quarta-feira, 25 de maio de 2016

Em gravação, Renan sugere mudança na lei da delação premiada, diz jornal

'Folha' publicou diálogo com Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro. Presidente do Senado diz que fala não mostra tentativa de atingir a Lava Jato.

Do G1, em São Paulo e em Brasília, 25/05/2016

Gravações de conversas entre o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, divulgadas na edição desta quarta-feira (25) do jornal "Folha de S.Paulo", mostram o parlamentar alagoano defendendo uma alteração na lei que trata da delação premiada para impedir que presos colaborem com as investigações (leia ao final desta reportagem trechos das conversas).

A eventual mudança na legislação atingiria, por exemplo, a Operação Lava Jato, que se baseou em relatos de delatores presos para avançar na apuração do esquema de corrupção que atuava na Petrobras

Os diálogos foram gravados por Sérgio Machado a partir de março, mas as datas das conversas com Renan não foram reveladas.

Esta é a segunda gravação do ex-presidente da Transpetro com caciques do PMDB que vem à tona nesta semana. O primeiro diálogo, com o senador Romero Jucá (PMDB-RR), culminou na exoneração do peemedebista do comando do Ministério do Planejamento.

Tanto Renan Calheiros quanto Sérgio Machado são alvos da Lava Jato. O presidente do Senado é investigado em sete inquéritos que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) relativos ao esquema de corrupção da estatal do petróleo, mas ainda não foi alvo de nenhuma denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR).

Em nota, Renan afirmou que "os diálogos com Sérgio Machado não revelam, não indicam, nem sugerem qualquer tentativa de interferir na Lava Jato ou soluções anômalas". O peemedebista também ressaltou no comunicado que suas opiniões discutidas na conversa com o ex-presidente da Transpetro "sempre foram publicamente noticiadas pelos veículos de comunicação" (leia a íntegra da nota de Renan ao final desta reportagem).

Indicado pelo PMDB, Sérgio Machado presidiu a Transpetro entre 2003 e 2015. Ele se desligou da petroleira após denúncias de envolvimento no esquema de corrupção investigado na Lava Jato.

No diálogo divulgado nesta quarta-feira pela "Folha de S.Paulo", o ex-presidente da Transpetro sugere a Renan um "pacto" para tentar pôr fim à crise política e econômica que seria "passar uma borracha no Brasil".

Não pode fazer delação premiada preso. Primeira coisa. Porque aí você regulamenta a delação e estabelece isso"

Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, defendendo a Sérgio Machado que presos sejam impedidos de fazer delação premiada

Em resposta, o presidente do Senado pondera que, "antes de passar a borracha, precisa fazer três coisas", sugerindo que seu diagnóstico foi recomendado por integrantes do STF. Ele não menciona, no entanto, o nome dos ministros da Suprema Corte que avalizariam o ponto de vista dele.

"Primeiro, não pode fazer delação premiada preso. Primeira coisa. Porque aí você regulamenta a delação e estabelece isso", observou Renan ao ex-dirigente da Transpetro.

O segundo ponto destacado pelo peemedebista para tentar arrefecer a crise, apontado na conversa gravada antes de o Senado afastar Dilma provisoriamente da Presidência, seria a petista tentar negociar uma "transição" com os ministros do STF.

Sérgio Machado, então, questiona o motivo de Dilma "não negociar" com integrantes do Supremo. O senador responde: "Porque todos [os ministros do STF] estão putos com ela", enfatizou.

"Ela [Dilma] disse: 'Renan, eu recebi aqui o [Ricardo] Lewandowski, querendo conversar um pouco sobre uma saída para o Brasil, sobre as dificuldades, sobre a necessidade de conter o Supremo como guardião da Constituição. O Lewandowski só veio falar de aumento, isso é uma coisa inacreditável'", acrescentou Renan.

A assessoria do STF afirmou à "Folha" que o presidente do tribunal "jamais" manteve conversas sobre suposta "transição" ou "mudanças na legislação penal" com Renan ou com Dilma.

Na conversa com o presidente do Senado, Sérgio Machado também critica a decisão do STF tomada em fevereiro deste ano que autoriza prisões a partir de condenações de segunda instância, e Renan concorda com o interlocutor.

"A lei diz que não pode prender depois da segunda instância, e ele [STF] aí dá uma decisão, interpreta isso e acaba isso", reclama o presidente do Senado.

Sérgio Machado

Ex-deputado e ex-senador, Sérgio Machado foi citado nas delações premiadas do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do senador cassado Delcício do Amaral (sem partido-MS).

O Ministério Público Federal apurou que o presidente do Senado teria recebido propina de contratos da Transpetro na época em que a subsidiária era presidida por Machado.

Com medo de ser preso, o ex-dirigente da subsidiária da Petrobras procurou Renan, o senador Romero Jucá e o ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP).

O teor das conversas com Jucá, na qual o parlamentar de Roraima defende um "pacto" para barrar a Lava Jato, foi divulgado pela "Folha de S.Paulo" na última segunda-feira (23). A repercussão negativa do caso levou Jucá a pedir demissão do Ministério do Planejamento.

Sérgio Machado fez acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República. Relator da Lava Jato no STF, o ministro Teori Zavascki deve homologar nos próximos dias o acordo de colaboração.

Aécio Neves

Nos trechos da gravação divulgada nesta quarta, Renan conta ao ex-presidente da Transpetro que o senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG), está com "medo" da Lava Jato.

A PGR pediu ao STF a abertura de dois inquéritos para investigar o suposto envolvimento de Aécio no esquema de corrupção que agia na Petrobras. Os inquéritos estão sob a relatoria do ministro Gilmar Mendes.

O presidente nacional do PSDB foi citado nas delações premiadas de Delcício do Amaral e de Carlos Alexandre de Souza Rocha, conhecido como "Ceará", funcionário do doleiro Alberto Youssef que era responsável pela entrega de propinas.

Em uma das conversas com Sérgio Machado, o presidente do Senado relata que foi procurado por Aécio, que, segundo o jornal, estaria preocupado com as denúncias do ex-líder do governo que se tornou delator da Lava Jato após ser preso acusado de tentar atrapalhar as investigações.

"Aécio está com medo. [me procurou] 'Renan, queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa'", disse Renan a Machado.

