Foi o melhor resultado desde 2017, apontaram entrevistas realizadas com executivos de empresas de 30 países com receita anual superior a US$ 500 milhões
Brasil 247, 23 de abril de 2024, 17:06 h Atualizado em 23 de abril de 2024, 19:30 h
Fernando Haddad (ministro da Fazenda) e Lula (presidente da República) (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
O Brasil alcançou a 19ª posição do top 25 e voltou ao ranking dos 25 países mais atrativos para o Investimento Estrangeiro Direto (IED) desenvolvido pela consultoria Kearney. É o melhor resultado desde 2017. As entrevistas foram realizadas com executivos de empresas de 30 países com receita anual superior a US$ 500 milhões. A pesquisa listou mercados com maior potencial de atrair investimento direto nos próximos três anos, de acordo com informações publicadas nesta terça-feira (23) no jornal Valor Econômico.
Sócio da Kearney no Brasil, Mark Essle afirmou que o Brasil está "novamente reaparecendo no contexto dessa fragmentação do comércio mundial, do olhar mais cuidadoso dos grandes investidores institucionais sobre onde querem alocar seus recursos".
"Assim como o restante das Américas, o Brasil se beneficia do fato de que está perto dos Estados Unidos, país cuja economia vai muito bem. Neste momento em que o ‘nearshoring’ [tendência das multinacionais de se deslocar para perto de suas matrizes] se fortalece, o IED costumar seguir de perto a dinâmica da disputa geopolítica. Ao mesmo tempo, o Brasil também tem relacionamento estreito com a China e com a Europa, consegue caminhar entre os três blocos sem se comprometer com nenhum e é importante que continue assim".
Em 2024, a eficiência regulatória e a facilidade de mobilidade de capitais aumentaram e ficaram entre os três interesses mais citados pelos participantes, com 15% e 14%, respectivamente. Ficaram à frente de requisitos como transparência regulatória (13%) e as taxas de juros (11%). A capacidade tecnológica e de inovação continuou no topo dos interesses dos investidores, com 17% de citações. Este último não é o caso brasileiro.
"Quando olhamos com lupa, o interesse do investidor no Brasil está mais voltado à mineração, ao agronegócio, toda essa indústria de base atrai bastante investidor. A questão é: para não corrermos o risco de ter um novo voo de galinha, é preciso usar essa chance para viabilizar investimentos em infraestrutura e acompanhar essa maior demanda por exportação", disse Essle.
Segundo o dirigente, "o Brasil é, entre os grandes países, aquele com matriz energética mais limpa". "E a União Europeia já está introduzindo uma taxa sobre pegada de carbono dos produtos vendidos por lá. Isso vai transformar produtos com baixa pegada de carbono comparativamente mais baratos do que aqueles produzidos em países com matriz energética dependente de carvão, por exemplo. Muito se fala sobre o Brasil exportar hidrogênio, mas o mais inteligente é mais inteligente usar essa mudança para agregar valor a produtos que já saem daqui, como transformar minério de ferro em aço ‘verde’, por exemplo".
Entre os países vizinhos do Brasil, a Argentina voltou a estar no ranking pela primeira vez desde 2013, na 24ª posição. "O governo Javier Milei tem prometido reformas para estabilizar finanças do país, o que atrai o investidor. E as oportunidades lá são parecidas com a do Brasil: a Argentina é muito rica em recursos naturais importantes para a transição energética, como o lítio. Se daqui 30 anos queremos ser emissão líquida zero de carbono, vamos precisar minerar mais do que em todo o restante da história da humanidade".