduzida para 50%, mais 10% por dependente, para todos os segurados. Também será proibido o acúmulo de dois benefícios, como aposentadoria e pensão por morte. De acordo com dados da Previdência Social, entre 2005 e 2015, a quantidade de pensões pagas pelo INSS cresceu 27,5%. Hoje, uma mulher que fica viúva pode receber a pensão do marido morto com uma aposentadoria que seja fruto de seu trabalho. Mas o governo federal pretende acabar com esse acúmulo.

Aposentadoria por invalidez

A ideia do governo é elevar o tempo de contribuição para requerer o benefício, dos atuais 12 meses para até três anos, ou seja, 36 contribuições. Além disso, a reforma vai mexer com o valor deste tipo de aposentadoria, que hoje é integral e não leva em conta a idade nem o tempo de contribuição. Segundo a nova proposta, essa modalidade de benefício poderá ter um piso estabelecido, que deverá ser de 70%, em relação ao cálculo da média dos 80% maiores salários de todo o período de contribuição, acrescido de adicional de 1% para cada ano de recolhimento.

Benefícios assistenciais

Hoje, idosos ou deficientes de baixa renda têm direito a um benefício assistencial mesmo sem nunca terem contribuído, o que é considerado injusto com os demais que contribuem. A ideia é desvincular este benefício da política de reajuste do salário mínimo, que permite ganhos reais. Os benefícios passariam a ser reajustados apenas pela inflação.

Fim da paridade no serviço público

A regra atual assegura o mesmo reajuste para todos e na mesma data. A novidade afetaria todos que ingressaram no serviço público antes de 2003 e ainda não se aposentaram. Esses trabalhadores passariam a ter direito somente à reposição da inflação na época de reajuste do benefício. O mecanismo já vigora para quem entrou depois de 2003.

Fonte: JusBrasil/Jornal Extra/21/11/2016

Justiça que prende, Justiça que solta

Fonte: Superior Tribunal de Justiça, 21/11/2016

Após meses de intenso trabalho investigativo, a polícia consegue desvendar as atividades criminosas de uma perigosa quadrilha e identifica os seus membros. O juiz decreta a prisão preventiva de todos eles. Pouco tempo depois, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) concede habeas corpus para que sejam postos em liberdade. A sociedade protesta.

Há algo errado nesse filme já visto tantas vezes, e o erro, muito frequentemente, não vai estar nas pontas: nem na polícia (embora isso às vezes ocorra), nem muito menos no lado da sociedade – cansada, com justa razão, de conviver com a violência e a impunidade.

É no Judiciário, portanto, que o problema acontece. A velha ideia popular de que “a polícia prende, a Justiça solta” bem poderia ser substituída por uma outra questão: “Por que a Justiça prende e a Justiça solta?” A resposta tem a ver com uma exigência da Constituição Federal, estabelecida no artigo 5º, LXI, e com o controle da legalidade das decisões judiciais pelos tribunais.

Última medida

Num país onde vigora a presunção de inocência, a prisão antes do julgamento é possível, mas excepcional. No caso da prisão preventiva, cabe ao juiz que a decreta indicar os motivos específicos pelos quais aquela pessoa, ao contrário dos outros réus, não pode continuar em liberdade enquanto responde ao processo.

Conforme destaca o ministro Rogerio Schietti Cruz (leia a entrevista), “é preciso dizer mais que o óbvio”, pois a prisão cautelar “é a última medida”, à qual só se deve recorrer quando todas as outras se mostram insuficientes.

Se não há indicação dos motivos, ou se eles não são válidos, a prisão é ilegal. Em tais casos, a responsabilidade pela soltura de um preso eventualmente perigoso não pode ser atribuída a quem, cumprindo o comando constitucional, apenas reconhece essa situação.