Na nota divulgada nesta quarta-feira, o presidente do Senado se desculpou pela menção a Aécio, dizendo que se referia a um contato do senador que expressava indignação, e não medo, com a citação de Delcídio.

A Executiva Nacional do PSDB informou à "Folha de S.Paulo" que Aécio manifestou a Renan apenas "a sua indignação com as falsas citações feitas a seu nome" e disse que vai acionar Sérgio Machado na Justiça, afirmandou ser "inaceitável essa reiterada tentativa de acusar sem provas".

"Fica cada vez mais clara a tentativa deliberada e criminosa do senhor Sérgio Machado de envolver em suspeições o PSDB e o nome do senador Aécio Neves, em especial, sem apontar um único fato que as justifique. As gravações se limitam a reproduzir comentários feitos pelo próprio autor, com o objetivo específico de serem gravados e divulgados", diz o comunicado enviado ao jornal.

Imprensa

Nos diálogos, Renan conta a Sérgio Machado de uma conversa que ele teve com o diretor de redação da "Folha de S.Paulo", Otávio Frias Filho, na qual o jornalista teria admitido que houve "exageros" do jornal na cobertura da Operação Lava Jato.

No mesmo trecho da gravação, o senador peemedebista afirma que Dilma conversou, antes de ser afastada da Presidência, com o vice-presidente Institucional e Editorial do Grupo Globo, João Roberto Marinho.

De acordo com Renan, a petista teria dito ao empresário que os veículos do Grupo Globo "tratam diferentemente de casos iguais". Ainda segundo o senador, Marinho teria respondido que "está todo mundo contra o governo".

"Conversa muito ruim, a conversa com a menina da Folha... Otavinho [Otávio Frias Filho] foi muito melhor. Otavinho reconheceu que tem exageros, eles próprios têm cometido exageros, e o João [provável referência a João Roberto Marinho] com aquela conversa de sempre, que não manda. [...] Ela [Dilma] disse a ele 'João, vocês tratam diferentemente de casos iguais. Nós temos vários indicativos'. E ele dizendo 'isso virou uma manada, uma manada, está todo mundo contra o governo", relatou Renan.

Leia trechos do diálogo entre Renan Calheiros e Sérgio Machado divulgados pela "Folha de S.Paulo":

Primeira conversa

SÉRGIO MACHADO - Agora, Renan, a situação tá grave.

RENAN CALHEIROS - Grave e vai complicar. Porque Andrade fazer [delação], Odebrecht, OAS. [falando a outra pessoa, pede para ser feito um telefonema a um jornalista]

MACHADO - Todos vão fazer.

RENAN - Todos vão fazer.

MACHADO - E essa é a preocupação. Porque é o seguinte, ela [Dilma] não se sustenta mais. Ela tem três saídas. A mais simples seria ela pedir licença...

RENAN - Eu tive essa conversa com ela.

MACHADO - Ela continuar presidente, o Michel assumiria e garantiria ela e o Lula, fazia um grande acordo. Ela tem três saídas: licença, renúncia ou impeachment. E vai ser rápido. A mais segura para ela é pedir licença e continuar presidente. Se ela continuar presidente, o Michel não é um sacana...

RENAN - A melhor solução para ela é um acordo que a turma topa. Não com ela. A negociação é botar, é fazer o parlamentarismo e fazer o plebiscito, se o Supremo permitir, daqui a três anos. Aí prepara a eleição, mantém a eleição, presidente com nova...

[atende um telefonema com um jornalista]

RENAN - A perspectiva é daquele nosso amigo.

MACHADO - Meu amigo, então é isso, você tem trinta dias para resolver essa crise, não tem mais do que isso. A economia não se sustenta mais, está explodindo...

RENAN - Queres que eu faça uma avaliação verdadeira? Não acredito em 30 dias, não. Porque se a Odebrecht fala e essa mulher do João Santana fala, que é o que está posto...

[apresenta um secretário de governo de Alagoas]

MACHADO - O Janot é um filho da puta da maior, da maior...

RENAN - O Janot... [inaudível]

MACHADO - O Janot tem certeza que eu sou o caixa de vocês. Então o que que ele quer fazer? Ele não encontrou nada nem vai encontrar nada. Então ele quer me desvincular de vocês, mediante Ricardo e mediante e mediante do Paulo Roberto, dos 500 [mil reais], e me jogar para o Moro. E aí ele acha que o Moro, o Moro vai me mandar prender, aí quebra a resistência e aí fudeu. Então a gente de precisa [inaudível] presidente Sarney ter de encontro... Porque se me jogar lá embaixo, eu estou fodido. E aí fica uma coisa... E isso não é análise, ele está insinuando para pessoas que eu devo fazer [delação], aquela coisa toda... E isso não dá, isso quebra tudo isso que está sendo feito.

RENAN - [inaudível]

MACHADO - Renan, esse cara é mau, é mau, é mau. Agora, tem que administrar isso direito. Inclusive eu estou aqui desde ontem... Tem que ter uma ideia de como vai ser. Porque se esse vagabundo jogar lá embaixo, aí é uma merda. Queria ver se fazia uma conversa, vocês, que alternativa teria, porque aí eu me fodo.

RENAN - Sarney.

MACHADO - Sarney, fazer uma conversa particular. Com Romero, sei lá. E ver o que sai disso. Eu estou aqui para esperar vocês para poder ver, agora, é um vagabundo. Ele não tem nada contra você nem contra mim.

RENAN - Me disse [inaudível] 'ó, se o Renan tiver feito alguma coisa, que não sei, mas esse cara, porra, é um gênio. Porque nós não achamos nada.'

MACHADO - E já procuraram tudo.

RENAN - Tudo.

MACHADO - E não tem. Se tivesse alguma coisa contra você, já tinha jogado... E se tivesse coisa contra mim [inaudível]. A pressão que ele quer usar, que está insinuando, é que...

RENAN - Usou todo mundo.

MACHADO - ...está dando prazos etc é que vai me apartar de vocês. Mesma coisa, já deu sinal com a filha do Eduardo e a mulher... Aquele negócio da filha do Eduardo, a porra da menina não tem nada, Renan, inclusive falsificaram o documento dela. Ela só é usuária de um cartão de crédito. E esse é o caminho [inaudível] das delações. Então precisa ser feito algo no Brasil para poder mudar jogo porque ninguém vai aguentar. Delcídio vai dizer alguma coisa de você?