Motivação específica

Quando a pessoa comete um crime grave, nem sempre haverá razão para ser presa antes de julgada, ainda que possa receber pena longa, se ao final do processo for condenada. A prisão cautelar não é a regra, mas exceção, e tem requisitos específicos que precisam ser demonstrados para que a supressão provisória da liberdade não se torne automática, arbitrária e ilegal. Por exemplo, a ordem de prisão precisa mostrar que o réu está destruindo provas ou coagindo testemunhas, que fugiu ou que sua liberdade representa um risco de prática de novos crimes.

Em respeito ao princípio da excepcionalidade da cautela extrema, decisões que suprimem a liberdade humana não podem ignorar as particularidades do caso concreto, “sob pena de engendrar a decretação automática de prisão preventiva contra todos os autores de crimes graves, independentemente da singular apreciação de cada um deles”, afirmou o ministro Schietti ao julgar o HC 299.666.

Isso porque, segundo ele, para justificar a prisão preventiva, não basta invocar a gravidade abstrata do delito nem recorrer a afirmações “vagas e descontextualizadas” de que a medida é necessária para garantir a ordem pública ou econômica, a instrução criminal ou a aplicação da lei penal.

Com base no mesmo entendimento, em setembro deste ano, a Sexta Turma do STJ concedeu habeas corpus a sete pessoas presas em São Paulo sob acusação de associação para o narcotráfico, garantindo-lhes o direito de responder ao processo em liberdade (HC 363.540).

Argumento genérico

Ao analisar o pedido de um dos acusados naquele caso, os ministros revogaram a decisão que decretou a prisão, já que deixou de indicar motivos suficientes, relacionados à situação específica, que justificassem a real necessidade de colocar o réu cautelarmente privado de sua liberdade.

Em seu despacho, o juiz afirmou que havia indícios suficientes da existência do crime de tráfico, mas, ao fundamentar a prisão, disse apenas que ela era necessária “para assegurar a aplicação da lei penal, bem como para garantir a ordem pública, dada a repulsa e os danos sociais causados pelas drogas, notadamente pela facilidade de aliciamento de adolescentes e crianças à referida prática delituosa, seduzidas, muitas vezes, pelo rápido e vultoso retorno financeiro”.

Nenhuma palavra sobre a situação particular dos investigados, sobre o que fizeram concretamente, nem sobre os fatos específicos apurados no inquérito. Os argumentos apresentados na decisão judicial, de acordo com o ministro Schietti, poderiam servir para fundamentar a prisão de qualquer outra pessoa acusada de associação para o tráfico, em qualquer outro processo, o que evidencia o caráter vago e genérico do decreto de prisão.

População prisional

A despeito do controle do Judiciário sobre suas próprias decisões, os presídios estão abarrotados de presos sem julgamento.

No primeiro semestre de 2014, o número de presos no Brasil ultrapassava a marca dos 600 mil – número consideravelmente superior às 376.669 vagas do sistema penitenciário, como aponta o último levantamentofeito pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen).

Com a quarta maior população prisional e a quinta maior taxa de ocupação dos estabelecimentos prisionais (161%) do mundo, o Brasil ainda enfrenta uma agravante: 41% dos presos esperam julgamento, ou seja, estão em prisão temporária ou preventiva. Isso representa, conforme o novo relatório de informações penitenciárias (Infopen), a quarta maior população de presos sem condenação.

E essa tendência de crescimento do número de presos que esperam julgamento é mundial. Segundo relatório do Centro Internacional de Estudos Prisionais (ICPS), de 2014, cerca de 3 milhões de pessoas no mundo estão presas provisoriamente.

Medidas alternativas

Quando não estão presentes os requisitos autorizadores da prisão preventiva, e sempre que ela não se mostre indispensável, o juiz deve se valer de medidas alternativas para preservar o processo e a sociedade. Em outubro deste ano, a Sexta Turma determinou a soltura de uma mulher acusada de entrar com droga em presídio e aplicou medidas cautelares diversas da prisão (RHC 75.589).