RENAN - Deus me livre, Delcídio é o mais perigoso do mundo. O acordo [inaudível] era para ele gravar a gente, eu acho, fazer aquele negócio que o J Hawilla fez.

MACHADO - Que filho da puta, rapaz.

RENAN - É um rebotalho de gente.

MACHADO - E vocês trabalhando para poder salvar ele.

RENAN - [Mudando de assunto] Bom, isso aí então tem que conversar com o Sarney, com o teu advogado, que é muito bom. [inaudível] na delação.

MACHADO - Advogado não resolve isso.

RENAN - Traçar estratégia. [inaudível]

MACHADO - [inaudível] quanto a isso aí só tem estratégia política, o que se pode fazer.

RENAN - [inaudível] advogado, conversar, né, para agir judicialmente.

MACHADO - Como é que você sugeriria, daqui eu vou passar na casa do presidente Sarney.

RENAN - [inaudível]

MACHADO - Onde?

RENAN - Lá, ou na casa do Romero.

MACHADO - Na casa do Romero. Tá certo. Que horas mais ou menos?

RENAN - Não, a hora que você quiser eu vou estar por aqui, eu não vou sair não, eu vou só mais tarde vou encontrar o Michel.

MACHADO - Michel, como é que está, como é que está tua relação com o Michel?

RENAN - Michel, eu disse pra ele, tem que sumir, rapaz. Nós estamos apoiando ele, porque não é interessante brigar. Mas ele errou muito, negócio de Eduardo Cunha... O Jader me reclamou aqui, ele foi lá na casa dele e ele estava lá o Eduardo Cunha. Aí o Jader disse, 'porra, também é demais, né'.

MACHADO - Renan, não sei se tu viu, um material que saiu na quinta ou sexta-feira, no UOL, um jornalista aqui, dizendo que quinta-feira tinha viajado às pressas...

RENAN - É, sacanagem.

MACHADO - Tu viu?

RENAN - Vi.

MACHADO - E que estava sendo montada operação no Nordeste com Polícia Federal, o caralho, na quinta-feira.

RENAN - Eu vi.

MACHADO - Então, meu amigo, a gente tem que pensar como é que encontra uma saída para isso aí, porque isso aí...

RENAN - Porque não...

MACHADO - Renan, só se fosse imbecil. Como é que tu vai sentar numa mesa para negociar e diz que está ameaçado de preso, pô? Só quem não te conhece. É um imbecil.

RENAN - Tem que ter um fato contra mim.

MACHADO - Mas mesmo que tivesse, você não ia dizer, porra, não ia se fragilizar, não é imbecil. Agora, a Globo passou de qualquer limite, Renan.

RENAN - Eu marquei para segunda-feira uma conversa inicial com [inaudível] para marcar... Ela me disse que a conversa dela com João Roberto [Marinho] foi desastrosa. Ele disse para ela... Ela reclamou. Ele disse para ela que não tinha como influir. Ela disse que tinha como influir, porque ele influiu em situações semelhantes, o que é verdade. E ele disse que está acontecendo um efeito manada no Brasil contra o governo.

MACHADO - Tá mesmo. Ela acabou. E o Lula, como foi a conversa com o Lula?

RENAN - O Lula está consciente, o Lula disse, acha que a qualquer momento pode ser preso. Acho até que ele sabia desse pedido de prisão lá...

MACHADO - E ele estava, está disposto a assumir o governo?

RENAN - Aí eu defendi, me perguntou, me chamou num canto. Eu acho que essa hipótese, eu disse a ele, tem que ser guardada, não pode falar nisso. Porque se houver um quadro, que é pior que há, de radicalização institucional, e ela resolva ficar, para guerra...

MACHADO - Ela não tem força, Renan.

RENAN - Mas aí, nesse caso, ela tem que se ancorar nele. Que é para ir para lá e montar um governo. Esse aí é o parlamentarismo sem o Lula, é o branco, entendeu?

MACHADO - Mas, Renan, com as informações que você tem, que a Odebrecht vai tacar tiro no peito dela, não tem mais jeito.

RENAN - Tem não, porque vai mostrar as contas. E a mulher é [inaudível].

MACHADO - Acabou, não tem mais jeito. Então a melhor solução para ela, não sei quem podia dizer, é renunciar ou pedir licença.

RENAN - Isso [inaudível]. Ela avaliou esse cenário todo. Não deixei ela falar sobre a renúncia. Primeiro cenário, a coisa da renúncia. Aí ela, aí quando ela foi falar, eu disse, 'não fale não, pelo que conheço, a senhora prefere morrer'. Coisa que é para deixar a pessoa... Aí vai: impeachment. 'Eu sinceramente acho que vai ser traumático. O PT vai ser desaparelhado do poder'.

MACHADO - E o PT, com esse negócio do Lula, a militância reacendeu.

RENAN - Reacendeu. Aí tudo mundo, legalista... Que aí não entra só o petista, entra o legalista. Ontem o Cassio falou.

MACHADO - É o seguinte, o PSDB, eu tenho a informação, se convenceu de que eles é o próximo da vez.

RENAN - [concordando] Não, o Aécio disse isso lá. Que eu sou a esperança única que eles têm de alguém para fazer o...

MACHADO - [Interrompendo] O Cunha, o Cunha. O Supremo. Fazer um pacto de Caxias, vamos passar uma borracha no Brasil e vamos daqui para a frente. Ninguém mexeu com isso. E esses caras do...

RENAN - Antes de passar a borracha, precisa fazer três coisas, que alguns do Supremo [inaudível] fazer. Primeiro, não pode fazer delação premiada preso. Primeira coisa. Porque aí você regulamenta a delação e estabelece isso.

MACHADO - Acaba com esse negócio da segunda instância, que está apavorando todo mundo.

RENAN - A lei diz que não pode prender depois da segunda instância, e ele aí dá uma decisão, interpreta isso e acaba isso.

MACHADO - Acaba isso.

RENAN - E, em segundo lugar, negocia a transição com eles [ministros do STF].

MACHADO - Com eles, eles têm que estar juntos. E eles não negociam com ela.