Segundo o relator do caso, ministro Nefi Cordeiro, o juiz apontou que a indiciada, em depoimento à polícia, reconheceu ter tentado entrar com droga no presídio. De acordo com o ministro, o juiz não mencionou nada acerca da existência de eventual histórico delitivo, ou mesmo de outras circunstâncias gravosas que pudessem justificar a segregação – o que, em seu entendimento, é suficiente para a adoção de medidas cautelares diversas da prisão.

Abandono de veículo

Em julgamento semelhante, de agosto passado, a Quinta Turma revogou o decreto prisional de um homem acusado de roubo e substituiu a segregação pelas medidas cautelares previstas no artigo 319, incisos I e IV, do Código de Processo Penal – com a ressalva de que nova prisão poderia ser decretada, desde que concretamente fundamentada (RHC 67.478).

Para o relator, ministro Reynaldo Soares da Fonseca, a mera alegação de abandono do veículo, após sua utilização em velocidade alta, não é suficiente, por si só, para justificar a prisão cautelar, “em especial porque tal menção consta somente da decisão que converteu a prisão em flagrante em preventiva”.

Ele observou que as instâncias ordinárias fizeram apenas menção aos termos da lei processual e uma análise teórica, com termos genéricos e suposições acerca da necessidade da prisão preventiva, sem apontar dados objetivos da suposta conduta delitiva.

“Em suma, os fundamentos lançados pelas instâncias ordinárias não são idôneos para a manutenção da prisão preventiva decretada”, afirmou.

Desemprego

A jurisprudência do STJ é firme no sentido de que toda prisão imposta ou mantida antes do trânsito em julgado de sentença penal condenatória deve vir sempre baseada em fundamentação concreta, ou seja, em elementos vinculados à realidade e não em suposições ou conjecturas.

Em junho deste ano, a Sexta Turma revogou decisão que justificou a prisão preventiva como necessária à garantia da ordem pública e da aplicação da lei penal. Constava na decisão do juiz que, ficando solto, o réu, “desempregado, poderá voltar a valer-se da prática de atos delituosos, já que não tem meios lícitos para se manter, ou evadir-se do distrito da culpa” (HC 355.470).

Para o relator, ministro Sebastião Reis Júnior, a prisão foi mantida em segundo grau com base nas circunstâncias do crime e em juízos de probabilidade acerca da periculosidade do agente. “Fez-se simples referência à gravidade genérica do delito de roubo e, em razão de o paciente estar desempregado, ao provável estímulo à reiteração criminosa, fundamentos que se mostram insuficientes”, ressaltou.

Em decisão unânime, a turma concedeu o habeas corpus para assegurar ao acusado o direito de aguardar o julgamento em liberdade.

Tema frequente

Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas concluída em 2014, sob coordenação do professor Thiago Bottino, revelou que a prisão cautelar era o tema predominante nos pedidos de habeas corpus originados em quatro dos cinco Tribunais de Justiça com maior volume de ações dessa natureza no STJ. No caso do TJ paulista, campeão absoluto do ranking, a prisão cautelar aparecia como o segundo tema mais frequente.

Em grande parte das impetrações, a alegação da defesa é a falta de motivação válida, o que o tribunal é forçado a reconhecer sempre que não encontra na ordem de prisão a necessária referência a fatos concretos e específicos que justifiquem a medida extrema.

Afinal, como resumiu com especial clareza o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal Sepúlveda Pertence: “A melhor prova da ausência de motivação válida de uma decisão judicial – que deve ser a demonstração da adequação do dispositivo a um caso concreto e singular – é que ela sirva a qualquer julgado, o que vale por dizer que não serve a nenhum” (HC 78.013).
Criado pela Constituição Federal de 1988, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) é a corte responsável por uniformizar a interpretação da lei federal em todo o Brasil, seguindo os princípios constitucionais e a garantia e defesa do Estado de Direito.