RENAN - Não negociam porque todos estão putos com ela. Ela me disse e é verdade mesmo, nessa crise toda –estavam dizendo que ela estava abatida, ela não está abatida, ela tem uma bravura pessoal que é uma coisa inacreditável, ela está gripada, muito gripada– aí ela disse: 'Renan, eu recebi aqui o Lewandowski,
querendo conversar um pouco sobre uma saída para o Brasil, sobre as dificuldades, sobre a necessidade de conter o Supremo como guardião da Constituição. O Lewandowski só veio falar de aumento, isso é uma coisa inacreditável'.

MACHADO - Eu nunca vi um Supremo tão merda, e o novo Supremo, com essa mulher, vai ser pior ainda. [...]

MACHADO - [...] Como é que uma presidente não tem um plano B nem C? Ela baixou a guarda. [inaudível]

RENAN - Estamos perdendo a condição política. Todo mundo.

MACHADO - [inaudível] com Aécio. Você está com a bola na mão. O Michel é o elembto número um dessa solução, a meu ver. Com todos os defeitos que ele tem.

RENAN - Primeiro eu disse a ele, 'Michel, você tem que ficar calado, não fala, não fala'.

MACHADO - [inaudível] Negócio do partido.

RENAN - Foi, foi [inaudível] brigar, né.

MACHADO - A bola está no seu colo. Não tem um cara na República mais importante que você hoje. Porque você tem trânsito com todo mundo. Essa tua conversa com o PSDB, tu ganhou uma força que tu não tinha. Então [inaudível] para salvar o Brasil. E esse negócio só salva se botar todo mundo. Porque deixar esse Moro do jeito que ele está, disposto como ele está, com 18% de popularidade de pesquisa, vai dar merda. Isso que você diz, se for ruptura, vai ter conflito social. Vai morrer gente.

RENAN - Vai, vai. E aí tem que botar o Lula. Porque é a intuição dele...

MACHADO - Aí o Lula tem que assumir a Casa Civil e ser o primeiro ministro, esse é o governo. Ela não tem mais condição, Renan, não tem condição de nada. Agora, quem vai botar esse guizo nela?

RENAN - Não, [com] ela eu conversa, quem conversa com ela sou eu, rapaz.

MACHADO - Seguinte, vou fazer o seguinte, vou passar no presidente, peço para ele marcar um horário na casa do Romero.

RENAN - Ou na casa dele. Na casa dele chega muita gente também.

MACHADO - É, no Romero chega menos gente.

RENAN - Menos gente.

MACHADO - Então marco no Romero e encontra nós três. Pronto, acabou. [levanta-se e começam a se despedir] Amigo, não perca essa bola, está no seu colo. Só tem você hoje. [caminhando] Caiu no seu colo e você é um cara predestinado. Aqui não é dedução não, é informação. Ele está querendo me seduzir, porra.

RENAN - Eu sei, eu sei. Ele quem?

MACHADO - O bicho daqui, o Janot.

RENAN - Mandando recado?

MACHADO - Mandando recado.

RENAN - Isso é?

MACHADO - É... Porra. É coisa que tem que conversar com muita habilidade para não chegar lá.

RENAN - É. É.

MACHADO - Falando em prazo... [se despedem]

Segunda conversa
MACHADO - [...] A meu ver, a grande chance, Renan, que a gente tem, é correr com aquele semi-parlamentarismo...

RENAN - Eu também acho.

MACHADO -...paralelo, não importa com o impeach... Com o impeachment de um lado e o semi-parlamentarismo do outro.

RENAN - Até se não dá em nada, dá no impeachment.

MACHADO - Dá no impeachment.

RENAN - É plano A e plano B.

MACHADO - Por ser semi-parlamentarismo já gera para a sociedade essa expectativa [inaudível]. E no bojo do semi-parlamentarismo fazer uma ampla negociação para [inaudível].

RENAN - Mas o que precisa fazer, só precisa tres três coisas: reforma política, naqueles dois pontos, o fim da proibição...

MACHADO - [Interrompendo] São cinco pontos:

[...]

RENAN - O voto em lista é importante. [inaudível] Só pode fazer delação... Só pode solto, não pode preso. Isso é uma maneira e toda a sociedade compreende que isso é uma tortura.

MACHADO - Outra coisa, essa cagada que os procuradores fizeram, o jogo virou um pouco em termos de responsabilidade [...]. Qual a importância do PSDB... O PSDB teve uma posição já mais racional. Agora, ela [Dilma] não tem mais solução, Renan, ela é uma doença terminal e não tem capacidade de renunciar a nada. [inaudível]

[...]

MACHADO - Me disseram que vai. Dentro da leniência botaram outras pessoas, executivos para falar. Agora, meu trato com essas empresas, Renan, é com os donos. Quer dizer, se botarem, vai dar uma merda geral, eu nunca falei com executivo.

RENAN - Não vão botar, não. [inaudível] E da leniência, detalhar mais. A leniência não está clara ainda, é uma das coisas que tem que entrar na...

MACHADO -...No pacote.

RENAN - No pacote.

MACHADO - E tem que encontrar, Renan, como foi feito na Anistia, com os militares, um processo que diz assim: 'Vamos passar o Brasil a limpo, daqui para frente é assim, pra trás...' [bate palmas] Porque senão esse pessoal vão ficar eternamente com uma espada na cabeça, não importa o governo, tudo é igual.

RENAN - [concordando] Não, todo mundo quer apertar. É para me deixar prisioneiro trabalhando. Eu estava reclamando aqui.

MACHADO - Todos os dias.

RENAN - Toda hora, eu não consigo mais cuidar de nada.

[...]

MACHADO - E tá todo mundo sentindo um aperto nos ombros. Está todo mundo sentindo um aperto nos ombros.

RENAN - E tudo com medo.

MACHADO - Renan, não sobra ninguém, Renan!

RENAN - Aécio está com medo. [me procurou] 'Renan, queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa.'

MACHADO - Renan, eu fui do PSDB dez anos, Renan. Não sobra ninguém, Renan.

[...]

MACHADO - Não dá pra ficar como está, precisa encontrar uma solução, porque se não vai todo mundo... Moeda de troca é preservar o governo [inaudível].

RENAN - [inaudível] sexta-feira. Conversa muito ruim, a conversa com a menina da Folha... Otavinho [a conversa] foi muito melhor. Otavinho reconheceu que tem exageros, eles próprios tem cometido exageros e o João [provável referência a João Roberto Marinho] com aquela conversa de sempre, que não manda. [...] Ela [Dilma] disse a ele 'João, vocês tratam diferentemente de casos iguais. Nós temos vários indicativos'. E ele dizendo 'isso virou uma manada, uma manada, está todo mundo contra o governo.'

MACHADO - Efeito manada.

RENAN - Efeito manada. Quer dizer, uma maneira sutil de dizer "acabou", né.

Leia a íntegra da nota divulgada pela assessoria de Renan Calheiros:

O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) tem por hábito receber todos aqueles que o procuram. Nas conversas que mantém, habitualmente, defende com frequência pontos de vista e impressões sobre o quadro. Todos os pontos de vista, evidentemente, dentro da Lei e da Constituição Federal.

As opiniões do senador, sempre, foram publicamente noticiadas pelos veículos de comunicação, como as críticas ao ex-presidente da Câmara dos Deputados, a possibilidade de alterar a lei de delações para, por exemplo, agravar as penas de delações não confirmadas e as notícias sobre delações de empreiteiras, todas foram, fartamente, veiculadas. A defesa pública de uma solução parlamentarista também foi registrada em vários artigos e colunas e o próprio STF pautou o julgamento do tema. O Senado, inclusive, pediu sua retirada da pauta.

Em relação ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), o senador Renan Calheiros se desculpa porque se expressou inadequadamente. Ele se referia a um contato do senador mineiro que expressava indignação – e não medo – com a citação do ex-senador Delcídio do Amaral.

Os diálogos não revelam, não indicam, nem sugerem qualquer menção ou tentativa de interferir na Lava Jato ou soluções anômalas. E não seria o caso porque nada vai interferir nas investigações.

Assessoria de Imprensa
Presidência do Senado Federal

No STF "estão todos putos com ela"!

E o Aecím se borra de medo!


Rubens Valente publica na Fel-lha dessa quarta-feira 25/5 um diálogo do Sérgio Machado com o Renan Calheiros tão edificante quanto o do Machado com o Jucá.

Trata do Golpe, descrito com clareza solar pelo Jucá: derrubar ela para acabar com essa porra (a Lava Jato).

O que provavelmente acontecerá porque "a viagem redonda" chegou ao fim, com a designação do Gilmar (PSDB-MT) para presidir o julgamento da Lava Jato no Supremo.

Agora, Valente revela:

Renan - Primeiro, não pode fazer delação premiada preso... Em segundo lugar, negocia a transição com eles (ministros do Supremo).

Machado - Eles não negociam com ela.

Renan - Não negociam porque estão todos putos com ela.

Renan - Aécio está com medo. (Me procurou) "Renan, queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa".
Delcídio foi uma das sete ou oito vezes em que Aecím é premiado na Lava Jato.

A mais espetacular foi aquele delator que disse que o Aecím era o "mais chato" para receber logo a propina.

Porém, o relevante nessa transcrição do Renan é ele dizer que TODOS os ministros do Supremo estão "putos" com a Dilma.

Todos ?

Ou "alguns", como disse o Jucá, e espalhou uma densa nuvem cinzenta sobre o Supremo?

Onde é que isso vai parar, amigo navegante?

O Su-pre-mo, se-nho-res! O Su-pre-mo!, diria o Gilmar...

Deu nisso, porque, como diz o Professor de escracho, "enquanto tratam o Gilmar como um igual, igual a ele ficam"!

PHA

Gilmar Mendes absolve Aécio ( o santo) e devolve caso à Janot


Numa decisão inédita, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes transformou o senador Aécio Neves (PSDB-MG) num político praticamente inimputável.

Ele enviou autos contra o tucano a respeito da CPI dos Correios e do chamado 'mensalão mineiro' de volta ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sem sequer autorizar a abertura das investigações; para o ministro, após a manifestação da defesa do senador e de outras partes envolvidas, Janot precisa se manifestar sobre se é realmente necessário instaurar um inquérito sobre o caso.

Nos autos sobre o envolvimento de Aécio em um esquema de corrupção em Furnas, Gilmar determinou a abertura de um inquérito contra Aécio e, menos de 24 horas depois, suspendeu o andamento das investigações.

Em gravação, Renan Calheiros diz que "todos ( os políticos envolvidos na Lava Jato) estão putos com ela (Dilma)"


Em conversas com Sérgio Machado, o ex-presidente da Transpetro que também gravou Romero Jucá, o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), dizia ser inviável a permanência da presidente Dilma Rousseff no poder; "todos estão putos com ela", afirmou, em referência aos ministros do STF.

Nos áudios, Renan também defendeu mudanças nas leis das delações premiadas e disse que o senador Aécio Neves estava com medo.

"Aécio [Neves, presidente do PSDB] está com medo. [me procurou] 'Renan, queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa'", contou Renan, em referência à delação de Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), que fazia citação ao tucano.

CUT e FUP prometem lutar contra abertura do pré-sal


Manifesto assinado pelo coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros, José Maria Rangel, e pelo presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores, Vagner Freitas, declara guerra ao anúncio do governo interino de Michel Temer (PMDB) de abrir o pré-sal para os estrangeiros.

"Como vínhamos alertando, o principal objetivo dos golpistas é tomar de assalto a mais cobiçada reserva de petróleo do planeta. Um tesouro que os especialistas estimam conter no mínimo 273 bilhões de barris de óleo", diz o texto, que critica a declaração de Temer de que irá priorizar a aprovação do projeto 4567/16, que tira da Petrobras a garantia de ser a operadora única do pré-sal e de ter participação mínima de 30% nos campos licitados.

"Os trabalhadores e a sociedade organizada não permitirão que o Pré-Sal seja entregue à Chevron e às outras multinacionais, como prometeu José Serra, autor do projeto de lei que Michel Temer que aprovar", afirmam.

Gaspari: Temer era solução e já virou um problema


“Temer pareceu uma solução e tornou-se um problema porque depois da revelação do conteúdo da escandalosa conversa do senador Romero Jucá com o ex-colega Sérgio Machado, cobriu-o com os seguintes adjetivos: "competente", dotado de "imensa capacidade política" e "excepcional" formulador de medidas econômicas”, ressaltou o colunista Elio Gaspari.

Segundo ele, ambos compartilham visões da crise.

Temer quer liberar venda de terras a estrangeiros


Governo do presidente interino Michel Temer pretende rever o parecer feito pela Advocacia-Geral da União (AGU) em 2010 e que resultou na suspensão da venda de terras para estrangeiros; na época, membros da equipe do governo da presidente Dilma Rousseff destacaram que a medida visava "assegurar a soberania nacional em área estratégica da economia e o desenvolvimento", já que havia o temor de que grandes grupos e empresas internacionais comprassem as terras visando assegurar a oferta de alimentos para os seus países de origem.

Temer exonera Miriam e nomeia Joaquim Lima como interino na Caixa


Presidente da Caixa Econômica Federal, Miriam Belchior, foi exonerada do cargo pelo presidente interino, Michel Temer, e pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

O posto será ocupado interinamente pelo vice-presidente de Tecnologia da Informação da Caixa, Joaquim Lima de Oliveira, que passará a ocupar as duas funções simultaneamente.

Na semana passada, ela rebateu as declarações do ministro das Cidades, Bruno Araújo, de que o atraso na entrega de 50 mil moradias já prontas do Minha Casa, Minha Vida estaria diretamente relacionado a problemas burocráticos e a dificuldades na agenda do governo Dilma.

Cunha custa R$ 500 mil por mês para a Câmara


Incluindo o salário mensal de R$ 33,7 mil e verba de R$ 92 mil para pagar os funcionários do gabinete, o deputado Eduardo Cunha, afastado do cargo de presidente da Câmara e do mandato pelo Supremo Tribunal Federal (STF), custa mais de R$ 500 mil por mês aos cofres públicos.

Os dados foram levantados pelo PSOL e deverão ser entregues à Procuradoria-Geral da República junto com pedido de suspensão de pagamento de benefícios a Cunha, garantidos por ato da Mesa Diretora.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Rede Globo pede direito de resposta ao The Guardian e leva fora

Depois de ser citada em texto do The Guardian que trata do que está por trás do impeachment de Dilma Rousseff no Brasil, a Rede Globo exigiu um direito de resposta, mas recebeu o desprezo do jornal britânico
William Bonner, editor-chefe do Jornal Nacional, telejornal de maior audiência do Brasil. Seu patrão, João Roberto Marinho, está incomodado com a repercussão internacional do impeachment


A publicação de um artigo de David Miranda no jornal britânico The Guardian provocou (leia o texto abaixo) forte reação das Organizações Globo.

Por meio de seu vice-presidente, João Roberto Marinho, o grupo Globo insistiu para que o jornal publicasse uma resposta ao texto, dizendo que jamais houve apoio ao processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.

O The Guardian tratou a Globo de uma maneira que a emissora não está acostumada no Brasil: com desprezo.

Na ânsia de produzir uma contra-narrativa ao texto do The Guardian, o poderoso executivo da Globo enviou sua opinião, numa tentativa de rebater os elementos apontados no jornal britânico. O texto de Marinho, no entanto, foi relegado à singela caixa de comentários do jornal e não foi publicado.

Em seu texto “A razão real que os inimigos de Dilma Rousseff querem seu impeachment”, Miranda apresenta ao mundo os interesses que estão por trás do golpe em curso no Brasil. Entre eles, o da mídia, setor extremamente concentrado no país.

Desde o início do processo de impeachment de Dilma, outros diversos veículos internacionais denunciaram o golpe em curso no Brasil e manifestaram preocupação com a condução do caso por Eduardo Cunha (PMDB).

Ps.: No jornal O Globo, dois textos desmentem a tese de Marinho de que a Globo não apoia o impeachment. São os editoriais intitulados “O impeachment é uma saída institucional da crise” e “Tempo no impeachment corre contra o país”. A cobertura enviesada do Jornal Nacional, comandado por William Bonner, também é um elemento que merece destaque.

Abaixo, leia a íntegra do texto que enfureceu a família Marinho:


A história da crise política no Brasil, e a mudança rápida da perspectiva global em torno dela, começa pela sua mídia nacional. A imprensa e as emissoras de TV dominantes no país estão nas mãos de um pequeno grupo de famílias, entre as mais ricas do Brasil, e são claramente conservadoras. Por décadas, esses meios de comunicação têm sido usados em favor dos ricos brasileiros, assegurando que a grande desigualdade social (e a irregularidade política que a causa) permanecesse a mesma.

Aliás, a maioria dos grandes grupos de mídia atuais – que aparentam ser respeitáveis para quem é de fora – apoiaram o golpe militar de 1964 que trouxe duas décadas de uma ditadura de direita e enriqueceu ainda mais as oligarquias do país. Esse evento histórico chave ainda joga uma sombra sobre a identidade e política do país. Essas corporações – lideradas pelos múltiplos braços midiáticos das Organizações Globo – anunciaram o golpe como um ataque nobre à corrupção de um governo progressista democraticamente eleito. Soa familiar?

Por um ano, esses mesmos grupos midiáticos têm vendido uma narrativa atraente: uma população insatisfeita, impulsionada pela fúria contra um governo corrupto, se organiza e demanda a derrubada da primeira presidente mulher do Brasil, Dilma Rousseff, e do Partido dos Trabalhadores (PT). O mundo viu inúmeras imagens de grandes multidões protestando nas ruas, uma visão sempre inspiradora.

Mas o que muitos fora do Brasil não viram foi que a mídia plutocrática do país gastou meses incitando esses protestos (enquanto pretendia apenas “cobri-los”). Os manifestantes não representavam nem de longe a população do Brasil. Ao contrário, eles eram desproporcionalmente brancos e ricos: as mesmas pessoas que se opuseram ao PT e seus programas de combate à pobreza por duas décadas.

Aos poucos, o resto do mundo começou a ver além da caricatura simples e bidimensional criada pela imprensa local, e a reconhecer quem obterá o poder uma vez que Rousseff seja derrubada. Agora tornou-se claro que a corrupção não é a razão de todo o esforço para retirar do cargo a presidente reeleita do Brasil; na verdade, a corrupção é apenas o pretexto.

O partido de Dilma, de centro-esquerda, conseguiu a presidência pela primeira vez em 2002, quando seu antecessor, Lula da Silva, obteve uma vitória espetacular. Graças a sua popularidade e carisma, e reforçada pela grande expansão econômica do Brasil durante seu mandato na presidência, o PT ganhou quatro eleições presidenciais seguidas – incluindo a vitória de Dilma em 2010 e, apenas 18 meses atrás, sua reeleição com 54 milhões de votos.

A elite do país e seus grupos midiáticos fracassaram, várias vezes, em seus esforços para derrotar o partido nas urnas. Mas plutocratas não são conhecidos por aceitarem a derrota de forma gentil, ou por jogarem de acordo com as regras. O que foram incapazes de conseguir democraticamente, eles agora estão tentando alcançar de maneira antidemocrática: agrupando uma mistura bizarra de políticos – evangélicos extremistas, apoiadores da extrema direita que defendem a volta do regime militar, figuras dos bastidores sem ideologia alguma – para simplesmente derrubarem ela do cargo.

Inclusive, aqueles liderando a campanha pelo impeachment dela e os que estão na linha sucessória do poder – principalmente o inelegível Presidente da Câmara Eduardo Cunha – estão bem mais envolvidos em escândalos de corrupção do que ela. Cunha foi pego ano passado com milhões de dólares de subornos em contas secretas na Suíça, logo depois de ter mentido ao negar no Congresso que tivesse contas no exterior. Cunha também aparece no Panamá Papers, com provas de que agiu para esconder seus milhões ilícitos em paraísos fiscais para não ser detectado e evitar responsabilidades fiscais.

É impossível marchar de forma convincente atrás de um banner de “contra a corrupção” e “democracia” quando simultaneamente se trabalha para instalar no poder algumas das figuras políticas mais corruptas e antipáticas do país. Palavras não podem descrever o surrealismo de assistir a votação no Congresso do pedido de impeachment para o Senado, enquanto um membro evidentemente corrupto após o outro se endereçava a Cunha, proclamando com uma expressão séria que votavam pela remoção de Dilma por causa da raiva que sentiam da corrupção.

Como o The Guardian reportou: “Sim, votou Paulo Maluf, que está na lista vermelha da Interpol por conspiração. Sim, votou Nilton Capixaba, que é acusado de lavagem de dinheiro. ‘Pelo amor de Deus, sim!’ declarou Silas Câmara, que está sob investigação por forjar documentos e por desvio de dinheiro público.”

Mas esses políticos abusaram da situação. Nem os mais poderosos do Brasil podem convencer o mundo de que o impeachment de Dilma é sobre combater a corrupção – seu esquema iria dar mais poder a políticos cujos escândalos próprios destruiriam qualquer carreira em uma democracia saudável.

Um artigo do New York Times da semana passada reportou que “60% dos 594 membros do Congresso brasileiro” – aqueles votando para a cassação de Dilma- “enfrentam sérias acusações como suborno, fraude eleitoral, desmatamento ilegal, sequestro e homicídio”. Por contraste, disse o artigo, Rousseff “é uma espécie rara entre as principais figuras políticas do Brasil: Ela não foi acusada de roubar para si mesma”.

O chocante espetáculo da Câmara dos Deputados televisionado domingo passado recebeu atenção mundial devido a algumas repulsivas (e reveladoras) afirmações dos defensores do impeachment. Um deles, o proeminente congressista de direita Jair Bolsonaro – que muitos esperam que concorra à presidência e em pesquisas recentes é o candidato líder entre os brasileiros mais ricos – disse que estava votando em homenagem a um coronel que violou os direitos humanos durante a ditadura militar e que foi um dos torturadores responsáveis por Dilma. Seu filho, Eduardo, orgulhosamente dedicou o voto aos “militares de 64” – aqueles que lideraram o golpe.

Até agora, os brasileiros têm direcionando sua atenção exclusivamente para Rousseff, que está profundamente impopular devido à grave recessão atual do país. Ninguém sabe como os brasileiros, especialmente as classes mais pobres e trabalhadoras, irão reagir quando virem seu novo chefe de estado recém-instalado: um vice-presidente pró-negócios, sem identidade e manchado de corrupção que, segundo as pesquisas mostram, a maioria dos brasileiros também querem que seja cassado.

O mais instável de tudo é que muitos – incluindo os promotores e investigadores que tem promovido a varredura da corrupção – temem que o real plano por trás do impeachment de Rousseff é botar um fim nas investigações em andamento, assim protegendo a corrupção, invés de puni-la. Há um risco real de que uma vez que ela seja cassada, a mídia brasileira não irá mais se focar na corrupção, o interesse público irá se desmanchar, e as novas facções de Brasília no poder estarão hábeis para explorar o apoio da maioria do Congresso para paralisar as investigações e se protegerem.

Por fim, as elites políticas e a mídia do Brasil têm brincado com os mecanismos da democracia. Isso é um jogo imprevisível e perigoso para se jogar em qualquer lugar, porém mais ainda em uma democracia tão jovem com uma história recente de instabilidade política e tirania, e onde milhões estão furiosos com a crise econômica que enfrentam.

Caiu a ficha? No Facebook do MBL, seguidores atacam movimento e se dizem “traídos”



(…)

Nada contra a nomeação dos ministros investigados de Temer. Nada contra a extinção da CGU. Se o MBL era mesmo anti-corrupção, já era de se esperar um levante contra isso, não é mesmo? Contrariando a máxima da internet de ‘não leia os comentários’ eu decidi encarar esse poço sem fundo para checar se outras pessoas estavam achando estranho tanto quanto eu esse silêncio. E estavam!


Ele também não entende o que está acontecendo.


Ela também não.


Ele é sim um anti petralha de carteirinha, mas não precisa ser trouxa por causa disso.


Ele até ajudou a organizar protestos e agora está tipo: ‘UÉ?’

Respondendo a esses questionamentos o MBL publicou em seu site uma nota sobre a discussão da legitimidade dos ministros investigados. Em um tom defensivo e de justificativa, estranho para um movimento que sempre se mostrou extremamente crítico em relação ao governo, o movimento procura passar a limpo as acusações diferenciando ministros que foram citados em algum momento da operação Lava Jato daqueles que realmente já estão sob investigação da Polícia Federal. No final, termina com o veredito de que está contra a nomeação de apenas dois ministros de Temer. E foi isso. Nem convocação de panelaço nem nada.


Quantos ministros investigados são necessários para se gerar um panelaço?

Tentei entrar em contato com algumas das pessoas que estavam também se questionando sobre a suavidade com que o MBL tratou estas deliberações do governo Temer e tentar entender melhor como estão se sentindo em relação a isso no momento.




Eu nem precisei perguntar muita coisa e a ela já foi abrindo o coração sobre sua decepção com o MBL e ainda citou outros movimentos.






PV decide deixar base aliada do governo Temer

Partido Verde (PV) pede que Sarney Filho se licencie do Ministério do Meio Ambiente. Após reunião da Executiva Nacional, partido decidiu deixar a base aliada do governo Temer
Sarney Filho

Após reunião da Executiva Nacional do Partido Verde na manhã de ontem (23), a legenda decidiu deixar a base de apoio do governo de Michel Temer. Assim, o partido sugeriu que Sarney Filho peça licença do Ministério do Meio Ambiente.

O senador Alvaro Dias (PV-PR) subiu à tribuna no Plenário do Senado nesta segunda-feira e comunicou a decisão. “A sugestão que se fez hoje de manhã na reunião do Partido Verde foi a licença do ministro, para que o partido possa se posicionar de uma maneira mais confortável e coerente em relação ao atual governo”, disse o senador.

Alvaro Dias destacou que a nomeação de Sarney Filho para o comando da pasta foi uma escolha pessoal do presidente interino Michel Temer, e não houve deliberação partidária sobre o tema.

O senador, que votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff, fez críticas ao governo Temer, e disse que o peemedebista “não fez a leitura correta desse manifesto de protestos escritos nas ruas do país pelo povo brasileiro. A população não pediu apenas a substituição de um presidente por outro, pediu a substituição desse sistema de governança que é promíscuo e que abriu as portas para a corrupção”, argumentou Alvaro Dias.

Para o senador, Temer deveria ter afastado Jucá logo pela manhã, quando foram publicados no jornalFolha de S.Paulo os trechos de uma gravação envolvendo o ministro e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.

No áudio, Jucá diz que uma “mudança” no governo federal resultaria em um pacto para “estancar a sangria” provocada pela Operação Lava Jato, que investiga os dois peemedebistas. Jucá afirmou quesó com o “impeachment de Dilma” seria possível livrar alguns caciques da política de investigações.

“Ou o presidente afasta o ministro ou ele transfere para todo o governo a suspeição que pesa sobre ele”, disse Alvaro Dias, algumas horas antes do próprio ministro anunciar que se licenciará do cargo.

Agência Senado e Congresso em Foco

STF já tem as provas para anular o impeachment

Quando Cardozo pediu que o Supremo anulasse o impeachment, alegando que Cunha agiu com desvio de finalidade, Teori Zavascki negou a liminar, pois "seria impossível provar as intenções do presidente da Câmara". Agora, no entanto, a questão é objetiva: Romero Jucá confessou que a motivação do impeachment era trocar o governo para deter a Lava Jato e salvar uma elite política corrupta, num acordo que envolveria integrantes do próprio STF
Teori Zavascki, do STF, aparece nos áudios de Jucá. Na gravação, ministro é chamado de ‘burocrata’ e considerado ‘inacessível’


No dia 11 de maio deste ano, o então advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, tentou uma liminar para suspender o impeachment da presidente Dilma Rousseff, alegando que o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), havia agido com “desvio de finalidade” ao abrir o processo.

O objetivo de Eduardo Cunha seria emplacar uma troca de governo para que pudesse se salvar das investigações de corrupção, algumas delas promovidas pela própria Operação Lava Jato, dizia Cardozo.

Teori Zavascki negou a liminar, apontando que não seria possível comprovar as motivações de Cunha naquele instante. Para o ministro do STF, a questão seria, portanto, de natureza subjetiva.

No entanto, nesta segunda-feira, o que era subjetivo se tornou cristalinamente objetivo.

O senador Romero Jucá (PMDB-RR), um dos braços direitos do presidente interino Michel Temer, confessou que o impeachment nada mais foi do que uma tentativa de uma elite corrupta de deter a Lava Jato.

Para “parar essa porra” e “estancar a sangria” (palavras de Jucá), seria preciso retirar a presidente Dilma Rousseff do poder, colocando no cargo o vice-presidente Michel Temer – e o mais grave, segundo Jucá, é que esse acordão envolveria até integrantes do Supremo Tribunal Federal (saiba mais aqui).

Agora, diante dessa bomba sem precedentes, os integrantes do STF têm apenas uma saída: anular um processo de impeachment aberto na Câmara por razões espúrias e aprovado no Senado para deter a Operação Lava Jato, num escândalo que envergonha o Brasil diante do mundo.

AE e informações de 247

Bancada do PSOL vai pedir prisão de Jucá

Partido alegará 'obstrução da Justiça' por parte do ministro do Planejamento

Saiu no Estadão:


Partido vai entrar com representação na PGR após conversa vazada apontar Jucá sugerindo pacto para frear a Lava Jato

A assessoria de imprensa da bancada do PSOL na Câmara dos Deputados informou na manhã desta segunda-feira, 23, que entrará com uma representação contra o ministro do Planejamento, Romero Jucá, na Procuradoria Geral da República (PGR). O partido irá sugerir a prisão do peemedebista por obstrução da Justiça.

A expectativa é de que o partido vá à PGR ainda na tarde desta segunda. Reportagem do jornal Folha de S. Paulo revelou que, em uma conversa com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, Jucá sugere a existência de um pacto para obstruir a Operação Lava Jato e diz que é preciso "estancar a sangria".

(...)

Meirelles detona BB, Petrobras e BNDES

Liquidação total!


O presidente interino e o ministro interino da Fazenda anunciaram as medidas para conter o rombo de R$ 170 bilhões:

- vão vender a Petrobrax e entregar o pré-sal à Chevron, com aprovação do projeto do Cerra no Senado;

- vão detonar o Fundo Soberano, a começar pelas ações do Banco do Brasil;

- vão tomar grana do BNDES e acabar de quebrar a indústria nacional.

Clique aqui para ler os detalhes das medidas

Temer e Jucá são um sucesso na imprensa mundial